Parque do Zizo
Em Dezembro de 2003, São Miguel Arcanjo - SP

Relato : Anderson Cunha
Fotos : Eda Cunha

A algumas semanas, o João Paulo (dono do Jimmy "Formiguinha") me convidou pra conhecer o Parque do Zizo... parque ? perguntei... bom, se fosse um parque de offroad e trekking, seria a Disneylandia he he... Olhando a homepage em http://www.parquedozizo.com.br/ não deu pra ter exatamente uma idéia de como é o local, então ficamos com as referências do JP : "No meio do mato, sem luz elétrica, hospedagem rustica mas confortável, fogão de lenha, banho quente a gás, diversas trilhas e cachoeiras, e uma trilha pra chegar que fica punk com chuva...."..... OBA !!!! Vamos nessa !

O parque do Zizo fica proximo a São Miguel Arcanjo, no sudeste de São Paulo, e optamos por chegar lá pela BR116, subindo por Juquiá rumo a Sete Barras, e então pela estrada que corta o Parque Estadual Carlos Botelho... este parque é uma reserva de mata atlântica, e como já teriamos uma boa dose de mata atlântica dentro do parque do Zizo, optamos por apenas conhecer a estrada que corta a região, e almoçar em São Miguel Arcanjo.

No caminho da estrada do parque, que alias (e infelizmente) está sendo pavimentada, ainda encontramos uma pequena cachoeira, mas providencial nos dias de intenso calor...

Após o almoço, é hora de enfrentar a trilha rumo ao Zizo...

No caminho, uma estreita estrada de terra batida vai contornando as propriedades rurais... aos poucos, as propriedades vão desaparecendo e a estradinha vai ficando cada vez mais estreita... começa então a diversão !

A primeira a experimentar o prazer da atolagem é a Danny, com o Defender Bombeirinho...

Mas como a Juliana e seu Defender 90 canvas estava sedenta por um resgate, fiquei só observando o trabalho das "meninas" na trilha... logicamente o João Paulo como bom cavalheiro se apressou em fornecer a tralha necessária ao resgate (cinta, anilha e pé na lama he he)

Com as penélopes resgatadas, seguimos adiante... os atoleiros vão se sucedendo, e os jipes ameaçam mas não encalham... logo adiante, o Jimmy Formiguinha resolve aprontar e fica atravessado, arrastando diferencial trazeiro... logicamente a Juliana-resgate estava em cima do lance he he...

Com mais um resgate, seguimos por entre atoleiros fáceis e outros nem tanto, mas como não chove forte a alguns dias, conseguimos superar com facilidade e em pouco tempo chegamos ao Parque do Zizo...

Na chegada, uma ponte e um riacho de cascalhos enfeitam ainda mais a exuberante paisagem da mata atlântica nativa...

As acomodações são perfeitas para os amantes do estilo rústico ! Pequenos chalés, encrustados no meio da mata atlântica... a noite está chegando rapidamente e a lenha crepita no fogão, anunciando o delicioso jantar que está por vir...

Ficamos na prosa ao pé do fogão até altas horas, e vamos dormir na expectativa da caminhada dentro da mata, planejada para o dia seguinte...

Ao acordar cedo, é dificil distinguir quantos animais nos rodeiam, tamanha a variedade de sons da "Orquestra Atlântica" he he... bem na área de convivência, vejo um ninho de passarinhos com 2 filhotes, e os pais se revezam em frenéticas idas e vindas para buscar alimento para os barulhentos filhotes...

Nada como ficar espreguiçado nesta varanda, escutando os inúmeros passarinhos à nossa volta... mas não se iluda, pois a variedade e quantidade de insetos supera em muito a de canticos das aves he he... logo cedo, é necessário se proteger com repelente, mas mesmo assim, se vc tem pavor de cobras, aranhas, largatos, besouros, mosquitos, taturanas, sapos, libélulas, e outros bichos, esqueça o Zizo he he...

Com a luz do dia, percebemos o quanto estamos escondidos na mata... talvez nem uma busca aérea possa localizar nosso grupo aqui... ainda bem que não estamos perdidos !

O café da manhã já está quente e o fogão de lenha continua aquecendo nossa prosa... no cardápio, torta de banana, frutas, e pão caseiro... combustivel essencial para quem planeja enfrentar as caminhadas pela mata, que podem demorar desde 30 minutos ou até mesmo um dia inteiro... haja folego !

Seguimos por entre a mata, desviando de seus perigos... cada cipó, cada espinho, cada animal, é um perigo iminente aos distraitos e incautos. Não demora muito e temos a primeira vitima de espinhos, mas isso não é o suficiente para estragar o bom humor e alto astral de nosso grupo... seguimos a trilha rumo ao Jatobá "menino"...

O Jatobá tem 200 anos aproximadamente, e é imeeenso, apesar de ser um menino... a trilha começa a ficar mais interessante, e colocamos o pé na água...

Ahhh, agua fresca para refrescar os pés... nossa trilha agora vai seguindo o rumo de um pequeno riacho, que corre por entre o cascalho e pedras, desviando de barrancos e arvores enormes... outros pequenos riachos vão se juntando ao principal, e o volume de água vai crescendo à medida que nossa caminhada segue adiante... é um verdadeiro berçário de rios, e podemos ver um "bebê" saudável e belissimo, que infelizmente nem todos têm a sabedoria e consciência de proteger e conservar...

Pequenas quedas d´agua aparecem à nossa frente... há muitos obstaculos pela frente, pois a mata atlântica se renova com uma velocidade muito grande, e a vegetação que vai caindo no rio precisa ser removida a cada passo... nosso guia Jorge é muito hábil com a foice, e nada nos detém he he... Para nossa tristeza, é possivel ver a marcas recentes de alguns garimpeiros que estiveram no local procurando ouro... tanta destruição por causa de uma grama ou outra de ouro... que pena...

O Jorge tem uma percepção que o simples leigo como nós não tem... de repente, ele para e pergunta "Tá vendo ?"... vendo o que ? penso eu... só vejo um monte de mato adiante... mato exuberante e muito variado é logico, mas é mato... ele diz "Não, uma pequena cobra verde !"... ohhhh !!! é por isso que um guia é sempre recomendável para este tipo de aventura... e que vá na frente ! he he...

Para os amantes de botânica, a caminhada é um museu a céu aberto... vejam que bela flor !

Como ninguém é de ferro, ao final da caminhada ainda temos energia para uma trilha de jipe... pegamos os carros e seguimos rumo a um mirante, mas no caminho tinha uma arvore, tinha uma arvore no caminho he he... mas pra quem tem o Chico como companhia, e sua fiel motoserra, uma árvore não é nada mais que um pequeno obstaculo na vida de um jipeiro... guincho nela ! Alias, este lindo presente da natureza vai se transformar na messa para churrasco do parque... nada se perde, tudo se transforma !

A mata novamente nos envolve... um pequeno susto, ao perceber que somos atacados por uma nuvem de carrapatos selvagens... ainda bem que são selvagens, porque se soubessem entrar pelas costuras das roupas estariamos fritos ! sai ! sai ! sai ! todos dançam na mata...

Infelizmente chegou a hora de voltar... fica uma grande emoção de poder compartilhar a vida esquecida deste quase-fim-de-mundo, esse sossego inexistente nas grandes cidades, e principalmente este contato com a natureza que resgata nossos valores e nossa essência humana...

Ficamos lembrando do Parque do Zizo, mesmo entalados no engarrafamento da Castelo Branco... vamos voltar !!!!

Abração
Anderson Cunha, Eda e Isabela