Artigo
 
 

PERFIL DO CONSUMIDOR DE MEL E O MERCADO DE MEL

Mariângela Vilckas ac, Kátia P. Gramacho b, Lionel S. Gonçalves b , Dante P. Martinelli c
(a) Av. Portugal, 2800 Ap.921 Ribeirão Preto – SP. CEP: 14020-380
(b) Departamento de Biologia – FFCLRP – USP – Ribeirão Preto – SP
(c) Departamento de Administração – FEA – USP – Ribeirão Preto – SP

RESUMO

    O objetivo desta pesquisa foi identificar o perfil do consumidor de mel, tendo como base a região de Ribeirão Preto-SP, em relação a freqüência de consumo, propaganda, preço, forma de consumo, critérios utilizados para a compra de mel, locais de compra e opiniões sobre mel cristalizado e sobre embalagens. Foram feitas 318 entrevistas e o planejamento da amostra foi feito com base na idade, gênero e classe social dos entrevistados. Constatou-se que 25 % dos entrevistados nunca consomem mel. O consumo do mel aumenta em função do aumento do nível social dos entrevistados. Com relação à propaganda, 56% dos entrevistados não se lembram de ter visto propaganda de mel, e quanto ao preço, 31% deles consideram o mel barato. A principal forma de consumo é como remédio. Os primeiros critérios considerados na compra do mel são aspecto/cor/densidade seguidos da marca/procedência. Um terço dos entrevistados (33%) compram mel diretamente do produtor e 57% deles concordam que o mel cristalizado pode ser consumido, embora uma parcela acredite que este mel contém açúcar. Dos entrevistados, 35% desconfiam do mel vendido em embalagens com rótulo. A embalagem mais utilizada e preferida é o pote, e o material preferido é o vidro. Os resultados da pesquisa mostraram uma falta de hábito no consumo do mel e falta de conhecimento dos entrevistados sobre suas propriedades, além de falta de propaganda do produto. Concluiu-se que os produtores devem se preocupar mais com a qualidade, apresentação do mel e propaganda para conquistar a confiança do consumidor.

INTRODUÇÃO

    A apicultura brasileira, com mais de um século e meio de existência, vem passando por distintas e marcantes fases, desde sua implantação em 1839, com a introdução das abelhas européias Apis mellifera L., posteriormente com a introdução das abelhas africanas Apis mellifera scutellata em 1956 até os dias atuais, tendo tido impactos tecnológicos, biológicos, econômicos e sociais, principalmente após a chegada das abelhas africanas, tanto para os apicultores como para os cidadãos em geral.

    Apesar do potencial apícola brasileiro ainda ser pouco explorado, a nossa apicultura se encontra em fase de ascensão, sendo hoje mais conhecida internacionalmente pelo domínio da metodologia de controle das abelhas africanizadas (GONÇALVES, 2000), pela resistência das abelhas africanizadas ao ácaro Varroa jacobsoni (hoje conhecido como Varroa destructor) ( DE JONG & GONÇALVES, 1998), pelo significativo crescimento da indústria apícola que vem se destacando pela variabilidade e qualidade de seus produtos (centrífugas, desoperculadoras, tanques, cilindros para produção de cera moldada, colméias etc) e pelo aumento de produção dos produtos das abelhas (mel, pólen, geléia real, própolis, veneno etc.). Embora não exista disponível uma estatística oficial do governo sobre a nossa produção anual de mel, ela está estimada atualmente entre 40 e 45 mil toneladas de mel/ano (L.S.Gonçalves)1, sendo merecedora de destaque a produção do mel orgânico no país, altamente valorizado tanto no mercado nacional como no internacional. Entretanto, para o melhor aproveitamento e exploração da atividade apícola no país, além do incentivo ao aumento da produção, é necessário também o desenvolvimento da parte final da cadeia apícola, que consiste na chegada do produto ao consumidor final. Isto se faz não só por meio do desenvolvimento dos meios de distribuição, como também por meio do estudo do perfil do consumidor final dos produtos, para se conhecer suas preferências e exigências quanto ao produto, embalagem, preço etc, informações essas de extrema importância em qualquer estratégia de venda.

    O Brasil, graças ao seu clima tropical, ampla área territorial com vasta e variada vegetação, características essas propícias à exploração da apicultura e com o domínio das técnicas apícolas, apresenta condições de se aproximar dos líderes mundiais de produção de mel. Porém, para se atingir esse objetivo há ainda muito a se fazer. O consumo de mel no Brasil está estimado em aproximadamente 500g/pessoa/ano, o que é considerado muito baixo se comparado a alguns países da Europa, como a Alemanha e Suiça, onde se estima um consumo de l.500g/pessoa/ano ( ZARA FILHO, 1997).

    O desenvolvimento do mercado apícola nacional é bastante atrativo e interessante, porém também sofre a influência do mercado internacional e principalmente do Mercosul. O preço do mel comercializado a granel oscila de R$ 1,50 a R$ 2,00 /kg, e no varejo tem oscilado em torno de R$ 15,00 a R$ 18,00/kg (segundo Prof. Silvio Lengler)2.

    Tanto na cadeia apícola como em qualquer cadeia de suprimentos, se faz muito importante estudar o mercado consumidor, buscar entender os desejos e necessidades daquele que compra o produto final, com o intuito de atendê-lo da melhor maneira possível e, assim, vender mais, como também saber a razão da variação do consumo, a fim de conquistar o consumidor e, conseqüentemente, ampliar as vendas.

    Para entender melhor as características do mercado consumidor de mel foi proposto este trabalho, aplicado à região de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, Brasil, o que representa uma importante ferramenta não só para se avaliar a intensidade do consumo do produto e suas características, como também para a criação de estratégias para se estimular o aumento do consumo do mel. Pesquisou-se também a existência ou não de propaganda, opiniões sobre a aceitação do preço, consumo de mel cristalizado, critérios para a compra do mel, tipos de embalagens utilizadas e preferidas, bem como locais de compra de mel e formas de consumo. Com o objetivo primordial de se colaborar com a apicultura brasileira, a presente pesquisa foi realizada no sentido de obter informações relacionadas ao mercado de mel, coletadas diretamente dos consumidores e não consumidores, para conhecimento dos apicultores da região, porém úteis para os apicultores de qualquer região do país.

    Os dados para a elaboração deste artigo foram baseados na monografia de VILCKAS (2000).
 
 

METODOLOGIA

    O trabalho foi realizado no Município de Ribeirão Preto-SP, distante 329 quilômetros da capital do Estado, situada a nordeste de São Paulo, no Planalto Ocidental Paulista, a 21º11’25" de latitude sul, 45º 43’ de longitude oeste e a uma altitude de 621 metros acima do nível do mar (GONÇALVES, 1978). Procurou-se entrevistar pessoas não só da cidade de Ribeirão Preto, como também de outras cidades da região, como Jardinópolis, Brodósqui, Dumont, Serrana, Sertãozinho, Cravinhos, Pradópolis, entre outras. A população da região de Ribeirão Preto, que engloba 80 municípios, totaliza aproximadamente 2,6 milhões de habitantes, sendo que 90% desta população se encontra em área urbana. A população total da cidade de Ribeirão Preto é de 486.524 habitantes, com 651 km2 de área urbana (Guia Oficial da Cidade, 98/99).

    A metodologia do presente trabalho constou de duas etapas: Pesquisa Piloto e Pesquisa Definitiva (VILCKAS, 2000).

    Para a elaboração dos questionários tratou-se inicialmente de se identificar e segmentar os consumidores de mel na região, descrever as razões de consumo e de não consumo, as ocasiões em que isso ocorre e quais os critérios considerados pelos consumidores na escolha do mel (ex.: aspecto, procedência, preço, embalagem etc). Optou-se por entrevistas diretas com questões fechadas, sendo que o entrevistador fazia as perguntas e anotava as respostas.

    A Pesquisa Piloto foi programada com o intuito de se testar as questões elaboradas para a posterior elaboração do questionário definitivo. Esta metodologia permite ao entrevistador avaliar a eficiência do questionário e identificar as dificuldades de aplicação do mesmo nas entrevistas, sendo seus resultados utilizados exclusivamente para avaliar a eficiência do questionário piloto, suas correções e elaboração do questionário definitivo que consiste na segunda etapa do trabalho.

    Foi elaborado inicialmente um questionário piloto com 26 perguntas, o qual foi aplicado a uma amostra de 45 pessoas distribuídas entre as classes alta, média e baixa e também divididas em 5 faixas de idade (20 a 29, 30 a 39, 40 a 49, 50 a 59 e 60 ou mais anos).

    Na Pesquisa Definitiva foram entrevistadas 318 pessoas da Região de Ribeirão Preto, entre os meses de março e abril de 1999. Com o objetivo de se garantir a representatividade da amostra, foi feito um planejamento e controle da aplicação dos questionários no intuito de se ter uma distribuição homogênea da população quanto aos parâmetros de classe social, gênero e idade. As classes sociais foram divididas em 5 (em ordem decrescente, de A até E), com base no modelo de MATTAR (1997). Quando propôs este modelo de estratificação, o autor levou em consideração os modelos da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) e da ABIPEME (Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado).

    A amostra constituiu de 49,4% de mulheres e 50,6% de homens, sendo que 23,3% apresentavam idade de 20 a 29 anos, 23,9% de 30 a 39 anos, 23,9% de 40 a 49 anos, 13,8% de 50 a 59 anos e 15,1% de 60 anos ou mais. Quanto às classes sociais, a amostra apresentou 10,4% de pessoas da classe A, 29,6% da classe B, 29,9% da classe C, 19,8% da classe D e l0,4% da classe E. Os dados coletados foram processados e apresentados apenas graficamente, utilizando-se o programa SPSS 7.5 for Windows-Student Version.
 
 

RESULTADOS

    Os resultados deste trabalho estão apresentados em gráficos constantes das Figuras 1 a 20, sendo comentados de acordo dos os tópicos principais, a saber:

Freqüência de Consumo de mel

    A porcentagem de entrevistados que nunca consomem mel foi de 25,2% (Figura 1), sendo que a soma dos entrevistados que consomem mel com alta freqüência (sempre ou quase sempre) atingiu 35,3% (21,1% + 14,2% , respectivamente) e os que consomem mel com baixa freqüência (raramente ou nunca) corresponderam a 43,1% (17,9% + 25,2%) da amostra. Percebe-se, portanto, a falta de hábito de consumo de mel, sendo significativa a freqüência dos que não consomem nunca (25,2%).




    A freqüência de consumo de mel diminui conforme decresce a classe social do entrevistado (Figura 2). Os entrevistados que consomem mel com baixa freqüência apresentaram as seguintes justificativas para esse comportamento alimentar: falta de costume; não lembram que existe mel; não moram mais com os pais e costumavam consumir mel apenas quando moravam com eles; acreditam que é calórico e engorda; não gostam; acreditam que aumenta a taxa de colesterol; produto supérfluo; têm alergia ao mel; acham o produto muito caro.
 

    A falta de hábito do consumo do mel por muitos entrevistados confirma a falta de propaganda e de planejamento de marketing das empresas apícolas para incentivar o consumo.

    O fato de alguns entrevistados considerarem o mel como um produto supérfluo demonstra a falta de hábito de consumo do produto e a falta de informações a respeito das propriedades alimentares e medicinais do mel.

    Três fatores que se espera que influenciem na freqüência de consumo de mel são a propaganda, o preço e a forma de consumo do produto, sendo a seguir apresentados os resultados das consultas sobre os mesmos.

Propaganda sobre o mel e Freqüência de Consumo

    Mais da metade dos entrevistados (56,6%) responderam não se lembrarem de terem visto qualquer tipo de propaganda sobre mel (Figura 3) e quanto à freqüência de consumo percebe-se que não houve uma relação direta entre consumo e propaganda (Figura 4) pois, no caso presente, muitas pessoas informaram consumir o produto por outros motivos e não por influência da propaganda.
 


Preço do mel

    Quanto ao preço do mel (Figura 5), que na ocasião era de R$ 8,00/kg, a opinião dos entrevistados ficou equilibrada, pois aproximadamente um terço dos entrevistados (33,6%) consideraram muito barato ou barato, aproximadamente um terço consideraram muito caro ou caro e o restante considerou normal o preço do produto. Quanto à relação consumo-preço, observou-se que o preço do mel não exerceu influência definitiva sobre o consumo, pelo menos na amostra analisada (Figura 6). Alguns entrevistados que responderam consumir o mel com baixa freqüência comentaram que não achavam o mel caro pelo fato deste produto ser consumido apenas raramente ou como remédio, em especial quando se está doente. Assim, muitos entrevistados, ao compararem o preço do mel com o preço dos remédios, não o consideram caro, já tendo opinião contrária ao considerarem o mel como alimento.
 
 


 
 

Formas de Consumo

    A principal forma de consumo do mel citada pelos entrevistados é como remédio (36,5%). Observamos que 28,2% dos entrevistados consomem o mel na forma pura e 32,9% costumam consumi-lo como acompanhamento para pães, bolos, sucos etc. Os demais entrevistados utilizam o mel como produto de beleza ou para outras finalidades (2,4% ) (Figura 7). Os entrevistados que consomem mel como acompanhamento ou puro tendem a consumi-lo com maior freqüência, já os que consomem como remédio tendem a consumi-lo com menor freqüência, pois utilizam o mel apenas quando estão doentes (Figura 8).

    A seguir serão apresentados os resultados da consulta sobre os critérios utilizados para a compra de mel, locais de compra, opiniões sobre o mel cristalizado, embalagens e rótulo.

Critérios utilizados para a compra de mel

    Um sério problema enfrentado no Brasil pela indústria apícola é a adulteração do mel, em geral feita por empresas clandestinas e por vendedores ambulantes. Devido a isso, os consumidores sentem-se receosos com relação à qualidade do mel, procurando adotar algum critério para constatar a qualidade do produto.

    Quanto aos critérios mais comuns adotados na compra do mel, 52,5% dos entrevistados observam primeiramente o "aspecto" do mel quanto a aparência, cor e densidade do produto, 28,9% dão importância à marca ou procedência do produto, e 11,3% levam em consideração o preço (Figura 9).

    Devido ao medo de comprar mel adulterado, os consumidores acabam tentando identificar o mel puro utilizando critérios empíricos e populares. Quanto à marca ou procedência, como uma referência para a compra, os entrevistados citavam a confiança em determinadas marcas pelo fato de a conhecerem há mais tempo ou por ter sido indicada por algum conhecido.

    Vale destacar que os entrevistados não citavam a referência baseada num selo de qualidade do produto. Na falta de um selo que comprove a qualidade do produto, os consumidores acabam tentando identificar a qualidade através de outros critérios.

    Outro fator importante é que a embalagem foi muito pouco citada como um critério para a compra de mel (4,1%), o que mostra que a embalagem não representa fator de diferenciação, ou seja, poucos entrevistados escolhem o mel que vão comprar pela embalagem. Este dado pode sinalizar a necessidade de se trabalhar melhor a embalagem do mel, valorizando-a e fazendo com que ela seja um fator de diferenciação na escolha do mel a ser comprado.
 


Locais de compra de mel

Um terço dos entrevistados (33,2%) costumam comprar mel diretamente do produtor no intuito de reduzir o risco de comprar mel adulterado (Figura 10). O segundo local de procura de mel é em supermercados (22,7%) e o terceiro em farmácias (13,1%). Este último local de procura confirma a relação que muitas pessoas fazem do mel consumido como remédio.

Opinião do consumidor sobre o mel cristalizado

    Quanto ao consumo do mel na forma cristalizada, mais da metade dos entrevistados (57%) acreditam que o mel pode ser consumido nesta forma, porém há ainda muita falta de informação a respeito da cristalização do mel. Neste aspecto 32,4% dos consumidores discordam de alguma forma que o mel pode ser consumido no estado cristalizado e 10,4% mostraram-se indiferentes ao assunto ou não possuem uma opinião formada a respeito (Figura 11).

    Ao serem consultados sobre o significado do conceito de mel cristalizado, aproximadamente 20% dos entrevistados acreditam que o mel está velho ou estragado, 32,8% acreditam que o mel contém açúcar e 40,5% julgam estar bom. A falta de informação a respeito do mel cristalizado ficou mais clara quando se relacionou o significado da cristalização com o consumo do produto (Figuras 12 e 13), pois cerca de 60% dos entrevistados discordam com o consumo do mel cristalizado por acreditarem que este contém açúcar. Outro dado interessante é que cerca de 20% dos entrevistados concordam com o consumo do mel cristalizado apesar de acreditarem que este contém açúcar.

Embalagem

    Quanto à embalagem, percebe-se que a utilização da embalagem de garrafa de vidro ainda é bastante comum (33%), principalmente por serem embalagens de fácil obtenção e às vezes conseguidas gratuitamente. No entanto, a embalagem de pote é a mais utilizada (39,9%), sendo as bisnagas e sachês menos utilizadas (aproximadamente 5%). Quanto à preferência dos consumidores, 43,1% preferem a embalagem de pote e 26,4% preferem garrafas, porém já sendo bastante citadas as embalagens de bisnaga e sachê (8,8% e 4,4%, respectivamente) (Figuras 14 e 15).


 
 

Tamanho da embalagem

O tamanho de embalagem de mel mais utilizado é o grande (37,1% ), o que inclui potes grandes de 800 g e garrafas de 1 litro. No entanto, os consumidores preferem o tamanho médio (29,6%) que são potes de 460 g ou bisnagas de 280 g (Figuras 16 e 17). Muitos dos entrevistados citaram como principal vantagem do uso da bisnaga a sua praticidade e do uso do pote médio ou pequeno o fato de o mel não demorar muito para acabar e assim haver menos risco de se cristalizar. No entanto, esta última observação depende da freqüência do consumo.


 
 

Material da embalagem

O vidro é o material das embalagens mais utilizado e preferido pelos entrevistados, sendo que destes, 65,7% preferem embalagens de vidro e apenas 20,4% preferem embalagem de plástico. O principal argumento apresentado é o de o vidro ser mais facilmente esterilizado e, por isso, mais higiênico. No entanto, os que preferem o plástico alegam ser este material mais difícil de se quebrar, sendo uma melhor opção para quem tem crianças em casa (Figuras 18 e 19 ).

Rótulo

Uma característica particular e interessante quanto à embalagem de mel com rótulo é a desconfiança de muitos consumidores brasileiros em comprar mel em frascos com rótulo, por acreditarem que este mel embalado não seja natural e sim " fabricado ", fato constatado na pesquisa em 34,6% dos entrevistados que consideram o mel vendido em embalagens com rótulo como não confiável. Por outro lado, 65,4% dos entrevistados consideram como confiável o mel vendido desta forma (Figura 20).
 



 
 

CONSIDERAÇÕES GERAIS E CONCLUSÕES

    Pela análise dos dados obtidos constatou-se que uma grande parte dos entrevistados (quase 40%) apresenta uma baixa freqüência de consumo de mel e 25% dos entrevistados nunca consomem mel, resultados que são surpreendentes. Duas hipóteses principais são lançadas para explicar este comportamento alimentar: a falta de hábito de consumo e a falta de propaganda do produto.

    O investimento em propaganda e outras estratégias de marketing são formas importantes de se incentivar o hábito de consumo do mel e de outros produtos apícolas. Em muitos casos os entrevistados demonstraram receio e falta de confiança na qualidade do mel que compram.

    As empresas apícolas brasileiras deveriam tentar o estabelecimento de um "selo de qualidade " para o mel, para que o produto tenha mais credibilidade junto ao consumidor e para que este possa ter um parâmetro onde se basear e não ter mais receio de comprar o produto embalado.

    O receio sobre a qualidade do mel foi identificado em vários aspectos apresentados pelos entrevistados, dentre os quais destacam-se:

    1 - o primeiro critério utilizado para a decisão de compra é o aspecto/cor/densidade, e não um selo de qualidade,

    2 - a falta de informação sobre o processo de cristalização, acreditando que o mel foi adulterado,

    3 - a desconfiança do mel com embalagem contendo rótulo, considerando mel "fabricado",

    4 - a preferência de comprar o mel diretamente do produtor e

    5 - o uso da embalagem de garrafa devido à crença de que o mel vendido nesta embalagem vem direto do produtor e é puro.

    Considera-se importante a realização de propaganda para incentivar o aumento do consumo de mel que tenha estampado na embalagem o símbolo do SIF (Serviço de Inspeção Federal) ou de Inspeção do Estado onde é embalado o mel. Isto desestimularia a atuação das empresas clandestinas e daria maior credibilidade aos produtos apícolas. Juntamente com este processo de conscientização, as empresas apícolas devem melhorar as embalagens pois, pelos dados obtidos, as embalagens não representam um diferencial importante para a escolha do consumidor.

    As empresas devem incentivar o aumento do consumo através de propaganda, de veiculação de informações, por exemplo, a respeito da importância do mel na alimentação humana, destacando suas propriedades alimentícias e medicinais. Mas a propaganda neste caso não deve ser feita de maneira modesta, como a simples impressão de alguns folhetos que são deixados no balcão de uma loja de produtos naturais. Com certeza, esta é uma iniciativa que ajuda a informar o consumidor sobre o produto, mas não é o bastante para mudar o hábito de consumo de várias pessoas. Desta forma, uma atitude interessante seria que as empresas se unissem através de suas associações com o intuito de realizar campanhas para incentivar o aumento de consumo de mel, como o que é feito, por exemplo, no setor citrícola. Para uma empresa sozinha o investimento em veiculação em revistas, outdoors, TV, rádio ou jornais pode ser muito pesado, mas juntando várias empresas este custo fica menor para todos. Neste caso, a veiculação seria feita com o intuito de incentivar o aumento do consumo do produto mel. Com relação ao marketing de cada empresa em particular, da veiculação da sua marca, esta teria que providenciar a sua propaganda particular, no intuito de fazer com que o consumidor prefira comprar o mel de sua empresa e não de outra. Mas esta seria uma preocupação posterior à de se buscar o aumento de consumo do produto em geral.

    Constata-se que o remédio (36,5% do consumo) foi a forma de consumo mais citada. Entretanto, as pessoas que consomem mel como remédio costumam consumi-lo com baixa freqüência. Já aqueles que consomem o mel tanto puro (28,2%) como na forma de acompanhamentos (32,9%), totalizando aproximadamente 60%, consomem com maior freqüência.

    As opiniões a respeito do preço foram bem divididas, pois aproximadamente um terço dos entrevistados (33, 6%) consideraram muito barato ou barato, aproximadamente um terço consideraram muito caro ou caro e o restante considerou normal o preço do produto. Alguns entrevistados que responderam consumir o mel com baixa freqüência comentaram que não achavam o mel caro pelo fato deste produto ser consumido apenas raramente ou como remédio, em especial quando se está doente. Portanto, ao compararem o preço do mel com o preço dos remédios, não o consideram caro, já tendo opinião contrária ao considerarem o mel como alimento.

    Os resultados desta pesquisa refletem as características do consumidor de mel da região de Ribeirão Preto-SP, revelando seus hábitos e preferências em relação ao consumo e aquisição do produto. Embora a pesquisa tenha sido realizada com base numa amostra da população da região de Ribeirão Preto, os resultados representam um significativo subsídio para que o produtor avalie as características ideais do produto visto pelos olhos do comprador e os aspectos que devem ser melhorados tanto na qualidade dos produtos como na sua apresentação (aspecto, embalagem, volume, diversificação etc.). Ainda nesse sentido a pesquisa serve como um sinalizador e estímulo para que o apicultor se preocupe não apenas com o aumento de sua produção, como também com a qualidade e apresentação do produto, qualificando-o o melhor possível para atender as necessidades dos mercados nacional e internacional que a cada dia são mais exigentes.
 
 

AGRADECIMENTOS

    Agradecimentos ao CNPq, pelo financiamento desta pesquisa através de bolsa de iniciação científica (PIBIC-CNPq). Nossos agradecimentos também ao Sr. Daniel Malusá Gonçalves (6P Marketing & Propaganda Ltda.) pelas sugestões na pesquisa e apoio, à Profa. Dra. Adriana Backx Noronha (FEA-USP-RP) pela ajuda na elaboração e aplicação dos questionários e processamento estatístico dos dados e à empresa Apis Flora Industrial Comercial Ltda. pelo auxílio concedido.
 
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DE JONG, D. & GONÇALVE,S, L.S. The Africanized bees of Brazil have become tolerant of Varroa. Apiacta, 33(3):65-70. 1998.

GONÇALVES, L.S. Perspectivas da exploração da apicultura com abelhas africanizadas no contexto apícola mundial. Anais. Congresso Brasileiro de Apicultura, 14 a 17 de novembro de 2000, Florianópolis-SC.Brasil.

GONÇALVES, N.M.M. Estudo de materiais superficiais da região de Ribeirão Preto-SP e suas relações com elementos morfológicos da paisagem. São Paulo. 1978. 177p. Dissertação (Mestrado)-Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo.

Guia oficial da cidade. Ribeirão Preto Hoje. Epil. Ribeirão Preto, 1998.

MATTAR, F.N. Novo modelo de estratificação socioeconômica para marketing e pesquisa de marketing. In: SEMINARIO EM ADMINISTRAÇÃO, 2, São Paulo, 1997. Anais. São Paulo, Universidade de São Paulo, 1997. p.243-256.

VILCKAS, M. Estudo sobre o Perfil do Consumidor de Mel da Região de Ribeirão Preto como Subsídio para a Exploração da Apicultura. Trabalho de Conclusão do Curso de Administração de Empresas. Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis, Universidade de São Paulo – Campus Ribeirão Preto (FEA-USP-RP). 105p. 2000.

ZARA FILHO, C. Diagnóstico da apicultura no Estado de São Paulo. In: FORUM NACIONAL DE AGRICULTURA.GT. Apicultura. Anais. São Paulo, 1997.


1)  Informação pessoal do 3ª autor deste artigo.

2) Informação pessoal do Prof. Silvio Lengler (presidente da CBA – Confederação Brasileira de Apicultura)


 
 

Retorna à página anterior