Artigo
 


UTILIZAÇÃO DA PRÓPOLIS NO TRATAMENTO CURATIVO DA PODODERMITE NECRÓTICA EM OVINOS

SILVA SOBRINHO, A.G1., TONHASCA, J.G.2, NOGUEIRA-COUTO, R.H.3, RESENDE, K.T.1, KRONKA, S.N.4

                        (1) Prof. Assistente Dr., Depto Zootecnia - FCAV-UNESP, Jaboticabal, SP.
                        (2) Zootecnista graduado pela FCAV-UNESP, Jaboticabal, SP.
                        (3) Profa.Titular - Depto Zootecnia - FCAV-UNESP, Jaboticabal , SP.
                        (4) Prof. Titular - Depto. Ciências Exatas - FCAVJ - UNESP, Jaboticabal, SP.
 
 

EFFECT OF PROPOLIS IN THE CURATIVE TREATMENT OF FOOTROT IN SHEEPS

SUMMARY

     The podal infections affect production and productivity negatively in the different systems of sheep raising. The disease starts on the skin of the interdigital space of the hoof causing problems of locomotion, grazing reduction and loss of weight, resulting in the decline of meat and wool production and quality. The objective of this work was to test the viability of a curative treatment of footrot by using propolis, as paste and solution. Twelve sheeps of the breeds Santa Inês, Morada Nova, and their half-castes were used in this study. Treatments within each group consisted of control animals, animals receiving propolis paste, and animals receiving propolis solution. The products were applied after cleaning and clipping of the hoofs, which was conducted every day during 15 days. A scale of values from 0 to 3 was established according to the intensity of the lesions. Evaluations were done in the beginning and the in end of the experimental period. Based on the experimental data, it can be concluded that the utilization of propolis result in significant effect in the curative treatment of footrot in sheep. It was showed a tendency of faster recovery than the control animals, being the propolis solution better than the paste.

     Key words: footrot, propolis, sheep.
 


RESUMO


     As afecções podais afetam negativamente a produção e produtividade nos diferentes sistemas e regimes de exploração da espécie ovina. A doença inicia-se na pele do espaço interdigital do casco, progredindo até o deslocamento do casco mole e ou duro, causando problemas de locomoção, redução de pastejo e perda de peso, implicando em queda qualitativa e quantitativa na produção de lã e carne. Este trabalho teve por objetivo testar a viabilidade do tratamento curativo da pododermite necrótica utilizando-se própolis, em duas formas (pasta e solução) no tratamento das lesões, assim como verificar se o uso da própolis serviria como tratamento alternativo na cura da doença, levando-se em consideração sua preparação e aplicação, visando principalmente animais de cabanha e de alta linhagem genética. Foram utilizados 12 ovinos deslanados das raças Santa Inês, Morada Nova e seus mestiços, distribuídos nos seguintes tratamentos: testemunha, pasta e solução de própolis. A aplicação dos produtos foi feita diariamente, após aparo e limpeza dos cascos, durante 15 dias. Foi estabelecida uma escala de valores de 0 a 3, de acordo com a menor ou maior gravidade da doença, para avaliação macroscópica da ferida. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com 2 blocos e 4 repetições. Pelos resultados experimentais constatou-se efeito da própolis no tratamento curativo da pododermite necrótica em ovinos, reduzindo as lesões causadas pela enfermidade em estudo, com superioridade da própolis em solução em relação a pasta.

     Unitermos: própolis, pododermite necrótica, ovinos.
 

INTRODUÇÃO

     A manqueira ovina pode ser resultado de diversas doenças, de etiologia virótica como Ectima, Febre Aftosa e Blue Tongue e bacteriana como a Dermatofilose, Manqueira Pós-banho, Abcesso do Pé de Origem Traumática e Pododermite Necrótica.
     A Pododermite Necrótica também denominada manqueira, podridão dos cascos, peeira, pietin, mal de vaso e footrot, é uma enfermidade cíclica, infecto-contagiosa de caráter crônico que causa lesões decorrentes da inflamação da epiderme interdigital e ou estrutura do casco.
     Os primeiros sintomas são gradativamente evidenciados pela claudicação. O animal isola-se do rebanho e diminui a intensidade do pastejo, caminha com dificuldade, sendo característica usual dos animais acometidos pela doença o caminhar sem apoio do membro afetado ou mesmo com os joelhos no caso da enfermidade bilateral, podendo advir a morte por inanição (VIEIRA, 1967, SANTOS, 1985).
      Em conseqüência do processo de necrose do tecido podofiloso ocorre a presença de um exsudato purulento e fétido. As moscas atraídas por esse odor depositam flocos de ovos, surgindo então as bicheiras. A associação entre pododermite e bicheira pode acarretar perda total do casco, culminando com a morte do animal (WOOLDRIGE, 1962, SANTOS, 1985).No Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, períodos chuvosos predispõem ao surgimento de surtos pelo acúmulo de umidade que ocasiona a erosão do tecido interdigital.
     O tratamento curativo consiste no aparo, limpeza e desinfecção das proeminências, partes soltas ou necrosadas  que deverão ser queimadas após retiradas, e todo o instrumental desinfetado, seguido de tratamentos tópicos e ou parenteral.
     BONINO & MUNHOZ (1987) utilizando própolis no tratamento das afecções podais em ovinos verificaram que este produto possui grande poder cicatrizante e sugeriram que pelo seu alto custo, seria de interesse sua aplicação em animais selecionados de cabanha.
     A própolis  tem ação antibacteriana, antisséptica e cicatrizante (PRADO FILHO et al., 1962; LINDENFELSER, 1967; TABER & BACKER, 1974, GRANGE & DAVEY, 1990; MARCUCCI, 1995, MOURA, 1999), antiinflamatória (TORRES et ali, 1990). Segundo ainda GHISALBERTY (1979) a própolis é um antioxidante efetivo, inibindo agregações dos eritrócitos e estimulando a imunogênese.
     Este trabalho teve como objetivo avaliar a viabilidade da utilização da própolis como tratamento alternativo na cura da pododermite necrótica ovina, de origem variada.
 


MATERIAL E MÉTODOS

     Este trabalho foi realizado na Fazenda Gazoto, localizada na micro região de Jaboticabal, estado de São Paulo, com altitude de 575 m, situada nas seguintes coordenadas geográficas 21o 15’ 22” de latitude sul e 48o 15’58”de longitude oeste.
     Foram utilizados doze animais das raças Santa Inês, Morada Nova e seus mestiços, com idade variada, criados em regime de campo, com pastagem predominante de capim-estrela (Cynodon dactylon), sendo suplementados no cocho com mistura concentrada e sal mineral.
     A pasta de própolis foi adaptada da fórmula de Savina e Romanov, citada por CAILLAS (1987) em que uma parte de própolis e cinco partes de vaselina foram misturados e levados ao fogo até atingir a fervura. Em seguida, retirou-se do fogo e ao resfriar-se até a temperatura aproximada de 80o C, coou-se e acondicionou-se a pasta.
     A solução de própolis foi preparada adicionando-se uma parte de própolis a cinco partes de álcool de cereais até a completa homogeneização.
     Após a identificação dos animais efetuou-se o aparo e limpeza inicial dos cascos de acordo com o preconizado para a espécie ovina, utilizando-se água e sabão neutro a fim de remover aderências. Trabalhou-se com os animais em contenção rápida, decúbito lateral com extremidades livres. O manuseio dos animais ocorreu sempre às 16 horas em curral contíguo ao aprisco.
     Um grupo recebeu o tratamento com a própolis em solução e outro em forma de pasta. O terceiro grupo teve seus cascos aparados e limpos e foi mantido como controle.
     A própolis na forma de solução e pasta foi aplicada na mucosa do espaço interdigital do casco, casco duro e casco mole. As quantidades utilizadas diariamente de solução e pasta de própolis foram 4 ml/pata/animal e 4 g/pata/animal, respectivamente.
     Os cascos foram analisados individualmente, sendo adotada a seguinte escala de valores para a avaliação macroscópica das lesões:
     0 - casco  sem apresentar lesões;
     1 - casco apresentando leve escarificação da mucosa do espaço interdigital;
     2 - casco apresentando lesão mediana da mucosa do espaço interdigital e ou casco duro e casco mole;
     3 - casco apresentando lesões graves da mucosa interdigital e ou casco duro e casco mole.
     O delineamento experimental foi em blocos casualizados com 2 blocos e 4 repetições. A unidade experimental foi a pata do animal, com 15 aplicações por tratamento. A regressão média das lesões das patas foi analisada considerando o seu grau inicial de dano, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

     Pela análise dos dados obtidos (vide Tabela 01), constatou-se diferença entre os tratamentos. A média de recuperação das lesões do tratamento testemunha (58,2% B) foi inferior à média de recuperação das lesões tratadas com a própolis em solução (100% A). Entretanto, as testemunhas foram semelhantes aos tratados com  própolis em pasta (82,1% AB). O fato de não haver diferença significativa da testemunha contra o tratamento com pasta (58,2% x 82,1% de recuperação) e do tratamento com pasta contra o tratamento com solução (82,1% x 100% de recuperação), apesar da grande diferença numérica na média de recuperação, deveu-se ao alto coeficiente de variação (40,5%).
     O próprio manejo no aparo e limpeza do casco dos animais (testemunha) proporcionou razoável recuperação dos mesmos (58,2%, em média) e em alguns casos, principalmente em cascos com lesões iniciais leves, houve recuperação total (100%). Todos os cascos tratados com a própolis em solução, apresentaram 100% de cura, independente da intensidade da lesão inicial.
     O tratamento com a própolis em pasta teve um comportamento intermediário entre a testemunha e a própolis em solução. Este fato deveu-se, provavelmente, a maior facilidade da solução em entrar em contato com a região lesada do casco, tendo assim um desempenho superior ao da pasta.
     Esses resultados mostram o efeito benéfico da própolis no tratamento curativo da pododermite necrótica em ovinos e a ligeira superioridade da solução em relação a pasta.
 Os dados obtidos confirmam as informações da literatura que atribuem a própolis propriedade antisséptica, antimicótica, bacteriostática, antiinflamatória e anestésica e mostram que a sua utilização em solução, especialmente para animais de cabanha, pode ser recomendada.

Tabela 01: Avaliação macroscópica das lesões podais de ovelhas com diferentes graus (1 a 3) de pododermite necrótica e sem pododermite (0), antes e depois da aplicação dos tratamentos: testemunha, solução de própolis, pasta de própolis.
 
 

DE DD TE TD
ANIMAL Antes Depois Antes Depois Antes Depois Antes Depois TRATAMENTOS
1 1 0 0 0 0 0 0 0 Solução de própolis
2 2 0 1 0 0 0 2 0 Solução de própolis
3 0 0 0 0 1 0 2 0 Pasta de própolis
4 1 0 2 0 2 0 1 0 Pasta de própolis
5 0 0 0 0 2 0 1 0 Testemunha
6 1 0 3 2 0 0 0 0 Testemunha
7 1 0 1 0 0 0 1 0 Solução de própolis
8 0 0 0 0 0 0 2 0 Solução de própolis
9 1 0 3 2 1 1 1 0 Pasta de própolis
10 2 1 3 1 2 0 2 0 Pasta de própolis
11 0 1 1 0 0 0 0 0 Testemunha
12 3 2 1 1 1 1 0 0 Testemunha

    DE: Casco dianteiro esquerdo; DD: Casco dianteiro direito
    TE: Casco traseiro esquerdo;    TD: Casco traseiro direito
 

CONCLUSÕES

     Nas condições em que foi conduzido o experimento e, com base nos resultados obtidos, chegou-se às seguintes conclusões:
    - o uso da própolis mostrou-se eficaz no tratamento curativo da pododermite necrótica em ovinos.
    - o uso da própolis levando-se em consideração sua obtenção, preparação e aplicação seria viável para animais de cabanha e de alta linhagem genética.
    - a aplicação de própolis em solução conferiu um resultado mais efetivo na redução das lesões, quando comparado ao produto em forma de pasta.
 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONINO & MUNHOZ. Secretariado uruguayo de la lana. Efecto del propoleo en el tratamiento de afecciones podales. Lanas, (85):24-25, 1987.
CAILLAS, A. Própolis. O Apiário - Revista da Associação Apícola do Estado do Rio de Janeiro, 12(123), 1987. GHISALBERTY, E.L. Própolis. Bee World 60: 59-84, 1979.
GRANGE, J.M.; DAVEY, R.W.; Antibacterial properties of propolis (bee glue) Journal R.Soc.Med., London, 83:159-160, 1990.
LINDENFELSER, L.A. Antimicrobial activity of propolis. Am.Bee J. 107(3):90-92 1967.
MARCUCCI, M.C. Propolis: chemical composition, biological properties and therapeutic activity. Apidologie.26:83-99, 1995.
MOURA, L.P.P. Atividade antiparasitária em giardíase e coccidiose. Revista da Universidade de Franca – Edição Especial, 7(7):19-20, 1999.
PRADO FILHO, L.G.; AZEVEDO, J.L. & FLEICHTMANN, C.H.W. Antimicrobianos em própolis de Apis mellifera. Bol. Ind. Anim. 20:399-403, 1962.
SANTOS, V.T. Ovinocultura, princípios básicos para a sua instalação e exploração. São Paulo, Nobel, 88-89, 1985. TABER, S.III, & BACKER, R.J. Honey bees collect caulking material as propolis.Am.Bee J., 114(3):90, 1974.
TORRES, D.; HOLLANDS, I.; PALACIOS, E. Efecto de un extracto alcohólico de propóleos sobre el crescimiento de Giardia lamblia "in vitro". Rev. Cubana Cienc.Vet., Havana 21(1):15-19, 1990.
VIEIRA, G.V.N. Criação de ovino e suas enfermidades.. Rio Grande do Sul. Biblioteca Agronômica Melhoramentos 420-421, 1967.
WOOLDRIGE, W.R. Enfermedades de los animales domesticos. México, Compañia Editorial Continental 313-314, 1962.


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