Medicina oriental |
Para aliviar, espete a agulha no nervo certo |
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De choque em choque. | ||||||||||||||||
A cura de doenças pela acupuntura
sempre foi um mistério para a ciência. Mas o neurocientista canadense Bruce Pomeranz, da
Universidade de Toronto, já tinha compreendido há mais de vinte anos como é possível
controlar a dor com as picadinhas (veja infográfico abaixo à direita). "Existe uma célula na coluna vertebral que se chama interneurônio", conta o fisiologista Gilberto Xavier. "Ela é um neurônio, só que pequeno, e sua função é evitar que o cérebro seja avisado da dor em situações em que isso prejudicaria o indivíduo" - por exemplo, no caso do sujeito que, apesar de ter a perna quebrada, tem de se safar rápido de um acidente. A acupuntura sabe usar esse recurso também em situações menos extremas: quando se estimula um certo tipo de terminação nervosa logo abaixo da pele, o interneurônio é induzido a entrar em ação, bloqueando o caminho da dor no corpo inteiro. "Os pontos de acupuntura, conhecidos há milhares de anos, são justamente os lugares da pele com maior concentração de nervos que ativam esse mecanismo", explica o médico Ysao Yamamura, que chefia o renomado Departamento de Acupuntura da Universidade Federal de São Paulo. Isso justifica o sucesso da terapia no tratamento de dores. Mas, até o trabalho de Cho, ninguém sabia sugerir como ela age em órgãos específicos e faz o paciente sarar de doenças. Eficiência indiscutível No início de 1997, os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos organizaram uma reunião para avaliar a eficácia das aplicações. "A conclusão foi que elas realmente funcionam", disse à SUPER o médico David Ramsay, reitor da Universidade de Maryland, nos EUA, e presidente do encontro. Ramsay acha que há evidências fortíssimas de que as agulhas melhoram dores de cabeça, de dentes, de coluna e cólicas menstruais. Tudo previsto pela teoria dos interneurônios. Mas também ficou provado que ela é eficiente para tratar asma, enjôos em pacientes de quimioterapia ou recém-operados e para ajudar na reabilitação de viciados em álcool e drogas. Nada disso é explicado pela teoria de Pomeranz. Possivelmente, tem a ver com hormônios e neuroquímicos. Em todos esses casos, as aguilhoadas bem aplicadas trazem resultados tão bons ou melhores que os equivalentes ocidentais, com a vantagem de não terem efeitos colaterais. "A acupuntura funciona, e bem, para quase toda doença no começo", diz Yamamura (veja quadro abaixo). "É a terapia perfeita para prevenção, para o que não aparece nos exames, para desequilíbrios hormonais, dores e tudo o que for relacionado à tensão", completa. Fora disso, o tratamento convencional é a melhor opção. Mesmo sem entender seu funcionamento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a terapia aos países-membros. Dos 1 500 acupontos espalhados pelo corpo, a OMS comprova a eficácia de 360. Seguindo esse conselho, o Brasil foi o pioneiro no Ocidente em reconhecer essa prática como especialidade médica, em 1995. "Já somos mais de 5 000 médicos que usam acupuntura no Brasil, sem contar os 20 000 não-médicos habilitados para executar as aplicações", diz Yamamura. Em setembro passado, o Conselho Federal de Medicina proibiu todas as práticas de medicina alternativa que não tivessem sido suficientemente comprovadas. A acupuntura, assim como a homeopatia, foi uma das únicas poupadas. Ou seja, a ciência já sabia há muito tempo que as agulhadas fazem bem. Mas só agora começa a entender por quê.
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Anestesia geral Veja como a acupuntura barra a dor. |
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