As Fazendas

Quando chegaram ao Brasil, os Battistella ficaram hospedados na Hospedaria de Imigrantes, de onde partiram para trabalhar nas fazendas de café. Como já dissemos, o fluxo imigratório foi fruto de um trabalho bem organizado de propaganda, que difundia na Itália as maravilhas do Brasil, e também a existência de uma Itália expulsora pelas péssimas condições de vida na Península itálica.

Porém a realidade era outra, os problemas dos imigrantes estavam nos maus patrões, nos maus tratos, nas promessas não cumpridas, na exploração do trabalho, na desonestidade. Na maioria dos casos, localizavam-se nas grandes fazendas de café, no Estado de São Paulo, onde o espírito escravocrata ainda se fazia presente.

Citamos dois exemplos positivos: primeiro no sul do país, onde a imigração teve aspecto de colonização; o outro, no Estado de São Paulo, em uma fazenda de café. Como fato negativo, mencionamos os do Estado de São Paulo:

“Aqueles que estão bem na Itália, como vocês, meus filhos não devem deixá-la, digo-lhe isso como pai (... ), não acreditem naqueles que falam bem da América, porque são todos embrulhões que arruinaram muitas famílias.”

“De todas as promessas que nos fazem na hospedaria dos imigrantes, nem a décima parte é verdade.”

“É preferível estar numa prisão na Itália, do que numa fazenda de café aqui.”

Esse estado de coisas, após minuciosas visitas de autoridades italianas ao Brasil, levou o governo italiano a tomar, em 26 de março de 1902, providências para tentar minimizar o sofrimento e a exploração aos quais era submetido o imigrante italiano, principalmente nas fazendas de café. Criou o Decreto Prinetti, que proibia a vinda de imigrantes italianos com passagem gratuita, de forma a diminuir o fluxo imigratório. Como conseqüência, já que os fazendeiros precisavam de mão-de-obra para suas lavouras, para consegui-la, teriam que forçosamente melhorar as condições de vida do imigrante. O referido decreto (que na verdade, não era um decreto, e sim uma recomendação) vigorou até a Primeira Guerra Mundial.

Os efeitos gerados por tal decreto são discutidos, pois a ele juntam-se outros fatores que vieram a contribuir para a redução de imigrantes italianos, como a crise agrária. A pressão do governo italiano, que dourou 12 anos, todavia, produziu alguns resultados positivos. Após inúmeras tentativas entre os governos do Brasil e da Itália para resolver esse impasse, resultaram:

1. Crédito agrícola do colono junto aos fazendeiros — era prioritário em relação ao crédito hipotecário;

2. Institui-se uma agência de colonizações agrícolas, que tratava da formação de novos núcleos coloniais.

Se o objetivo dos Battistella, ao saírem da Itália, era ter oportunidade de uma vida melhor, enfim, ser proprietários de terra, poder progredir, fare merica, como diziam, certamente tiveram muita sorte. Os Battistella adquiriram muitas terras no Brasil. Citamos abaixo, as principais terras adquiridas pelos imigrantes.
Proprietário Fazenda/Sítio Município
Luca / Giacomo / Mansueto Araras Araras/SP
Luca / Giacomo / Mansueto Campo Alegre Araras/SP
Luca / Giacomo / Mansueto Independência Araras/SP
Luca Battistella e filhos Pinhalzinho Araras/SP
Irmãos Battistella
(Lorenzo/Giobata/Giácomo/Ângelo)
Remanso Araras/SP
Irmãos Battistella
(Lorenzo/Giobata/Giácomo/Ângelo)
Santa Júlia São Pedro/SP
Irmãos Battistella
(Lorenzo/Giobata/Giácomo/Ângelo)
Marrecas Araçatuba/SP
Antônio Battistella Conceição Engenheiro Coelho/SP
Nicolo Battistella Lote Rural 24 Cascalho/Cordeirópolis/SP
Lorenzo Battistella Lote Rural 26 Cascalho/Cordeirópolis/SP
Pietro Battistella Chácara Graminha Limeira/SP
Pietro Battistella Santa Maria Torrinha/SP
Ângelo Battistella Combate Pirassununga/SP
Antônio Battistella Bocaininha Santa Maria da Serra/SP
Giuseppe Battistella São João Limeira/SP

Nestas fazendas, chácaras e sítios, adquiridas com muito esforço, os Battistella desenvolveram as mais variadas atividades agrícolas e agropecuárias, porém citamos as principais: plantaram 392.000 pés de café; mandioca (produziam farinha, raspa e polvilho de mandioca); cana-de-açúcar (produziam aguardente de cana/pinga), possuíam alambique próprio, a pinga chamava-se “Battistella”; olaria (produção de tijolos e telhas) – A olaria São João foi o precursor do que hoje é a Cerâmica Battistella; criação de gado leiteiro e de engorda; plantação de milho, arroz e feijão.

Os fatos positivos e negativos aqui apresentados demonstram a grandeza da imigração italiana para o nosso país, e não há dúvida de que foi extraordinariamente positiva para o desenvolvimento do Brasil. O progresso que adveio desse movimento imigratório proporcionou a grandeza de nossa nação.




Fazenda Campo Alegre, foto de 1925


Festa de inauguração da sede da Fazenda Independência, em 1928


Inauguração da sede da Fazenda Pinhalzinho, em 1915. No canto direito, está a família de Luca Battistella

Lorenzo Battistella e os filhos Fortunato, José e Otávio na área industrial da Fazenda Pinhalzinho (fábricas de raspa e farinha de mandioca, pinga, óleo de laranja), o canal d’água que movimentava a rota d’água e a casa da turbina, que fornecia eletricidade às residências


Sede da Fazenda Santa Júlia, onde aparecem as noras de Giacomo, da esquerda para a direita Maria Helena (esposa de Amadeu) e Linda (esposa de Atílio)


Fazenda Nossa Senhora da Conceição, onde se vêem a sede e o confinamento


Atual casa sede da parte da Fazenda Santa Maria. Foto de 2002


Fazenda Combate, propriedade de Giacomo Battistella


Celso Battistella, na Fazenda Bocaininha, na casa de Paulo Egídio, ao lado de netos, bisnetos e tataranetos de Antônio Battistella