O traço criativo de Luis Augusto: arte, arquitetura e literatura

O baiano Luis Augusto, autor da série Fala, Menino! fala sobre sua relação com a arte, seu trajeto acadêmico – compartilhando algumas dúvidas comuns a muitos estudantes – e sua carreira profissional 

*Por Gustavo Salgado 

Sempre foi leitor de quadrinhos, mesmo antes de aprender a ler. E como desenhar era seu passatempo preferido, ou “pelo menos o que me fazia sentir mais especial desde sempre” como define, para Luis Augusto desenhar os personagens de quadrinhos que admirava era algo mais do que natural.

Na antiga sexta série, atual sétimo ano, Luis tinha um colega fã do Thor com o qual criava longas disputas entre o Deus nórdico da Marvel e o Superman, que o artista defendia. “Todos os dias, (um dia ele, outro dia eu), preparávamos uma página de quadrinhos onde um herói humilhava o outro. Era um exercício interessante do qual nenhum de nós dois tinha consciência do que significava…”, explica.

No ensino médio foi responsável pelo jornal da turma, quando criou seu primeiro personagem, um vampiro nordestino e vegetariano, “já que na seca, os pescoços também secaram mais do que deveriam”. Foi nessa época que começou a fazer ilustrações e histórias em quadrinhos para uma rede de locadoras de vídeo, bem no auge do VHS.

Aos 10 anos Luis queria ser general do exército para se tornar presidente da República. Durante um tempo quis ser jornalista, feito o Clark Kent. “Mas acabei sendo induzido pelos meus pais a fazer Arquitetura. Minha mãe tinha medo que, se eu fizesse Facom, virasse maconheiro… Acreditem! (Hoje, ela já sabe o quanto suas preocupações não faziam o menor sentido)”, confessa, brincando.

Tirinha publicada no dia 13.12.13
Tirinha publicada no dia 13.12.13

Como sempre achou Arquitetura uma profissão muito bonita e sabendo ser baseada em desenho e criatividade, imaginava que iria gostar – mas nunca trabalhou como arquiteto. Já no primeiro ano na faculdade de Arquitetura da UFBA, Ziraldo conheceu seu traço e o chamou para trabalhar com ele. Luis Augusto tinha apenas 17 anos e passou a fazer parte da equipe que produzia as aventuras do Menino Maluquinho para o gibi da Editora Abril. Na metade do curso já dava aulas de artes-integradas para crianças dos dois anos à oitava série (atual nono ano). Nessas aulas, voltou a trabalhar com quadrinhos.

Foi a partir de sua experiência como Arte-Educador que nasceu o Fala, Menino!, obra pela qual ganhou o Prêmio HQ Mix de Melhor Álbum Infantil (1997) e Menção Honrosa na Categoria Trabalhos Gráficos, outorgado pela Unicef (1999).

Luis Augusto, em foto de 2012, atualmente com 42 anos: fã desde criança do Superman Foto: Acervo Pessoal
Luis Augusto, em foto de 2012, atualmente com 42 anos: fã desde criança do Superman
Foto: Acervo Pessoal

 

“Comecei a acreditar em quadrinhos como profissão quando ganhei uma menção honrosa no Primeiro Concurso de Quadrinhos da Academia Brasileira de Artes em São Paulo, em 1995.  Na premiação, e primeira exposição do meu trabalho, conheci o Maurício de Sousa, reencontrei o Ziraldo (sete anos depois) e resolvi que era um sonho plausível. No ano seguinte, coloquei a mochila nas costas e fui pra NYC, tentar entrar na Kubert School of Cartooning and Graphic Arts (que fica pertinho, em Dover – NJ). Acabei entrando, fiquei oito meses lá, fazendo ilustras como free-lancer (criei até uma personagem para uma Comic Store), mas não cursei… Mas neste período, vi que já estava num caminho sem volta. E nem queria voltar mesmo…”. Luis Augusto afirma também que é difícil viver de arte na Bahia (quase um senso comum), mais especificamente quadrinhos. “Principalmente se você não tem pai rico… Que inveja eu tenho do Walter Salles ou do Cazuza… Você não faz ideia”, completa.

“Como o Fala Menino! acabou gerando uma relação muito constante com professores e escolas, acabei me concentrando em duas áreas: a produção diária e constante das tiras (tanto as autorais, para jornais que acabavam virando livros, quanto as institucionais, feito as que publiquei nas faturas de eletricidade da Coelba) quanto na criação e promoção (em eventos, palestras, visitas escolares, etc) de livros para-didáticos com os meus personagens”. Isso tudo exigia de Luis um horário preso a esses compromissos, o que acabou o distanciando da comunidade de cartunistas e quadrinistas brasileiros, que encontrava em eventos cada vez mais distantes e foi se afastando “mais do que deveria”, avalia. “Além de colega, sou fã do trabalho de muitos artistas nacionais e mesmo nos encontrando raramente, principalmente durante os anos de tirinha diária em jornais, hoje sou amigo de muitos e mantemos contatos feito quaisquer amigos distantes em tempos de internet”.

Para saber mais sobre Luis Augusto e seu trabalho Fala, Menino!, acesse o blog da série.

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