sexta-feira, 3 de junho de 2011

Como funciona uma análise?

 A psicanálise é uma outra possibilidade de olhar o ser humano.
Um homem, uma mulher, são seres que podem ser vistos e pensados sob vários prismas: orgânico, psicológico, espiritual, antropológico, social, psicanalítico... 
Como a psicanálise trata, ajuda, cura e entende o sujeito? É importante destacar que a vivência de uma análise é algo singular, ou seja, cada sujeito experimenta e encontra uma parte de si “desconhecida”. Nesse sentido, não há como definir o que é uma análise e sim o que a psicanálise privilegia, cavoca, trata e nos transmite. podemos falar do que é a psicanálise.

1)Tratamento: O poder da fala

O tratamento psicanalítico se dá pela via da fala. Durante a sessão, o analista pede que o analisante fale o que lhe vier a cabeça, sem se preocupar com julgamentos morais. Para que isso ocorra, é preciso que o analisante coloque o analista em um lugar privilegiado, de alguém que tem um certo saber. Assim como quando se vai a um médico, tarólogo, pai de santo, padre, rabino, xamã. A idéia inicial é que o outro sabe.  Lacan denominou o saber do analista como: "Sujeito suposto saber".
Desde já, no entanto, destaco que o analista não sabe. Quando Lacan propôs a fundação de uma escola de psicanálise afirmou: "O não sabido ordena-se como quadro de saber". Assim como o analista foi um analisante, e pode saber algo, a idéia é que o saber está no próprio analisante. Uma posição humilde, pois, de fato, não sabemos do outro, não tiramos sofrimento de ninguém. Apenas ajudamos. Mas como? Como a psicanálise ajuda então?

2) Ajudar: O poder da escuta

Como o analista sabe que não sabe do outro, desde o início de um tratamento ele se coloca como alguém que pode ajudar, mas não no sentido de ajuda que conhecemos. A ajuda se dá pela via da escuta. Em sua escuta flutuante, o analista (que deve ter ou estar em análise) tem um saber inconsciente. Um saber de si que é essencial para ajudar o outro. Através de intervenções, silêncios e perguntas, ele ajuda o analisante a falar mais e mais até que o que é realmente importante é dito. Esse importante, não é o que importa ao analista, mas sim, ao sujeito que diz.
Cada um precisa e demanda um tempo para falar o que importa e com quem escolheu. Cada um tem um tempo de construção da sua questão. Ou seja, o analisante busca aliviar um sofrimento que julga não saber. Pede um saber ao analista. Demanda algo ao analista.  Á medida que fala, percebe que a questão que o trouxe é outra. Pode até ser a mesma, mas vai se dar conta de que o analista se não sabe, pelo menos, não responde.Neste momento, podemos pensar no conceito de cura que se liga à fala justa.

3)Cura: O poder do amor

O analista não é um médico que dá alta. Não é um psicólogo que avalia, não é um curandeiro que tira a dor do outro. Para a psicanálise, a cura vem do próprio sujeito que busca um tratamento. Ele se cura principalmente pela fala, pelo amor e pela responsabilidade de seu desejo. (Tema que será abordado adiante). Mas, que amor é esse? Jacques Lacan, psicanalista francês, coloca: “Amar, é dar o que não se tem”. Ou seja, amar, é dar a falta. Começamos a entrar no terreno de como a psicanálise Presupõe o ser humano.

4)O ser humano do ponto de vista psicanalítico: O poder do outro

Somos seres desamparados desde o nascimento. Pelo fato de dependermos de outra pessoa  para nos alimentar, dar amor, palavras, olhares desde que nascemos, apresentamos um estado faltoso. dependemos do outro.Precisamos do outro para nos... A questão é que nem todos receberam palavras, cuidados e foram olhados e amados como necessitavam. Aqui, começam alguns sofrimentos.

Dando um salto, de uma forma geral, a psicanálise entende que o ser humano é um ser de fala, linguagem, que é marcado desde antes do seu nascimento por palavras dos pais que já indicam a posição da pessoa no mundo. Por exemplo, na melhor da hipóteses, a mãe diz que terá um filho forte, que será médico, advogado, será alguém importante....

O sujeito já nasce neste cenário preparado pelos pais e se posicionará na vida sendo médico,  ou fazendo questão de não ser, mas em relação ao lugar que os pais o colocam.

Este ser que já nasce com um lugar marcado (mesmo que seja o da exclusão, por pais que não desejavam) é um ser de falta. Se algo nos falta, temos desejo. Ou seja, só desejamos porque a falta existe e ela é para todos. A psicanálise provoca e convida  o sujeito a falar de sua falta e consequentemente de seu desejo, pois, a idéia é que, o modo como nos relacionamos com nosso desejo, diz muito das nossas possibilidades de vida e de sofrimento.
Vejamos exemplos destas possibilidades:
-As depressões, podem ser uma saída covarde perante o desejo.
-O pânico/angústia pode encobrir a fixidez de cenas traumáticas ou desvelar a desproteção do desamparo fundamental ou....
-A angústia pode paralisar o sujeito, deixá-lo ansioso, perdido, irresponsável por seu desejo. Pode também fazer o sujeito produzir e avançar em sua análise.
-Uma mãe colada em seu filho, pode desencadear uma crise existencial ou surtos na medida em que o filho se separa dela e vai para o mundo. Nesse sentido, a criança tamponava seu desejo. Como ilusóriamente não havia falta (já que filho e mãe se completavam), não havia desejo.
Exemplo de sofrimentos e sintomas não faltam, porém, cada um sabe bem aonde o calo aperta.
Nem todos precisam de uma análise. Somente aqueles que sofrem, se angustiam, deliram, surtam. Mesmo que não tenham questões, uma análise pode servir para a construção de uma.

 

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