AGROSOFT 95
Feira e Congresso de Informática Aplicada à Agropecuária e Agroindústria

A Utilização da Informática na Agropecuária

Contato
Jurandir Zullo Jr.
CEPAGRI - UNICAMP
Cidade Universitária - Barão Geraldo
13.083-970 - Campinas - SP
e-mail:
jurandir@cpa.unicamp.br

Autoria
Jurandir Zullo Jr. - CEPAGRI - UNICAMP

RESUMO
O objetivo deste artigo é o de discutir a utilização da informática na agropecuária com base nas experiências que vem sendo realizadas na Unicamp. Destacam-se, neste contexto, os esforços empreendidos por grupos de pesquisa multidisciplinares e a popularização do uso da internet.

ABSTRACT
The main of this paper is to discuss agricultural computers' use based on the experiences developed at Unicamp. We can emphasize the efforts of the multidisciplinary research groups and the popularization of the internet use.

1. Microinformática e Programa Aplicativos

É praticamente impossível imaginar como seria o mundo atual sem a utilização da informática. A sua presença é cada vez mais importante e imprescindível em praticamente todos os campos da atividade humana. Pouco se faz, atualmente, sem a utilização, por menor que seja, de algum recurso computacional.

O advento da microinformática, a pouco mais de uma década atrás, sem dúvida nenhuma, é de grande importância nesta evolução, por ter proporcionado uma redução de tamanho e preço dos equipamentos disponíveis. Era prática comum dos meios de comunicação de massa, nesta época, a exibição de reportagens mostrando as possíveis utilizações da nova tecnologia, que se fazia mais acessível a grande parte da população, nos vários campos da atividade humana. No caso da agropecuária, houve sempre um interesse especial por causa de sua importância para o país e, também, por ser um ambiente completamente diferente daqueles aos quais costumava se associar com a presença de um computador.

Deparava-se, freqüentemente, com fotos de microcomputadores em pleno campo, debaixo de um sol intenso, ao lado de animais e máquinas agrícolas, ou então portando artefatos típicos do meio rural como os chapéus de vaqueiro, por exemplo.

As revistas e os jornais, principalmente os de informática e agropecuária, davam bastante destaque às atividades pioneiras de utilização dos microcomputadores nas atividades agropecuárias. Eram, sobretudo, aplicações de gerenciamento das propriedades, repetindo-se o que normalmente se fazia na cidade, ou controle de rebanhos e plantações extensivas.

No meio acadêmico, que teve acesso à tecnologia da informática muito antes do que grande parte da população, era comum a realização de cursos e palestras sobre o tema, denominado de "informática rural", com presença maciça de participantes das mais diferentes origens, como estudantes, produtores rurais, informatas e pesquisadores, por exemplo. Além desses, havia ainda um grande número de pessoas, que embora não tivessem muita relação com o tema, participavam dos eventos devido à curiosidade que o assunto despertava.

A introdução da microinformática no meio rural era citada como uma nova revolução no campo, semelhante ao acontecido com a mecanização agrícola. Por isso, havia uma grande preocupação quanto ao impacto social que isto poderia causar, contribuindo para aumentar, ainda mais, o êxodo rural.

Comparando-se os recursos computacionais existentes a dez anos atrás com os que temos disponíveis atualmente, conclui-se que eram iniciativas realmente heróicas e que era difícil se fazer mais do que já era feito. Os programas desenvolvidos nessa época eram eminentemente destinados à substituição do homem em tarefas repetitivas, liberando-o para outras atividades mais importantes.

Os "softwares agrícolas" surgidos com o advento da microinformática podem ser caracterizados então, como sistemas computacionais destinados à resolução de problemas bem específicos das propriedades rurais numa escala local. Esse tipo de sistema sempre terá o seu espaço e a sua importância, pela constante necessidade de aumento da produtividade no setor agropecuário, sendo que grande parte de sua produção deve-se às empresas particulares conhecidas como "soft-houses".

Como exemplo de uma experiência realizada nesse sentido na Unicamp, cita-se o desenvolvimento de um sistema computacional destinado à realização dos longos e exaustivos cálculos topográficos (Beraldo & Zullo Jr., 1986). Existem, atualmente, sistemas com mais recursos que este, principalmente no que se refere à interface homem-máquina. Os cálculos realizados, entretanto, são os mesmos. Isto mostra outra característica importante dos "softwares agrícolas" aplicados, nos quais a maior parte do seu desenvolvimento atual é, principalmente, na interface homem-máquina, visto que a sua base teórica está, quase sempre, muito bem definida, não havendo necessidade nem possibilidade de mudanças.

Sistemas como este desenvolvido naquela época na Unicamp, auxiliam bastante os profissionais da área a que se destinam, melhorando a confiabilidade de seu trabalho e livrando-os de atividades cansativas, repetitivas e com várias possibilidades de ocorrência de erros. Não se notou, na época, exclusão de mão-de-obra, mas a liberação de sua utilização para as atividades mais importantes da respectiva área.

2. Sistema de Informação, Pesquisa e Internet

Existe, atualmente, uma outra tendência de aplicação da informática na agropecuária que é o desenvolvimento de sistemas de informações, utilizando-se as facilidades colocadas pelas redes eletrônicas na rápida disseminação, clara e limpa, de dados. Esses sistemas têm o objetivo principal de auxiliar os produtores na tomada de decisões importantes dentro de suas propriedades e os órgãos governamentais na definição das políticas para o setor.

Exemplos clássicos e importantes desse tipo de sistema são o alerta do risco de ocorrência de geadas, a estimativa da produção de culturas agrícolas, a detecção de incêndios e o controle de pragas e doenças. Observa-se, claramente, que são sistemas de abrangência regional, em comparação com os "softwares agrícolas" aplicados, que atuam mais localmente nas propriedades. São também bastante sofisticados e requerem, em grande parte, um investimento contínuo de pessoal e equipamentos para que se obtenham resultados satisfatórios. Baseiam-se, principalmente, no esforço de equipes multidisciplinares existentes em órgãos de pesquisa e universidades, que trabalham vários anos para chegar a resultados confiáveis e que tenham aplicação prática real.

A popularização do uso das redes eletrônicas, como a internet, por exemplo, está dando um fôlego novo à disseminação das informações agropecuárias que são produzidas pelos órgãos de pesquisa mas que sempre tiveram muita dificuldade para divulgá-las. O produtor agropecuário, a cooperativa e os demais órgãos interessados num determinado tipo de informação não precisarão possuir nem executar os programas que lhe forneçam as informações desejadas. Bastarão ter alguma forma de acesso, preferencialmente eletrônico, para obter a informação requerida. Ou seja, o mesmo microcomputador que executar os programas aplicativos, poderá ser utilizado para obter informações necessárias à tomada de decisões.

Um outro aspecto interessante dos sistemas de informações são os subprodutos gerados durante o seu desenvolvimento e que, pela sua importância, justificam a sua separação num módulo à parte, para aplicações futuras distintas daquela que serviu de base para a sua geração. Como exemplos desse fato, cita-se o banco de dados pluviométricos, o sistema de identificação de madeiras (Beraldo & Zullo Jr., 1986) e o programa de ajuste de curvas (Zullo Jr. & Arruda, 1986).

Embora haja necessidade contínua de pesquisa e desenvolvimento para gerar novas informações, cada vez mais importantes para as atividades agropecuárias, já existe uma boa quantidade delas produzida em todos esses anos de pesquisa nesse setor e que podem e devem ser colocadas à disposição do público.

A Unicamp vem trabalhando nesse sentido, colocando uma série de informações agrometeorológicas ao acesso do público em geral através do endereço http://orion.cpa.unicamp.br. Além disso, vários outros trabalhos de pesquisa vem sendo realizados para que mais informações de interesse sejam colocadas num futuro próximo, como os de Almeida (1995) e Hamada (1995).

3. Conclusões

Pode-se, portanto, distinguir duas formas principais de utilização da informática para fins agropecuários: a que surgiu com o advento da microinformática, na primeira metada da década de 80, e a que vem ganhando cada vez mais espaço e importância, devido ao fôlego que recebeu da popularização das redes eletrônicas. Ambas são importantes, possuem as suas características próprias, e devem cada vez mais receber incentivos oficiais.

4. Bibliografia

Almeida, C.A.S. de, O processamento digital de imagens NOAA-AVHRR para a estimativa de temperatura de superfície em campo irrigado de trigo. (Nesta publicação)
Beraldo, A.L., Zullo Jr., J., 1986; Sistema de Identificação de Madeiras, Anais do II Encontro Brasileiro em Madeira e em Estruturas de Madeira, Vol.I, pp.40-67.
Beraldo, A.L., Zullo Jr., J., 1986; Sistema Topográfico Computacional, 38a Reunião Anual da SBPC.
Hamada, E., Processamento digital de imagens de satélite meteorológico para avaliaçào de biomassa de trigo. (Nesta publicação)
Zullo Jr., J., Arruda, F.B., 1986; Programa Computacional para Ajuste de Equações em Dados Experimentais. Boletim Técnico No 113, Instituto Agronômico de Campinas, 31p.