sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cadê a Mata que lhes dei?

















[Quadra]
Sonhei que já estava morto
E com Deus fui conversar,
E em uma dessas conversas
Foi Ele assim me perguntar:

[Setilha]
- Meu filho você veio
Do litoral da Bahia?
Lá fiz a Mata Atlântica
Foi logo no sexto dia
Pedi ao homem pra cuidar
Para purificar o ar.
Como fiz com alegria!

[Décima]
Como a Mata está
Eu pergunto a você?
Estou querendo saber.
De tudo que nela há
Dei para conservar
Pros animais ter moradia
E os pássaros na sinfonia
Fazer a orquestração
Pra vocês da região
Viver em plena harmonia.

As árvores como estão
E os frutos com o sabor?
Eu os fiz com muito amor
Pra cair sementes no chão
Para que nesta região
As árvores multiplicasse
Para que purificasse
Todo o ar do ambiente
Fiz também as nascentes
Para que a água jorrasse.

Diz meu filho como estão
Os pássaros que lá deixei
Fiz mais ainda não sei
Se houve conservação.
Dediquei a esta criação
Todo fruto e toda flor
Regados com muito amor
Mandei que a chuva molhasse
Pra que a semente vingasse
E desse fruto com sabor.

A Mata Atlântica eu quis
Fazer em todo o litoral
Alegrar gente e animal
Foi pra isso que eu fiz
Com firmeza na raiz
Para que pudesse agüentar
Macaco, mico, sabiá,
E que todos os moradores
Tivessem muitos sabores
Na hora de alimentar.

Para a mata aumentar
Em toda sua extensão
Coloquei a criação
Pra desse caso cuidar
Estando tudo no lugar
Para que a flor fecundasse
Deixei que a abelha levasse
Os polens para as flores
Junto com os beija-flores
Pra que tudo continuasse.

Diz meu filho como está
Os rios que lá deixei?
Isso tudo eu programei
Para que os viventes da Mata
Tivesse a água farta
Pra lavar e pra beber
Também fiz o rio descer
Cheio de peixes graúdos.
Eu programei tudo
Para o homem feliz viver.

Fiz o bioma na
Para o ciclo prolongar
Pra viver naquele lugar
Deixei a fauna repleta
E a flora por completa
Deixei tudo de montão
Deixei micróbios no chão
Para os dejetos destruir
E para tudo florir
Deixei o adubo no chão.

O que Eu vejo é horrendo!
E no estado da Bahia
Tudo que daqui eu via
Já não mais estou vendo
O que está acontecendo?
Procuro o que plantei
Mas ainda não avistei.
Vejo grande devastação!
Como dói meu coração
Cadê a Mata que lhes dei?

- Meu Pai todo poderoso
Não sei o que responder!
A semente do mal foi nascer
No coração orgulhoso
Do homem ambicioso.
O egoísmo ele encontrou
E a Mata ele devastou.
O que fizeste com alegria
Ele matou por covardia
O que o Senhor plantou!

Acordei de manhã cedo
Contemplei o horizonte
Bem longe estava o monte
Que até fiquei com medo
Fazia parte do enredo
Muitas árvores queimadas
Tudo seco eu avistava.
Então eu fiquei tristonho
E lembrando do sonho
A tristeza me dominava.

Airam Ribeiro

Utopia

















Fui só um paiáço nos palco da vida
Fazeno os outros dar gargaíadas,
Inquantu eu mermo nun tinha aligria;
Xorano pur dentu cum a alma istraçaiada,
Eu inxugava as lágrima nas minhas fantazia.

Airam Ribeiro

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Canção para Giovana



Parece que o retrato fala
Na parede da sala
Pois oiço uma voiz que imbala
Dizeno in forma de canção:
- O meu espírito perfeitio
Não lhes deixô fora de jeitio!
Estô do lado do peitio
Dento do seu coração.

Estô em todo o lugá
São muitios para afagá
Sei que estão a me amá
Mas lhes digo: - aqui estô!
Deus me deu este presente
Eu nunca fiquei ausente
Estou eternamente
Ao lado de quem me amô.

Na entrada do corredô
Tem um retratin d’ua flô
É um pedaço do vovô
Que se foi com pôco tempo,
Sinto seus óios me fitá
E um sorriso ao me oiá
Que fico hora a meditá
Imbalando-a em pensamento.

Foi cimbóra no tempo certo
Dentro do certo ou incerto
Meus pensamento diserto
Está aquém do Criadô,
Seu surriso na futografia
Me deixa xêio de aligria
Eu relembro os bons dia
Que vancê na terra passô.

Espero um dia te encontrá
E juntin nóis vamo está
Pra eu pudê recumpensá
Os afago que nun te dei,
Jamais vô te isquecê
No meu coração mora vancê
Quereno Deus vou te vê
Só que o dia eu não sei.

Airam Ribeiro

Dedicado a minha netinha que faleceu em 17 de agosto de 2009

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Pergunta pra Santu Antoin















Sei qui o sinhô nun tem muié
Pois se quisesse tinha um monte
Mais Santu Antoim me diz cuma é
Vivê sem muié, min conte!

Muié mermo verdadêra
Essas tem pôco por aqui
Min diz logo de premêra
As boa ocê tá dexano aí?

Eu tõ percizano de uma
Óh meu santin cazamentêro
Eu num quero quarqué uma
Manda uma boa pra Airam Ribêro.

Qui duas vela eu vô acendê
De noite no seu artá
Oia bem meu Santo Antoin
Vê o que o sinhô vai min arranjá!

A qui o sinhô min ranjô ano passado
Num min quis pruquê eu num tinha diêro
Pur isso o sinhô tenha coidiado
Pregunta se ela qué eu primêro.

Airam Ribeiro

O ispêi num mente






















Dô di cara cum u ispêio
I veju neli uns pé di galinha
As pápebras cainu nus zóio
Na testa u’as cruviinha
A boca cem niun denti
Eli rifleti memu a genti
I a toda nóça vidinha.

Tô oianu nu ispêio
Cum us zóio mei nuviadu
Um zócru fundu di garrafa
Eu vêju ancim inubradu
Mai eli rifleti u’a verdadi
Mostranu u’a riealidadi
Dus mutios anus passadu.

O precôçu xêi di pelanca
Cabelu brancu nus peitiu
Na barriga u’a banha vêia
Cainu di todu jeitiu
A bunda ta cem rexêi
I oianu mais pelu mêi
Um iimbigu todu disfeitio.

Mai imbáxu u’a curnixa
Oianu pra báxu du xão
Cum quem dicipicionadu
Com a sua situação
Cançadu e sem isperança
Pra báxu eli só balança
Mai subí nun sóbi não.

I deçenu mai pra báxu
Nu ispêio ficu a ispiá
As perna vêia cansada
Ela num pódi mai andá
Foi ligêru pelus camin
Ôji só anda devagarin
Cum us paçu a contá.

I us pé, ah us meu pé!
Quantas vêis eli já andô
Quantas péda nus camin
Êçi meu pé já xutô
Quantu cálu nas viagi
Quantas topada nas passagi
Quantus xulé já pegô

O ispêio!... ah eli num menti
É fotogarfia originá
Eli mostra toda u’a vida
Cada vêiz qui oçê oiá
Nun adianta siscondê
Us arranju di fóra pódi fazê
Mai a cicatriz? Éça ai ficá!

Airam Ribeiro

airamribeiro@gmail.com

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

No dia qui castrei Pedernêra





Interação com Claraluna DF












Saí dipréça correno
Pra atendê seu recado
Quando li a sua trova
Já fiquei discunfiado
De um cabra qui aqui xegô
E u’a donzela deflorô
Fui cunhecê o safado.

Já tava no mato iscondeno
Quando eu xeguei pur dirtráis
Cum as corda fui amarrano
Aquele safado rapaiz
Despois dele amarrado
Fiz de um um ômi inraivado
Infrentei o capátaiz.

Preguntei intão ocê
Vei da mata du fundão
Dizonrô dona Rozinha
Muié de bom coração
Ocê é um disgraçado
Inté um pobri coitiado
Qui naçeu sem coração.

Viu seu Perdenêra
Tem um prêmio pra quem li castrá!
Já qui tu ta marrado
Seus cunhão eu vô tirá
Pois aqui na Bahia
Safado num tem aligria
Cê deu azá di vim cá.

Ocê ta mutio falado
Pur êci Brazí brazilêro
Foi néça úrtima cidade
Qui ocê xegô intêro
Pode rezá pra sua santinha
Inquanto afio a faquinha
Na peda do piquizêro.

O ômi suava tanto
Gritava pur nosso Sinhô
Num tira meus ovo não
Min faiz este favô!
Quando tu tava lá no canto
Dexano as moça in pranto
Disso cê num se alembrô!

Cumeçei cortá os ovo
Cum aquela faquinha gróça
Cada taio qui eu dava
Alembrava da carroça
E do cavalo qui eu ia ganhá
Já cumeçava a soinhá
Cum as lavôra lá da róça.

Tu inda fórça as donzela?
Ancim eu li preguntava
Inquanto um dus ovo
Na minha mão já cigurava
O outro cumecei cortá
Quando vi eli xorá
Mais niuma lágrima rolava.

Cortei o outro ovu
Qui a capanga ficô vazia
Agora nóis temo um cazu
Cê vai sintí agunia
Agora vô cortá seu pinto
Nium remorço eu sinto
Só lembrano das pobri famia.

Inconto tô custurano
Éça capanga de ocê
Vô botá sá e pementa
Só pra vê ocê gemê
E Perdenêra os dente rangia
Inquanto os butão da braguia
Eu cortava pras carça deçê.

Foi a ora de cortá o pinto
Cum u’a giletinha amolada
Quando dei o premêro corti
Só vi sangui da guinxada
No segundo taio intão
A curnixa caiu nu xão
Fico Perdenêra sem nada.

E pra frente da paióça
Lá no istado de Goiáis
Intreguei aquele safado
Qui martratô muitios pais
Intreguei os ovos cortado
E trouxi pro meu istado
As nutíças pros jornais.

Airam Ribeiro

Min cazei cum a solidão


















Piaba deu um latido
Mas despôs parô de latí.
Era gente cunhicido
A peçoa qui xegava ali
Parô frente à cancela
Qui pensei: o quê qui ela
Tava fazeno pur aqui?

Xegô inté lambê os pé
O rabo já balançava
Cunhecendo a muié
Qui um dia min bandonava
E pulava inrriba dela
Cum quem a preguntá préla
Vortô pra dondi morava?

Eu ispiêi meio calado
E mim alembrei do dia
Qui na istrada dôtro lado
Ela levô minhas aligria
Dexano pra mim as tristeza
Junto com minha pobreza
E sem aquela cumpanhia

Agora ali estava
In frente a véia paióça
Cuma quem qui percurava
Arguma coiza na róça
Intrá, eu num mandei
Pruquê na hora eu alembrei
De sua atitudi tão gróça.

Foi intão qui ela falô
Cumé quitá Bastião!
Vim in busca do véio amô
Qui dexei aqui no grotão
Pur onde eu fui nun axêi
Iguá a ocê nun incrontei
Quem min tiráci da solidão.

O mundo tem muitas porta
Mas todas se fexáro pra mim
Tano nele sem comporta
Ninguém pode vivê ancim
Venho aqui pidí perdão
Te devorvo meu coração
Para você Bastiãozin.

Dei um suspiro prefundo
Cum réiva mas teno dó
Preguntei: intão no mundo
Tu nun axô ôtro mió?
Mutio tarde ocê xegô
Pois Bastião já se cazô
Ele nun vévi mais só.

Lá na cruva da istrada
Eu vi um dia o meu fim
Descambano na xapada
Foi minha fulô de jasmim
Naquele dia intão
Eu cazei cum a solidão
Para nun morrê sozin.

Cum ela eu tô cazado
Custumei cum o sufrimento
Min adivirto cum o roçado
E brinco cum meus pençamento
Axando o meu amô pôco
Cê foi in buscá dôtro cabôco
Disfazeno dum cazamento.

Nun li mando ocê imbóra
Devido minha inducação
Minha alma inda xóra
Nun dianta pidi perdão
O caxorro qui li cunheceu
Foi o único amigo meu.
Mais ancê?... Ancê não!

Minhas porta procê se fexô
Ocê errô de pôzada
Nôtra istrada foi meu amô
Aquela da cruva da xapada
Fui pur ela qui ti vi partino
Nela ocê cuntinua ino
Inté o mundo li da morada.

Airam Ribeiro

Retrato dum rio morto

















Vê aquela areia quente
Que o jiguin tá espojado
Ali nos tempo passado
Inda lembro na mente
Passava água corrente
Que xegava com fartura
Era grande a espeçura
No fundo tinha cascudo
Mas cabô aquilo tudo.
Como era uma formosura!

Discia pura e cristalina
A água lá do riaxo
Quando xegava cá em báxo
Trazia peixe lá de riba
Comia todos inxia a tiba
O que o rio oferecia
Tantas vez ele trazia
Junto com a correnteza
A fartura que a natureza
Dava pra nóis todos os dia.

A casinha nas marge
Ao lado do leito vazio
Onde passava aquele rio
Descreve outra image
Com os tempo de estiage
Ela tombém ficô vazia
Findô aquela aligria
Da festança no quintá
Foi cimbora o pessoá
Ao vê que o rio murria.

Quando óio no retrato
Inda da pra percebê
Que a água pra bebê
Vinha do meio do mato
Onde nascia o regato
Imbáxo da capuêra
Correu a vida intêra
Sem cansá nunca parô
Tanta gente nele pescô
Na sombra da ingazêra.

A ingazêra coitiada
Essa foi iguá ao rio
Nun güentô o dizafio
E cum tempo foi tombada
Da árvore não restô nada
Acabô tá quá a água
Que foi levano a mágua
Da quintura que evaporô
Só mermo areia ficô
Nun restô um pingo d'água!

Comxambramento no mato



















Sentença Judicial de 1833

O cabra Manoel Duda
Agarrou para coxanbrar
A mulher de Xico Bento
Que ia para a fonte se lavar
Fez muita xumbregâncias
Devido as circunstâncias
Qui estava ali no lugar.

O supracitado cabra
Sahiu da moita de supetão
Asfreganhou-se a coitada
Dando-lhe um esfregão
Que seu sangue vermelho
Ficou só amarelidão.

Elle abrafoulou-se della
Deitando ali no chão
Que as encomendas della ficou
A Deus dará na questão
O matrimonio não foi concreto
Porque o senhor Nocreto
Apareceu na ocasião.

As duas moças donzellas
Clarinha e Quitéria
Disse que o Xico Bento
Era muito cheio de pilhéria
Quis com ellas se chumbregar
Que quase dava em miséria.

A igreja cathólica
Condenou o acuzado
Por ser o Manoel Duda
Um sujeito deboxado
Que por ele as pessoas
Nunca foram respeitados.

Era um sujeito perigoso
E devido a perigança
Ele pode até amanhan
Com eças traficanças
Fezer mais malificio
Notras suas andanças.

Por isso eu condeno
Pelo malificio que fez
Ele ser logo capado
Os dois ovos de uma vez
Que é pra acabar logo
Dessa sua altivez.

Que essa sua capadura
Seja com um macete
Que o Sr. Chico Bento
Se arme de um porrete
Que perante a todos
Desça em Duda o cacete.

E assim o juiz de Direitos
Nestes termos decretado
Deixando o Xico Bento
Pela Lei sendo capado
Que devido o ocorrido
E perante o acontecido
O ato foi logo encerrado.

Província de Sergipe, 15 de outubro de 1833

Airam Ribeiro

Um caipira na praia

Um cunvite eu aceitei
A jardineira peguei
E pra lá eu debandei
Cum a mente a meditá,
A mala intão arrumei
Uma cueca eu comprei
O sabunete tava no mêi
Lá fui eu cunhecê o már.

Na praia de Arcobaça
Nóis fizemo as arruaça
Tumei muitias caxaça
E vi as muié quagi pelada,
Quano eu ia nadá
Eu danava a ingasgá
Das águia sargada do már
Qui pelas garganta passava.

Eu oiava aquele marão
Cum tanta água no xão
Fazeno um zuadão
Quando na areia xegava,
O sór quente daquele dia
Dava ni mim qui ardia
E minha costa intão duia
Qui a pele ficava assada.

Tanta gente meu Deus do céu
Era aquele mundaréu
E eu esse tabaréu
Ficava só oiano o már,
Tanta água in frente a mim
Pensano eu falava ancim:
Lá na roça nem um tiquin
Pruquê num manda elas pra lá!

E as água ia e vinha
Eu oiava as boilinha
Qui cum aquelas água vinha
E ficava na areia a pocá,
Pegava uns buzo qui xegava
Pra u’as muié eu oiava
E outros gole dágua
Bibia quando ia nadá.

Ô água sargada minha gente!
As golada entrava quente
E eu naquele ambiente
Tussia feitio um canção
Vez in quando a cueca dicia
Das força qui as onda fazia
Nunca vi tanta agunia
Qui paricia um furacão.

Quando o sabunete eu passava
Aí é qui intão omentava
Eu veno qui eles cumentava
Porém eu nun sei o quê,
E eu intão curria pro már
Para as ispuma do sabão tirá
E eu de longe ficava a oiá
As gargaiada e os trelelê.

Dia ciguinte nun guentei
Paricia qui num forno intrei
E qui lá eu mermo min fritei
Pois ni min tudo tava assado,
Só nas sombra qui eu axava
E cum uns ventin qui passava
É qui as dô intão miorava
Era quintura pra todo lado!

Dento da cueca as areia
Dexava ali a coiza fêia
A bunda já toda vremêia
Cum o cú ardeno pra daná,
Desse jeitio num aguento
Rezei pra xegá o momento
Já era certo meu intento
De pra minha roça eu vortá.

E a jadinêra partiu
Eu veno o sór qui saiu
Pariceno inté qui min viu
Pidino pra de novo eu vortá,
A resposta dei só na mente
Qui ali naquele már quente
Nunca mais eu ia istá presente
Pra água sargada nun mais tumá.

Airam Ribeiro

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O cauzo do matuto qui feiz izame de prósta


Tem uma fia na capitá qui gosta mutio de mim é mermu uma amiga e vévi a priucupá cum minha saúde inda mai agora neças onda de izame de prósta intonsse risulvi iscrevê prela dizeno bem ancim;
Mai ôceis vão me discurpá pruquê eu num cunheço eçe tá de anus qui é coisa de capitá eu cunheço é o cú memo.

Primeira parte


Mia fia na capitá
Vévi nua priucupação
Cum medo d’eu batê as bota
E cumê barro no chão
Qué qui eu faço aquele inzame
Mai li falei sem vexame
Quele eu num faço não!

Eu sempe falo prela
Qui Deus sabi o qui fais
Foi Ele qui me criô
E mi féis um bom rapais.
Mia fia, tem mai coidiado!
O mundo ta xêi de viado.
Num mi acunseia isso mais.

Eu tô bom já te falei
Num faça isso mai não
Iço é coisa inventada
Dos povo das tulevisão
Se mia prósta tivesse duente
Num sô mai um inucenti
Já tinha ido pro dedão.

Todo dia faço o izami
Eu memo no banhêro
Infio o dedo nu cu
Cunfeço qui é ligêro
Fica dispriucupada
Num fica fazeno zuada
Inda vô tê mutio janêro!

Inda num custumei
Cum eça idéia mia fia
É um trem sem cabimento
Sô um home de famia
Virá o cú pro dotô
Na mia idéa num passô
Só ni pensá da agunia.

Os médios tão sem trabai
E fica isso inventano
Pros povo pudê fazê
Pra elis ir inricano
Cada infiada no cu
Omenta mai seu tutu
Há mutio qui tô pensano.

Podi dexá cumigo
Seu pai é intiligente
Num vai mai nas cunversa
Dos qui fala éça gente
Sou dus tempo dus bufão
Qui todo mundo era são
Ocê tira iço da mente.

Quano eu notá qui a zurina
Num ta quereno mai saí
E eu notá qui o cu dói
Sem as bosta se buli
Entonsse éça é a hora
De corrê pra i simbora
Prus médios qui tem aí.

Mai pur inconto
Fica dispriucupada
Qui a prósta ta na orde
Pare cum éça zuada
Num fica mai neça intriga
Sei qui ancê é mia amiga
Queta cum a prosa fiada.

Se num tivé creditano
Num poço fazê nada mai
Falei das coisa certa
Num ia ti menti jamai
Prigunti tua mãe já
Se ocê num acreditá
Cuma ta a prósta du teu pai!


Mai dispois eu fiquei cum a cisma e cisma é um bixo nojento cê perdi inté o sono e dispois de muito tempo eu risurvi ir lá sabê cuma é o tá de izame e se o dotô tinha os coidiado. E chegano lá eu fui falano logo ancim:


Seu dotô só vim aqui
Mai vô dizê a verdade
Num cunformo cum eça idéia
Axo memo uma cruedade
Mai a pidido de mia fia
Qui mora la in Brasia
Vim fazê eça caridadi.

Mas seu dotô que mal prigunte
Tô numa priocupação
Esse tá izame que fais
Dá pra mim a isplicação.
É qui eu sou do interiô
Me diz logo pur favô
Num fique zangado não.

É tanta duença no mundo
Qui já vi na minha vidinha
Me tira dessa incerteza
Risponda a priguntinha
Me arresponda sem vexame
Pra fazer esse izame
O sinhô usa camisinha?

Cê sabe cuma é que é
Essa infiação danada
Todo dia ancê mete
Nos cu dos camarada
Entonsse quero sabê
Se no dedão de vosmicê
A camisinha vem grudada?

Num é qui sô guinorante
É qui sô mei pricavido
Inda mais qui ôiço tanto
Nos pés do meu zuvido
Qui a zaidis ta alastrano
E eu tô me priocupano
Pruque isso tem sintido.

Priguntei pra Bastião
Ele num quis respondê
Eu qui vou fazê o izame
Acho qui é o meu devê
Se num usar camisinha
Vou simbora agorinha
Num quero nem sabê!

Sou um pôco izigente
Cum meu cú na verdade
Pruque ele me ajuda tanto
Na mia ventosidade
Só quano tô ressecado
È qui ele sofre um mucado
Na sua finalidade.

Discurpa esse matuto
Qui nunca foi um letrado
Cê sabe cuma é qui é
Essa gente discunfiado
Pra virar o cú pra ancê
É priçiso a gente sabê
Se o sinhô tem esse coidiado.

Meu pai ficou véio
Qui de véio inté morreu
Nunca féis esse izame
E sã sempre viveu
Ele seno o meu ispei
Quiria o seu cunsei
Pra zelar do qui é meu.

Dá meu cú pro izame
Fico inté iscandalizado
Inda mais qui ancê qué
Ele tudim bem rapado
Vou lhe dizê a verdade
Pra mexer nas intimidade
Eu fico mei vregonhado.

Peço qui o sinhô num bota
A ta da anistisia
No locá qui fô metê
O dedão nesse dia
Pra eu num ficá viciado
Eu vô tê mutio coidiado
Pra num tê essa aligria.

Quero tudim ispiá
A cara que ancê fais
Quano ta meteno o dedo
Nos cú de todo rapais
Se a cara for de contente
Eu agaranto pra essa gente
Que no meu num infia mais.


Dispois que eu vi qui o dotô usava a camisinha nos cinco dedo e inté na palma da mão é qui eu fui fazê o ta de izame de prósta.


Siguino as idéia
Qui mia fia me acunseiô
Qui dispois dos quarenta
É pra visitá o dotô,
Pra o izame fazê
Para eu pudê tê
Uma saúde de valô.

Ela disse pra eu i num
Urigineculogista
Qui esse era o dotô
Qui tinha in Conquista,
E qui o izame num duia
E que todo home da Bahia
Já tinha intrado na lista.

E siguino os consêi
Da mia fia muié
Fui logo pra Conquista
Para vê cuma é qui é.
Mermo sem sentí nada
Fui lá vê o camarada
Deixano pra trás a muié.

Quano xeguei o dotô
Mandô logo eu deitá
Numa cama istreita
Qui tinha ali no lugá,
E as calça logo mandou
Qui eu tirasse pur favô.
Eu fiquei a maginá!

Mas qui izame istranho
Esse qui eu tô fazêno!
Entonsse logo as carça
Das perna foi deceno;
Já nervoso eu ficava
E tudo qui ele mandava
Eu ia obedeceno.

A coisa só ficô fêia
Quano o dotô ancim falô:
- Tira logo a cueca
E depressa, por favor,
Tem mais cliente lá fora
Esperando a sua hora!
Foi ancim qui ele falô.

Foi o jeito obedecê
E as cueca eu tirei
Em cima daquela cama
Discunfiado fiquei,
Quando vi ele cum o dedão
Priprano a ocasião!
Aí eu quase dismaiei.

Priguntei pra o dotô
Pronde ia aquele dedo?
Se fô nu qui tô pensano
Já tô ficano cum medo,
As perna já sem aprumo
Quano vi o dedão vim no rumo
Pensei inté qui era brinquedo!

Eu fiquei pavorado
Pringuntei pra ele ancim:
Será se o sinhô num pode
Fazê cum o dedo mindin?
Esse meu cu tá zerado
Ancim vou ficá istragado
Meu Deus qui será de mim!

Lá fora tinha tanto home
Pra intrá no consurtóro
Tinha uns até viciado
Qui usava supusitóro,
Tinha lá uns gostosão
Doido pra levar o dedão
Só medo de tá num velóro.

E o dotô intão infiô
Aquele grande dedão.
Eu qui cum a turma da roça
Tinha fama de maxão.
A turma num pudia sabê
Dessa disgraça pruquê
Eu num ia contá não.

O qui o dotô fez cumigo
Num iziste coisa pió
Infiou aquele dedão
Dento do meu fiofó,
Rodou pra lá e pra cá
E tombém pra cá e pra lá
Cum força sem tê dó.

Arguma vêis priguntava
Se tinha argo dueno
Ta não seu dotô
Ancim ia respondeno.
- Essa coisa ta sujeito
Se não tratar direito
Pode até ir crescendo.

O probema é qui o dedão
Do dotô era bem grosso
Qui meu cu relaxô
Qui cabia inté um osso.
Quano a tarefa acabô
Ele ancim me falô
- Está tudo bem seu moço!

Tudo bem cuma dotô!
Virge aqui eu entrei,
U qui vou dizê in casa
Cunfesso quinda num sei!
O sinhô fez uma disgraça
Dessas de num tê graça
Arrombado eu fiquei!

Qui diabo de izame
Esse qui ancê fêis?
O pió qui ele me disse
Pra vortá cum doze mêis
Pra fazê a revisão.
- Aproveite a ocasião
E faz tudo outra vez.

Quarta parte

Nunca mai ripiti o ta izami
E o tempo foi só passano
Passô tanto qui correu
Já fai mai de cinco anu.
Oia só o disispêro
Quano fui lá no banhêro
Na ora qui fui mijano!

Azurina pra saí
Ardia quiném pimenta
Mijava só os tiquin
Qui pensei! Cê num agüenta!
Duia acima do pinto
Acho inté qui me sinto
Qui num agüento a turmenta.

De meãn fui no hospitá
Incrontei lá o dotô
Qui foi aquele memo
Qui o dedão infiô
Quano me viu cunheceu
E alembrô qui fui eu
Qui ni Cunquista chegô.

Mando eu tirá as carça
E eu sintino aquela dô
Na ora qui ia mijá
Cramava pur Nosso Sinhô
Ela saia toda vremeia
Qui eu vi a coisa feia
Naquela ora de orrô.

I o dotô infiô de novo
Aquele dedo cum camisinha!
Rodô pra cá e pra lá
O dedão de sua mãozinha
E me falô infilismenti...
Te falo meu criente
Aqui tem um probeminha!

O sinhô tem qui operá
Pruquê já ta avançado
Botô eu de barriga pra cima
E apertô cum coidiado
E pegô logo suas traia
Uma faquinha e uma navaia
E me deu logo um cortado.

Botô uma manguiera no meu cú
Qui é pra as coisa derramá
Uma manguerinha no pinto
Pra condo quisé mijá
Inda bem qui num duia
Foi uma tá di nistizia
Qui feiz isso eu suportá.

I ta lá eu todo vexado
Dento daquele quarto
Na pusição das muié
Naquela ora du parto.
Lembrei de tudo na paioça
Quando tava lá na roça
Cagano no mei dos mato.

Era tanto pensamento
Qui tinha naquela ora
Pensava em tudo qué coisa
Inté qui passô a ora
Quando falô o dotô
O sirviço acabô
É procê i simbora.

Durante uns três méis
Ancê num pódi!... fazê!
Nem tirá essa manguêra
Ocê tem de obedecê
Só vai tirá a manguêra
Quano pará a corredêra
Qui pur ele vai decê.

Eça manguêra irimão
Te falo num minto
Ia perto da bixiga
Inté a cabeça do pinto
Num é de achar graça
Dispejava numa garrafa
O resto dus iscriminto.

Na manguêra qui tava no cú
Quano eu ia peidá
Saia uma zuada danada
Pareceno musga a tocar
Era um soinzim bem fino
Pareceno inté de violino
Nas noite de natá.

Dispois qui tudo passô
Ai já mai aliviado
Quano ia cagá i mijá
Já ia cum mutio coidiado
Já num duia mai nada
É qui eu meu camarada
Cum isso fiquei cismado.

Eu nun sigui os cunsêi
Das fala de minha fia
Aquela de riba dus verso
Qui mora lá ni Brasia
É pur isso qui sufri
Cum eça duença daí
Qui nunca o izame eu fazia.

Condo tirei as manguêra
Qui tava atrapaiano
Fiquei inté mais mió
Pois tava me maxucano
Azurina já saiu sôrta
As merda de ventu in pôpa
Sinto qui já tô miorano.

Acunsêi ocê tombém
Aqui du istremo sul
Qui vá lá no dotô
E mostra pra ele seu cú
Limpa todas as bosta
Faça o izame de prósta
E viva filiz pra xuxú.

Num faça cumo ieu
Qui quis bancá o maxão
Cum vregonha de mostrá
E levá aquele dedão
Vai logo lá agora
Pois podi aparicê agora
Eça duença do cão.

É certo qui dispois do dia
Qui fiz a aquela uperação
Istô inté sem sabê
Agora da mia situação
Dispois qui tirou a manguêra
É qui notei a bestêra
Pois afroxô tudo intão.

Vou tê qui i na celaria
Do meu amigo Zeca
Cumprá logo uns côro
Pra fazê umas cueca
Pois se caso eu viciá
Ela vai tê qui agüentá
Pra sigurá a peteca.

Airam Ribeiro

O cauzo da cobra que inguliu um sacolêro















Nu riaxu adondi pescu
As vêiz eu ficu a oiá
Tantas coiza a decê
Lá para as bandas di lá
E decenu água a baixu
Lá ci vai u meu riaxu
Tantas coiza a carregá.

Certu dia ni suas água
Tava pescanu di anzó
Condu vi u’a coiza grandi
Nágua fazenu caracó
Mininas oia u qui eu vi!
Era a cobra cicurí
Cum u’a dô nu fiofó.

Fiquei pençanu qui será
Quéça cobra ta sintinu
Ci eu falá pras viziança
Vão pençá qui eu tô mintinu
Era u’a cobra amarela
Qui du fiofó saia u’a fivela
Qui ficava lá sacudinu.

Cuma tinha uvidu
Du’a certa cobra falá
Qui cumeu um ômi
Praquelas bandas di lá
I cumeu cum carça i tudu
Intonci eu fiz um istudo
Qui cumeçei nalizá.

Ci o cauzu lá foi verdadi
Éça dévi di cê a mardita
Qui cumeu aqueli ômi
Fazendu deli u’a marmita
I a cobra via siguinu
Riaxu a riba ia subinu
Falanu ninguém querdita.

Cum meu anzolin piquenu
A cobra inté min umilhô
Pareci qui ela inté ria
Di vê aqueli trobofô
Foi condu meu caxorro quiabu
Pulô i grudô nu seu rabu
I cum us denti sigurô.




A cobra dava ribanada
I quiabu ia i vinha
Cum aquelis denti grudadu
Bravo iguá galu di rinha
I pra fazê raiva a ela
Quiabu pizô na fivela
Qui inté freava a bixinha.

A fivela qui a cobra tava
Grudada nu seu fiofó
Condu quiabu pertava
Era u a rabanada só
Nu pizá fazia istalu
Era comu istrivu no cavalu
Qui a freada era u’a só.

Deçeu ladêra abaxu
Oia só as minina!
A ôtra caxorra qui eu tinha
Cum o nomi de cruvina
Venu aquela cobra ali
Pulô na cabeça da sucurí
E apertô bem incima.

Quiabu num disgrudava
Condu u rabu sacudia
E cruvina na cabeça
Praquela cobra latia
Era dentada e mais dentada
E as garras dus pé infiava
Qui aquela cobra gimia.

A cobra venu qui nun ganhava
Aquela luta de horrô
Saiu di dentu du riaxu
Pelus matu rastejô
Cruvina e quiabu as minina!
Virô a cobra pra cima
Desposna ela dismaiô.

Eu ficava di cá puxanu
Só cum u meu anzolin
Cruvina e quiabu os cão
Qui num min deixô sozin
Condu a cobra dismaiô
Tonci a faca funcionô
Inrriba du seu buxin.

Fui retiranu as tripa
Qui metru deu mais di cem
Nu buxu tinha rilógio
E u’a sacola xêia de trem
Cês num vai querditá
Mais u ômi tava lá
Priguntandu pru seu bem.

E mi cuntô a istóra
Qui eli era sacolêru
E qui foi pru Paraguai
Pra vê ci ganhava diêru
Pra us fiscau eli dribá
Pru rio deu di passá
Foi quandu viu u dizispêru!

A muié deu di gritá
Pru seu maridu sumidu
Tonci vei aquela cobra
Qui pur ela foi ingulidu
Pra num morrê dentu dela
Eli pegô das carça a fivela
E pelu fiofó foi socurridu.

Condu a fivela forgava
O fiofó da sucurí
Eli mais qui dipreça
Infiava seu nariz ali
Afim di inton rispirá
Eli deu di intão infiá
Até um dia pudê saí.

Eli ci valeu da astúça
Dus pêxi qui a cobra cumia
Dentu da barriga dela
Eli fazia a pescaria
Viajô por muitos lugá
Inté qui cumeçô iscuitá
Condu aquelis dois cão latia.

Intonci eli saiu da cobra
Pegô a sacola e mais trem
Deu um bêju ni quiabu
E ni cruvina tombém
Us fiscau ficô dribadu
E eli cum mutio coidadu
Xegô na fêra di Itanhém.

Gardeçeu aqueli hômi
Qui cum sua valintia
E us seus amigu caxorro
Qui livrô déça ingrizia
Praqueli hômi deçenti
Eli deu argum prezenti
E foi imbóra cum aligria.

As vêiz us povu inventa
E mutios erru cometi
Dizenu qui a cobra inguliu
Pruquê o hômi era jileti
Mais nun foi nada disso não
Aí está meus irimão
O fatu contadu pur seti.

Se ocêis axá qui é mintira
O cauzu contadu duma vêiz
Eu num póçu fazê nada
Uzei da mia sentatêiz
Num mintu procêis as minina!
Prigunta quiabu i cruvina
Qui elis fala pra vocêis.

Dus ispinhaçu da cobra
Quiabu ispetu fêiz
Cruvina tombèm assô
Para num perdê a vêiz
Cumeu carni u anu intêru
Na róça di Airam Ribêru
Us caxorru perdiguêiz.

Sempi vô nu riaxu
Pra vê outra cobra aparicê
E se ela vim já sabi
U qui ela vai acunticê
Cum us latidu di cruvina
E quiabu danu incima
Se ela vim vai morrê.

Condu contu êçi cauzu
Us povu dana di surrí
Diz qui é cauzu di pescadô
Qui nun querdita nu quêu ví
Tarvez ci us caxorru falaçi
Ancim tarvez querditaçi
Na morte da cobra sucurí.

Airam Ribeiro

O sonho dum minino
















E o minino sonhô intão
De um dia tê um caminhão
Pra transportá no sertão
Gado pros fazendêro,
Um dia ele astuciô
E daquele sõin qui sonhô
Ele intão se realizô
Pois quiria cê camionêro.

O motô do caminhão
É a força de sua mão,
E axado ali no xão
Uma lata vazia de óio,
É a bulé, qui maravia!
Lá vem ele cum aligria
Ródano sem tê petróio

Ah! e a sua carroceria?
Foi de u’a caixa vazia
Qui seu Zé da mercearia
Cabô de cumê marmelada,
Derna de cedo tava o bixin
Cum aquele seus dois óin
Incostado lá nun cantin
Pra pegá a cáxa jogada.

De uma cabaça quebrada
A idéia foi formada
Quatro rodera furada
Pra num pau cê infiado,
Foi um caminhão parido
Por um minino sabido
Nun tem nada perdido
Prum sõin cê realizado.

Pra guiá o seu possante
Ele amarrô dois barbante
Para servi de um volante
Para curvá o caminhão,
Na sua simplicidade
Ele sente felicidade
O carro pra ele é de verdade
É um boiadêro do sertão.

Bi bi, bi bi, lá vem a criança
Com a buzina da esperança
Ele nun teve a vida mansa
Mas vem dirigino um caminhão,
Um caminhão boiadeiro
Qui leva gado pros fazendêro
Comprado sem dinheiro
Nas ruas do meu sertão.

Raaaamu, raaaamu, sai da frente!
Lá vem um motô quente
Roncano na guéla dun inocente
Transportano u’a boiada,
São reses da bananeira
Que virô u’a brincadêra
Naquelas mãos facêra
Que pur Deus foi abençoada.

Airam Ribeiro

Sô matuto sim sinhô

















Sô matuto sim sinhô
O orgúio é minha defesa
Cum os meu cálo nas mão
Boto de cumê ni sua mesa
Sô ômi arrespeitiadô
Em todo canto cotô
Num gosto de safadeza.

Minha paióça é umilde
Vévi eu e minha muié
Nela cê pode intrá
Cum os sapato nos pé
Eu perfiro o cê umano
Do qui o xão alumiano
Du’a casa rica sem fé.

Já fui in certa casa
E prezenciei um fato
Pois modi eu intrá nela
Tive qui tirá o sapato
Sô matuto min dentifico
Num vô mais ni casa de rico
Pra nun te êcis mau trato.

Outra coiza qui notei
É a farta de atenção
Os rico nun qué mutio papo
Pru móde das tulevizão
Fica só oiano as zóra
Quereno cocê vai cimbóra
Prumóde as nuvela intão.

Digo pruquê notei
Mermo in genti da famia
Qui nun sentino bem cá vizita
Quano fui ni sua casa um dia
A nuvela é o preferênciá
Do que uma cunversa informá
Di cuntenti e de aligria.

Pur iço qui num min saio
Da paióça do meu lugá
Se ocê querê vem um dia
Pra módi min vizitá
A preferença será ocê
Pode vim cocê vai vê
O qui istô a li falá.

A minha cara é de aligria
Num tem fingimento não
Iço eu falo e pode crê
Qui falo de coração
Aqui num ando assustado
Vô pra quarqué lado
Sem niuma percupação.

Minha casa é de cabôco
Cê xegano pode intrá
Lá num tem campainha
Bate a palma pra alarmá
Qui ta xegano gente
Aí intão de cuntenti
Abro a porta procê intrá.

Airam Ribeiro

O poeta nun morre
















Quando a mente já não arcança
A inspiração que ta pertin dum lado
Quando o coração para uma dança
Deixano o sangue tudin cuagulado,

Quando a mão já não mais iscreve
No papé que tá in riba da mesa,
É pruque aquele poeta em tempo breve
Deu o seu adeus, sabeno da certeza.

Que seu cantá ficô para sempre gravado
Nas roda de amigo, nos cordé, nas canturia,
E que u’a outra vida para ele apariceu...

Temos a esperança de um dia ao seu lado
A genti juntos vai insaiá u’a nova purfia
Pois o poeta tá vivo, só o seu corpo dizapariceu.

Airam Ribeiro