Monday, August 31, 2009

Discursinho sobre o método


Foi minha irmã, tempos atrás, quem contou a história. Em uma aula de música, ela viu a recorrente e mesmo tradicional discussão sobre qual seria o melhor método de estudos... Bona? Dotzauer? Qual? Defensores sempre os havia para todos os casos. Os humanos são assim, muito bem organizados para maximizar os prazeres de todas as querelas, sempre dividindo-se quase que instantaneamente para todos os lados possíveis da questão. Às vezes duvido que os humanos sejam realmente racionais. Mas, pensando nessa eficiência com que se fazem sempre partidários para todas as hipóteses possíveis, talvez seja melhor dizer que os humanos são mais que racionais. São, sei lá, multi-racionais, ou pluri-racionais. Mas isso é divagar já, voltemos aos métodos...

As discussão são sempre inúteis e sem fim. Quem prefere estudar música com o Bona, terá seus argumentos e com muita astúcia desmantelará todos os argumentos em favor do Dotzauer. É exatamente o mesmo que faz o partidário do Dotzauer contra o Bona. Até que, no meio dessa poeira toda, uma luz. Um dos professores da minha irmã resolveu a questão, quase que em segredo, pois terminar brigas assim seculares com tamanha simplicidade seria um crime: "mais importante do que ter o melhor método, é ter um método".

Uma seqüência definida no plano de estudo, não importando se é ou não a melhor mas que, se seguida, definitivamente o levará a algum lugar. Mil vezes melhor que a constante alternância de estradas, que consome todo o combustível nos percursos enganosamente curtos das vicinais.

Sunday, August 30, 2009

Apenas mais uma espécie única

Após miliares de anos de evolução, intensas pressões evolutivas atuaram nas savanas africanas para transformar ao longo das eras um simiesco animal em algo revolucionário: um mamífero de grande porte com andar ereto, poletar opositor, cérebro com um enorme volume, quando comparado ao tamanho do corpo, e consciência com capacidade de abstração e empatia inigualáveis no reino animal. O sucesso da empreitada evolutiva foi tamanha, que nos últimos anos este mamífero povoou todo o planeta, venceu a disputa com milhões de outras espécie pela supremacia sobre o habitat, qualquer que o fosse, e vem aplicando seu cérebro superpoderoso às mais variadas tarefas, como o desvendar da origem do cosmos, a confecção de tecnologias industriais revolucionárias, ou, como o mamífero Bill Dan, à arte de empilhar pedrinhas.

Saturday, August 29, 2009

Mais um pouco sobre marolinhas...

E se você viu o vídeo do post anterior, sobre ondas gigantes, aqui há mais um... Este não é tão científico, é um pouco mais dramatizado, talvez por ser de produção americana e não britânica, mas há coisas interessantes também. Em particular, os acidentes relatados. O acidente com a plataforma Ocean Ranger, e o relato de um sobrevivente de um navio que foi, literalmente, partido ao meio por uma onda gigante, impressionam.

"Quando saí e vi a proa de um outro navio, pensei que estávamos com sorte, pois já haviam outros navios para nos resgatar. Foi então que percebi que era a proa do nosso próprio navio, que estava flutuando ao redor!"

Friday, August 28, 2009

Marolinhas

Ondas oceânicas são fascinantes. Especialmente com grandes navios em cima, chacoalhando aleatoriamente como barquinhos de papel na banheira. Abaixo, um documentário interessantíssimo sobre ondas gigantes, que podem atingir 30 metros, e que são completamente diferentes das ondas tradicionais previstas por modelos lineares. O documentário é em 5 partes, portanto, ao final, vá procurando pelos links para as próximas partes...

Thursday, August 27, 2009

O dia em que Hans parou a Paulista


Algumas notícias parecem que tratarão só de trivialidades, de banalidades, mas rapidamente uma mistura bizarra de fatos se impõe, e tudo fica mais interessante... Uma notícia dessas saiu dias atrás no JT, e pode ser lida aqui.

Wednesday, August 26, 2009

Pergunta do dia

Qual a semelhança entre John Stuart Mill e Michael Jackson?

Ainda há muito por debater...

Tuesday, August 25, 2009

Virou Brasil...



Só acho que deveriam abolir logo esse hábito tosco de manter sempre o tratamento por "Vossa Excelência" quando ele destoa assim tão profundamente dos rumos espontâneos da prosa!

O fascinante universo das gambiarras




Mais? Divirta-se no There I Fixed it...

Monday, August 24, 2009

A economia e o tédio



Que a ciência tenha uma relação íntima com o ócio, não é lá muita novidade. Tem que ser assim. Ainda que a necessidade seja tipicamente associada com as grandes invenções, não pode ser sozinha a responsável pelas grandes manifestações do intelecto humano. Assim fosse, a humanidade assistiria um progresso infinitamente mais rápido, acontecendo a passos largos onde quer que a necessidade se pronunciasse. O que vemos é o contrário. As nações do mundo que desfrutam de melhores condições de vida, portanto aquelas em que necessidades menos e menos urgentes são as únicas presentes, são as mais inventivas. É o ócio o ingrediente final, decisivo.


Curioso mesmo é o caso da economia. Ou, mais precisamente, da ciência econômica. Aqui parece que ócio não é suficiente. Faz-se necessária também uma boa dose de tédio. Adam Smith começou a escrever "para passar o tempo", durante sua tediosa viagem pela França. Particularmente durante a parte mais chata da viagem, em Toulouse. David Ricardo, embora precocemente um expert em negócios e profundo conhecedor do mercado financeiro da época, apenas aos vinte e sente anos foi ler A Riqueza das Nações, e apenas acidentalmente. Estava entediado durante as férias maçantes que passava na estação inglesa de Bath, e encontrou na leitura uma forma de passar o tempo. E o que dizer de Marx, então, que à toda análise parece satisfazer os requisitos de um entediado-chato em tempo integral?

Não é sem pertinência que, em defesa de sua classe, brinca o professor Todd Buchhlolz: "Como a ciência econômica parece dever mais ao tédio do que qualquer outra disciplina, talvez os estudantes não devessem reclamar se os seus professores ocasionalmente retribuem o favor ou celebram a fundação."

Sunday, August 23, 2009

Insones Famosos

1.Napoleão Bonaparte
Simplesmente aprendeu a viver dormindo apenas três ou quatro horas por noite.

2.Catarina, a Grande
Na esperança de adormecer, mandava que escovassem seus cabelos, enquanto estava deitada na cama, relaxando.

3.Deputada americana, Shirley Chiisholm
Para relaxar antes de deitar, toma um banho quente de espuma.

4.Winston Churchil
Tinha duas camais iguais em seu quarto. Quanto não conseguia dormir numa, ia deitar na outra.

5.Charles Dickens
Achava que a sua própria posição e a localização da cama eram fatores de importância fundamental para superar a insônia. Fazia questão de verificar se a cabeceira da cama estava virada para o norte. Depois deitava-se exatamente no meio da cama, medindo a distância para os dois lados, com as mãos estendidas.

6.Alexandre Dumas (Pai)
Por ordens médicas, comia uma maçã todos os dias às sete horas da manhã, debaixo do Arco do Triunfo. O médico esperava que isso forçasse Dumas a hábitos regulares de acordar e deitar.

7.Thomas Edison
Embora possuísse fisicamente condições de sobreviver com pouco sono, sempre tirava um cochilo de meia a uma hora, depois de um período de trabalho particularmente intenso.

8.Benjamin Franklin
Levantava-se quando estava com insônia e deixava a cama arejar. Assim que a cama esfriava, voltava a deitar, na esperança de assim conseguir dormir.

9.Cary Grant
Esse astro do cinema assistia a filmes antigos na TV até finalmente cochilar.

10.Franz Kafka
Sentia que sua insônia era provocada pela explosão criativa. Quando alguma história estava fervilhando dentro dele, simplesmente não conseguia dormir. Em seu diário, relata uma técnica predileta para conseguir dormir: "Para me fazer bastante cansado, o que considero uma condição ideal para conseguir dormir, cruzo os braços e ponho as mãos sobre os ombros, ficando deitado como um soltado com sua mochila."

11.Dorothy Kilgallen
Tomava regularmente pílulas para dormir, num esforço de combater a insônia. Morreu em 1965 de uma combinação de pílulas para dormir e álcool.

12.Rudyard Kipling
Quando não conseguia dormir, ficava vagueando pela casa e jardim. Escreveu: "Ai de nós! Ai de nós! Nós, os insones..."

13.Oscar Levant
Todas as noites, o pianista tomava um vidro pequeno de paraldeído. Depois, deitava0se na cama, ajeitava a cabeça numa extremidade do travesseiro e punha-se a contar silenciosamente, na esperança de assim induzir o sono.

14.Marilyn Monroe
Tomava 20 cápsulas de fenobarbital por dia, a fim de acalmar os nervos e poder dormir.

15.Marcel Proust
Tomava Veronal por causa da insônia. Quando estava escrevendo Em busca do tempo perdido, mandou revestir o quarto com cortiça, para amortecer os ruídos que o impediam de dormir... e para evitar a poeira que lhe podia provocar um ataque de asma.

16.Conde de Rosebery
Foi forçado a renunciar ao cargo de Primeiro-Ministro da Inglaterra por causa da insônia crônica. Oito anos mais tarde, escreveu o seguinte: "Não posso esquecer 1895. Ficar deitado, noite após noite, com os olhos abertos, sem conseguir dormir, atormentado pelos nervos... é uma experiência que nenhum homem em seu juízo perfeito gostaria de repetir."

17.James Thurber
Era um "despertador das três horas da madrugada". Tentava induzir o sono brincando com palavras e letras, soletrando palavras de trás para frente. Uma de suas técnicas prediletas para conseguir dormir era reescrever o poema "O Corvo", de Edgar Allan Poe, do ponto de vista do pássaro.

18.Vincent van Gogh
Tratava sua insônia com uma dose bem forte de cânfora aplicada no travesseiro e colchão.

19.Adriano Axel
Pessoa intermitentemente insone. Já tentou distrair-se soletrando de trás para frente as vogais de proparoxítonas terminadas em a ou i, bem como manter a cama alinhada com a bissetriz do ângulo formado pelos pontos extremos da Lua durante o início e o fim do período teórico de sono. Atualmente, contudo, gasta suas madrugadas despertas divertindo-se com listas estranhas e outras leituras.

Saturday, August 22, 2009

Preconceito?!

Há algumas semanas um rápido debate tomou conta do twitter, blogs e afins, em torno da piadinha do Danilo Gentili que supostamente comparava alguns negros a macacos. Supostamente nada. Danilo Gentili reivindicou o direito, com todas as letras. Tudo bem, já passou, já foi. Esse comentário foi só pra ter a deixa de trazer aqui dois links de sites bem politicamente "corretos". Divirtam-se:

Mulheres de Bigode

Cearenses internacionais

Friday, August 21, 2009

Ah, os japoneses


Algo horrível aconteceu, não me pergunte o quê, e eis que três executivos, um americano, um francês e um japonês, foram todos sentenciados à morte. O executor concede então um último pedido.

Pede o francês: "Adoraria uma garrafa de Cabernet Sauvignon e um banquete onde houvesse escargot, faisão e crème brulée.

O japonês se manifesta: "Antes de ser executado, eu gostaria de dar uma palestra sobre os méritos do gerenciamento empresarial japonês."

Finalmente, o americano faz sua última súplica:

"Por favor, poderia me matar antes da palestra sobre gerenciamento japonês?"

Thursday, August 20, 2009

Você não quer ser um economista?


Tem certeza? Então leia como Keynes descreve um bom economista, e reconsidere:

Ele deve ser matemático, historiador, estadista, filósofo (...) deve entender os símbolos e falar com palavras. deve contemplar o particular nos termos do genérico, e tocar o abstrato e o concreto na mesma revoada do pensamento. Deve estudar o presente à luz do passado com objetivos futuros. Nenhuma parte da natureza humana ou das suas instituições deve ficar completamente fora do alcance da sua visão. Ele deve ser decidido e desinteressado com a mesma disposição; tão distante e incorruptível quanto um artista, e ainda assim algumas vezes tão perto da terra quanto um político.

Wednesday, August 19, 2009

Pensar cansa


Because economics touches so much of life, everyone wants to have an opinion. Yet the kind of economics covered in the textbooks is a technical subject that many people find hard to follow. How reassuring, then, to be told that it is all irrelevant - that all you really need to know are a few simple ideas!

O trecho acima foi tirado do artigo The Virus Strikes Again, escrito pelo ácido Paul Krugman. Ele se referia às enxurradas de livros de economia fajuta que abundam nas prateleiras prometendo revelar os segredos que os acadêmicos insistem em negar. Sem muita ginástica mental, não é difícil perceber a semelhança com todas as outras fajutices preguiçosas que desmerecem as conquistas sólidas da ciência.

O que me chama a atenção no trecho acima, de qualquer forma, não é a clareza com que é exposta essa insistente tendência dos pseudos-experts em provarem-se corretos promovendo a descrença no resto do mundo. Interessante, na verdade, é a ênfase que transparece no papel das fracas emoções humanas nessa perpetuação de ignorância. "How reassuring..."...

How reassuring it is to know that at least a few people don't buy the easiest and most relaxing ideas as the truer ones...

Tuesday, August 18, 2009

Pedro Constantino Pereira

Tenho amizades influentes. Conheci hoje, no terminal de ônibus, essa ilustre figura. Pedro Constantino Pereira. Pereira, parente meu ainda por cima! Vejam só...

Sim sim, amizade influente. Ele disse que vai mandar colocar um navio militar em cada porto brasileiro. Não lanchinha não. Navio mesmo, cheio de armamento, porque do jeito que tá, tá uma vergonha. E tem que ter mais navios mercantes também. Containeres. Containeres movimentam a economia. E a economia é coisa muito importante.

Ia lá seu Pedro explicando tudo, nos detalhes...

Como uma marinha mais poderosa faria o Brasil se impor na América do Sul. Quem sabe até na África. Proteger o Pré-Sal. Afugentar piratas de toda sorte.

E contava da difícil vida do marinheiro... No meio do mar. Longe da família, amigos, distrações cotidianas da terra-firme.

Chegou meu ônibus.

Eis que o poderoso Pereira me pede um real para inteirar sua passagem.

Monday, August 17, 2009

Da proximidade do mundo


Li há uns tempos que os antigos entendiam que emoções como a raiva e o medo pertenciam ao conjunto de "emoções boas", enquanto a esperança era vista como uma "emoção ruim". Algo errado, não é? Não se você entender o conceito por trás dessa interpretação.

Para os antigos (antigos mesmo... refiro-me aos gregos de milênios atrás, e não aos empoleirados intelectuais medievais com suas sempre presentes mordaças mentais), bom era aquilo que aproximava as pessoas da verdade do mundo. Ruim era aquilo que afastava as pessoas dessa verdade. Ora, agora a definição acima fica praticamente inquestionável.

A esperança, afinal de contas, muito sedutoramente quer sempre nos afastar do mundo tal como este se apresenta. Sonhos de realidades melhores corroem o tempo que deveríamos usar para efetivamente criar alguma realidade melhor. Entorpecem e adormecem. Com efeito, embora em nossa antiquada e capenga moralidade cristã a esperança seja dicotomicamente entendida como uma emoção boa, tipicamente é ela a primeira operária a alicerçar as bases firmes para as mais duradouras e profundas decepções e os mais angustiantes sofrimentos.

E para aqueles que pensam que esta discussão se limita a sentimentalismos de sala de espera de cabelereiros, abra os olhos... Nosso descuido irracional frente aos impulsos da Esperança dá margem a enormes interferências na racionalidade da sociedade como um todo. Tome a política, a discussão sobre os problemas ambientais, guerras, e por aí vai. Todo o sofrimento pessoal que acaba impunemente seguindo história adiante devido aos nossos descuidos com as armadilhas da Esperança são apenas uma ponta do espectro. No outro extremo há toda uma gama de fenômenos coletivos oriundos da mesma base.

Em particular, no que se refere à racionalidade, o que são todas as pseudociências se não uma fuga esperançosa do mundo tal como este se apresenta para um mundo de justificações sem fim de que nossos mais calmantes e delirantes desejos de ordem e harmonia possam continuar existindo em eterna paz intocável?

Você por acaso já está com a impressão de que eu sou um negativista? Uma pessoa sem esperança de possíveis melhoras? Uma pessoa que diz "o mundo é assim, e pronto..."? Por que é que sempre confundem ceticismo com negativismo, realismo com conformismo? Enxergar o mundo como ele não não significa tolher na raíz todas as esperanças de mudança. Significa dar atenção apenas às mudanças possíveis, e cuidadosamente ignorar as outras. Não significa deixar de sonhar de forma irrestrita e devaneosa, significa conhecer a natureza lúdica destes sonhos e não priorizar nossas forças à concretização deles a menos que algum caminho realmente viável surja de alguma feliz descoberta. Não quero deixar de aproveitar todas as coisas boas que a Loucura de Erasmo nos leva a viver. Mas daí a entregar-se a cantos das sereias...

Voltando à ponta individual do espectro o benefício de uma visão mais realista é claro: uma atenção maior ao presente. Um olhar ao futuro e ao passado apenas no que diz respeito à produção de um presente mais e mais feliz. Felicidade sólida. Não com alicerces que se estendem a um futuro imaginário... Felicidade de experimentar desta pura e simples sensação de viver o mundo tal como ele é.

Sunday, August 16, 2009

Fim do mundo via Twitter


Para que um asteróide consiga penetrar na atmosfera terrestre, precisa ter um diâmetro mínimo de uns 200 metros. Menos que isso e ele será queimado, sua poeira diluída na atmosfera. O que não quer dizer que objetos menores não causem estrago.

Um famoso caso é o chamado evento de Tunguska. Em junho de 1908, uma pedrinha com uns 70 metros de diâmetro invadiu a amosfera terrestre por lá, viajando intrepidosamente a várias vezes a velocidade do som. Tendo menos de 200 metros, não chegou a tocar o solo. A explosão causada pela sua rápida destruição na atmosfera, contudo, gerou uma onda de choque que derrubou as árvores ao redor num raio de 30 quilômetros! Imagine um evento assim acontecendo sobre uma cidade grande, e começamos a ter uma idéia clara dos riscos que o espaço representa.

E se você ainda não se convenceu, pense no seguinte: há pelo menos 5000 asteróides com mais de 800 metros de diâmetro que de tempos em tempos passam pelas vizinhanças da Terra, e cujas trajetórias não são devidamente monitoradas.

Alarmante, mas você não precisa perder o sono por causa disso. A NASA, que desde a década de 90 vem monitorando um número cada vez maior desses pedregulhos celestes, colocou no ar o site Asteroid Watch, e também uma conta no Twitter, http://twitter.com/asteroidwatch. Antes de dormir, basta uma twittada rápida pra checar se o fim dos tempos está próximo ou não...

Asteróides atingindo a Terra parecem coisa do passado? O evento de Tuguska foi em 1908. Tá, 1908, aqui no agitado início do novo milênio, parece algo eras e eras atrás. Em termos de tempo astronômico, 1908 é HOJE. E lembremos do cometa Shoemaker-Levy, que atingiu Jupiter apenas alguns anos atrás. Observe na foto abaixo, as marcas deixadas pelo impacto. Arranhões? A Terra, para comparação, é menor que o visível redemoinho de Jupiter... Não teria sobrado muita coisa por aqui, não é?

Saturday, August 15, 2009

O mais exótico dos instintos


Qual a relação entre as paisagens que enfeitam calendários pelo mundo todo, teias de aranha, o livro com o começo mais conhecido da literatura*, Anna Karenina, de Tolstoi, e o quadro La Grand Jatte? Essas coisas todas podem parecer sem muita relação, à primeira vista. Mas por trás dessa disparidade toda, uma interessantíssima discussão: as bases evolutivas para nossa propensão à arte.

Refiro-me ao livro de Denis Dutton, The Art Instinct, que pode ser lido pelo Google Books. Tá feita a sugestão!



Colaborou: Ana Paula Severiano

*Eis a frase de abertura do livro: "Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira".

Friday, August 14, 2009

Meu filho vai se chamar Hugh Williams

... e por que diabos eu colocaria esse nome no meu filho, sendo que o meu é Adriano Axel?

Simples: é o nome mais seguro do mundo! E eis o que quero dizer com isso:

Foi a 5 de dezembro de 1664 que ocorreu o primeiro incidente de uma série de coincidências registradas ao longo da história. Nessa data, um navio afundou no Estreito Menai, ao largo do norte de Gales, com 81 passageiros a bordo. Houve um único sobrevivente, um homem chamado Hugh Williams. Na mesma data, só que em 1785, outro navio afundou, com 60 passageiros a bordo. Houve um único sobrevivente - um homem chamado Hugh Williams. E na mesma data, em 1825, um navio afundou com 25 passageiros a bordo. Houve um único sobrevivente - um homem chamado Hugh Williams.

Se é verdade, se não é, eu não sei... Mas que dá uma curiosidade de descobrir... inegável!

Thursday, August 13, 2009

O coelho no chapéu


John Henry Anderson foi um dos maiores mágicos da Escócia. Era conhecido como "O grande mago do norte", e foi talvez um dos primeiros mágicos a fazer o famigerado truque de tirar um coelho do chapéu.

Outra bizarrice que ele fazia, era colocar dez canários mortos em uma panela e levar ao fogo. Quando levantava a tampa, contudo, saiam de lá dois passarinhos vivos! Ele nasceu em 1814, então estamos falando do século XIX vendo essas bizarrices... imagina?

Wednesday, August 12, 2009

Um novo sucesso abala o mundo da moda



ACESSE: INFAMIA
... por que não?

Pra distrair...

... porque depois vão começar a falar que esse é um blog sério, e aí como é que fica?


Com vocês: Los Mariachis!

Tuesday, August 11, 2009

Existência auto-referida



Acredita-se em geral que tudo é, em princípio, permitido. Existe a lei para cuidar das excessões e definir o que é proibido, delimitar a fração do espectro dos comportamentos possíveis que não convém à sociedade e ponderar reações cabíveis a cada caso. Começo a duvidar disso. Sim, legalmente, burocraticamente, é assim que as coisas estão estruturadas.

Mas entre as leis escritas e a realidade da vida do dia-a-dia há um abismo enorme. Ainda mais do meu ponto de vista brasileiro, em que cumprem-se com afinco exagerado (exagerado?!) leis de trânsito recém lançadas, para em pouco esquecê-las no mesmo limbo em que ficaram todas as outras. A esse propósito, aliás, conheci estes dias o Robson. Robson era motorista de empresas de táxi especializadas em levar e trazer festeiros nas baladinhas de São Paulo, explorando um mercado que surgiu com a lei de tolerância zero no bafômetro. Disse que ele era, pois não é mais. O conheci no trem, ele pedindo informações, ainda desacostumado a este que é a tantos o mais costumeiro dos transportes. Em poucos meses, a lei avacalhou como inescapavelmente avacalham às leis sujeitas à erosão do tempo (o tempo aqui passa mais rápido?). Hoje Robson continua trabalhando nas baladas do Itaim, Moema e Vila Madá. Mas não como motorista. Vende isqueiros. Desses com pinta de isqueiros de luxo, mas ou contrabandeados ou falsificados. Ele os compra a três, quatro reais. Vende por vinte e cinco, trinta. Tá fazendo de quatrocentoas a quinhentos reais por semana. Sim, dá qualquer coisa entre mil e seissentos e dois mil por mês. Ficou interessado em mandar seu curriculum também? Não sei onde é o érre agá.

Recapitulando... o ponto importante: a lei já era. É difícil encontrar pontos de equilíbrio adequado. O que é fluido demais (muita falta de criatividade pensar na água?) cede ao próprio peso e não conserva nenhuma configuração interessante. O que é rígido demais acaba pela própria rigidez magnificando excessivamente o impacto do mundo exterior, submetendo-se à erosão, que pode ser lenta ou violenta, mas sempre inexorável. Pirâmides, lei-seca, essas coisas, físicas ou etéreas.



Como pode então a sociedade organizar-se tendo as leis como forças proibitivas que impedem as pessoas de sairem do curso normal de seu leque infinito de ações permitidas, se estas leis, para todos os efeitos práticos, são desconhecidas e invisíveis à grande maioria? O mistério não é o de entender por que é que as leis morrem, ou não funcionam, ou são invisíveis. Isso faz todo o sentido. O estranho é que, ainda assim, a sociedade funciona.

Ocorreu-me então que a lógica toda, no papel que fotografa o mundo numa foto de exposição lenta e enturvada, aparece aí espelhada daquela que realmente é. A sociedade tal como existe devido às nossas predisposições naturais... A civilização que decorre diretamente dessa nossa pitoresca forma de animalidade gregária, esta baseia-se na proibição total. Tudo é proibido, em princípio. Mas mais que isso, algo mais. Não são puras proibições, como as mecânicas proibições da legislação letrada. Como todas as soluções que a vida encontra por si só, pressionada pela crueldade do acaso, nosso instinto emerge com proibições condicionais. Tudo é proibido, a menos que...

Não é uma proibição ligada à penalização, como a dos tribunais. Os instintos são muito mais sutis e, por isso mesmo, penetram capilarmente muito mais fundo no tecido do dia-a-dia. Prepare-se para ler a palavra "proibido" de uma forma muito mais branda, como talvez "inibido" ou "desestimulado".

É proibido fazer as coisas sem motivo. Vontade? Vontade não é motivo suficiente. Vontade é pessoal. É preciso de coisas que provem uma conexão com o resto do mundo. É proibido dar uma aula, uma verdadeira aula, de alguma coisa pra alguém, se você não for professor. É proibido exibir seus dons artísticos sem que seja sob a redoma legitimante de um grande teatro. Sem que seja cumprido o estranhíssimo ritual do pagamento, ou ao menos da entrega de um raríssimo e vitorioso ingresso à entrada.

Estou exagerando? Você pode dizer que o princípio constitucional aplica-se sim. Que todos são livres, em princípio. Quer exibir seus dons artísticos por aí, porque de repente lhe deu vontade? Pode fazê-lo na rua, é livre. Há músicos que o fazem na frente do Municipal aqui de São Paulo até com uma certa improvisação na infra-estrutura... E se a grande maioria ignora esses exóticos lampejos de inspiração eclodente é tão somente porque falta a estes artistas a lapidação que só pela prática exaustiva e dedicação sistemática finalmente aparece. Argumentará você que estes artistas são ignorados não por alguma proibição instintiva, invisível, de olhar diretamente à arte que não chegou aos ouvidos legitimada pelos bizarros rituais de sociabilização. É uma boa tentativa. Mas o que dizer então do estranho dia em que o Washington Post enfiou o pobre Joshua Bell com seu violino, uma pequena raridade que veio ao mundo em 1713 pelas mãos do próprio Antonio Stradivari, numa estação de metrô, à paisana, pra tocar pro povão ali? Sim, Joshua Bell é um dos top-top na área dessa estridência aguda com cordas. Um sucesso só. Mas ali, assim à toa, foi ignorado pela ampla maioria. Curioso: crianças não ignoravam! (ficar adulto é introjetar as infinitas proibições da vida social?)

E o que dizer do dinheiro? O dinheiro é algo muito bizarro. Muito. Surgiu há muito. Surgiu e ficou, vingou, deu certo. Mas embora o dinheiro regule (ou desregule) a realidade material que continuamente criamos e destruímos, e embora ele já tenha tido como substrato principal duríssimos metais de inquestionável tridimensionalidade... embora tudo isso, o dinheiro é algo profundamente subjetivo, abstrato, estranho.

- Pago cinquenta mil para seus homens trazerem os tratores aqui e ararem todos os alqueires do meu latifúndio, para o próximo plantio de soja.

- Fechado!

E sem os cinquenta mil? Sem os cinquenta mil, não iriam. Era só ir lá e fazer o serviço, estavam livres pra isso. Novamente você vai ficar irritado. Sem dinheiro, como os aradores, benevolentes que fossem, comprariam mais combustível? Como comprariam alimento, cuidariam da própria vida? Mas repare que esta indignação só chuta o problema pra mais ali adiante, onde contudo ele conserva a mesma forma. Se todos fizessem exatamente o que normalmente fazem, sem contudo involver a transação monetária como normalmente o fazem, o mundo ainda assim seguiria da mesma forma. Dinheiro e mundo são coisas separadas. O primeiro é uma abstração, um número do qual insistentemente sempre falamos a respeito. O mundo em si, tecidos, hidrocarbonetos, relógios exóticos e celulares de gosto duvidoso, são materiais, materialíssimos.

Tá, sem dinheiro, essa sequencia inercial da normalidade ficaria sem trilhos. Dependeríamos demais da nossa infinitamente egoísta liberdade pessoal para continuar fazendo aquilo que é pertinente ao todo, à coletividade e tal. Interesses sem sentido explodiriam instanteneamente às alturas. O apaixonado por carros quereria não um ou dois populares, mas um de cada dos melhores do mundo. Dez de cada, por que não? E uma garagem enorme. O dono do plantio de soja lá de cima iria querer que arassem não só a soja dele... Mas que viessem muitos dos melhores tratores. Que fizessem talvez um museu da soja ali num canto, com a monotonamente heróica história da família dele, desde o primeiro Seu João da linhagem. Ou... Ou ia querer só sumir dali. Ir pra uma ilha paradisíaca viver do bom e do melhor, e que outros cuidassem da soja, que não era disso que ele gostava.

Ótimo. Descobri o dinheiro. Sou um gênio estúpido. Você é estudante de economia do primeiro ano e já está revoltado por ter perdido seu tempo chegando até aqui. Não não, esse papel regulador do dinheiro como moderador de nossas ambições eu já conheço, sei que é lugar comum. Há alguma materialidade aí, por assim dizer, mas ainda assim fico com um certo incômodo diante de tanta monetarização na vida. Até que entendo que digerimos isso facilmente porque, antes de mais nada, enquanto abstração o dinheiro é voltado à proibição. Sim, àquela proibição social de que falei antes, meio instintiva, irracional porém incontornável. Argumenta-se frequentemente de que ele funciona como um batente para o desfrute das possibilidades que se apresentam. Mas essa visão ainda é por demais ligada à idéia do agente racional, que há mundo sabe-se que não consegue raciocinar muita coisa de importante na economia. Fosse essa hipótese totalmente correta, mesmo o agente irracional faria mais esforço em aproximar-se de um conhecimento mais absoluto do todo e, no mínimo, prezaria mais pelo próprio dinheiro, sempre. Um mundo de pequenas curiosidades ficam sem explicação, entretanto. O que dizer do super competente porém ingenuo psicólogo que cobra trinta reais a consulta, e tem seu anuncio ignorado por toda sorte de surtados necessitados, enquanto um charlatãozinho qualquer cobra cento e cinquenta e tem logo que contratar uma secretária pra administrar a fila de clientes ávidos? É uma outra variante, aqui exposta ao contrário, da história do violinista. O dinheiro simboliza a proibição. E a proibição é o elo que nosso instinto social amarra ao resto do mundo. Uma proibição que depende do retorno à própria linguagem. Precisa-se pagar por um serviço pois do contrário o prestador não poderá pagar por suas necessidades.

Assim também acontece com as proibições sociais. A sociedade baseia-se em uma referência circular, estruturada sobre uma proibição instintiva existente em cada um de nós que impede que se dê sequencia, que se aceite naturalmente, qualquer ato que soe pouco social. A solidão genuína... ninguém sabe lidar com ela. Grupos de sozinhos, do contrário, com uma cultura particular, encontram seu espaço. A velha história da realidade social da vida do monge isolado, cujo isolamento, para se legitimar, depende de um diálogo estrutural com o resto do mundo.

Sei que está super chato ler até aqui. Mas, pense... Não é porque o texto está tãããããããão chato assim. Nem muito menos porque você não tem o hábito da leitura. Tenho certeza de que vez ou outra, pelo menos, você lê um livrinho com algumas centenas de páginas, beeeeeeem mais longo que esse blog e, eventualmente, quase tão chato quanto. Mas o que torna isso aqui particularmente chato é que, embora não se diga sem pudores por aí, é amplamente proibido escrever demais em um blog! O que eu não sei é QUEM é que proíbe...

Em tempo...

Link para a história do Joshua Bell no Washington Post


Monday, August 10, 2009

O homem objeto

Já devo ter falado aqui da banda Brasov. Mas e daí? Você lembra? Nem eu lembro!

Então vá lá, aqui vai mais um post sobre os caras, provavelmente com o mesmo clipe do post anterior.

E não me interessa que chatisse você encontre pra criticar o amadorismo do clipe. O que eu sei é que eu me divertiria pra caramba gravando uma porcaria dessas. Você não? Precisa de um tratamento anti-chatice então... Com vocês, O Homem Objeto, de Brasov! PS: link para o myspace dos caras nas listinhas de link aí à direita...

Sunday, August 09, 2009

Obras do acaso


Em 1974, Lewis Thomas escreveu um pequeno livrinho intitulado "The Lives of a Cell".

Em 2009, minha irmã comprou o livrinho.

- Nossa sister! É bom esse livro? Por que você comprou?

- Então, não tenho a menor idéia!

- Como assim?

- Eu comprei porque no site tava escrito "The Lives of a Cello"!

PS: minha irmã é musicista e toca cello...

Saturday, August 08, 2009

É o fim!


Depois de milênios lutando para dominar o fogo, o homem vence, sobrepuja a natureza, toma as rédias, controla elétrons e fótons. Mas uma ameaça está à espreita... Como um vírus mutante endógeno estranho, estamos cavando nosso próprio abismo. Em breve nos tornaremos uma raça de ignóbeis dementes graças ao... facebook, super-mario, coisas assim. E aí a humanidade vai acabar, quem sabe... Ao menos é o que pensam alguns estressadinhos de plantão que se apressam em criticar essas tecnologias. Não que críticas não devam ser feitas, mas uma boa dose de ponderação não faz mal a ninguém.

O artigo que me leva a essas considerações está aqui.

Talvez o mais interessante a observar no meio dessa confusão toda não sejam as críticas em si, mas essa tendência, sempre manifesta, de as pessoas criticarem qualquer coisa que ameace alterar a face do mundo como elas conhecem. Mudanças culturais assustam. Idéias religiosas diferentes assustam. Diferentes opiniões políticas assustam. E se o mundo amanhã não for mais como é hoje? Estará tudo perdido? Partidários da continuidade estéril. O mundo nunca foi o mesmo de antes, qualquer que seja a época. Imutável é a tendência de mudança, só isso.

Há sempre presente uma espécie de inércia cultural, por vezes maior, por vezes menor. Criticá-la é sempre válido, mas pensar em uma sociedade sem ela é quase que uma abstração inconcebível. Uma sociedade em que toda pequena mudança ganha terreno muito rapidamente, sem resistência, adotada sem críticas, sem ressalvas, qualquer que seja. Resistências são válidas, calibram nossa dinâmica. Mas há exageros. Religiões são pródigas em cometê-los, negando e combatendo tudo o que as questiona sem muita consideração a respeito. Temos apenas que calibrar nossos julgômetros para que essas tendência humana a resistir não se torne um ímpeto instintivo e irracional por resistir.

Friday, August 07, 2009

Ironias da história


O movimento feminista reivindica diversos direitos para as mulheres, igualdade, etc. Mas, olhando história adentro, vemos que algumas coisas são culpa das próprias mulheres. Ou ao menos de algumas delas, em específico. Tomemos o caso do islamismo e seu tratamento super diferenciado sobre as mulheres. Excesso de machismo? Talvez. Mas tudo culpa de uma mulher em particular. Que cometeu um erro contra o qual a maioria das mulheres já são geneticamente programadas para evitar: deu confiança demais a um homem...

Mohammed, o fundador do islã, nasceu em Meca no ano de 570 depois de cristo. Órfão, seguiu desde jovem os mercadores árabes, prática comum na época para iniciar-se nas artes das viagens e negociações. Muito inteligente, impressionou sua empregadora, uma viúva riquíssima. Ela com 40, ele com 25, casaram.

Não fosse por essa mulher, o próprio Mohammed jamais teria tido condições de lançar sua religião com força suficiente para que ela tivesse um alcance tão grande.

Thursday, August 06, 2009

As barreiras dos alunos...

A imagem que fazemos de nós mesmos é poderosíssima. Fico impressionado em ver como as pessoas facilmente bloqueiam enormes potenciais que para sempre ficam ali, adormecidos. E mais assombroso ainda é ver pessoas que conseguem levar a diante, com sucesso, um potencial que nem tinham... apenas não sabiam!

Há uns tempos voltei a dar aulas particulares, e estava pensando nesses dias que, durante as aulas, o que menos importa para mim, como professor, é o domínio técnico sobre o assunto ensinado. Em geral é muito mais relevante encontrar uma forma de fazer com que a aula seja interessante a ponto de que as barreiras pessoais dos alunos sejam ignoradas, sem que eles percebam, até que atinjam conquistas suficientes para, de repente, se convencerem de que são mais capazes do que imaginavam, e de que há algo de interessante no que está sendo estudado.

E voltei a pensar na importância da componente lúdica das aulas. O que me dá calafrios na espinha quando lembro de muitos professores que vi na faculdade. Ainda bem que me formei!

O paradoxal é que essas barreiras pessoais, embora sejam um problema quando alguém se inicia numa matéria nova, ou quando precisa estudar um assunto que não faz parte do seu universo de interesses, têm uma razão de ser. São úteis sim. Ajudam a focar a vida. Definem a pessoalidade de alguém. Não há razão lógica por trás de afirmações do tipo "não gosto de matemática" ou "não levo jeito pra inglês". Se alguém lhe disser "mim nummm injgleiz jeito", beleza, você já entendeu que a pessoa tem problemas, não leva jeito nem pra português e tal... Mas de onde vem essa certeza arraigada de pessoas que dizem que não levam jeito pra isso e pra aquilo? De lugar nenhum; vem da própria afirmação. É algo que passa a ser concreto quando é afirmado. É a definição da individualidade de cada um.

Juntando tudo... às vezes o trabalho de um professor, como quem não quer nada, é ajudar as pessoas a aceitarem uma nova idéia de si. Já imaginei um divã do lado da lousa...

Wednesday, August 05, 2009

Organizado, importante e feliz


Tá aí uma pessoa sobre quem vale a pena pesquisar mais: Benjamin Franklin. Quero uma boa biografia dele de presente. Um cara importante, inteligente, inventivo, organizad e... feliz! Ao contrário da sobriedade petulante de muitos importantes, Franklin sabia manter o bom humor, e equilibrar uma vida dedicada a muito trabalho e a múltiplas tarefas, mas sempre com espaço para diversão, música e, claro, mulheres.

Resume Maira Kalman, em uma coluna no New York Times: "Acho que ele nunca estava desanimado. Ele via uma rua suja e criava um departamento sanitário. Via uma casa em chamas e criava um departamento de bombeiros. Via pessoas doentes e criava um hospital. Ele inaugurou nossa primeira biblioteca de empréstimos. Via pessoas necessitadas de educação e criou uma universidade. Ele funcou a Sociedade de Filosofia da América, onde homens e mulheres compartilhavam desenvolvimentos da ciência. [...] Ele flertava com as mulheres, que flertavam de volta. Ele escrevia poemas e dava presentes."

Tá, tudo bem que ver uma casa em chamas e fundar um departamento de bombeiros não me parece a medida mais prática, mas todos entendemos que a descrição acima é meramente ilustrativa.

Outra curiosidade. Ele era metódico. O quão metódico? Veja a lista abaixo. Você já se planejou desse jeito? Segue à risca seus planejamentos?


Mais informações:
Benjamin Franlkin na Wikipedia
Eu iria listar aqui alguns livros com biografia dele... mas são inúmeros, basta dar uma fussada na Amazon, Livraria Cultura ou Estante Virtual.

Tuesday, August 04, 2009

Tilt na física


Importa mesmo tanto assim aos físicos saber se a teoria dos múltiplos universos, apelativamente sugerida por Hugh Everett III em sua tese de doutorado apresentada em Princeton, é correta ou não? Ora, talvez ela não seja correta no nosso universo, mas o seja em algum outro. Talvez logo mais venhamos a nos separar em universos distintos, de modo que podemos gastar o que nos resta de tempo juntos com alguma questão mais interessante, não é?

Sites e materiais por aí:
Artigo sobre a vida e o trabalho de Hugh Everett III

Um FAQ sobre a teoria dos universos múltiplos

E, pensando mais um pouco... a idéia de múltiplos mundos não poderia ter surgido antes em qualquer ponto da história, e aí mesmo rejeitada? Afinal, não interessa se a realidade se divide em multiplicidades inacessíveis entre si aos viajantes de cada caminho particular. A tarefa da ciência é entender a realidade desse mundo em termos dele mesmo. Não me interessa se o gato estará talvez morto neste mundo e vivo num outro, talvez o contrário. Interessa saber se, neste universo, o gato está vivo ou morto.

Falta um chefe aos físicos. Se eu fosse chefe dos físicos do mundo, atrasaria os salários. Às reclamações, retrucaria: "em algum outro universo, não se preocupem, os vencimentos estão em dia!". E ainda me defenderia dos protestos subseqüentes: "não podemos deixar de realizar a função de onda completa de todos os eventos possíveis em torno dos salários. Nesse universo, vai atrasar, paciência."

Bem, talvez em algum universo paralelo eu realmente seja o chefe dos físicos do mundo e esteja agora mesmo fazendo essa piadinha besta... Talvez, num outro universo, vocês até tenham achado graça!

Monday, August 03, 2009

Mentes com entropia variável


Eu morro de inveja da pseudociência. Ela congrega um povo com uma criatividade escabrosamente gigante. Um pseudo-cientista é um bolsista da Loucura, de Erasmo, que cansou do resto do mundo e foi praticar seus dons ali onde eles encontram a um só tempo expressão máxima e glamour. Um hospício, claro, oferece à Loucura um vasto e livre terreno de trabalho. Mas cadê o glamour? A ciência "mainstream" oferece todo o glamour, com prêmios nobel, revoluções que alteram a história da humanidade e tudo o mais. Mas é um trabalho, convenhamos, muito limitado. Cientistas não engolem qualquer coisa. Já um pseudo-cientista...

Quisera eu, em minhas aspirações de escritor, ter a desinibição desse povo! Recentemente (bem recentemente mesmo, coisa de dez minutos atrás) encontrei essa aqui: Meditation and Entropy. O artigo começa explicando tudo com calma... Bem didático. Aliás, se tem uma coisa que caracteriza um bom pseudo-cientista, é a didática. Sua didática tem o estratagema da eloqüência assertiva, que precisa ser elevada o suficiente para esconder suas outras características sempre presentes: a lógica subversa, a extrapolação ao gosto do freguês e por cima de qualquer fronteira de razoabilidade e a degeneração da especificidade de conceitos. Essa última característica, aliás, é fundamental ao pseudo-cientista, e é talvez seu traço mais fácil de identificar. Energia, vibração, força, campo... Todos esses conceitos, de difícil e restrita definição na ciência tradicional, tornam-se palavras místicas capazes de justificar qualquer coisa que se queira. Um outro traço comum é a evitação da matemática. A matemática é inerentemente rígida em conceitos, e o único jeito de fazer um uso desvirtuado da matemática seria apresentá-la apenas aos que não a entendem, mas aí o ataque daqueles que a entendem seria mais enérgico e teria uma argumentação mais contundente. Mas cuidado com uma artimanha! O pseudo-cientista faz sempre o melhor que pode... Ciente de que a ausência de matematismos tende a depor contra eles, pseudo-cientistas não tardaram a enfeitar seus livros com formulinhas... ...da ciência tradicional, claro.

Assim, quando falam sobre ondas, acham muito bonitinho escrever que vê é igual a lambda vezes éfe. Parabéns pra eles. Agora uma boa equação para a relação entre freqüência do humor e sucesso no trabalho, mesmo que fosse uma complicada equação vetorial fazendo uso de gradientes e derivadas parciais, que seja, nunca vi. Em resumo: pseudo-cientistas apresentam equações matemáticas da ciência tradicional, mas raramente, ou nunca, apresentam de forma matemática suas idéias particulares, pois isso seria detalhá-las demais e facilitar o trabalho de denúncia de seus abusos. Sem contar que, para seus propósitos dogmáticos, é um passo completamente desnecessário, uma vez que seu público-alvo não quer perder tempo com matemática e sim partir direto para o alívio de alívio de certas carências emocionais e vazios existenciais.

Tantas considerações motivadas pelo post ao qual me referi acima... Então vamos a ele! Numa livre tradução, começa assim:

O estado de meditação pode ser interpretado em termos de entropia. Entropia em física é uma medida da desordem. Eu creio que todos nós temos uma espécie de entropia mental, de uma forma ou de outra.

E termina assim:

No estado desperto, quando a entropia da mente é conscientemente diminuída, existe menos desordem; a mente se torna calma e transparente.

Extendendo a lógica, pode-se dizer que quando a entropia se aproxima de quase zero a mente tende a estar livre de pensamentos. Uma mente livre de pensamentos é livre de distrações e conflitos; e um estado de calma e quietude nos envolve.


Eis outra coisa que eu invejo nos pseudo-cientistas: a cara-de-pau hipócrita com que conseguem dizer asneiras dessa e ao mesmo tempo se deixarem envolver num estado de calma e quietude. Uma coisa é certa, em termos que todos nós aceitamos: pseudo-ciência é ciência de elevada entropia. Medite a respeito...

Sunday, August 02, 2009

Novos mundos


Quão difícil é achar um pequeno planeta que orbita silenciosamente em torno de uma estrela qualquer, dentre bilhões delas, a muitos anos luz daqui? Para ter uma idéia dessa dificuldade, só mesmo conhecendo os métodos que são usados na empreitada. Uma pequeníssima variação no brilho da estrela, se acontecer periodicamente, pode ser indício da passagem de um planeta na frente da estrela. Problema: o método só serve para o raro caso em que a Terra está contida no mesmo plano que a órbita do planetinha. Outro método: detectar mudanças na velocidade radial da estrela com relação à Terra. Se há um planeta orbitando a estrela, então o centro de rotação do sistema não coincide com o centro de massa da própria estrela, de modo que às vezes ela está se afastando, às vezes se aproximando de nós. Agora a o planeta não precisa mais passar exatamente entre a Terra e a estrela, mas o método é tão menos preciso quanto mais perpendicular for o plano da órbita com relação à nossa linha de visada. E, convenhamos, esta técnica requer uma precisão e tanto!

Tecnicidades do problema à parte, convenhamos: vivemos em uma era em que é realidade a busca por outros planetas. Eles estão sendo catalogados e já somam centenas. Dada a história da vida na Terra, é um privilégio e tanto. Tudo bem que há outras coisas pra se pensar também. Aquecimento global, guerras, ou o Santander que está me cobrando uma fatura enorme de um cartão que nunca usei na vida. Não sei se há vida lá fora. Mas a vida aqui na Terra é bem exótica.
legenda da imagem acima: The discovery Doppler data of the planet orbiting Gliese 436. Doppler measurements of Gliese 436 are shown versus time, during an orbit cycle (2.64 days), obtained at the Keck 1 telescope. The apparent orbital period of the planet is 2.64 days and the mass of the planet is 22.7 Earth-Masses. The discovery was made by the California & Carnegie Planet Search team, described in two published papers by Butler et al. (2005) and Maness et al. (2007) .

Saturday, August 01, 2009

Lapsos da história


"Quando irrompeu a guerra entre os dois países, o corante cáqui usado nos uniformes militares do exército britânico em 1914 vinha de uma fábrica em Stuttgart."

(Em A Escalada da Ciência, de Brian L. Silver.)

Quantas e quantas histórias como essa não devem atestar de forma irônica o quão nocivos são os efeitos da guerra sobre laços que levaram muito tempo para se estabelecer entre gentes e lugares, não é?