terça-feira, 22 de abril de 2008

DESEMPREGO, TRABALHO E ATUALIDADE

* Publicado no Jornal “O Popular” em 19.05.2000

Há muito estamos falando, ouvindo e vendo notícias sobre o desemprego. Governos, parlamentares, políticos, economistas, cidadãos comuns, todos temos procurados meios de combate ao desemprego.

Por outro lado, bem menos temos tido a oportunidade de questionarmos, levando para o debate, o tema Trabalho.

Pior: as análises sobre o desemprego, não associam um conjunto de discussões que se incorporam ao tema, como o impacto das novas tecnologias sobre o trabalho, entendendo aí não só sob o ponto de vista da automatização e dos novos equipamentos, mas também das novas formas de organização do processo de trabalho, que requer modificações nas condições de trabalho, nas questões de emprego e salário e nas condições de qualificação do trabalhador.

Então, ao questionar o fato desemprego, penso que é importante dar novos rumos ao teor das discussões. Às vezes, me parece que o desemprego não é simplesmente um mal terrível, mas uma conseqüência natural e irreversível.

Senão vejamos: já era sabido à época de Marx, que o próprio capitalismo destruiria o capitalismo, ao impor um padrão de uso da mão de obra assentada em baixos salários, em ritmos intensos de trabalho, e me altas taxas de rotatividade.

A organização capitalista é voltada para o aumento da lucratividade e não para o desenvolvimento humano, o que diferencia sobremaneira o capitalismo do socialismo, onde o trabalho aparece como necessidade intrínseca ao ser humano enquanto busca de satisfação moral, intelectual, material.

Ora, se os sentimentos de injustiça e indignação pelas condições e resultados do trabalho são presentes no trabalhador que está empregado, imaginemos então o que sente o trabalhador desempregado... a perda da identidade e do significado do trabalho, torna-se, para o desempregado, uma perda do seu significado e da sua identidade no mundo. O buraco se amplia. Mas não vamos falar aqui de caos, dificuldades, humilhações. Nem quero voltar às discussões fechadas e pouco fundamentadas sobre Marx ou sobre os Sistemas de Produção. Tampouco pretendo copiar modelos ultrapassados, mas refazer leituras, análises, conclusões.

Se o socialismo teve seus entraves, é certo que a utopia continua. Utopia, enquanto algo não realizado, e não algo irrealizável, como disse Paulo Freire.

Na famosa, porém pouco conhecida cidade Utopia, do filósofo socialista Thomas Morus, o trabalho físico tem, não menor importância, mas menor desgaste. As pessoas dedicam-se mais plenamente as suas vidas à elevação moral, intelectual, espiritual. Buscam prazeres menos efêmeros do que os que nos trouxe a sociedade capitalista. Lá, os cidadãos têm igual acesso aos serviços públicos de educação e saúde. Não têm problemas de moradia e os índices de violência são baixíssimos, mais devido à qualidade de vida, do que ao sistema carcerário que é extremamente duro e eficaz.

O que quero é avançar a discussão, questionando as implicações do trabalho e a falta dele. Reconhecendo o impacto das novas tecnologias nos costumes, tradições, valores e expectativas dos trabalhadores, que vão construindo novas representações no dia a dia da vida social e familiar.

Existem estudos que mostram que neste século a indústria que mais vai crescer é a do turismo, do lazer e do entretenimento. E perguntamos para quem, se a maioria dos brasileiros não pode viajar, freqüentar festas, cinemas, teatros, conhecer a diversidade no mundo das artes plásticas, da música, da literatura.

Entendemos, enfim, que pior que o desemprego é a baixa remuneração salarial, que remete famílias inteiras ao mercado de trabalho, desvalorizando a mão de obra, pois quando alguém não quer ou não satisfaz, aparecem dezenas querendo determinado emprego.

Pior que o desemprego é o valor dos salários que não permite aos pais pagarem para obter boa educação, saúde, moradia e lazer aos filhos.

Pior que o desemprego, é o trabalhador, ativo ou não, às vezes pequeno comerciante que paga impostos e gera empregos, ao precisar de serviços públicos de saúde e educação, que são básicos, se deseperar com o descaso e a desqualificação dos profissionais.

Pior ainda, é o tempo passar e ficarmos debatendo os chavões que aparecem na ordem do dia, de modo superficial e unilateral.



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