sábado, 10 de outubro de 2009

Snakes & Arrows (Rush) - Ainda há muita lenha pra ser queimada...

Caros (e raros) leitores deste blog, devo minhas desculpas a vocês. As tarefas da faculdade têm me consumido de tal maneira que não tenho tido muito tempo de postar por aqui. Bem, agora consegui um tempo pra escrever um pouco e não deixar este blog em branco por um mês.

No dia 1º de maio de 2007 foi lançado o álbum Snakes & Arrows, o 18º álbum de estúdio do Rush. Os anos vão passando e estes três canadenses (Geddy Lee no baixo, vocais e sintetizadores; Alex Lifeson na guitarra e Neil Peart na bateria) continuam surpreendendo com sua criatividade e talento mesmo após passarem da barreira do meio século de vida e dos 35 anos de carreia.

Este álbum foi o primeiro lançamento de inéditas desde 2002, ano de lançamento do Vapor Trails (2002). Neste intervalo de 5 anos as atividades foram intensas: a turnê do Vapor Trails (a primeira depois da volta de Neil Peart), a gravação do show que gerou o Rush in Rio e a comemoração dos 30 anos de carreira em 2004 (com a gravação do disco de covers Feedback e do DVD ao vivo R30). Depois de um tempo de folga, eles voltaram ao estúdio sob a produção de Nick Raskulinecz (produtor de bandas como Foo Fighters e Velvet Revolver), sendo este jovem produtor uma peça fundamental em alguns detalhes da composição deste álbum - mais adiante deixarei as coisas mais claras. Estas experiências nostáligcas vividas nos 5 anos anteriores somadas ao entusiasmo de um jovem produtor fanático pela banda são a essência deste 18º álbum da banda.

O Snakes & Arrows, assim como outros trabalhos do Rush, apresenta um tema principal. Desta vez, a religião e a espiritualidade tomaram mais espaço nas idéias de Peart. Outro aspecto interessante é a presença maciça de violões e outros instrumentos acústicos, - até mandola e bouzouki, um instrumento de origam grega - presença esta devida ao estilo acústico de composição adotado por Alex. A sonoridade crua é a grande marca deste trabalho, mas não se trata de um cru pesado como nos anos 90, e sim uma crueza mais orgânica, inspirada nos anos 70 mas com uma roupagem moderna.

O título do álbum (originalmente tirado do primeiro verso de Armor and Sword) tem relação com um jogo budista chamado Leela (ou Snakes & Ladders, como é conhecido pelos ingleses), jogo este que é uma metáfora do karma. Esta ligação originou a arte da capa, que consiste no tabuleiro deste jogo milenar.

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Nome do álbum: Snakes & Arrows
Lançamento: 2007
Músicas:
01. Far Cry
02. Armor and Sword
03. Workin' Them Angels
04. The Larger Bowl
05. Spindrift
06. The Main Monkey Business
07. The Way the Wind Blows
08. Hope
09. Faithless
10. Bravest Face
11. Good News First
12. Malignant Narcissism
13. We Hold On

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01. Far Cry
Far Cry já nasceu um clássico, o que justifica sua escolha como primeiro single do álbum. Ela é bem representativa de uma característica curiosa deste álbum: o retorno a algumas características antigas da banda. A introdução sincopada faz referência à época mais prog da banda, o acorde de transição é exatamente o mesmo acorde inicial de Cygnus X-1: Hemispheres (inclusive gravado com a mesma guitarra) e o clipe faz referências à música Red Barchetta, do álbum Moving Pictures (1981). E nela entra um dedo do Nick: o "solo" de bateria no final foi sugestão dele, prontamente aceita por Neil Peart.

02. Armor and Sword
Esta música é a primeira que toca no assunto religião, porém de maneira bem discreta. Talvez seja uma alusão às loucuras cometidas pelos fanáticos religiosos - o verso No one gets to the heaven without a fight me leva a esta conclusão. Aqui aparecem os primeiros violões mais "crus" do álbum. As harmonias vocais do Geddy Lee também merecem destaque - parece que a voz do cara melhora com o tempo, como se fosse vinho!

03. Workin' Them Angels
Workin' Them Angels tem um certo tom autobiográfico. Trata-se de uma reflexão de como a vida de Neil Peart como artista vem sendo posta em risco ao longo de todos estes anos de carreira, fazendo turnês e etc. Mas apesar dos riscos, muitas coisas boas foram vivenciadas também. Novamente os elementos acústicos aparecem, desta vez com um inusitado solo de bouzouki. A letra desta música foi originada por alguns versos que iniciam o livro Traveling Music, escirto por Neil Peart e que trata basicamente de aventuras vividas em turnês - está explicado o tom autobiográfico.

04. The Larger Bowl
Aqui há uma breve crítica social sobre as desigualdades sociais no mundo. Os arranjos são bem crus, com destaque para a voz e violão. Desta vez as letras vieram da época do livro Masked Rider, escrito por Neil Peart após uma jornada de bicicleta pela África nos anos 80.

05. Spindrift
Pra dizer a verdade, Spindrift é uma música bem estranha. Apesar do arranjo um tanto quanto psicodélico, trata-se de uma canção sobre problemas de relacionamento.

06. The Main Monkey Business
Eis a primeira instrumental do álbum. É um prato cheio para os audiófilos, músicos amadores e afins: arranos complexos, muitos instrumentos, passagens incomuns, ritmos diferentes, etc. Um fato curioso é que a gravação desta música foi feita ao vivo, com os três integrantes tocando juntos no estúdio. Além de evitar crises de insanidade ao tentar gravar faixas de tamanha complexidade usando o método convencional, uma gravação ao vivo dá asas à espontaniedade e à naturalidade de uma performance ao vivo. Aqui cabe uma pergunta: e este nome, daonde veio? Trata-se de uma expressão usada pela vó polonesa de Geddy...

07. The Way the Wind Blows
Uma das mais belas canções do álbum, quiçá de toda a carreira da banda. Boa parte do feeling da música vem das passagens bluesísticas e da pegada Rock n' Roll dos versos - diga-se de passagem, outra sugestão de Nick. A letra fala basicamente sobre conformismo, aludindo ao confirmismo espiritual. O refrão mostra bem esta idéia:

We can only grow the way the wind blows
On a bare and weathered shore
We can only bow to the here and now
On our elemental war
We can only grow the way the wind blows
We can only bow to the here and now
Or be broken down blow by blow

08. Hope
Para os que subestimam o papel de Alex Lifeson no Rush, aqui está uma prova do contrário. Ele já tinha uma outra peça acústica gravada, chamada Broon's Bane, gravada no álbum ao vivo Exit... Stage Left (1981); mas esta foi sua estréia solo em estúdio. Não há muito o que falar... simplesmente uma bela música folk instrumental que transmite a idéia de seu título: esperança.

09. Faithless
Nesta música fica explícita a idéia central de espiritualidade que o álbum trás. Ela trás as mesmas idéias de Free Will, do álbum Permanent Waves (1980): a defesa da livre expressão da espiritualidade e das crenças.

10. Bravest Face
Bravest Face fala sobre a noção de que tudo tem "um outro lado" escondido, muitas vezes inesperado porém não desprezível.

11. Good News First
Good News First trás em sua introdução mais um artigo dos áureos anos 60/70: o Mellotron (pra quem não sabe, o Mellotron foi um dos primeiros teclados eletromecânicos, produzido nos anos 60). Mais um bom trabalho dos vocais de Geddy Lee.

12. Malignant Narcissism
Esta música tem uma história interessante. Durante as gravações dos vocais, entre uma gravação e outra, Geddy Lee brincava com um baixo fretless (baixo sem os trastes, assim como os baixolões acústicos usados antes de aparecerem os baixos elétricos). Nick logo percebeu algo interessante nestas "brincadeiras" de Geddy e gravou alguns trechos com o microfone usado para gravar a voz. Empolgado, Nick fez a banda se reunir para gravar uma nova instrumental (a terceira do álbum) baseada nas idéias da "brincadeira" de Geddy. E assim nasceu MalNar (um apelido carinhoso dado pelos fãs), que lembra bastante YYZ pelos duelos entre baixo e guitarra.

13. We Hold On
We Hold On fala sobre persistência, refletindo sobre o que já se fez no passado e que poderia ter causado desistência. Esta música tem bastante a ver com toda a trajetória do Rush, que teve uma carreira baseada em pricípios próprios e independentes das pressões externas do mundo do show business.

É sempre bom ver (e principalmente ouvir) estes grandes talentos da música mundial ainda na ativa mesmo após muitos anos de carreia. E depois de todo este tempo, muitos querem saber qual é a receita da longevidade da banda - e acredite: em todas as entrevistas dos últimos 7 anos eles respondem esta mesma pergunta. A receita é simples: eles fazem o que gostam. Gravam um disco, fazem uma turnê (que nem precisou fazer muita força pra ser a maior turnê da história da banda, com mais de 100 shows em um ano e meio, chegando a ser listada no top 10 das maiores turnês da época) e tiram um descanso merecido.


Mais preparem-se, o outono está chegando no hemisfério norte e o power trio está voltando para os estúdios. Ninguém sabe o que esperar deste possível novo álbum, mas uma coisa é fato: eles ainda têm muita lenha pra queimar...

2 comentários:

  1. Opa...duas coisas

    Monkey Business é uma gíria em inglês algo como trabalho por nada

    e o Mellotron foi o primeiro sampler da história =D

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  2. Valeu Germano! É sempre bom ter alguém pra conferir as erratas... huahuauaa!

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