sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Mercados Emergentes e Commodities: O Verdadeiro Destino do Estímulo do Governo dos EUA

Por Marco Aurélio  

O Brasil tem se beneficiado com a generosa política monetária e fiscal dos EUA. O tsunami de liquidez liberado por Washington tem elevado o preço da soja, do algodão, do açúcar e do milho, de terras agrícolas no sertão da Bahia, e também de minérios e petróleo. Tem inflado os papéis de empresas como Vale e Petrobras, que, juntas, representam mais de 20% do índice BOVESPA BM&F.

A gigantesca onda de liquidez americana tem enchido os cofres dos estados e municípios que produzem esses produtos, enriquecendo seus habitantes e funcionários públicos, que disparam a correr atrás de novos imóveis, carros maiores e Jumbo Grills 6 Hambúrgueres George Foreman. Tem igualmente beneficiado as indústrias de transformação, que processam o minério de ferro e o transformam em aço, que em seguida é comprado pela Ásia, que o usa para construir projetos megalomaníacos nas bolhas imobiliárias de Dubai, Cingapura e Xangai.

Quando qualquer um desses componentes parar, ou mesmo desacelerar, cuidado. Para uma pulga no rabo do cachorro, pode parecer que é o cachorro que está balançando. Mas esse nunca é o caso, como explica o grande Bill Bonner.

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Bill Bonner
The Daily Reckoning


(12/08/10 Melbourne, Austrália) - "Era uma dívida de honra, assim chamada, que eu tinha que pagar, e usei dinheiro que não o meu próprio para fazê-lo, na certeza de que poderia devolvê-lo antes que houvesse qualquer possibilidade de darem por sua falta. Mas uma terrível má-sorte se me acometeu. O dinheiro com o qual havia contado nunca veio a ser, e uma análise prematura das contas expôs minhas subtrações.

O caso poderia ter sido tratado com clemência, mas as leis eram mais duramente aplicadas há trinta anos do que agora, e no meu vigésimo-terceiro aniversário encontrei-me preso como um criminoso, juntamente com trinta e sete condenados, entre os conveses do barco Gloria Scott, rumo à Austrália."

- Sir Arthur Conan Doyle, As Aventuras de Sherlock Holmes

Imagine ir da Inglaterra à Austrália em um veleiro, acorrentado "entre os conveses". Certamente, a chegada aqui era motivo de grande júbilo para os condenados.

Imagine ser enviado para a Austrália por não pagar uma dívida (mesmo uma que nunca foi pretendida pelo credor)! Tal perspectiva, com certeza, desencorajaria qualquer um de gastar dinheiro que não lhe pertence!

Era um mundo mais severo, aquele do ano de 1855. As "leis eram mais duramente aplicadas" naquela época.

Agora, as leis não são aplicadas de forma alguma. Os culpados estão de rabo tão amarrado com o Governo que seria preciso um marinheiro especialista em nós para soltá-los. Os bancos parecem ter o dinheiro dos contribuintes à sua disposição imediata. 24 horas por dia, sete dias por semana. É só abrir e fechar uma torneira. E o Governo gasta dinheiro que não é seu ... e promete devolvê-lo antes que alguém dê pela falta. Mas esse dinheiro nunca chegará a suas mãos. Um exame das contas do Governo expõe um déficit imenso - cerca de 20 vezes a produção anual total do setor privado dos Estados Unidos.

E chega a nós de Washington a notícia de uma acordo, fechado ontem. Os ricos podem ficar com seu dinheiro por mais dois anos. E os pobres ficam com mais 13 meses de seguro-desemprego.

Uma situação na qual todos ganham, não?

Você só pode estar brincando. As contas do Governo mostram um déficit de USD 1,3 trilhão. Cortes de impostos e gastos adicionais significam que todos perdem...

Mas, ora bolas, por que não? Vamos dar a todos um presente de Natal – quer caiba em seus bolsos ou não! O mercado de ações provavelmente vai subir hoje. Os jornais trazem a notícia de que a extensão dos cortes fiscais da Era Bush pode ser exatamente o remédio para os males da economia. Talvez não precisemos de mais estímulo. Porque se os ricos puderem contar com as mesmas taxas de imposto no próximo ano ...

... Que poderá decorrer disso? Mais investimentos? Sim ... na Índia! E na China! E em commodities! E até mesmo em ouro!

Sim, é aí que o estímulo tem desembocado, até agora.

Neste momento, não gostamos da cara das coisas. Deste mercado. Desta economia. Ou desta situação política.

Não gostamos nem da mais minúscula parte. A coisa toda é baseada em fraudes, excessos, exageros e e alucinações.

Então hasteamos a nossa "Bandeira de Alerta", para avisar os incautos sobre um crash iminente.

O mais provável, claro, é que ela não será necessária. As coisas normalmente seguem em frente, de maneira confusa, incerta e lenta. Vão fazê-lo de novo, provavelmente, como fizeram no Japão, no período de 1990 a 2010 ... ou na Grã-Bretanha, do final da Segunda Guerra Mundial até os anos de Thatcher. Uma economia morosa ... elevadas taxas de desemprego ...  preços de imóveis em queda ... e intervenção governamental equivocada.

Devemos ver uma queda nos preços das ações também. Já faz doze anos que os investidores não ganham dinheiro com ações ... com a diferença de que os papéis estão ainda mais caros hoje. Gostaríamos de ver seus preços cair para cerca de 50% a 70% dos níveis atuais. Então, talvez, possamos nos animar com a idéia de investir neles. Da forma como está, presumimos que ainda não encontraram seu ponto mais baixo. Até que esse momento passe, ainda estará por vir.

Dar bons conselhos financeiros é realmente fácil.

Adquira investimentos que estão subindo.

"Mas e se não continuarem a subir?" você pergunta.

Então não os compre.

Viu como é fácil?

Bill Bonner
The Daily Reckoning

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