Nosso Rio Guri

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terça-feira, 16 de junho de 2009

Canoas, Arroio Araçá e Desenvolvimento Sustentável

O Projeto Ambiental Arroio Araçá ‘Nosso Rio Guri’ vem acompanhando o movimento das obras do novo Distrito Industrial que ocupará parte da área da Fazenda Guajuviras em Canoas. Ali se encontra a principal nascente deste manancial. Em reunião dos integrantes do projeto, em 17/04/07, a comunidade presente colocou sua preocupação com este empreendimento e quanto as suas condições de implementação para que não atingisse esta área de proteção ambiental. Na ocasião o representante do SEMPA presente tranqüilizou o grupo colocando que o projeto prevê muros de proteção respeitando a metragem que requer a lei.

Em março de 2008 iniciaram-se as obras. Neste mesmo mês, pelo dia da água 22/03, o Projeto iniciou sua participação na organização da 15ª Romaria das Águas que busca sensibilizar a população para a importância da preservação dos recursos hídricos e de toda a biodiversidade envolvida na região dos rios e arroios que formam o Lago Guaíba. As águas das nascentes são recolhidas como símbolo de cuidado com a natureza imaculada na qual não devemos tocar e percorrem em romaria todas as cidades da bacia do Guaíba. O Comitesinos, outro organizador do evento, veio ressaltando sua defesa com o tema ‘A Mata Ciliar e a Biodiversidade’, convidando todas as cidades da Bacia do Sinos (Canoas uma delas) para a construção de uma cultura de respeito à natureza. Nosso Projeto contribuiu com a construção de uma cartilha que auxiliasse na divulgação deste movimento tão importante, divulgando na comunidade canoense e participando mensalmente nos encontros. Dentro da proposta da 15ª Romaria o projeto iniciou articulando o grande mutirão de limpeza em oito pontos do Arroio Araçá, em 31 de maio de 2008, que abriu a VIII Semana Municipal do Meio Ambiente com o tema ‘Afaste a Poluição das Águas’, acreditando que a comunidade, integrada, com conhecimento e apoiada, cuida de seu ambiente.

Dentro das diversas atividades que foram ocorrendo o Projeto do Rio Guri reuniu crianças, jovens e adultos na Fazenda Guajuviras, no final de julho e início de agosto, captando as águas da nascente principal do Arroio Araçá para participar pela primeira vez na Romaria. Na ocasião verificou o andamento da obra do Distrito Industrial, na altura da Estrada do Nazário, adentrando pela fazenda. Em ambos os momentos os grupos abraçam a nascente do Araçá e fazem orações num pedido de proteção para esta vida. Em setembro, sabedores deste movimento em Canoas, representantes de Alvorada, com apoio de nosso projeto, passam a participar da Romaria com as águas das nascentes do Arroio Nunes e Feijó. Em outubro a porção da nascente do Araçá junta-se às dos Sinos e do Gravataí percorrendo Canoas num movimento de conhecimento e cuidado para se reverter a poluição. No dia 12 elas juntam-se as outras mais no evento que reuniu milhares de pessoas nas margens do Guaíba para o Rito das Águas.

Em novembro os jornais da cidade passam a destacar em manchete notícias de denúncias sobre o desmatamento exarcebado na fazenda. A obra foi embargada. Preocupados com as notícias integrantes do projeto foram em 14 de novembro visitar a nascente do arroio na área para verificar em que condições se encontrava. Foi detectado que o desmatamento ocorreu em vários locais espalhados pela fazenda, atingindo inclusive a nascente do Arroio Araçá. O desmatamento não atingiu somente eucaliptos e outras espécies de árvores e vegetação nativa, mas também a principal nascente de nosso 'rio guri' e outras áreas de nascentes ainda não conhecidas.

Esta visita resultou no relatório enviado para jornais e integrantes do projeto, culminando no movimento em favor da natureza de Canoas que ocorreu no Calçadão nos dias 12 e 13 de dezembro. 2008 foi um ano de muita ação.
Para ter cópia do relatório link http://www.opaaraucaria.org.br/
Projeto Arroio Araçá, Nosso"Rio Guri" Download(3700Kb)

Em nossa cidade, a exemplo da Amazônia e outras áreas noticiadas pelo Brasil, para ter empreendimentos implantados vem sendo desconsiderada a natureza, contrariando o tão falado desenvolvimento sustentável. Temos visto tantos espaços abandonados após terem sido ocupados por empresas que, esgotando o interesse por aquela área, mudam-se deixando asfalto e cimento sobre a natureza que ali existia.

No que tange as questões hídricas a Fazenda Guajuviras é um potencial de áreas de nascentes que ainda não conhecemos. Entende-se por nascente o afloramento do lençol freático, que vai dar origem a uma fonte de água de acúmulo (lagoas e banhados), ou cursos d’água (arroios e rios). Em virtude de seu valor inestimável dentro de qualquer propriedade deve ser tratada com cuidado todo especial. Assim é nossa cidade (rica em banhados) e não temos reconhecimento do valor natural destas áreas. Os banhados além de alimentarem arroios e manterem os níveis dos rios controlam o clima da região. Muitas vezes, tais locais são aterradas, inclusive com lixo, para, posteriormente, serem utilizadas para construção de habitações e empresas. Além de sofrermos o problema da estiagem como conseqüência, estas ações contribuem para a contaminação dos lençóis freáticos. O desmatamento é outra importante agressão ao lençol freático. Quanto maior a cobertura vegetal, mais tempo a água permanece sobre o solo, diminuindo a evaporação e aumentando a quantidade daquela que irá infiltrar-se e atingir o lençol. Esta relação entre processo de desenvolvimento e preservação ambiental em nossa cidade necessita de muita discussão. A situação está bastante acentuada pelo processo de degradação do ambiente, especialmente dos recursos água e solo.

Foto retirada da comunidade do orkut Canoas minha Terra

Pode-se observar, por exemplo, com a urbanização da cidade, ao longo de seu trajeto, o Arroio Araçá está cada vez mais rodeado de residenciais, como atualmente vem acontecendo na rua Açucena. Em seus dois lados nosso 'rio guri' deve ter a atenção necessária para se verificar se está sendo devidamente respeitada a legislação quanto a metragem em sua faixa de domínio (30 (trinta) metros de largura, em ambas as margens), pois a terraplenagem esta iniciada. É importante salientar que além do valor natural existe o valor histórico dos locais em nossa cidade que não vem sendo observados. A exemplo da Fazenda Guajuviras, a Fonte Dona Josefina, outra nascente que alimenta o Arroio Araçá, e a mata nativa que a envolve, também estão descuidadas. O alerta que nosso projeto vem trazendo não é nenhuma novidade. Como consta em nossos arquivos o falecido professor Fernando Gosmann, nos anos 80, defendia ardorosamente a recuperação do Arroio Araçá questionando se a qualidade de vida da população valia ou não o investimento. Da mesma forma um grupo de trabalho do La Salle veio reunindo depoimentos de moradores da cidade para registrar nossa história pela voz do população, que resultou na série de livros Canoas: para lembrar quem somos: “...a formação e a evolução da cidade surgirá como obra de seus moradores...”

“Estão aterrando as vertentes que são uma coisa das mais lindas."
‘Seu Neno’ Bairro Estância Velha – Canoas
1997 Rejane Penna e outros.

A Fonte Dona Josefina é destaque por sua beleza e por ser importante local de encontros e vivência no passado. Hoje, esquecida e escondida na beleza da mata nativa, como tantas outras belezas que aqui existiam, corre o risco de desaparecer.
É grande nossa preocupação com o descaso para as questões ambientais causado, muitas vezes, pela desinformação sobre a geografia, a história e a biologia de nossa cidade, assim como com as regras ambientais vigentes. Nosso dever de preservar, alertar, debater e buscar por soluções está aliado ao nosso direito de termos orgulho de uma cidade bonita, com planejamento ambiental, e isto envolve diretamente a sua população. Temos muito para ser uma cidade com pontos turísticos como, certamente, muitos canoenses gostam de ver e ir visitar por aí a fora.


O Jornal O Timoneiro publicou na época do desmatamento na fazenda o movimento do Projeto Arroio Araçá: Nosso Rio Guri dando o alerta.



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