terça-feira, maio 27, 2008

Evasão ou invasão?

Há muito tempo os raios solares não transpassavam as janelas da velha mansão. A sensação de abandono que transmitia à cidade afastava os habitantes de seu entorno. As cortinas escuras nunca eram abertas. A trepadeira, que decorava a frente da casa, já tomava conta das paredes laterais e das aberturas por falta de poda. No centro da imensa sala fria e escura, encolhia-se um ser de quem ninguém mais se recordava da existência. Joaquim lutava, com a pouca força que lhe restava, para driblar o barulho dos morcegos que disputavam espaço no forro da casa. À noite, o barulho de seus movimentos era ensurdecedor. Diariamente, debatiam-se em busca de saída para a noite do centro sujo e abandonado da cidade. Confundiam-se. Saiam por buracos desenhados por cupins na madeira do forro e acabavam dentro da velha casa. Perdiam-se no interior da sala – ainda mais escura e melancólica do que à noite da cidade. Buscavam desesperadamente fugir do clima aterrorizante da mansão. Joaquim acordava com o zunido dos bichos. Arrastava-se até a porta e a abria por rápidos segundos. Espantava da residência as únicas e poucas vidas que ainda existiam naquela mansão. Exatamente como fizera há alguns anos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei do seu argumento, acho que vc tem ótimos pontos de vista..!