Aluísio Komarchesqui Leibanti

24, setembro 2008

Max Weber: conceitos

Filed under: Nerdlike — Aluísio @ 12:04 am

Estudar o antipositivismo de Weber é eminentemente compor às ciências da natureza do espírito o papel dos valores humanos. Ao fazê-lo, há de se lançar mão de conceitos pré-estabelecidos por Marx e Nietszche a fim de compreender o abrangente processo capitalista ocidental – suas idéias e fatores de ordem material.  A teoria compreensiva do autor trata do individuo de forma que não exista o conceito de totalidade em sua obra; já que para isso seria necessário conhecer as vontades e sentimentos de todas as pessoas.
Primeiramente, ressalta-se o conceito primário de sociologia para Weber: “ciência que pretende entender a ação social para explicá-la casualmente em seu desenvolvimento e efeitos – observando suas regularidades expressas na forma de usos, costumes ou situações de interesse”. Partindo deste princípio e de que a sociedade externa é uma realidade múltipla e inesgotável, Weber trabalha com uma elaboração limite para o estudo sociológico, à qual alcunha de tipos puros ou ideais – ainda que tenha consciência do irracional, das emoções e equívocos implícitos no desenvolvimento das ações sociais.
Tais tipos puros de ação social são quatro: a ação racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a ação tradicional e a ação afetiva. Cabe ao sociólogo ponderar o sentido que se atribui à determinada ação para estabelecer seu verdadeiro significado social, uma vez que esses tipos não passam de modelos conceituais puros.
A ação social será racional com relação a fins quando, para atingir um objetivo estabelecido, parte de uma conduta científica ou de uma ação econômica que permitam interpretação racional. Para considerar uma ação racional com relação a valores, o interlocutor deve orientar-se por fins últimos, agindo de acordo com suas próprias convicções e levando em conta fidelidade a valores específicos. Ainda mais, o sujeito age de modo afetivo quando sua ação inspira-se imediatamente em emoções como vingança, orgulho, admiração, medo ou inveja. Caso hábitos e costumes levem a que se aja exclusivamente em função deles, reagindo a estímulos habituais, estamos diante de ações tradicionais inaptas a extrapolar o cotidiano.
Uma conduta plural reciprocamente orientada, e que abrange conteúdos significativos, descansa na probabilidade de agir socialmente numa forma predeterminada a qual Weber denomina relação social. Nota-se esse princípio, por exemplo, no vendedor que aceita um cheque de seu cliente ou político que faz promessas a seus eleitores contando com votos. Esses atos baseiam-se em expectativas de condutas que não possuem obrigatoriamente reciprocidade.

No contexto de sobreposição das ações sociais com relações sociais surgem conflitos, sendo por excelência à sociologia a desigualdade. Nas sociedades capitalistas modernas a propriedade privada e as possibilidades de utilizá-la no mercado são determinantes essenciais de posição das pessoas. Tal concepção implica numa separação societária em esferas – econômicas, políticas, religiosas, jurídicas, culturais – com lógicas autônomas de funcionamento. Para Weber, o agente individual é a única entidade passível de conferir significado às suas ações e nelas combinar sentidos referentes a esferas distintas. É disso que trata sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, sob a figura do empresário protestante cuja ação combina com pesos diferenciados o pujante sentido econômico com o caráter religioso e o aspecto da salvação.
A forma pela qual a honra é distribuída em uma comunidade é, segundo Weber, a ordem social. Estabelecidos conceitos referentes ao plano coletivo – classe, estamento, partido – se pode entender os diferenciados mecanismos de distribuição do poder. Pessoas que têm a mesma posição econômica no que tange à propriedade encontram-se na mesma situação de classe. Assim, as ações sociais têm a sua racionalidade definida pelo mercado.

Segundo os parâmetros sociológicos definidos pelo autor, o termo ‘classe’ só pode ser empregado a uma quantidade de pessoas que estejam representadas exclusivamente pelos mesmos interesses lucrativos em condições determinadas pelo mercado.

Em oposição às classes, os estamentos – geralmente – são comunidades de caráter amorfo que determinam a honra de seus elementos. Há também nesta modalidade a exigência de um modo de vida compatível para pertencer a determinado círculo; podendo ser abertos ou fechados. Uma casta, por exemplo, é um estamento fechado porque inúmeras obrigações e barreiras são intensificadas e fiscalizadas na participação estamentária.

Enquanto as classes defendem a ordem econômica como cerne, os estamentos o têm na ordem social: o primeiro enfatiza o sentido material como virtude, o segundo vê na honra o indicador da sociedade. Outra distinção entre eles refere-se à existência ou não de um sentimento de pertencimento, já que as classes são apenas unidades de status na comunidade. Para os partidos, tem-se a racionalidade das ações e a busca incessável por influir na comunidade, quase que como uma luta exclusiva pelo domínio por meio do caráter político. A finalidade dos partidos pode fazer uso de coação física ou ameaça para a ocupação de determinado aparato.
Um exemplo da influência das classes é a aristocracia feudal européia no século XVIII, pois mesmo financeiramente decadente ela ainda era socialmente deificada em relação aos ‘novos ricos’ burgueses. Este fenômeno pode ser contemporaneamente associado à dileção pelas classes emergentes aos ditos participantes de uma alta sociedade (high society).

Ilustrando as castas evidencia-se o sistema hindu, uma divisão social importante em países como a Índia e o Nepal. Este grupo social é dito hereditário, isto é, a condição do indivíduo passa de pai para filho, endógamo, pois ele só pode casar-se com pessoas do seu próprio grupo. Seus integrantes estão predeterminados à sua profissão, hábitos alimentares e o tipo de vestuário. Tem-se dessa maneira a formação de uma sociedade estática. Originalmente, as castas são quatro: os brâmanes – religiosos e nobres –, os guerreiros xatrias, os vaixas – camponeses e comerciantes – e os sudras (escravos). À margem dessa estrutura social havia os párias, sem casta ou intocáveis, hoje chamados de haridchans ou haryans.

Conclui-se que os participantes de ações sociais e relações sociais podem orientar-se pelas suas crenças na validade de uma ordem que lhes apresenta obrigações ou modelos de conduta, podendo basear-se na racionalidade. Adquirindo a legitimidade, a ordem se torna válida e confirma as expectativas do sociólogo, compondo formações sociais diversificadas nas quais se detectam o aparecimento dos estados e de suas sociabilidades políticas.

** Esta é a versão original de meu artigo sobre Weber entregue como avaliação da disciplina de 6SOC009 do Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Londrina. A versão final contou com a revisão de orográfica de Amanda Z. Zucoloto e conceitual de Rogério R. Tostes.

2 Comentários »

  1. qwe legal .adolei muyto v/w

    Comentário por vanessa kern — 07, maio 2009 @ 4:12 pm | Responder

  2. Interessante a síntese feita em relação a alguns elementos básicos d sociologia compreensiva d weber.Evidentemente ele tenta mostrar como os indivíduos orientam-se na base dos valores do contexto social onde são inseridos.Não obstante,weber d muita enfase aos signos mas não mostra como os individuos constroem o mesmo.Negligeciando este facto,cegou-se percebendo que existem acções que não são sociais quando os individuos não partilham os mesmos signos.Considera-se importante a contribuição de Shutz para superação deste entrave com seu conceito de tipificação.Esta relacionado este conceito com a forma como os individuos definem seu mundo de acordo com as suas vivências.Os individuos nascem num mundo dado,em que cada experiencia da consciencia permite-lhe ter um estoque de conhecimento,de acordo com a intencionalidade da consçiência,tipica o mundo a sua volta.Então,de acordo com as vivências é possivel atribuir-se um significado a acção do outro sem que seja partilhado entre ambos,torna-se nesta ordem de ideias ingenua a distinção feita por weber.

    Comentário por Ivan titosse — 03, outubro 2009 @ 4:52 am | Responder


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