quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Terras sem homem para homens sem terra

Há alguns dias assisti a um documentário sobre os conflitos na Amazônia. Chama-se Terras do Bem-Virá. Muito bom mesmo. Aborda principalmente o modelo de colonização da Amazônia, o massacre de Eldorado do Carajás, o assassinato da missionária Dorothy Stang e o ciclo do trabalho escravo. Assisti na TV SESC, à noite costumam passar filmes interessantes!
A história é a seguinte:
Com medo de uma intervenção internacional, o governo militar do queridíssimo Médici decide integrar a Amazônia. O lema: "Homens sem terras do nordeste para terras sem homens na Amazônia". Com uma belíssima propaganda venderam ao povo o que seria a solução perfeita para acabar com o problema da seca no nordeste e desenvolver a região. Obveamente, o resultado não foi o prometido, e teve como conseqüência, a devastação da floresta e dos povos nativos, o conflito fundiário, e por consequência, o trabalho escravo.
Muitos Severinos foram para lá em busca de uma vida prometida, fugindo da seca ou da cerca. Ao chegar lá, só restou a vida por si só.
Em 1996, dezenas de trabalhadores rurais sem terras organizaram um bloqueio em protesto pelo não-cumprimento da promessa do INCRA de 5 alqueires de terra à dezenas deles. Porém, a Compania Vale do Rio Doce (nada contra, hoje é a maior empresa de mineração diversificada das Américas e a segunda maior do mundo e 65% do capital votante da empresa se encontram no País) tinha um contrato com a Polícia Militar no qual eles deveriam policiar as suas cargas. E dois ou três carros ficaram parados no bloqueio. Aí, a PM resolveu agir e massacrou 19 civis. O governo declara 19 mortos. Mas pelas imagens do filme pode-se perceber que havia muito mais que duas dezenas. O filme deixa claro a impunidade que vigora o país. Até hoje, apenas um coronel e um major sofreram condenações, mas, ao todo, não ficaram mais que nove meses na prisão.
Hoje a Amazônia sobrevive principalmente do turismo internacional e há quem estime que 20% da floresta já foi desmatada para ceder espaço a grandes latifúndios destinados principalmente a criação de gado. O estado do Pará é o maior exportador de gado do mundo, e é por consequência o estado com maior porcentagem (40%) no desmatamento da floresta amazonica.
Mas o mundo não tem dono.
Vamos vender a Amazônia.
Temos o maior aquífero.
Temos a maior reserva de mata atlântica.
Temos a maior floresta tropical.
Temos a mais rica e diversa cultura.
Temos o mundo.
E não queremos.
Queremos o hexa.

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"E o filho da nossa terra ganhou status
cultivou dinheiro e doenças
Hoje, ainda sofre com as desavenças.
Perdeu sua cultura, vive na rua
Eita amargura."
Guilherme Förster

Saiba mais sobre o autor que não se responsabiliza pelos textos aqui dispostos.