terça-feira, 10 de maio de 2011

Programa Balde Cheio surge como solução para alavancar a pecuária no Seridó Potiguar.


A pecuária sempre esteve presente no contexto histórico da região do Seridó Potiguar. Seja sendo um meio de sobrevivência, ou como importante produtor de leite. Em alguns casos, foi através da atividade agropecuária, que cidades surgiram, a exemplo de Currais Novos, o nome demonstra isso.
Muito embora a pecuária se destacasse como geração de emprego e renda nesta região, as longas estiagens sempre representaram um desafio a mais para os produtores desta parte do Sertão nordestino. E para piorar a falta de alternativas e de incentivo fez a produtividade declinar ao passar dos anos.

E ao contrário do que se pensa, para mudar este quadro nem é preciso grandes investimentos financeiros, basta uma idéia simples, e acompanhamento técnico para a busca e descoberta de novas alternativas para resolver esse problema e alavancar novamente a pecuária na região.
Uma dessas idéias chegou ao Seridó do RN em 2010. Um jovem produtor acreditou, e hoje é referência para todo o Estado. O projeto surgiu na Embrapa de Minas, chamado de Programa “Balde Cheio”. Alguns produtores toparam apostar e testar em suas propriedades. Um deles é Jean Carlos, 29 anos, residente no sítio Luiza, no município de São Vicente. 
O projeto é simples e fácil de desenvolver. É necessário apenas um hectare, sem muita exigência de terreno, dividido em 28 piquetes iguais, medindo em torno de 18x18,5 metros. Cada hectare é suficiente para alimentar bem de 10 a 12 vacas leiteiras. O segredo é o tipo de capim plantado: o Tanzânia. Melhorado geneticamente, ele tem um crescimento rápido. O projeto consiste ainda em um sistema de rodízio, para que a cada dia a vacaria se alimente num piquete diferente, dando o ciclo de 28 dias, sendo tempo suficiente para que o capim do primeiro piquete esteja recuperado e pronto alimentar o rebanho novamente. 
Mas nem tudo foi fácil assim. Na primeira experiência Jean utilizou uma semente de péssima qualidade e o resultado não foi o esperado, recebendo muitas críticas, inclusive domésticas, do seu próprio pai, José Paulo, 53 anos, também produtor rural e acostumado com práticas antigas. “Ele disse que o capim não dava para alimentar nem um cabrito, e que se desse certo tiraria uma foto comendo o capim, além de vizinhos meus que vieram aqui me chamaram de doido e me disseram que era melhor plantar maconha do que isso, mas eu não desisti”, disse Jean.

Com as práticas antigas, a atividade de produção de leite estava praticamente fadada a se extinguir completamente. “Nós chegamos a pensar a vender o sítio, o custo de alimentação do gado era maior que a produção, e nos meses de maior estiagem tínhamos que queimar xiquexique para alimentar ”, disse Jean. Com ajuda técnica de Vlademir Barbosa, zootecnista e técnico responsável pelo projeto, iniciou-se a busca por uma semente de qualidade para testar, daí por diante, o sucesso foi total, com um capim volumoso e de excelente qualidade.
Com o Programa, os custos de manutenção com alimentos caiu drasticamente,e a produção aumentou consideravelmente. “Sem falar com a minha mão de obra, hoje só tenho o trabalho de botar o adubo a base de uréia no piquete, e soltar as vacas dentro do outro, e a minha produção saiu de 80 para 130 litros diário”, comemora. 

Para o então diretor do laticínio currais-novense Cersel, Paulo Othon, a escassez da matéria prima está sendo a grande dificuldade para os cerca dos 26 laticínios no Estado. “Eu vejo a tecnologia do Balde Cheio como a solução para a pecuária, e com ela crescerá a industria de leite no Estado”, disse. Paulo explica ainda, que a produção do leite tem mercado certo. “Além dos laticínios dentro do Estado, alguns centros de outros estados também tem interesse nessa produção”.
O zootecnista Vlademir lembra que o Sebrae, junto com o Banco do Nordeste, buscam incentivar outros produtores. “Estamos fazendo difusão por inveja, algumas pessoas que criticavam o Jean, já chegam aqui e ficam perguntando como fazer”, explica.

O sítio de Jean se tornou uma espécie de laboratório a céu aberto, onde recebe visita de produtores de todo Rio Grande Norte para conhecer o Programa. Ele explica que o investimento inicial é com a separação dos piquetes. “Tem que fazer um investimento bem feito, seguir as orientações, usei arame eletrificado, teve gente que botou arame farpado, mas algumas vacas rasgaram o úbere, acaba sendo uma economia que não compensa”, alerta.

No dia da visita da reportagem, um grupo da cidade de Pendências(RN), 160 Km de São Vicente, estava no local visitando o projeto. Entre os presentes, Jadson Henrique, agente de Desenvolvimento do BNB e Francisco Teixeira, presidente do Sindicato Rural daquele município. “Fiquei muito impressionado com o que presenciei aqui, vamos tentar adaptar na nossa região”, disse Teixeira.
E pra o seu José Paulo, o pai do Jean, aquele que não acreditava no programa, teve que pagar a promessa e tirar a foto comendo capim. “Hoje eu produzo pra minhas vacas e pra o gado dele”, comemora Jean Carlos. 

O Programa Balde Cheio está sendo implantando em outros municípios do Seridó. De acordo com Vlademir, além de São Vicente, Florânia, Tenente Laurentino, Acari, São José do Sabugi e Carnaúba dos Dantas também estão recebendo o projeto.

FONTE: CNAGITOS.COM
Por Fátima Souza - Da Redação - 06/05//2011
Fotos: Fátima Souza

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