GRANDES BRASILEIROS

Miura Saga

Miura Saga
"Aqui está uma das maneiras de se dirigir um carro do século 21. A outra é esperar 14 anos." Pode até soar presunçoso, mas o texto do anúncio do Miura Saga de 1986 não estava distante da realidade. O modelo era mesmo um mostruário dos mais sofisticados recursos de bordo para automóveis. Até para os padrões atuais o nível de equipamento do Saga impressiona. Nos anos 80, então...

Revelado no Salão do Automóvel de 1984, a nova versão era o topo de linha da marca - custava 58 milhões de cruzeiros, equivalente a 102 500 reais hoje. O Saga parecia uma versão de três volumes do Targa e do Spider. Sem o vinco diagonal dos outros dois e com frisos que percorriam as laterais, o estilo imprimia discrição, embora a frente pronunciada contrastasse com o volume curto do porta-malas. Mas seu forte eram os itens de série, como teto solar, bancos de couro, ar-condicionado e trio elétrico.

Com o motor 1.8 a álcool do Santana, que estreava nos Miura com o Saga, os 1 200 kg (70 kg mais que o sedã VW) davam trabalho a seus 92 cv - havia ainda a versão a gasolina de apenas 87 cv. Até então os Miura só usavam motores VW 1.6, refrigerados a ar e depois a água. Assim, a esportividade mesmo ficava por conta do visual. O Saga alcançava 175 km/h e ia de 0 a 100 km/h em 13 segundos, segundo a fábrica. O destaque mecânico eram os freios a disco nas quatro rodas, algo que só o Alfa Romeo 2300 Ti4 tinha. Já em 1985 o Saga correspondia a 60% da produção da Miura.

A linha 1986 agregou futurismo ao luxo. Com 42 000 km rodados, o Miura Saga 1987/1988 a gasolina das fotos ao lado exemplifica bem isso. A abertura da porta por controle remoto é um prólogo do espetáculo eletrônico que a maioria dos importados de hoje não oferece. "A regulagem eletrônica de altura do volante transforma a posição baixa em esportiva. Já a alta deixa a direção menos cansativa em trânsito mais pesado", diz o dono, um técnico eletrônico paulista.

Acima do rádio, está a pequena TV preto e branco japonesa de série, com tela de 5 polegadas, equivalente à de um celular atual. O toca-fitas Tojo traz equalizador, próximo ao controle do computador de bordo. Com sistema de voz, este avisa o motorista sobre funções como afivelar o cinto de segurança, abastecer, checar temperatura do motor e a pressão do óleo e retirar a chave do contato - o computador também controla o sensor crepuscular. Não faltava nem uma minigeladeira, instalada na lateral esquerda do banco traseiro.

Essa primeira geração durou até 1988, ano em que a Miura passou a adotar o novo motor AP-2000 do Santana. Desde 1987 havia o Miura 787, baseado no Saga, porém 5 cm mais curto, com traseira hatch e aerofólio. Para 1989, o novo Saga ganhou uma traseira em que o vidro emendava com os laterais. Com a abertura das importações, em 1990, ele perdeu o ar de exclusividade e a produção parou dois anos depois, encerrando a história de um carro nacional que mesmo hoje, quase 20 anos depois, causaria inveja a muito importado por aí.



TOURADA
A empresa gúcha Besson Gobbi, proprietária da Miura, buscou o nome da marca no esportivo homônimo italiano. Lançado em 1966, o Lamborghini Miura criou a tradição dos nomes de touro de briga espanhóis nos carros da marca. Com um V12 de 350 cv, chegava a 280 km/h e voava de 0 a 100 km/h em 6,7 segundos.


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Ford Royale

Versão da Quantum com acabamento Ford, ela uniu luxo e tecnologia ao estilo de sucesso da Belina

Ford Royale
Foram mais de 20 anos de mercado. A Belina era, até então, a única perua da Ford no Brasil, considerando as duas gerações, de 1970 a 1991. Como a marca fazia parte da Autolatina, uma joint venture com a Volkswagen, coube a esta ceder a base, a da Quantum, lançada em 1985. Com frente e traseira diferenciadas e duas portas a menos, a Versailles Royale chegou em 1992, um ano depois do sedã Versailles, a versão Ford do VW Santana.

Se a qualidade mais apreciada na Quantum, as cinco portas, era abdicada para reforçar uma diferenciação entre as duas peruas da Autolatina, a Royale compensava com preço 5% menor. É verdade que a Belina sempre teve duas portas (o que justifi cava em parte a configuração da Royale), mas custava 40% menos que a Quantum. Com os mesmos 695 litros de porta-malas da Quantum, a nova perua Ford vinha nas versões GL (1.8 ou 2.0) e Ghia 2.0. Foi esta que QUATRO RODAS avaliou em abril de 1992.

As duas portas a menos eram descritas como uma incoerência. "Do ponto de vista de desempenho, a Royale nada deve à Quantum", dizia o texto. As trocas de marcha eram destaque, assim como as frenagens, graças ao ABS, opcional. "A sensação de equilíbrio nas curvas mais velozes resulta da combinação entre uma suspensão bem arquitetada com amortecedores pressurizados e a direção hidráulica progressiva." As queixas iam para acabamento, disposição dos comandos e falta de instrumentos como voltímetro e manômetro, além da ausência de computador de bordo, check control e regulagem de altura do volante.

Para 1993, a Ford preparou injeção eletrônica opcional para a GL 2.0. Os motores a gasolina ganhavam carburador eletrônico. Um ano depois viriam o teto solar e o CD player opcionais para a Ghia. A GL trazia ajuste lombar no banco e, como opcionais, regulagem de direção e rodas de liga. A GL 1.8 passou a oferecer opção de ar-condicionado e direção hidráulica. No motor, a novidade era a injeção monoponto na GL 1.8 e multiponto na GL e Ghia 2.0, gasolina ou álcool. Mas o carburador eletrônico ainda era de série. É de 1994 a Royale GL 2.0 do paulista João de Jesus Cuppi, exibida nas fotos. "A mecânica VW e o acabamento Ford formam um conjunto superior", diz ele.

A linha 1995 trazia grade ovalada, lanternas de desenho mais simples, painel revisado e novo volante. A versão Ghia oferecia bancos de couro. Porém o melhor foi a carroceria de quatro portas, que tirou a de duas do mercado. O carburador também deu adeus. Com a importação do Mondeo, que custava menos que um Versailles Ghia completo e tinha uma moderna versão perua, a Royale começou a perder seu propósito dentro da marca. A concorrência também se acirrava. A Ford reduziu o preço em 15%, mas o fim da Autolatina sepultou sua produção na fábrica da VW em São Bernardo do Campo (SP). A partir dali, a herança da Belina ficaria apenas na memória.
0 a 100 km/h 12,58 s

Velocidade máxima 168,9 km/h

Frenagem 80 km/h a 0 30,3 m

Consumo 9,24 km/l (cidade), 12,51 km/l (estrada, a 100 km/h, vazio)



PREÇO

MAIO DE 1992
Cr$ 65 360 756

ATUALIZADO R$ 146 650 (IPC-SP/FIPE)





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Concorde 1976

Raro nacional com mecânica galaxie, combinava estilos inspirados em clássicos americanos dos anos 30

Concorde 1976
Os anos 30 foram uma época de inovação no design automotivo que rendeu boas homenagens no mundo das réplicas nacionais. Caso do pioneiro MP Lafer. Embora baseado no MG TD de 1950, este era uma evolução do TA de 1935. O estilo do período ainda estaria no Avallone TF e no Alfa Romeo 2300 1931, da L’Automobile, todos inspirados em clássicos europeus. Mas coube ao paulista João Storani criar um carro que celebrava os clássicos americanos dos anos 30, o Concorde.

Duesenberg, Cadillac, Cord, Buick... Não dá para saber a origem exata das suas linhas. Afinal, a carroceria de fibra de vidro tinha design único. Homenageava a época, mas não era uma réplica. Filho de italianos, comendador e empresário de Jundiaí (SP), Storani colecionava conversíveis antigos, paixão que deu início ao projeto em 1974. Dele ainda participaram os filhos João Antônio e Cesar Augusto. "Nem passava pela cabeça dele comercializar o veículo", diz o neto Eduardo. "Mas seu amigo Roberto Lee, presidente do Veteran Car Clube na época, ao ver o carro pronto, o convenceu a expor no Salão do Automóvel de 1976."

O interesse gerado no evento levou Storani a criar a Concorde Indústria de Automóveis Especiais. Num segmento em que o motor VW a ar imperava, o projeto inovou mais uma vez com mecânica do Ford Galaxie. O chassi era próprio, com entre-eixos de 348 cm, 46 cm a mais que o do já enorme Galaxie. Por outro lado, era mais de 500 kg mais leve.

Todas as versões eram conversíveis: roadster (sem teto ou janelas laterais), cabriolet, ambas de dois lugares, ou phaeton (sem vidros laterais, mas com teto, de quatro lugares). O cliente podia escolher o acabamento. Cada Concorde era um carro único. Optava-se pelos V8 292 (4,8 litros) de 190 cv ou 302 (4,9 litros) de 199 cv e por câmbio manual ou automático.

Apesar das dimensões avantajadas, o estilo comprometia a ergonomia e o espaço interno. Ao volante, a versão manual lembra conversível esportivo de alto padrão dos anos 70 até na estabilidade. "Um roadster com motor 302 e câmbio de quatro marchas que passa de 190 km/h e faz de 0 a 100 em uns 9,1 segundos", diz Renato Storani, também neto do industrial.

Ao total, foram finalizados 15 carros até 1980, sendo dois exportados. Três carrocerias que sobraram foram usadas noutro projeto, o Harpia. À venda na loja Private Collections de São Paulo, o carro das fotos é o único produzido com chassi curto. Storani morreu aos 72 anos, em 1996. Até hoje a família mantém desde novas três unidades do Concorde, projeto que é um raro exemplo de como se pode ser fiel ao passado e ainda manter um ar de originalidade.



RÉPLICAS


Além do MP Lafer (foto), o Avallone homenageava também o mesmo projeto da inglesa MG, mas a geração TF, de 1953. O estilo ainda remetia aos anos 30 e a mecânica era a do Chevette. Apesar do nome, o Alfa Romeo 2300 1931, da L’Automobile, usava motor VW 1.6 a ar de Brasilia. Se o Bugatti 35B, da Thunderbuggy, também adotava tecnologia VW, o projeto de inspiração era um pouco mais antigo - o modelo original começou a correr em 1924 e durou até 1931.



 

Chevrolet Kadett

Com o hatch, a Chevrolet começou a modernizar sua linha num ritmo mais intenso nos anos 90[]

Chevrolet Kadett
Desde a chegada do Monza, fazia sete anos que a Chevrolet não lançava um modelo novo de passeio no Brasil. Pela lógica da evolução europeia, onde existia desde 1984, o Kadett 1989 teria de substituir o longevo Chevette, mas não foi o caso. Aqui ele chegou como um hatch médio compacto com um nível de equipamento comparável ao do Monza, mas de aspecto mais jovem e esportivo. Se a esportividade de fato cabia à versão GS, a SL e a SL/E ainda dispunham de um visual moderno num mercado sedento por novidades.

As inovações trazidas pelo Kadett incluíam vidros do para-brisa e da tampa traseira rentes à lataria. Nas colunas traseiras ficavam características tomadas de ar. Disponível com motores a gasolina e a álcool, a versão mais luxuosa do Kadett demonstrava sofisticação mais pelos opcionais que pelo volante regulável, display com luzes de advertência e vidros verdes degradê de série. A lista de opções incluía câmbio automático (só com motor a álcool), ar-condicionado, direção hidráulica, regulagem da altura do banco e da suspensão, rodas de liga e rádio com toca-fitas.

Após o teste com o 2.0 GS, na edição de maio de 1989, era a vez do 1.8 SL/E. O teste comparava a versão a gasolina (com todos os opcionais menos o ar) e a álcool (básico). “O Kadett a álcool foi mais rápido sobretudo nas retomadas: basta dizer que, para ir de 40 a 100 km/h, levou 27,42 segundos, enquanto o carro a gasolina precisou de 32,73 segundos”, dizia a revista. “Ambos são bastante confortáveis: impressionou o bom nível de acabamento, sugerindo ser o Kadett um carro resistente ao uso prolongado.”

De 1991, o Kadett SL/E das fotos, com interior combinando com a pintura, é carro de família. Pertence ao casal Lucio Silva e Christina Mello, de São Paulo. O carro foi comprado novo pelo compadre do pai de Christina, depois pelo próprio, até ser adquirido em 2004 por Lucio. “Ele é bem mais confortável que muitos carros, não faz um barulho, é difícil de quebrar”, diz o proprietário.

O modelo 1992 já incorporava injeção monoponto. “O motor tem um desempenho mais regular com seus 3 cv extras”, dizia a QUATRO RODAS de fevereiro de 1992. A versão a álcool era a primeira no mundo com esse recurso. O GS ganhou injeção multiponto e virou GSi. Em 1994, o 1.8 Lite trouxe um pacote mais acessível de equipamentos, enquanto o GL e o GLS aposentavam o SL e o SL/E, ganhando uma repaginada no quadro de instrumentos. No fim daquele ano, a Chevrolet passou a trazer da Bélgica o primeiro Astra, opção mais sofisticada ao Kadett. Depois da Série Sport 2.0 de 1995, viria a última reestilização no ano seguinte. Em 1997, GL e GLS ganharam o motor 2.0.

Produzido até setembro de 1998, o Kadett rendeu 394 068 unidades. Deu lugar à segunda geração do Astra, ainda em produção. “Hoje é difícil manter um Kadett 100% original”, diz Leonardo Bazzan, do KadettClube. “O mercado ainda não o vê como colecionável. Não conseguimos itens de reposição, ainda mais de acabamento interno, e muitas vezes recorremos a peças usadas.” A julgar pela dificuldade de se garimpar um exemplar original e conservado dos primeiros anos, o Kadett já é digno de coleção.

0 a 100 km/h
12,22 s

Velocidade máxima 162,5 km/h

Frenagem 80km/h a 0 33,0 m

Consumo 6,69 km/l (cidade) e 10,59 km/l (estrada, a 100 km/h, vazio)



PREÇO

MAIO DE 1989
Cr$ 18714

ATUALIZADO R$ 60835 (IPC-SP/FIPE)







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Fúria GT

Criado por Toni Bianco, o modelo seguiu a rota dos Alfa Romeo nacionais que tiveram vida curta

Fúria GT
Esportivos com mecânica Alfa Romeo sempre foram modelos bem-sucedidos... no mercado italiano. No Brasil, a produção da marca nunca alcançou voos longos. Inicialmente os Alfa foram produzidos sob licença pela Fábrica Nacional de Motores (FNM), que colocou seu “cuore sportivo” nas grades dos sedãs como o JK ou o 2300, nos anos 60. Depois de uma tentativa frustrada de produzir o FNM Onça cinco anos antes, em 1971 surgiu oportunidade de se criar um cupê Alfa nacional. Era o GT da Fúria Auto Esporte, empresa do projetista Toni Bianco e do executivo da FNM Vittorio Massari.

A ideia nasceu por sugestão do engenheiro da FNM que cuidava do braço de competições da marca. “Bati martelo por nove meses para construir o carro”, diz Bianco. O protótipo de aço serviria de molde para as carrocerias defi nitivas de fi bra de vidro, material já usado nos para-choques. Linhas retas predominavam como num típico edifício de arquitetura Bauhaus. O cupê fastback 2+2 previa o estilo do 2300 e lembrava mais o Lamborghini Jarama que qualquer Alfa italiano – exceto o GTV, que só surgiria em 1974.

Os bancos dianteiros tinham formato de concha e apoio de cabeça, enquanto o volante – esportivo com três raios metálicos – era de madeira. A ignição ficava à esquerda do volante num painel que espelhava os traços externos. “Num almoço no Rio, conseguiram vender 50 unidades”, diz o projetista sobre seu primeiro carro de rua, que usava logotipos da Alfa.

A mecânica era a do FNM 2150. Na época diziase que Bianco reduziu o entre-eixos para 2,5 metros – o mesmo da 2000 Spider – e adicionou dois carburadores duplos, além de elevar a taxa de compressão. Ele afi rma que a plataforma veio da Itália, de um Alfa de competição. Criado para ser 300 kg mais leve que um sedã FNM 2150, o Fúria produzia 130 cv e tinha máxima estimada em 170 km/h. Previase a produção de 12 a 25 unidades por mês.

Em novembro de 1971, QUATRO RODAS publicou impressões ao dirigir do protótipo. Os elogios iam para visibilidade, nível de ruído, estabilidade em curvas, freios e posição ao volante, com câmbio e comando bem ao alcance. Já o acelerador e o freio ficavam próximos demais, o que atrapalhava o puntatacco. A direção era precisa, mas dura. “Aos poucos, a gente vai sentindo seu rodar macio, ajudado pela suspensão original do FNM 2150”, dizia o texto.

Porém nunca haveria outro Fúria. Bianco diz que concluiu quatro carrocerias, mas não sabe por que o interesse pelo GT se perdeu. O protótipo do carro que poderia ter feito companhia para o Puma GTB e o Santa Matilde nos anos 70 era vermelho, cor presente até nas rodas de magnésio de aro 15. Segundo o dono atual, um apaixonado por Alfa Romeo, ele foi comprado vermelho e batido fazia cerca de 20 anos. Mas já havia sido pintado de prata antes na própria FNM para eventos posteriores à avaliação da revista.

“Como é um JK encurtado, trepida muito. Numa viagem ao Rio, os limpadores queriam levantar e forro do teto formava uma bolha”, afi rma o dono. “É o carro em que se fi ca mais longe do painel e direção. O banco tem efeito de mergulho, senta-se no assoalho.” Depois do Fúria GT, os Alfa Romeo brasileiros sempre tiveram quatro portas. Mas Toni Bianco não desistiria: criaria depois os fora de série Bianco S e Dardo nos anos 70.



BIANCO S
Outro Fúria criado por Toni Bianco, o Bianco S, ficou até mais conhecido nas pistas do fim da década de 60 e início dos anos 70. Ele em nada parecia o GT de 1971. Usou vários motores, como o do FNM 2150, o seis-cilindros do Opala, o V8 da Chrysler, além de motores de BMW e Lamborghini. Em 1976, ele seria lançado em versão de rua, mais largo e com motor VW.




Chrysler Esplanada GTX

O primeiro esportivo da marca no país foi o Esplanada GTX, que durou pouco

Chrysler Esplanada GTX
Sedãs esportivos, como o Honda Civic Si e o Fiat Linea 1.4 T-Jet, foram exceção no Brasil e no mundo. Versões de aparência e desempenho mais agressivo quase sempre incorporam em cupês ou hatches. O Chevrolet Opala SS, por exemplo, começou como sedã, mas logo cedeu o título para o recém-chegado cupê. Entre os quatro-portas de sangue mais quente, ainda se destacaram o FNM 2000 timb e o Chrysler Esplanada GTX.

Assim como o Esplanada, o GTX era uma evolução do Chambord que a Simca planejava quando foi adquirida pela Chrysler. O Esplanada ainda marcou a curta duração da marca Chrysler como fabricante no Brasil, entre o fi m da Simca, em 1967, e o estabelecimento da Dodge, em 1969. O GTX surgiu no Salão do Automóvel de 1968, dois anos depois do Esplanada. Era sua opção mais esportiva e cara.

No GTX, o câmbio manual de quatro velocidades vinha com alavanca no assoalho, opcional na versão básica. O motor Emi-Sul era o mesmo V8. O GTX trazia as molduras pretas dos faróis, rodas cromadas exclusivas e faixas pretas decorativas. Faróis de neblina e teto de vinil vinham como opcionais. Os bancos dianteiros eram individuais e anatômicos, separados por um console que imitava jacarandá. Em vez de relógio, um conta-giros. O volante Walrod, de três raios com vazados circulares, oferecia boa pegada, apesar do aro fi no. Pneus maiores fi zeram o estepe roubar espaço no porta-malas.

No teste de QUATRO RODAS, em março de 1969, o GTX chegou a 165,19 km/h na sua melhor passagem, mas na aceleração de 0 a 100 km/h perdeu para o Regente, versão mais simples do Esplanada – 15,3 segundos, contra 14,7. “O volante demasiado grande não facilita muito as manobras e sua caixa – exigindo pouco mais de quatro voltas para fazer as rodas esterçarem de batente a batente – também não contribui para a precisão necessária a um carro esportivo”, escreveu Expedito Marazzi.

Outra queixa era sobre a dureza do trambulador do câmbio, embora o escalonamento das marchas permitisse uma direção muito mais fácil do veículo, por deixar o motor bem mais tempo em sua faixa útil de giros, segundo avaliou Marazzi. A maciez excessiva dos amortecedores prejudicou um pouco a estabilidade, preço a pagar em virtude da dureza dos grandes pneus Pirelli cinturados. Na hora de parar, os freios a tambor nas quatro rodas exigiam planejamento, pressão e fé, na expressão de QUATRO RODAS, em sua primeira edição do especial CLÁSSICOS, de 2004.

Alexandre Badolato, apaixonado colecionador e estudioso da Chrysler no Brasil, informa que a produção do GTX foi de cerca de 670 carros, todos anomodelo 1969. “Ele vinha em quatro cores exclusivas, o vermelho Indianápolis, o azul Le Mans, o verde Interlagos e o cobre turbina, esta a mesma cor do americano Chrysler Turbine 1963”. O GTX foi a última palavra em carro da marca Chrysler produzido no Brasil. Depois dele, só os Dodge.
0 a 100 km/h 15,3 s

Velocidade máxima 160,71 km/h

Frenagem 80km/h a 0 27,80 m

Consumo 4 a 5 km/l (cidade) e de 5 a 6 km/l (estrada)


PREÇO

FEVEREIRO DE 1969
NCr$ 25098

ATUALIZADO R$ 120018 (IGP-DI, FGV)





Volkswagen Santana

Com aerodinâmica esculpida em túnel de vento, a segunda geração estreou o ABS entre os carros nacionais

Volkswagen Santana
O título de QUATRO RODAS no teste de lançamento da segunda geração do Volkswagen Santana, em abril de 1991, já revelava a ideia por trás do modelo: “Santana, muito prazer”. Nome conhecido pelos brasileiros havia sete anos, o mais sofi sticado VW nacional recebia uma completa remodelação, idealizada pela fi lial brasileira, mas baseada na segunda geração do Passat alemão. O novo Santana precisava estar em dia para enfrentar o Chevrolet Monza renovado e a gradual chegada de concorrentes estrangeiros.

Na prática, só as portas ficaram iguais. Se as calhas do teto foram abolidas, os ultrapassados quebra-ventos ainda estavam lá. Ele foi encorpado com um aumento de 4,5 cm no comprimento e 1,5 cm na altura. O porta-malas fi cou mais alto, e sua tampa ia até o limite do para-choque. Entre as mudanças técnicas, o novo Santana trazia relação alongada do diferencial, freios a disco ventilados atrás, amortecedores pressurizados, pneus de perfi l baixo e chave única. Na motorização, os velhos conhecidos do Santana: 1.8 e 2.0, ambos carburados, e o mesmo 2.0 com injeção eletrônica da versão Executivo da geração anterior. Havia três níveis de acabamento (CL, GL e GLS), todos só na versão de duas portas.

Naquele teste de estreia, o GLS 2000i cravou 169,8 km/h e acelerou de 0 a 100 km/h em 11,38 segundos. “Acostumada a produzir automóveis com péssima aerodinâmica, a Volkswagen caprichou neste Santana. Graças aos testes de túnel de vento, a penetração aerodinâmica melhorou 11% em relação ao modelo antigo”, dizia a reportagem. As críticas iam para os controles dos vidros elétricos à frente do câmbio e para o preço alto. No primeiro comparativo, em agosto de 1991, o novo Santana enfrentou o Monza SE MPFi e seu primo da Autolatina, o Ford Versailles 2.0i Ghia. Seus melhores números foram os de consumo, 8,02 km/l na cidade e 14,22 km/l na estrada.

Com a chegada da versão de quatro portas no fim de 1991, vieram o catalisador e o primeiro ABS (como opcional) num automóvel nacional. No teste de novembro, QUATRO RODAS comprovou a efi ciência dos freios: “Com freios normais, no seco, o carro pararia só em 70 metros. Com ABS, parou em 56,5 metros”. No piso molhado foi ainda melhor. “O ABS na pista que parecia um ‘sabão’ parou em 115,7 metros, mas parou. Se não tivesse ABS, levaria até o dobro, além de desgovernar-se.” A versão de entrada passava a se chamar CLi 1.8, graças à injeção eletrônica monoponto. No ano seguinte, a injeção multiponto já era opcional no motor 2.0 do GL e do GLS.

O carro que você vê nas fotos também é um CLi 1.8, modelo 1994, que rodou até agora apenas 29 000 km. “A linha 1994 adotou a injeção eletrônica FIC, abandonando a problemática Bosch LE-Jetronic em todas as versões”, diz seu dono, Thyago Szoke, presidente do Santana Fahrer Club. O carro está em sua família desde zero-quilômetro. Tem vidros verdes, direção hidráulica, alarme na chave, calotas originais e toca-fitas da versão GLi, que substituía o rádio da CLi quando este estava em falta no mercado.

Foi naquele ano que os GL e GLS ganharam teto solar elétrico e bancos dianteiros com suporte lombar regulável, ambos opcionais. Em 1997 chegou o motor 1.8 com injeção multiponto. Dois anos depois, o visual mudou com os novos para-choques da cor da carroceria e as lanternas com corte diagonal, além da tardia eliminação dos quebra-ventos. Novas rodas e as versões Comfortline e Sportline viriam em 2001.

A produção se encerraria cinco anos depois, em 2006, quando o sedã de mecânica robusta já estava estigmatizado no mercado como carro de taxista. Uma grande mudança para aquele que fora o símbolo de luxo e tecnologia da Volks dos anos 80 e 90.
0 a 100 km/h: 11,38 s

Velocidade máxima: 169,8 km/h

Frenagem 80km/h a 0: 27,3 m

Consumo: 9,02 km/l (cidade), 13,10 km/l (estrada, a 100 km/h, vazio)



PREÇO

MARÇO DE 1996
Cr$ 9 300 000 (estimativa)

ATUALIZADO R$ 129 913 (IPC-A/IBGE)








Chevrolet Corsa Wind

Primeiro popular com tecnologia e design modernos, ele agradou tanto que a GM não deu conta da demanda

Chevrolet Corsa Wind
Se houve uma era de ouro na GM do Brasil, ela foi a década de 90. A fartura de lançamentos em nada lembrava o ritmo anterior, de quase um projeto novo por década. Depois que o longevo e consagrado Opala deu lugar ao Omega em 1992, foi a vez de o Corsa Wind marcar em 1994 uma nova guinada da Chevrolet, agora entre os populares, segmento nascido com o Fiat Uno Mille em 1990. Substituto do obsoleto Chevette Junior, o Wind (“vento” em inglês) mereceu até a capa da revista VEJA (da Editora Abril, que também publica a QUATRO RODAS) com o título “A história de um sucesso industrial”. Afi nal, eram mais de 130 000 compradores em lista de espera.

Se o Chevette Junior tinha mais de 20 anos de estrada e um motor antigo que fora “encolhido”, o Wind era a segunda geração do Opel Corsa, lançada só um ano antes na Europa. O moderno design arredondado surpreendia com seu Cx de 0,35 (ante 0,45 do VW Gol), possível graças à posição transversal do motor. Farol e seta formavam um conjunto, algo inédito no Brasil. O banco traseiro bipartido permitia ampliar os 240 litros do portamalas. Porta-objetos nas laterais e os apoios de copo na tampa do porta-luvas inovavam no segmento, assim como o revestimento de tecido cinza com detalhes coloridos das portas.

Derivado de um motor 1.2 europeu e munido de injeção eletrônica monoponto, o 1.0 EFI produzia 50 cv. No teste de QUATRO RODAS de março de 1994, o Wind acelerou de 0 a 100 km/h em 19,34 segundos. “Numa ultrapassagem, torna-se necessário reduzir as marchas e cravar o pé no acelerador, calculando bem o tempo para a manobra”, dizia o texto. Culpa do baixo torque de 7,7 mkgf e das longas relações do câmbio.

Mas o consumo urbano compensava a falta de fôlego: 13,18 km/l, o melhor registrado pela revista até então. A 80 km/h, o Corsa atingia 20 km/l. Outro destaque foi a estabilidade. Novidades na época para populares, os dois retrovisores de série reduziam o número de pontos cegos. Os cintos de segurança tinham até regulagem de altura. Em comparativo da edição seguinte, o Wind venceu Mille, Ford Escort Hobby e VW Gol 1000, apesar de ter o pior desempenho. Como? Economizando combustível com folga.

A carroceria com duas portas a mais veio em 1995. No ano seguinte, a sigla EFI mudou para MPFI, de injeção multiponto. Era uma primazia do Wind no segmento, o que gerou 10 cv a mais. Em teste de julho, ele alcançou 144,5 km/h e foi de 0 a 100 km/h em 18,88 segundos, superando o novo Gol 1000. Logo a Chevrolet ampliaria a linha Corsa, já disponível em versões 1.4 e 1.6. A versão Super 1.0 tinha mais equipamentos de série e câmbio com relações mais curtas.

Bancário paulista, Everton Luiz de Souza é o segundo dono do exemplar 1997 das fotos. O carro foi comprado em 2006 com apenas 33000 km. Hoje tem o dobro, por rodar quase que só nos fins de semana. “Ele é muito econômico, confortável, tem boa dirigibilidade e não deu problemas com manutenção”, afi rma Souza.

Em 1999, a família ganharia mais um rebento: um sedã com motor 1.0 a álcool e airbag como opcional. O papel do Wind foi assumido em 2000 pelo Celta, um projeto idealizado desde o início para ser barato. Com a segunda geração do Corsa, em 2002, o sedã foi rebatizado de Corsa Classic. Ironicamente, hoje o Classic é um projeto antigo repaginado, exatamente o oposto do que foi o Wind no seu nascimento, que representou um sopro de renovação num mercado tão carente de modernidade.
Aceleração de 0 a 100 km/h 18,88 segundos

Velocidade máxima 144,5 km/h

Frenagem 80 km/h a 0
29,9 m

Consumo 12,99 km/l (cidade), 15,14 km/l (estrada, a 100 km/h, vazio)




PREÇO

JUNHO DE 1996
R$ 11 100

ATUALIZADO
R$ 23 360 (IPC-SP/FIPE)