ABRUPTO

31.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM MARCHEGG BANHOF, AÚSTRIA



Tirei esta foto em Julho de 2006 na cidade austríaca de Marchegg Banhof a 1km da fronteira com a Eslováquia e frente à fabrica da Volkswagen. Asfaltavam a rua em frente da “vivenda Lisboa” onde passo férias.

(Luís Falcão da Fonseca)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: PERGUNTA



No átrio das Chegadas do Aeroporto da Portela, estão três máquinas, separadas por meia-dúzia de metros:

Uma ATM, um quiosque de informações da Direcção Geral de Transportes Terrestres e um posto-público (mas pertencente a uma empresa privada) para navegação na Internet.

Há ainda, ali perto, carrinhos para crianças (que funcionam com moedas), máquinas diversas (de venda de chocolates, de águas e de refrigerantes), além das de pagamento do parque de estacionamento.

Sucede que, de todas estas máquinas, há uma (e só uma) que não funciona. Como, há cerca de um ano, já estava assim, perguntei a uma funcionária da ANA o que se passava. Sorriu, e respondeu-me que «Normalmente NÃO funciona».

A pergunta (que, por ser demasiado fácil, não tem direito a prémio) é: a qual dessas máquinas me estou a referir?

Uma "dica": segundo se lê numa etiqueta, foi co-financiada pelo POSI (e POR SI) e pelo FEDER.

(C. Medina Ribeiro)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BENDITO MERCADO

Nunca o senhor Orestes Handy de São João imaginou que o seu exemplar de Os Lusíadas, comprado em Boston em 16 de Fevereiro de 1867, e deixado em legado à Universidade de Stanford estaria disponível para leitura e cópia para qualquer pessoa no mundo. Bendito mercado que leva Google Books a pensar que poderá fazer dinheiro oferecendo Os Lusíadas de graça.

(Luís Teixeira)

Descrição em português.

(Nuno M. Cabeçadas)
 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Casa da Música, no Porto, onde se procede à limpeza dos vidros - tirada ontem à tarde.

(José Manuel de Figueiredo)
 


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO / OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 25 de Agosto de 2006 com o comentário do jornalista Filipe Campos Ferreira responsável pelo directo da SIC feito na Azinhaga dos Besouros.
 


DEVE HAVER CONFUSÃO COM A RESOLUÇÃO 1701...



Fico a saber que a força que vai para o Líbano é uma companhia de engenharia, e segundo o ministro foi enviada "num contexto humanitário". Sempre apoiei o envio de tropas da UE, a começar pelas portuguesas, para implementar a Resolução 1701 das Nações Unidas... mas tanto quanto eu sei a missão da UNIFIL não é propriamente humanitária, nem tem como objectivo "reconstruir" o Sul do Líbano. O seu objectivo não é construção civil, mas garantir que o Governo do Líbano “exerça a soberania plena de modo a que não haja aí armas sem consentimento do Governo do Líbano”, e o “desarmamento de todos os grupos armados no Líbano (…) de modo a que não haja armas ou autoridade no Líbano que não sejam as do Estado Líbanês.
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 31 de Agosto de 2006


Vários dias de jornais, muitas e variegadas coisas. Um jornal morto, o Independente, o que é sempre mau. Não importa que se concorde ou discorde, e o Independente teve coisas muito más e coisas muito boas, mas quando acaba um jornal fica-se sempre mais pobre. Posso agora arrumar a colecção integral do Independente no arquivo morto, mas tenho a certeza que continuarei a consulta-la.

Agora que um jornal morreu, continuo perplexo com a vida de outros. Como é que o Semanário sobrevive? Não lhe desejo nada de mal, mas é para mim um mistério a sua continuidade sem jornalistas, sem leitores e sem anunciantes.

*

Hoje no Diário de Notícias uma grande entrevista a Mário Soares, que há muitos anos dá a este jornal as suas melhores entrevistas. Não importam todas as discordâncias, quer com a sua campanha presidencial recente, quer com as opiniões sobre política internacional que mais uma vez reitera. Há uma coisa que só Soares podia dizer de si próprio, aquilo que é ao mesmo tempo a sua força e a sua pulsão para só se ouvir a si próprio e fazer asneiras, a sua fusão única de virtudes que são ao mesmo tempo defeitos e vice-versa: "Sou resistente, tenho uma carapaça sólida. Não sou uma anémona impressionável, quer por qualquer crítica ou por um simples desaire eleitoral.". Não, não é uma "anémona", mas também o seu desaire eleitoral não foi "simples"...


(Continua)
 


JUDEU ERRANTE


Mais uma corrida, mais uma viagem.

De regresso.

29.8.06
 


COISAS SIMPLES



(John Frederick Peto)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM MADRID, ESPANHA



Homem-estátua (de barro) prepara-se para iniciar o seu trabalho em frente ao Museu do Prado em Madrid.

(Pedro Oliveira)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
A CENTÉSIMA DE ÁLCOOL QUE FAZ NOTÍCIA


Vejo os telejornais na "diagonal", tal qual os jornais em papel, porque me deprimiriam se lhe desse a importância que pedem. Saltito de canal quando o sangue me invade a mesa de jantar, e uma bola que rola e rola me parte a loiça! Mas não deixei de ouvir com a atenção possível o disparate sobre a taxa de alcoolémia. Não ouvi uma só referência, nos canais que vi, ao erro dos instrumentos.
Lembrar-se-ão, por exemplo, que o Euro valia 200,482 Escudos. Terá significado, científico e fisiológico, a centésima de álcool que faz capa de TV e de Jornal nestes dias? Saberão que um medidor digital de tensão arterial, por exemplo, é menos fiavél que um analógico?

Perguntas/notícias para ouvir, nos dias que se seguem, se não houver outro sangue a noticiar!

(Amílcar A.)

*
Considerar-se que um determinado erro é "grande" ou "pequeno" é algo que tanto pode fazer sentido como não fazer - depende do que estiver em causa, evidentemente. Neste caso da alcoolemia, Amílcar A. defende que a diferença entre 0,57 g/l e 0,50 g/litro não tem significado fisiológico - apesar de esse facto implicar a possibilidade de a pessoa ter mais 14% de álcool no sangue. É bem possível que tenha razão (pois muitas das reacções fisiológicas são aproximadamente logarítmicas e não lineares); só não me parece curial misturar essa argumentação com euros, pois se alguém me dever € 57 euros e só me quiser pagar € 50... eu sinto a diferença...

Mas isso tem pouca importância. O que é grave (como hoje, e bem, escreve Nuno Pacheco no Editorial do «PÚBLICO») são os sinais que são dados aos automobilistas num país onde morre mais gente nas estradas do que norte-americanos no Iraque.

Então e a DGV demorou 8-anos-oito a descobrir que devia aplicar a directiva da Organização Internacional de Metrologia Legal? Então e as pessoas que, durante todos estes anos, foram multadas, detidas ou punidas com cassação de carta à conta de valores que, porventura, estarão errados?

Mas dizem-nos que «o problema já está a ser resolvido», pelo que nos resta o consolo de verificar que, mais uma vez, se confirma o famoso diagnóstico que uma empresa internacional de consultadoria fez - ao analisar rábulas semelhantes:

«Os gestores portugueses são muito bons a resolver os problemas que eles próprios criam».

C. Medina Ribeiro
 


EARLY MORNING BLOGS

853 - Les mauvais artisans



Ce sont, dans les vingt-huit maisons du Ciel ; la Navette étoilée qui jamais n’a tissé de soie ;

Le Taureau constellé, corde au cou, et qui ne peut traîner sa voiture ;

Le Filet myriadaire si bien fait pour coiffer les lièvres et qui n'en prend jamais ;

Le Van qui ne vanne pas ; la Cuiller sans usage même pour mesurer l'huile !

Et le peuple des artisans terrestres accuse les célestes d'imposture et de nullité.

Le poète dit : Ils rayonnent.

(Victor Segalen)

*

Bom dia!

28.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM PONTE DA BARCA, PORTUGAL



Preparando a iluminação para as festas em Ponte da Barca.

(Gil Coelho)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 28 de Agosto de 2006


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: rochas marcianas de um novo tipo. O mundo torna-se mais complexo. Quem disse que os diagramas não têm a categoria da beleza?

http://marsrovers.jpl.nasa.gov/gallery/press/spirit/20060823a/McSweenPIO_br.jpg

*

No Natureza do Mal, notas e reproduções do catálogo da exposição da Fundação Cartier-Bresson, comissariada por Agnès Sire, com fotos surpreendentes. Simone Beauvoir como "jeune fille" de costas e como intelectual existencialista de frente.

*

No Da Literatura mais uma nota cautelar sobre os sixties e a dificuldade de generalizar. Nos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO escrevi há algum tempo uma nota sobre a difícil fusão entre o radicalismo cultural e político que se começou a dar nos anos à volta de 1968, sendo as raízes da contra-cultura radical anteriores e mesmo percursoras do radicalismo político. Este movimento a dois foi travado na década de setenta pela extremização dos movimentos político-estudantis (em Portugal e na Europa) e pelo fim do período "liberal" do marcelismo. No entanto, depois do 25 de Abril verificou-se que tinha sido um ponto sem retorno.
 


FONTES PARA A HISTÓRIA DA IMPRENSA ENQUANTO INSTRUMENTO DO GRANDE CAPITAL



(De uma história aos quadradinhos de propaganda nazi, England ahoi!, publicada em Portugal nos anos quarenta durante a guerra.)
 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: NAPOLEÃO

http://www.powells.com/cgi-bin/imageDB.cgi?isbn=




J Marshall Cornwall, Napoleon as Military Commander


Durante a retirada da Grande Armée da Rússia, o seu primeiro grande desastre militar, Napoleão teve muita dificuldade em atravessar o rio Bereziná tendo que construir uns pontões de emergência debaixo de fogo. Devido ao congestionamento na travessia, Napoleão ordenou a destruição da maioria dos transportes de bagagens pessoais dos seus oficiais, ordem que nem sempre foi cumprida. Napoleão deu o exemplo e um dos seus trens de bagagem que foi queimado continha a sua biblioteca pessoal.

*

Marshal Jean-Baptiste Bernadotte
Depois da morte de Napoleão, Jean-Baptiste Bernadotte, (veio a ser Carlos XIV, rei da Suécia, progenitor da actual dinastia, e que tinha fama de ter uma tatuagem revolucionária a dizer "Mort aus rois"...) que começou como marechal de Napoleão e acabou seu inimigo, disse do seu mentor:

"Napoleão não foi conquistado pelas armas. Ele era maior do que qualquer de nós. Mas Deus puniu-o porque ele apoiava-se apenas na sua inteligência, até que esse poderoso instrumento foi levado a um ponto de ruptura. No fim, tudo se quebra."
 


EARLY MORNING BLOGS

852 -Un libro

Apenas una cosa entre las cosas
Pero también un arma. Fue forjada
En Inglaterra, en 1604,
Y la cargaron con un sueño. Encierra
Sonido y furia y noche y escarlata.
Mi palma la sopesa. Quién diría
Que contiene el infierno: las barbadas
Brujas que son las parcas, los puñales
Que ejecutan las leyes de la sombra,
El aire delicado del castillo
Que te verá morir, la delicada
Mano capaz de ensangrentar los mares,
La espada y el clamor de la batalla.

Ese tumulto silencioso duerme
En el ámbito de uno de los libros
Del tranquilo anaquel. Duerme y espera.

(Jorge Luis Borges)

*

Bom dia!

27.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM CASABLANCA, MARROCOS



Mesquita de Hassan II – Casablanca - Um operário a consertar os mosaicos

(Raul Cesar de Sá)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM MACAU, CHINA



Num andaime feito de canas de bambu, trabalhadores executam tarefas de reparação na pira do estádio da Taipa, palco da cerimónia de abertura dos 1.os Jogos da Lusofonia Macau 2006, entre os dias 7 e 15 de Outubro.A fotografia foi tirada em 21 de Agosto de 2006, na ilha da Taipa, Macau.

(Vasco Bismarck)
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS
ANTES DA GRIPE DAS AVES, QUANDO OS ANIMAIS DE CAPOEIRA ERAM NOSSOS AMIGOS

 


EARLY MORNING BLOGS

851 - Money

Quarterly, is it, money reproaches me:
'Why do you let me lie here wastefully?
I am all you never had of goods and sex.
You could get them still by writing a few cheques.'

So I look at others, what they do with theirs:
They certainly don't keep it upstairs.
By now they've a second house and car and wife:
Clearly money has something to do with life

- In fact, they've a lot in common, if you enquire:
You can't put off being young until you retire,
And however you bank your screw, the money you save
Won't in the end buy you more than a shave.

I listen to money singing. It's like looking down
From long French windows at a provincial town,
The slums, the canal, the churches ornate and mad
In the evening sun. It is intensely sad.

(Philip Larkin)

*

Bom dia!

26.8.06
 


FONTES PARA A HISTÓRIA DO "MODELO SOCIAL EUROPEU"



Werner Kahl, Viagens do Operário Alemão, Serviço Alemão de Informações , 1941
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS

 


EARLY MORNING BLOGS

850 - The House Was Quiet and the World Was Calm

The house was quiet and the world was calm.
The reader became the book; and summer night
Was like the conscious being of the book.
The house was quiet and the world was calm.
The words were spoken as if there was no book,
Except that the reader leaned above the page,
Wanted to lean, wanted much most to be
The scholar to whom the book is true, to whom
The summer night is like a perfection of thought.
The house was quiet because it had to be.
The quiet was part of the meaning, part of the mind:
The access of perfection to the page.
And the world was calm. The truth in a calm world,
In which there is no other meaning, itself
Is calm, itself is summer and night, itself
Is the reader leaning late and reading there.

(Wallace Stevens)

*

Bom dia!

25.8.06
 


COISAS DA SÁBADO

1- RESOLUÇÕES DA ONU DE PRIMEIRA E DE SEGUNDA
Os mesmos que dizem que Israel perdeu a guerra, os mesmos aliás que mostravam uma admiração sacrossanta por aquilo a que chamavam “comunidade internacional” e pela ONU, falam pouco do conteúdo da Resolução 1701 que permitiu o cessar-fogo. Mas dizem à boca cheia que a Resolução não é para aplicar, ou é inaplicável a anteriori e opõem-se à sua implementação no seu ponto mais importante – o envio de uma força militar – negando frontalmente, no caso português, qualquer participação de militares nacionais na implementação dessa Resolução.

Não há nada como ir ver o texto para perceber por que razão a Resolução incomoda tanto e também perceber as diferentes razões por que ela foi aceite pelos beligerantes. Tenho para mim que essas razões são evidentes: para Israel era fundamental a internacionalização do conflito envolvendo outros parceiros ocidentais que não os EUA na segurança da fronteira norte de Israel, colocando-os próximos daquilo que dói no vespeiro do Médio Oriente, ou seja próximos do Hezbollah, da Síria e do Irão a ver se percebem com quem Israel tem que lidar; para o Hezbollah evitava a invasão terrestre do Sul do Líbano, que essa sim poderia levar a uma forte derrocada do seu aparelho militar para o que os ataques aéreos não chegam. Depois, o resto se veria.
Há uma má fé evidente nas razões da aceitação por parte de ambos os lados: Israel sabe que sem agir militarmente contra o Hezbollah este nunca aceitará ser desarmado, e coloca o problema nos amplos braços da França (e por interposta França na amável UE), e o Hezbollah quer ganhar tempo e sabe que só muito dificilmente a força internacional actuará contra ele, como já aconteceu no passado.

2 – NADA COMO IR LER O TEXTO

O que é que diz o texto da Resolução (de origem americano-francesa registe-se)? Deixando de parte a retórica destinada a permitir que todos – neste caso todos é o governo do Líbano e Israel – salvem a face, a Resolução implica o cessar-fogo imediato e a retirada das forças israelitas do território libanês, entregando o controle pleno da fronteira sul ao exército libanês com a assistência das forças da UNIFIL

Ao Hezbollah pede-se que cesse todos os “ataques” e a Israel que cesse “todas as operações militares ofensivas”, o que já é uma diferença em “diplomatês”, embora aqui essa língua não seja muito relevante. A seguir começa a delinear-se a “solução” da “comunidade internacional” que, se for avante, muda de facto a situação do Líbano: é suposto que o governo libanês assuma o controlo da sua fronteira, “exerça a soberania plena de modo a que não haja aí armas sem consentimento do Governo do Líbano”, o que já não acontece há muitos anos devido à ocupação de facto dessa fronteira pelo Hezbollah. Mais à frente repete-se o que já tinha sido decidido noutras resoluções da ONU nunca aplicadas: o “desarmamento de todos os grupos armados no Líbano (…) de modo a que não haja armas ou autoridade no Líbano que não sejam as do Estado Líbanês.” Mais ainda: não deve haver “forças estrangeiras no Líbano sem o consentimento do Governo libanês”, o que se aplica a Israel, mas também à Síria.

Ao Governo libanês são assacadas várias responsabilidades, que se centram no impedimento de quaisquer actividades militares ou para-militares contra Israel: controle do fluxo de armas, treino militar de milícias, e vigilância nos postos de fronteira (com a Síria como é óbvio) para impedir a ajuda militar ao Hezbollah.

A principal diferença substantiva entre esta Resolução e as anteriores - cuja não aplicação foi consentida pelos mesmos que agora se indignam com o conflito – é o reforço da UNIFIL para um máximo de 15000 efectivos e aquilo que se considera um mandato mais musculado dessa força, ou seja é suposto que não se fique por ver e relatar o que se passa, mas que actue. Sobre esse mandato, cuja actuação deve ser coordenada com os governos do Líbano e Israel (com os dois, embora a força só esteja no Líbano) em vários aspectos, assenta na tomada “de todas as acções necessárias nas áreas onde estejam estacionadas as suas forças e em função das suas capacidades para assegurar que a sua área de operações não é utilizada para actividades hostis de qualquer tipo, resistindo a todas as tentativas para a impedir à força de não cumprir com os seus objectivos ao abrigo do mandato do Conselho de Segurança”.

Lendo o texto percebe-se que ele é o resultado directo da guerra, mesmo que reitere muito do que já tinha sido “decidido” em anteriores resoluções da ONU, naquilo que é uma maior obrigação da “comunidade internacional” de acabar com a ocupação militar do Sul do Líbano pelas milícias do Hezbollah e de assegurar uma fronteira norte segura para Israel. Como Israel não tem reivindicações territoriais sobre o Líbano, tudo o que diga respeito ao desenho da fronteira é irrelevante para Israel desde que esta permaneça segura.

3 – TOMAR A SÉRIO O TEXTO DA RESOLUÇÃO MESMO QUE SE DUVIDE DA SUA APLICAÇÃO

Conseguirá a ONU, sem os EUA presentes na força militar e contando com o suposto envolvimento das nações europeias (a atitude da França de um passo à frente e dois atrás não surpreende ninguém) ajudar a pacificar o Líbano, ou seja a retirar da política armada libanesa o Irão e a Síria? A julgar pelo passado, a resposta é não. É muito pouco provável que franceses, italianos, portugueses, espanhóis e outros andem aos tiros com o Hezbollah, para assegurar o efectivo controlo da fronteira, suprindo o ineficaz e hesitante controlo feito por um débil Governo libanês. E no entanto, tomar a resolução da ONU à letra, é um passo que se justifica, por maiores que sejam as reservas quanto à sua implementação. Há, insisto, vantagens de todo o tipo em dar esta última oportunidade à “comunidade internacional” na base de uma Resolução que consiste de facto numa vitória diplomática para Israel, como percebem muito bem os seus críticos. Israel que fez uma guerra pela metade, e as guerras pela metade normalmente perdem-se, jogou forte no envolvimento da “comunidade internacional” ou seja , na prática, no dos países da UE para os confrontar com as suas responsabilidades. O modo como eles vão responder – e há sinais contraditórios dessa resposta – vai definir mais eficazmente o significado político da “Europa” comunitária do que cem Constituições. Vamos ver.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM SANTO TIRSO, PORTUGAL



Limpando a escadaria do Tribunal de Santo Tirso.

(Vítor Alexandre Leal)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 25 de Agosto de 2006


Será que a SIC não compreende que os seus jornalistas não podem tomar o partido de uma das partes num conflito? Nos incidentes da Azinhaga dos Besouros, alguns moradores e uma organização ligada ao BE, "Solidariedade Imigrante", têm resistido às demolições sentando-se nos telhados. Por que razão a jornalista da SIC entrevista alguns moradores em cima do telhado, podendo certamente fazê-la no chão, visto que nada se estava a passar ? Qualquer manual deontológico sobre procedimentos televisivos em conflitos e manifestações é claro em afirmar que os jornalistas não devem tomar posição, o que, neste caso, significa falar de um determinado lugar - o lugar do protesto, o telhado.

[Actualização: a RTP fez a entrevista do chão. Bem.]

Sou jornalista /repórter de imagem na sic e acabo de ler no blog 'abrupto' (...) Escolhi fazer o "directo" do topo de uma das casas que estava prestes a ser demolida porque dali poderia dar, aos telespectadores, uma imagem abrangente do local, logo também da zona demolida até então. O facto dos trabalhos de demolição poderem recomeçar a qualquer momento e, repito, aquela casa estar na lista das construções a abater, ajudou-me a tomar a decisão.

Considero que há falta de discussão em relação às questões éticas e deontológicas no jornalismo. Estas discussões são fundamentais para um jornalismo que se quer cada vez mais credível.

Trabalho na SIC há 14 anos e ainda assim fiquei impressionado com aquela quantidade de casas demolidas.

(Filipe Campos Ferreira)

*

(sem acentos) Curioso tambem como a jornalista da SIC nao fez uma unica pergunta dificil:

- A construcao e’ legal?
- Os terrenos onde as casas estao pertencem a quem?
- Voce nao sabia que a sua construcao e’ ILEGAL?
- Se sabia, porque e’ que eternizou esta situacao pondo em risco o seu bem estar e dos seus filhos?
- Porque e’ que a Solidariedade Imigrante nao se preocupou com estes imigrantes ANTES das demolicoes terem sido aprovadas? Sera’ que a Solidariedade Imigrante nao sabia do caracter ILEGAL destas construcoes?

Jornalismo, quo vadis?

(Carlos Carvalho)

*

Antes de mais, quero esclarecer que sou pouco sensível a apelos de solidariedade para com pessoas que vêem as suas casas legalmente destruídas - quando elas sabiam (à partida e quando as construíram), que era isso que ia suceder.

No entanto, nesses dias de demolições camarárias, vêm-me sempre à memória aquelas velhas histórias americanas em que os bandidos saltam de estado para estado para aproveitar as diferenças existentes nas respectivas leis - é que, em matéria de demolições de casas clandestinas, estou há anos à espera de ver igual genica aplicada àquelas outras, de férias e de segunda habitação (algarvias, mas não só), que continuam de óptima saúde em terrenos de domínio público.

(C. Medina Ribeiro)
*

Isto de ler os jornais e revistas em papel com dias de atraso dá uma perspectiva diferente sobre as notícias e opiniões. Mas também têm os seus inconvenientes, como seja não ter visto esta opinião de Caetano Veloso, transcrita da Visão da semana passada, de que também não encontrei qualquer eco nos blogues apesar de ele se referir à "blogosfera portuguesa" e não apenas ao Abrupto...



Fica aqui reproduzido, seguindo os agradecimentos pessoais a Caetano Veloso por outra via. Parece que, sobre Israel, nem toda a gente segue o "pensamento único".

Nem sobre o Abrupto também...

(Alberto Serpa)
*

Por que é que os americanos são bons? Título da notícia da NASA e do Jet Propulsion Laboratory sobre a "despromoção" plutónica: Honey, I Shrunk the Solar System.

*

Com um dia de atraso. Pequenos pormenores em que só se repara lendo a imprensa em papel, que recebo dias depois de ter saído:

- no Diário de Notícias de 24 de Agosto, numa notícia assinada por Helena Tecedeiro, uma legenda de uma fotografia de um guerrilheiro do Hezbollah – “Enquanto líder militar do Hezbollah, Mugniya terá sido responsável pela vitória do grupo sobre o exército israelita (Sublinhados meus)

- no Diário de Notícias de 24 de Agosto, uma notícia sobre os recentes confrontos em Timor-Leste (ocorridos a 23) que deveria suscitar as maiores perplexidades a quem esteja atento. Lá se diz que os confrontos entre “grupos de jovens” (sempre esta estranha classificação) ocorreram no bairro de Comoro. É esse bairro que é suposto estar sob jurisdição da GNR que aí assume as funções de polícia. Só que a notícia refere que foram polícias australianos e malaios que defrontaram os grupos e que, só no fim, foi chamada a GNR. Balanço dos feridos: sete australianos e um malaio.

Verdadeiramente, o que é que a GNR está a fazer em Timor? A quem responde? Que cadeia hierárquica operacional existe? O que é que se passou com este incidente na sua área de intervenção? Mais uma série de questões que deviam estar a ser feitas a quem de direito, ou seja ao Governo.
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS, PESCA MACABRA


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EARLY MORNING BLOGS

849- Elephants Are Different to Different People

http://www.vision.jhu.edu/teaching/HW4Pictures/Gray/Elephants.jpg
Wilson and Pilcer and Snack stood before the zoo elephant.

Wilson said, "What is its name? Is it from Asia or Africa? Who feeds it? Is it a he or a she? How old is it? Do they have twins? How much does it cost to feed? How much does it weigh? If it dies, how much will another one cost? If it dies, what will they use the bones, the fat, and the hide for? What use is it besides to look at?"

Pilcer didn't have any questions; he was murmering to himself, "It's a house by itself, walls and windows, the ears came from tall cornfields, by God; the architect of those legs was a workman, by God; he stands like a bridge out across the deep water; the face is sad and the eyes are kind; I know elephants are good to babies."

Snack looked up and down and at last said to himself, "He's a tough son-of-a-gun outside and I'll bet he's got a strong heart, I'll bet he's strong as a copper-riveted boiler inside."

They didn't put up any arguments.
They didn't throw anything in each other's faces.
Three men saw the elephant three ways
And let it go at that.
They didn't spoil a sunny Sunday afternoon;

"Sunday comes only once a week," they told each other.

(Carl Sandburg)

*

Bom dia!

24.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NO FURADOURO - OVAR, PORTUGAL



O pescador conserta as redes da pesca de Arrasto (Arte Xávega), mais concretamente o saco onde vem o peixe, a safra...

(Fernando Manuel Oliveira Pinto)
 


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO / OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 23 de Agosto de 2006.
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS, GRANDES CHASSES

 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 24 de Agosto de 2006


Leia mais, senhor Presidente, não é por falta de livros. O conselho é válido para todos, ou pensam que é só ele?



Publicidade encontrada na cidade de Toronto, Canadá (enviada por Francisco Cunha)

*

BLOGOSFERA CONTRA PROMESSOSFERA: O BLOGUITICA continua a fazer a pergunta certa no tempo certo : "O Projecto MIT não está esquecido, pois não?" Se não fosse o infantilismo competitivo de muita imprensa escrita, que não quer parecer ir atrás dos blogues, já a mesma pergunta teria sido feita aos responsáveis pelas promessas governamentais numa vontade de esclarecer e informar que é suposto ser a essência do seu papel em democracia, venha a pergunta de onde vier. Se o BLOGUITICA deixasse de insistir durante dois ou três dias, e voltasse o rápido esquecimento em que vivemos, já os jornalistas se sentiriam à vontade para fazer a pergunta sem parecer "ir atrás" dos blogues. O mesmo se passou no caso da OTA, não fosse um órgão da imprensa digital sem preconceitos ter abordado Mário Lino com a pergunta que os jornais não queriam fazer. Depois foi o que se viu. A questão central aqui é que um esclarecimento sobre o que se passa com o Projecto MIT é mais que devido, até porque já passou o prazo para se saber alguma coisa. Está na altura de acabar com pruridos territoriais e perceber que hoje há, queira-se ou não, um contínuo comunicacional com os blogues e uma pergunta certa e justa na blogosfera é também uma pergunta certa e justa na atmosfera e não se pode passar ao lado.

*

Bem-vindo de férias ó Almocreve das Petas :
"Depois de afagos de veraneio pendurámos a lembrança, em local decente. Nas muitas noites-ligados-a-dias sem novelas da paróquia, sem ambição de coisa alguma e em salutar "metafísica do ócio", a iluminação teria de ser total. E, na verdade, foi a nossa abastança virtuosa. A "estrita" observância a paixões deliciosas e sentimentos d'ócio peculiares, fez prolongar a visitação extraordinária, assim a modos "como gatos espapaçados ao sol" [M. Bandeira]. As instruções, os preceitos e as exortações do vate Sócrates & sua imprensa amestrada, não nos importunaram. Fomos piedosamente poupados à erudição doméstica. E, claro está, podemos dizer, humildemente ... que "cumprimos"!"
 


EARLY MORNING BLOGS

848 -"Mezclarónse con los de Babylonia, y aprendieron sus costumbres"

Diximos en el argumento que el lenguaje d'este psalmo es de tristeza, de los que sienten el mal de su captiverio; mas que no es de todos, sino solamente de aquellos que no se descuydaron de llevar consigo los instrumentos con que solían alabar al Señor. Porque es cierto que no todos los captivos israelitas sospiravan por Sión, porque los más mezclados entre los Babylónicos, se hizieron de sus costumbres y aprendieron sus maldades, haziéndose como naturales de la tierra donde no eran. Y estos no eran los que lloravan sobre las riberas de Babylonia, ni los que colgavan los instrumentos de música en los salzes de aquel río. Mas eran aquellos de quien dixo David: Commixti sunt inter gentes, & didiscerunt opera corui. "Mezclarónse con los de Babylonia, y aprendieron sus costumbres". Y son figura de la distinctión de los que pertenescen a Sión predestinados, y de los que son para Babylonia prescitos. Y de los dos amores, de quien dize Augustino ser tan estraños que el uno edifica la ciudad de Babylonia y el otro la ciudad de Hierusalem. Y finalmente, significa los que tiene el demonio tan ciegos que el captiverio tienen por libertad y sus males juzgan por bienes. A differencia de los otros, que siendo captivos no se olvidan del fin para que fueron criados. Los unos cantan, los otros lloran; los unos biven sin contradictión de su consciencia, sin hazer contraste a nada de todo aquello que la sensualidad les pide; los otros quando mayores occasiones de plazeres mundanos les offresce el mundo, entonces se congoxan más, y de tal manera que, a no socorrer Dios en aquella tristeza, sería a los perfectos gran género de martyrio querer Babylonia hazer reyr por fuerça y cantar llorando, que son cosas que no vienen bien. Esto sintió bien David quando dixo: Renuit consolari anima mea, memor fui Dei, & delectatus sum. "Mi ánima desechó tales contentos, que más tristeza me causavan, y no tuve otro remedio sino acordarme de Sión". Que no es menos que dezir: Memor fui Dei. "Y assí me alegraba con la tristeza de no contentarme en Babylonia", y esto quiere dezir: & delectatus sum.

( Sermón donde se declara el Psalmo .136. que comiença: Super flumina Babylonis, con otro psalmo .72. y este postrero haze a la declaración del primero. Hecho y predicado por el muy Reverendo padre F. Pedro López de Cárdenas en Valencia, a instancia de una señora devota suya, 1562.)

*

Bom dia!

23.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA COSTA DA CAPARICA, PORTUGAL



Vendedor de gelados, bolacha, pipocas e batatas fritas.

(Jorge Alexandre)
 


MORTE DE VASCO DE CARVALHO (1910-2006)

Recebi agora a notícia da morte de Vasco de Carvalho, um dos principais dirigentes do PCP nos anos trinta e a figura mais significativa da direcção afastada pela “reorganização” de 1940-1, no chamado processo do “grupelho provocatório”. Trabalhei extensivamente com Vasco de Carvalho na reconstituição desses eventos, dos mais obscuros da história do PCP. E quando digo “trabalhei” foi mesmo o que aconteceu porque Vasco de Carvalho não se limitou a confiar na memória que tinha dos eventos, mas fez ele próprio uma recolha por escrito de notas e apontamentos que possuía e comentou, linha a linha, as primeiras versões do meu texto (excerto de um longo manuscrito de comentários e precisões que fez sobre um esboço que lhe enviei sobre o “grupelho provocatório”).

Vasco de Carvalho tinha um forte sentimento da injustiça que lhe tinha sido feita pelo PCP, e confiava na história para a corrigir, não tanto no plano político, mas nas acusações e suspeitas sobre o papel da PIDE na actividade da direcção legítima do PCP que os “reorganizadores” tinham afastado. Embora Cunhal tenha mais tarde corrigido alguns dos excessos de Fogaça e dele próprio, afirmando não haver qualquer prova de colaboração com a PIDE na actuação do que chamava o “grupelho”, o PCP até as nossos dias não fez a Vasco de Carvalho, nem a muitos outros comunistas caluniados e insultados na sua dignidade pessoal e política, qualquer reparação pública, ao contrário do que aconteceu no PCF e no PCE.

(Nota mais completa nos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 23 de Agosto de 2006


A crítica de Eduardo Cintra Torres no Público ao tratamento noticioso dos incêndios na RTP assenta em dois “factos” (1) ;

- um, a existência de ordens, ou instruções oriundas do Gabinete do Primeiro Ministro à direcção editorial da RTP quanto ao tratamento dos fogos
as informações de que disponho indicam que o gabinete do primeiro-ministro deu instruções directas à RTP para se fazer censura à cobertura dos incêndios: são ordens directas do gabinete de Sócrates».)
- dois, a minimização dos incêndios nos telejornais, em particular num dia em que graves incêndios ocorriam a Norte
E o Telejornal (RTP)? Não fez nenhum directo. Remeteu os incêndios para a 18ª notícia de 28, já depois do desporto. As três únicas notícias sobre incêndios activos foram tão breves que totalizaram menos tempo (1m50) do que a convalescença de Fidel Castro (2m16) ou a vitória dum João Cabreira na etapa do dia da Volta (2m18). As outras três notícias relacionadas com fogos eram todas positivas: um inventor dum autotanque; uma visita de bombeiros alemães a Vila Real; a entrega de 16 jipes pelo Instituto de Conservação da Natureza aos parques naturais (mas antes, sobre o incêndio no Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Telejornal falou duas vezes em Arcos de Valdevez e só no meio da notícia referiu uma vez o Parque)”.

Quanto ao primeiro, Eduardo Cintra Torres terá certamente que ir mais longe no seu esclarecimento, visto que parte de uma situação ambígua entre ser jornalista e dever preservar as suas fontes e emitir um comentário crítico que em principio não é uma notícia. Se tal “facto” (as instruções do Gabinete) foi resultado de uma actividade jornalística normal ele deveria ter sido pela sua relevância incluído no noticiário político do Público e só depois, ou em simultâneo, comentado na coluna de crítica. O estatuto de colunas de crítica como a que mantém no Público é ambíguo, como aliás acontece com muito do que hoje se escreve nos jornais em peças assinadas que misturam factos com opinião. Por se tratar de uma coluna identificada como tal, isso protege a opinião, mas “desprotege” os factos lá referidos em primeira mão. Isso explica o processo da RTP, que Cintra Torres certamente ponderou, como consequência possível do conteúdo da coluna.

Duas observações de passagem, mas relevantes para o “caso”. Uma é que Eduardo Cintra Torres produz uma das raras colunas de comentário sobre a televisão (na realidade é mais do que isso é crítica dos media, o que explica alguns furores) que pode ser chamada de “crítica”. A outra é que nas reacções de alguns jornalistas ao “caso” é claro que não perdoam a Cintra Torres ter colocado em causa não o Governo de Sócrates, mas a muito mais delicada questão das relações dos governos socialistas com a comunicação social. Quando os governos são do PSD e do CDS, as relações com a comunicação social são cuidadosamente escrutinadas e denunciadas, quando os governos são do PS a matéria torna-se sempre explosiva e a exigência de prova, mesmo em textos analíticos, vem sempre à cabeça. Um caso menor pode servir de comparação: a relativa complacência com que o livro de Manuel Maria Carrilho foi recebido, com acusações insubstanciadas muito mais graves do que as que fez Cintra Torres (caso fiquem elas também por provar, o que seria grave).

Sobra o segundo “facto” que aparentemente ninguém quer discutir, remete para uma análise da informação da RTP, repito aqui o que escrevi antes do artigo de Cintra Torres:
O governo tem beneficiado de uma cobertura jornalística que tem minimizado a importância dos incêndios este ano, e consequentemente, não confronta a realidade com o que foi prometido e anunciado. Parte desta situação vem dos compromissos que a comunicação social, em particular as televisões, assumiram quanto à cobertura dos fogos, corrigindo os excessos do ano passado. Mas, como quase sempre acontece, a correcção do excesso foi desequilibrada e neste ano, a não ser os atingidos pelos incêndios, não há percepção pública da gravidade do que se está a passar. Isso ajuda à desresponsabilização do governo e impede o debate sobre a eficácia das suas medidas e sobre o modo como está a reagir à situação, assumindo uma atitude de de muito mau agoiro para o futuro. (no Abrupto)

A governamentalização da informação da RTP (com este e com todos os governos) tem uma raiz de fundo impossível de corrigir sem a sua privatização: o seu carácter de estação “pública” torna-a dependente de orientações governamentais quanto à sua cadeia hierárquica de poder interno e financiamento . Como muitas vezes tenho dito, o mais importante é escolher as pessoas certas para o lugar certo, não dar “instruções “ pelo telefone. E depois há o dinheiro que vem do bolso dos contribuintes e cujas “orientações” de despesa (por exemplo na compra do circo do futebol) têm relevância política.

Acresce depois que a mais ambígua das coisas é aquilo a que se chama "serviço público", nunca claramente definido. Tanto serve para fazer a cobertura menos incómoda para o governo dos incêndios, como de muitas outras matérias, como para produzir simultaneamente alinhamentos no telejornal completamente tablóides (2) (com o argumento que uma televisão que ninguém vê não cumpre com o "serviço público"), como para tratar a agenda governamental com uma deferência particular dando a ministros, secretários de estado, inaugurações e anúncios de obras um lugar privilegiado nos telejonais (3). Etc., etc.

(1) Coloco factos entre aspas não por fazer um julgamento sobre a sua veracidade, mas para me referir a uma categoria jornalística determinada.

(2) Exemplos de ontem: o telejornal das 13 horas abre com uma longa peça sobre a queda de um ultraleve em Cascais, em contraste com o conteúdo noticioso das notícias da SIC (não vi a TVI).

(3) Um exemplo positivo de como um jornalista deve tratar uma inauguração e um anúncio governamental foi a de um jornalista da SIC que apertou Correia de Campos com perguntas sobre medidas que anunciavam uma cobertura da população por médicos de família. Acabou-se por saber que afinal essa cobertura era de um terço dos abrangidos e desse terço apenas um terço iria ser coberto até ao fim do ano, se tudo corresse bem. Passou-se de um anúncio genérico, para um terço de um terço. Mérito do jornalista que não tem o estilo dos telejornais da RTP.

*
A pretexto da «polémica» levantada pelo artigo de opinião de Eduardo Cintra Torres (ECT), gostaria de referir um pequeno pormenor, que não é de somenos importância. A análise que ECT aos noticiários da RTP, em contraste com as privadas, foi do dia 12 de Agosto (sábado). Por sinal, também detectei em 6 de Agosto (domingo), uma situação similar, que aliás me fez escrever um post no meu blog Estrago da Nação (www.estragodanacao.blogspot.com) intitulado «O frete televisivo», com o seguinte teor:

No Portugal da RTP - empresa pública de televisão -, hoje não houve fogos em Portugal. E os que houve ficaram remetidos para as calendas do alinhamento e apenas os que foram extintos. Enquanto as outras televisões (SIC e TVI) deram o destaque merecido, com directos q.b., a RTP gastou 33 minutos do seu telejornal das 20 horas a abordar a guerra no Líbano (com pelo menos três directos com outros quantos jornalistas), a tensão no Irão, os problemas em Gaza, a doença de Fidel Castro, um acidente no Parque da Pena devido à queda de uma ramada de eucalipto (que causou uma morte). Depois em dois ou três minutos, a RTP apenas abordou dois incêndios, ambos circunscritos de manhã e, nessa altura, já extintos: na Póvoa do Varzim e em Paredes (Aguiar de Sousa). De resto, nem uma única palavra sobre a situação actual, designadamente a mais de uma dezena de incêndios que então estavam ainda não circunscritos. Eis um exemplo de serviço público que, sob critérios inconfessáveis, se confunde com serviço do Governo. Eu bem que temia que a introdução de critérios para a abordagem dos incêndios pela Direcção de Informação da RTP - de que falei há dias -, ia dar nisto...

No dia seguinte (segunda-feira) e ao longo dos dias úteis, fazendo zapping pelas três estações, já não reparei em diferenças de tratamento tão avassaladoramente distintas, embora quase sempre com menor destaque na TV pública, mas as abordagens já eram isentas, conforme se pode constatar por aquilo que escrevi num post desse dia 7 de Agosto:

Hoje, a RTP viu-se obrigada a abordar os incêndios. A contra-gosto, é certo, porque não abriu o telejornal com esse tema, ao contrário dos outros canais. Mas vá lá, melhorou: falou dos incêndios que ainda estavam a lavrar e não apenas, como ontem, naqueles que já tinham sido extintos...

Aliás, houve pelo menos um dia nessa semana em que a RTP abriu o noticiário com os fogos que então se faziam sentir, com directos nos locais mais afectados.

Recordo-me também que em 9 de Julho (domingo), dia em que morreram seis bombeiros na Guarda, a RTP praticamente ignorou essa tragédia, se bem que apenas a TVI tenha dado destaque de abertura noticiosa.

Ou seja, notam-se, por estes exemplos, uma claríssima distinção entre notícias de fogos abordados pela TV pública ao «fim-de-semana» e aos «dias da semana», não apenas ao nível do destaque como de isenção noticiosa. Se o pivot dos telejornais é diferente (ao fim-de-semana não é o José Rodrigues dos Santos), penso que as equipas de coordenação editorial também serão diferentes. Ora, perante estas diferenças, podemos estar perante uma mera coincidência e que ECT está a mentir. Mas no mundo real há poucas coincidências...

(Pedro Almeida Vieira)

*

As considerações de carácter geral que Cintra Torres faz acerca da influência do poder político na RTP não causam espanto a ninguém, pois o que ele diz é exactamente o que o cidadão-comum pensa: os governos só não interferem na televisão pública se não puderem - e, neste caso dos fogos, até é bem provável que isso tenha sucedido.

Até aí, tudo bem; o problema só aparece quando ele lança acusações concretas que, além de serem em segunda-mão, não pode provar.

De qualquer forma, já se sabe há muito tempo que é mesmo assim que "a coisa funciona": ao abrigo da liberdade de expressão e do estatuto da classe, um jornalista pode "dizer o que lhe disseram" as fontes em quem confia. A seguir, se necessário, ergue o escudo do "segredo das fontes" e dorme descansado. A lógica parece-me perversa mas, pelos vistos, é essa.

Mesmo assim, não resisto a contar o que, em tempos, se passou com Mário Castrim quando um dos seus adversários asseverou que "tinha ouvido dizer, acerca dele e de fonte segura, determinadas coisas".

O autor d' «O canal da Crítica» respondeu, na sua coluna do «Diário de Lisboa», algo como (e cito de memória):

«Agradeço que, por escrito, declare formalmente que me autoriza a divulgar tudo o que, de fonte segura, eu já ouvi dizer de si».

(C. Medina Ribeiro)
 


EARLY MORNING BLOGS

847 - ...no hay para qué perdonar a ninguno, porque todos han sido los dañadores ...

El cual aún todavía dormía. Pidió las llaves a la sobrina del aposento donde estaban los libros autores del daño, y ella se las dió de muy buena gana. Entraron dentro todos, y el ama con ellos, y hallaron más de cien cuerpos de libros grandes muy bien encuadernados, y otros pequeños; y así como el ama los vió, volvióse a salir del aposento con gran priesa, y tornó luego con una escudilla de agua bendita y un hisopo, y dijo: tome vuestra merced, señor licenciado; rocíe este aposento, no esté aquí algún encantador de los muchos que tienen estos libros, y nos encanten en pena de la que les queremos dar echándolos del mundo. Causó risa al licenciado la simplicidad del ama, y mandó al barbero que le fuese dando de aquellos libros uno a uno, para ver de qué trataban, pues podía ser hallar algunos que no mereciesen castigo de fuego. No, dijo la sobrina, no hay para qué perdonar a ninguno, porque todos han sido los dañadores, mejor será arrojarlos por las ventanas al patio, y hacer un rimero de ellos, y pegarles fuego, y si no, llevarlos al corral, y allí se hará la hoguera, y no ofenderá el humo.

(Miguel Cervantes, Don Quijote de la Mancha)

*

Bom dia!

22.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA TORREIRA - MURTOSA, PORTUGAL



Dois fogueteiros a lançarem foguetes de cana, um tradição que está em vias de desaparecer. No entanto, e embora seja uma tradição de que não gosto, tem a sua lógica, pois era o método de, há bastantes anos atrás, uma povoação avisar as povoações próximas que ia decorrer algum tipo de festejo.

(José Carlos Santos)
 


QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES: "O INTERESSE É TEU"






(Padre Augusto Durão Alves, Rapariga Moderna, Lisboa, 1943)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL



Cortando a relva no novo Estádio da Luz, já em fase de conclusão dos trabalhos, meados de Fevereiro de 2004.

(Manuel Rodrigues)
 


EARLY MORNING BLOGS

846 - Unsaid

So much of what we live goes on inside–
The diaries of grief, the tongue-tied aches
Of unacknowledged love are no less real
For having passed unsaid. What we conceal
Is always more than what we dare confide.
Think of the letters that we write our dead.

(Dana Gioia)

*

Bom dia!

21.8.06
 


INTENDÊNCIA

Actualizados os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

Actualizadas as notas LENDO / VENDO / OUVINDO de 17 (2ª série) e 19 de Agosto de 2006 e COISAS DA SÁBADO: QUEM “GANHOU” A GUERRA ENTRE ISRAEL E O HEZBOLLAH?.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM SANTA CRUZ - TORRES VEDRAS, PORTUGAL



Uma vendedora de fruta no mercado de Santa Cruz, concelho de Torres Vedras.

(Nuno Umbelino)
 


RETRATOS DO TRABALHO NA NAZARÉ, PORTUGAL



Tatuador na Nazaré. Numa garagem esconsa com chão de terra batida, entre as lojas que vendem aventais “Recordação da Nazaré” e peixe a secar ao sol e sob o olhar de uma anciã que parece ser a única “coisa” que está no sítio certo.

(A tatuagem é temporária. O resto, não.)

(RM)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BARCELONA, ESPANHA



Um artesão brasileiro fazendo e vendendo peças de arame na praca Gali-Salvador Dali, em frente ao teatro museu Salvador Dali, em Figueras, perto de Barcelona. Chamava a atenção dos turistas, em bicha de mais de uma hora para comprar a entrada no teatro museu, imitando o miar de um gato aflito. As crianças aproximavam-se procurando o gato assustado.

(Luís Aguiar-Conraria)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM TORRE DE MONCORVO, PORTUGAL



Nesta época do ano recolhem-se as batatas que cresceram nas hortas que envolvem as aldeias. Esta cintura de verdura e frescura serviu para manter a um incêndio, que entretanto lavrou, a uma distância segura das habitações. Mas cada vez mais se verifica o abandono deste trabalho executado pela família e pelos amigos em regime de torna-geira.

(António Manuel Martins Teixeira, Felgar - Torre de Moncorvo)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TESTEMUNHOS DOS INCÊNDIOS

http://external.cache.el-mundo.net/fotografia/2003/08/incendios/imagenes/PORTUGA.jpg

Esta descrição de Pacheco Pereira (no Abrupto, princípio de Agosto 2005) traz-me à memória os incêndios que nos dois anos anteriores (2003 e 2004) devastaram as serras da zona de Monchique, no Algarve, assim como outras zonas próximas. Lembro-me de uma noite de 2004, aquela em que deflagrou o segundo grande incêndio desse ano, depois de cerca de metade da zona ter sido reduzida a cinzas pelo primeiro. Atravessei boa parte do Alentejo pela auto-estrada, sem encontrar muito trânsito. Era já bem de noite e a partir de certa altura (ao aproximar-me de Ourique) distingui um clarão vermelho ao longe, em frente. Era o fogo, a mais de cinquenta quilómetros de distância. Saí da auto-estrada em Ourique e meti-me pela estrada nacional, até desviar em São Marcos para a nova estrada que corta os primeiros montes até ao Alferce, uma das três freguesias do concelho de Monchique.

A partir de metade do percurso por essa nova estrada (que no total tem cerca de quinze quilómetros), comecei a ver uma linha contínua de fogo. Ia progredindo lentamente, com cerca de meio metro de altura. Se saísse do carro e começasse a apagá-la com ramos de eucalipto, em meia-hora talvez conseguisse limpar cerca de cem metros, mas a linha de fogo tinha alguns quilómetros. E eu não via ninguém por ali. O silêncio que conheço das noites naquela zona era então quebrado apenas pelos sons do mato a arder, que aumentavam de cada vez que as chamas trepavam a uma das árvores. Decidi que não podia parar, que tinha de chegar mais adiante, à antiga casa da minha avó, numa aldeia agora desabitada. Era aí que eu passava a temporada das férias grandes, em criança. O mundo tão grande desses tempos parecia-me agora bem mais pequeno. Não se via nas redondezas nenhuma luz artificial, nem ao longo da estrada, que apesar de ser toda moderna não tem postes de iluminação. Luz, apenas a da linha de fogo. Distingui a aldeia no fundo do vale, junto a um ribeiro, iluminada pelo clarão.

Parei o carro perto da saída para a estrada de terra que dá acesso ao vale, tentando que não ficasse em cima dos matos. Desci pela estrada de terra, sempre com o mesmo silêncio interrompido apenas pelos estalidos que saíam da linha de fogo. Andei cerca de um quilómetro, atravessei a ponte sobre o ribeiro e entrei na aldeia. Pouco passava da uma da manhã. A linha de fogo estava cinquenta metros acima e podia entrar na aldeia, embora esta estivesse limpa de mato. Ali, junto com a antiga casa da minha avó, a minha família possui mais algumas casas menores, uma azenha e um terreno. Eu sabia que o meu irmão estava por perto, mais adiante, por isso continuei.

Cerca de um quilómetro depois, cheguei a uma zona de montado da minha família. Sempre com a linha de fogo a acompanhar-me. Foi então que me deparei com uma espécie de monstro a encandear-me, um monstro com os máximos ligados a ocupar toda a largura da estrada de terra. Eu tinha um carro de bombeiros na frente, com dois ou três bombeiros inquietos por estarem com uma viatura naquela estrada estreita, rodeada de árvores e com o fogo numa linha contínua, paralela à estrada, embora do outro lado do ribeiro. O meu irmão desceu da parte de trás do camião e despediu-se. Os bombeiros foram-se embora, parecendo aliviados.

Disse-me depois o meu irmão que na vila tinha conseguido convencê-los a acompanharem-no até ali, com o argumento de que mais adiante o fogo não se limitava àquela linha contínua de meio metro de altura, estava bem maior, e com um carro de bombeiros seria possível contê-lo. Mas eles foram sempre insistindo que não podiam fazer nada, e acabaram por ir-se embora depois de eu chegar.

Ficámos os dois, eu e o meu irmão, com uma carrinha, dois machados, dois baldes e duas enxadas. As enxadas para atirar terra para as chamas, os machados para cortar ramos com os quais poderíamos bater nas chamas, os baldes porque tínhamos o ribeiro de onde tirar água. Ficámos toda a noite naquilo, como muitos populares noutras zonas da serra. Não havia nada parecido com o que viu Pacheco Pereira, o autor do «Abrupto», na auto-estrada para o Norte, mas de manhã, quando fomos para casa, deparámos nas estradas de alcatrão à volta da vila de Monchique com um movimento intenso, e pela vila a coisa ainda era pior. Carros, camiões, carrinhas de último modelo da direcção-regional já nem me lembro de quê... Bombeiros, polícia, GNR, tropa e, sobretudo, uma categoria um pouco difícil de caracterizar, os chamados responsáveis (dos quais se destacava um, por de vez em quando ter um copo de whisky na mão). Todos num corrupio. E as chamas também num corrupio. Como que por ironia do destino, o fogo foi dado como extinto ao fim de alguns dias, exactamente no mesmo local onde tinha começado. Deu voltas e mais voltas e regressou às origens, talvez por não ter mais nada para queimar.

(António Manuel Venda)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SEM LIVROS NOS AVIÕES



Sem livros nos aviões.

É só mais uma imagem, pode até não ser a maior das inconveniências para quem voa, mas é uma triste imagem.
Ser forçado a abdicar de livros é ser empurrado para mais perto da barbárie.

(Artur Furtado)

 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: RANKINGS


Sou português e estudante de um MBA em Nova Iorque (mais concretamente na Columbia University). Do outro dia fui confrontado com mais uma boa ideia, bem ao estilo americano, que gostava de fazer passar para o nosso país. Não sei se é novidade para si mas aqui vai:

Nos EUA há rankings para todos os gostos. O ensino superior (tanto licenciaturas como mestrados) não é excepção. Aquando do processo de candidatura, o aluno tem acesso a indicadores importantes como a taxa de empregabilidade no final ou após 6 meses do curso, a remuneração média dos ex-alunos 1 ou 5 anos depois do curso, a classificação dos professores da universidade por uma “pool” de empresas e alunos, etc. Mas a coisa não fica por aqui. Também serve para fazer o “marketing fácil” das escolas, e rankings das melhores festas ou melhores “females” também surgem.


Resumindo, é a economia de mercado a funcionar. Não deve haver melhor forma de fazer marketing de angariação de estudantes do que provar que, em média, um ex-aluno da escola XPTO tem 95% de probabilidade de ter emprego 1 mês depois de acabar o curso, com uma remuneração média anual de 30,000 dollars.

Mas o meu ponto não está relacionado com marketing universitário. Como é do senso comum, não há mercados sem informação. O mercado do trabalho não é excepção. Não será injusto que um estudante português, aos 18 anos, indeciso entre ser advogado ou gestor, não tenha acesso ao impacto financeiro da sua decisão? Ou melhor ainda, não será injusto, que o mesmo aluno, indeciso entre duas escolas de gestão, não saiba (e é que não sabe mesmo!) qual a melhor escola, com melhores colocações profissionais? E então o aluno que depois de 4 anos investidos numa qualquer escola privada, dá por si com um canudo que conduz ao desemprego ou a um salário miserável? Será que isto está relacionado com o crescimento do desemprego entre recém-licenciados, num contexto de redução do desemprego global? A mim, parece-me que sim.

Os benefícios são evidentes: (1) promove-se um ajuste entre as profissões com mais procura na nossa economia e a oferta de recém licenciados e (2) promove uma saudável competição entre as faculdades pelos melhores alunos – que só pode conduzir a melhor ensino superior.

Os rankings que ouço falar em Portugal, para além de pouca divulgação, são de carácter meramente científico. São extremamente importantes, não duvido, mas tenho a certeza, e lembro-me bem, que no desespero dos 18 anos, saber que determinada escola publicou 1800 “papers” nos últimos 5 anos ou que 85% do corpo docente tem um doutoramento, está longe, muito longe, de ajudar à decisão.

(Luís Vicente)
 


COISAS DA SÁBADO: AS FÉRIAS

Camp de la Paix, Foyer du campeur http://www.oprimeirodejaneiro.pt/up/artigos-bin_imagem_1_jpg_0000843001153087516-527.jpg

As férias, tais como as conhecemos, são um fenómeno muito recente. As férias para as massas, digamos assim, datam das primeiras semanas de lazer pago da Frente Popular francesa, nos idos anos trinta, em consonância aliás com as diferentes versões da “alegria no trabalho” de raiz fascista e nacional-socialista. Tornaram-se desde então num “direito adquirido”, mais de alguns do que de todos, mas mesmo assim com dimensão e tempo suficiente para moldar o quotidiano em particular dos países europeus.

Mas as férias são um interessante revelador sobre a irracionalidade das sociedades do “modelo social”, tanto mais evidente quanto esse modelo está em crise. O aparente “fecho” de todas as actividades gera a ideia que elas estiveram efectivamente fechadas e que “reabrem”. Em política, o Verão é excelente para actuar sem escrutínio.

Depois, como as férias são cada vez mais cansativas, o regresso a casa aumenta a irritação. O país de onde se saiu para a transumância estival é o mesmo no outono, mas parece sempre muito pior. Não há esperança de, mês após mês, escapar dos horários, das filas de trânsito, dos maus transportes, das cidades inviáveis, dos trabalhos para pôr os meninos na escola, e, por último, mas não o menos importante, o dinheiro encolheu muito. O que foi empréstimo feliz para ir para férias, torna-se agora dívida para pagar. As férias do “modelo social” tornaram-se demasiado pesadas, vem-se delas muito zangado com o mundo, a começar pelo governo. Em política, o Outono é péssimo.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LOULÉ, PORTUGAL



Trabalhos de recuperação do Mercado de Loulé.

(Lilian Moura)
 


EARLY MORNING BLOGS

845 - The battle / They must lose

Enter, breath;
Breath, slip out;
Blood, be channeled,
And wind about.
O, blessed breath and blood which strive
To keep this body of mine alive!
O gallant breath and blood
Which choose
To wage the battle
They must lose.

(Ogden Nash)

*

Bom dia!

19.8.06
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS

 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 19 de Agosto de 2006


A melhor maneira de entender o Diário de Notícias é ler o french kissin'.

*

A ERA DOS ENGRAÇADINHOS. Enquanto os baby boomers se agarram aos anos terminais do seu poder (veja-se o Público de hoje), os seus filhos da "geração rasca" deram origem a uma era dos engraçadinhos. Ser engraçadinho está muito bem representado nos blogues, e vai a par com os Morangos, a Floribela e a nova Gente, no modo actual de ser leve e fácil e borbulhante e popular.

*

Lendo a imprensa impressiona como é cada vez mais forte o derrotismo puro, em versões brutas ou sofisticadas, mas derrotismo. Não sou particularmente optimista por sistema, bem pelo contrário, não costumo tomar os meus desejos por realidades, mas também não gosto de dar a pele quando querem tirar-ma e o espantoso é que mil e uma variantes do better red than dead circulam por aí. A forma mais peculiar do derrotismo é a de achar que tudo está mal, mas também não há nenhuma receita para ficar bem. Os que agem (EUA, Reino Unido, Israel) fazem tudo mal e só agravam o problema; os que não agem (França. UE, “comunidade internacional”, ONU) fazem também tudo mal porque não agem. Bem faz o Irão, o Hezbollah, a Al Qaida, o Hamas, e, numa versão mais caseira, os émulos de Zapatero.

Isto vai durar sempre? As minhas últimas reservas de optimismo alimentam debilmente a esperança de que não, em grande parte por um argumento ad terrorem: as coisas ainda vão piorar muito, muito mesmo, e pode ser que a catástrofe possa ser salvadora. Não é garantido, mas é uma esperança. Entretanto a tribo dos últimos moicanos continuará a ser dos últimos moicanos. Até ao último.

*

De facto, caso se estivesse a compor um guião ou um argumento acerca do fim da Civilização do Ocidente, ou um daqueles livros de teorias conspirativas estilo Dan Brown, não faltariam acontecimentos onde se poderia buscar inspiração.
O problema é que estamos a viver uma realidade nada auspiciosa para a Democracia Ocidental, os Direitos Humanos e todas as conquistas do Humanismo .Afinal a história não tinha mesmo acabado com a queda do muro de Berlim e não estamos num filme.
A perda de valores, de convicções, de determinação, o relativismo, os ódios ideológicos entre uma Direita muda e uma Esquerda órfã , a terciarização das economias Ocidentais, o hedonismo, são sinais preocupantes .Afinal o perigo não está perfeitamente assumido e apercebido. Para uns são o dito terrorismo global inspirado em leituras distorcidas do Corão e a proliferação nuclear, para outros no Ocidente é o EUA e o Presidente Bush. Esta divisão é muito acentuada, e aparentemente inconciliável .Ao contrário do que espera, não creio que o continuar dos atentados vá consolidar uma oposição una e firme. Acho que as recriminações e as acusações ficarão em casa, com todas as justificações mirabolantes. A lassidão e tibieza prosseguirá, e só se espera que não dê em novos Muniques e Sudetas.Mas os tempos são outros.
Cedências em nome do relativismo e do politicamente correcto ocorrem em todo o Ocidente, a complacência com que se observa a violação dos mais elementares direitos , o relativismo em nome de um derrotismo multiculturalista não são bons sinais. A falta de objectividade dos políticos, a parcialidade da imprensa .O medo de confrontar o outro por receio de ofender .
Os tempos não são nada auspiciosos. Juntemos o proselitismo, a baixa geral de natalidade no Ocidente, a alta pressão da emigração, as tensões internas daí resultantes no pressuposto e erróneo conflito direita-esquerda, a forte natalidade das comunidades emigrantes, a sua forte identidade aos costumes e suas leis de origem que consideram essenciais, a falta de referências de segundas gerações, e temos um caldo de cultura muito perigoso.
Um novo fascismo se aproxima, e este utilizará o sistema de um homem um voto em seu proveito. A História deveria levar os povos a pensar. Nunca as portas de Roma estiveram tão perto de voltar a cair.

(António Carrilho)
 


EARLY MORNING BLOGS

844 - AUTRE MORALITE

C'est sans doute un grand avantage,
D'avoir de l'esprit, du courage,
De la naissance, du bon sens,
Et d'autres semblables talents,
Qu'on reçoit du Ciel en partage;
Mais vous aurez beau les avoir,
Pour votre avancement ce seront choses vaines,
Si vous n'avez, pour les faire valoir,
Ou des parrains ou des marraines.

(Charles Perrault,Contes, "moralidade" do "Cendrillon ou la petite pantoufle de verre". )

*

Bom dia!

18.8.06
 


COISAS DA SÁBADO:

QUEM “GANHOU” A GUERRA ENTRE ISRAEL E O HEZBOLLAH?

É cedo para se saber, mas Israel é o melhor candidato para uma resposta positiva. E no entanto… vai tudo depender do modo como for aplicada a resolução da ONU, em particular do modo como for constituída a força internacional que controlará o sul do Líbano e o modo como esta actuará. E o dilema é bastante simples: ou essa força impede os ataques contra o território de Israel e favorece um diálogo para a paz, enfraquecendo a actuação dos grupos que pretendem exterminar Israel, ou constituirá um falhanço da ONU e da “comunidade internacional”. Tudo indica que poderá verificar-se a segunda hipótese, o que levará Israel à guerra de novo, mas há sérias razões para dar uma última oportunidade a um maior envolvimento internacional, em particular europeu.

Se a França for o principal país a assumir as responsabilidades de segurança no Sul do Líbano, na base do mandato da ONU, pode ser uma rara oportunidade para a França (e por interposta França para a UE) assumir um papel positivo na região, onde só tem tido um papel muito negativo, em particular pelas ambiguidades da sua política face ao conflito iraquiano. Mas convém não ter ilusões, o mandato das tropas da ONU só será eficaz se estas estiverem dispostas a actuar militarmente contra quem tomar a iniciativa de violar o cessar-fogo, e isso vai significar agir contra o Hezbollah. Em bom rigor, também significaria agir contra Israel, mas parece-me pouco provável que o problema seja essa, pelo menos em teoria. Na prática, situações complexas podem surgir, em particular porque Israel aceita a resolução com ressalva do direito de resposta, o que significa uma ainda maior responsabilidade para a força de interposição, que pode vir a ser apanhada entre dois fogos. Mas a política e a acção militar no Médio Oriente não é para meninos de coro, pelo que se espera que quem se mete, saiba no que se mete.

A força militar, cuja presença no Sul do Líbano é que dá consistência à resolução da ONU, terá também a difícil tarefa de impedir que o Hezbollah actue nessa zona como um grupo armado, ou seja, que se comporte como uma milícia que não responde ao governo libanês e que desenvolve actividades bélicas por conta de outrém, seja ofensivas, seja preparatórias da ofensiva. A experiência mostrou que no passado o Hezbollah debaixo dos olhos da ONU, em violação das suas resoluções e à revelia de qualquer autoridade soberana nacional do governo libanês, foi construindo uma infra-estrutura militar, centros de comando, rampas de lançamento, túneis, bunkers, toda a parafernália que lhe permitiu defrontar Israel no actual conflito e que levou uma destruição considerável do tecido urbano desde Beirute para o sul.

Se Israel permitir que diante dos seus olhos, a força de interposição faça de conta que estas actividades militares do Hezbollah não são de sua responsabilidade evitar, então esta guerra foi inútil e Israel perdeu-a. Ao aceitar a resolução da ONU, Israel jogou em factores que têm considerável imprevisibilidade, mas têm também uma lógica de futuro. Tinha de facto sentido neste momento dar à comunidade internacional, eufemismo para uma parte da União Europeia, uma oportunidade de se envolver nos conflitos do Médio Oriente, nem que seja para ter uma prova de vida e receber um banho de realidade. Não é mal jogado, porque isso pode levar ao isolamento do Irão e da Síria, e do seu grupo armado, o Hezbollah, ao aumentar o número de participantes activos no conflito que inevitavelmente entrarão em conflito com os grupos terroristas. Mas nem por isso deixa de ter elementos de jogo, risco.

Vamos pois adiar a resposta à pergunta de quem “ganhou”. Tem sentido a pergunta? Claro que tem, não se anda a morrer e a matar para ficar na mesma ou pior, e isso é válido tanto para Israel como para o Hezbollah. Ambos pagaram um preço pela situação actual, que não é a mesmade antes da guerra. Vamos pois esperar para ver e deixemos para os propagandistas os gritos de vitória já.

*
(Sem acentos) Quando se fala de Israel, e da sua continua luta pela sobrevivencia, estas intervencoes nao sao guerras mas sim batalhas, cujo fim esta longe de qualquer solucao. Como se diz por ai, Israel tem neste momento a populacao simbolica de 6 milhoes de habitantes, dos quias 2 milhoes sao Arabes. Este facto nao tem passado despercebido na comunicacao social do Medio Oriente, habitualmente de forma "ironica". Falr da relacao Israel/Europa implica remoer 2,000 anos de historia e fazer uma profunda analise dos ultimos 150 anos que levaram a criacao do Estado de Israel. A actual Russia, nessa altura Uniao Sovietica e primeiro estado a reconhecer Israel, tera um papel fulcral como teve nos acontecimentos que levaram a criacao desse mesmo estado. Espanta-me (ou talvez nao) a violencia com que grupos de bem pensantes, tanto criticam Israel, mas nao questionam sequer a criacao, pelos seus termos tambem arbitraria de tantos outros paises desde 1947. As proprias fronteiras de paises vizinhos podem ser alvo de questionamento assim como a criacao do Bangladesh, do Pakistao, enfim de tantos outros "estados" recortados pelos diferentes poderes colonialistas. Porque esta anonimosidade perante Israel? Continuo a nao questionar que e uma nva forma de anti semitismo.
A tragedia disto tudo e que mais uma vez, os judeus se encontram num novo ghetto, rodeados de hostilidade e obrigados a construirem muros para proteccao. Um pouco como acontecia em partes da Europa. E nao acredito na completa e perpetua seguranca da Diaspora Americana.

Quanto a Voltaire, assumido anti semita, escrevendo o seu play "Mahomed ou le Fanatism", embora o seu alvo directo nao fosse o Islamismo, mas sim o Cristianismo nas suas formas fanaticas, nao deixa de falar umas quantas verdades.
Reitero, o Islao nao e uma religiao de paz e embora algumas faccoes refiram a "jihad", como o luta interna que todos nos travamos, nao e essa a interpretacao que actualmente e geralmente lhe e dada.

Mas sem me alongar e voltando ao inicio, esta foi senao uma menor batalha, numa continua guerra pelo exterminio do povo judeu, cuja presenca no Medio Oriente tem tanta logica como qualquer a de qualquer outro grupo semita.Ou seja toda a logica!

Manuela Mage, Denver, CO

*


Parece-me bem que Vasco Pulido Valente tem razão ao considerar que foi o Hezbollah.
Volta tudo à estaca zero, ou seja, à situação anterior ao rapto dos soldados israelitas pelo Hezbollah. Com a diferença do enorme prestígio que o Hezbollah ganhou, e a prova da ineficácia da estratégia militar de Israel – os seus tanques serão bons contra outros tanques ou contra a intifada civil, mas “patos” para tiro ao alvo dos mísseis teleguiados guardáveis numa caixinha e disparáveis por 2 militantes à civil de um pequeno espaço num edifício em ruínas. E os ataques aéreos de precisão parecem não funcionar contra uma organização que sabe estruturar-se na clandestinidade e que conhece os princípios do movimento entre populações como “peixe na água”. E mais ainda, contra uma organização que sabe, pela primeira vez entre os islamitas radicais, usar a TV e dar uma imagem de moderação e aparente gosto pela paz que acerta em cheio no gosto dos expectadores ocidentais.
Parece-me, com efeito, que Israel encontrou o seu Ho Chi Minh!
A longo prazo, no entanto, a solução não deixará de envolver os europeus na guerra em curso, o que talvez suscite mais ataques da Al Queda no local ou na Europa, e com isso se vá desesperando mais os eleitorados europeus, predispondo-os para uma maior intransigência.
Tudo isto, entretanto, evoca a memória de que as cruzadas duraram duzentos anos e que por este caminho esta procissão ainda vai no adro...

(Pinto de Sá)
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: PAISAGENS EXTRA-TERRESTRES


Jactos de dióxido de carbono no Polo Sul marciano. Marte move-se!
 


EARLY MORNING BLOGS
843 - De l'horrible danger de la lecture




(Voltaire)

*
Bom dia!

17.8.06
 


INTENDÊNCIA

Em actualização os ESTUDOS SOBRE COMUNISMO, com a publicação da carta de adesão de José Carlos Rates, fundador e primeiro secretário-geral do PCP, à União Nacional em 1931.

 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Na última oficina em Portugal que faz caixas para relógios, uma empresa centenária instalada numa cave da baixa do Porto. Verdadeira arqueologia industrial.

(Fernando Correia de Oliveira)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 17 de Agosto de 2006 (2ª série)


Quem ouvisse o telejornal das 20 horas da RTP, ficava a pensar que Marcello Caetano foi um benigno professor de Direito, que teve a infelicidade de o 25 de Abril lhe ter cortado uma carreira ao serviço dos portugueses, cujo bem estar ele mais que tudo desejava. Dizer-se de um homem que fez a sua formação política nos anos do autoritarismo que não desejava o "poder", é apenas um exemplo do absurdo de toda a peça jornalística. Duvido que o próprio se revisse na visão wishy-washy que uma mistura de ignorância e de revisionismo histórico dá da sua vida e carreira.

*
A propósito do centenário de Marcello Caetano, até mesmo a entrevista com Fernando Rosas, no Jornal das 9, na SIC Notícias, a achei uma amena cavaqueira sobre os méritos e bloqueios com que o ex-Presidente do Conselho se deparou nos seus 6 anos de magistério. A certa altura, perguntei-me mesmo se a vítima era afinal ele e não os portugueses sem direito a voto, sem liberdade de expressão e policiados pela PIDE (ainda que rebaptizada).

Ao ver as diferentes peças que sobre o tema os diferentes canais nos foram apresentando, fiquei com a ideia de que a fatalidade de Marcello Caetano se resumiu à impossibilidade de acabar com a guerra colonial, porque em tudo o mais Marcello Caetano seria um liberal apostado em mudar o regime. Permitam-me apreciar a questão ao contrário. A incapacidade de acabar com a guerra colonial era apenas o sintoma mais trágico da incapacidade do regime se reformar, se extinguir a si próprio e encontrar uma qualquer forma de transição para uma nova realidade política.

Pensar que sem guerra colonial, a Primavera Marcelista teria gerado um regime democrático (eventualmente melhor que o actual, ler-se-à nas entrelinhas) dá boa ficção histórica. Pior do que isso é colocar-se a hipótese de que uma versão light do Estado Novo seria preferivel ao que temos actualmente. Se tudo isto andou ontem no ar, espero que se mantenha evaporado nas altas camadas da nossa atmosfera mental.

(Mário Almeida)

*

Deixe-me contar-lhe apenas a minha visão dessas notícias da RTP, eu que sou um jovem de 23 anos e portanto, não assisti a nada do 25 de Abril "em directo". Vi o telejornal, depois tive curiosidade em ouvir a entrevista com a filha de Marcello Caetano, depois vi ainda o documentário que se seguiu. Quando dei por mim, quase estava a ter pena do homem. Felizmente pus um travão na minha mente e consegui pensar exactamente como o sr.: "Espera lá, mas então ele não cresceu politicamente naquela altura? Ele podia ter-se oposto às ideias salazaristas".

Será que me podia dar uma teoria sua para a RTP ter orientado as notícias daquela forma? Quem não conhecesse história de Portugal e assistisse àquilo tudo pensaria concerteza que se estava a homenagear uma grande figura, adorada por todos nós, que teve "azar".

(Hugo Tavares)

*

A evocação "soft" do centenário do nascimento de Marcello Caetano e as peças jornalisticas superficiais que, a propósito desta efeméride, foram sendo produzidas nos diversos orgãos de informação só reforçam um facto para mim inquestionável: a evidente perda de memória histórica da sociedade portuguesa, por si bastante mais perigosa do que um qualquer tipo de revisionismo histórico. É paradoxal que um país com uma história tão rica tenha ao mesmo tempo um problema tão grande na defesa da sua memória não conseguindo "inscrever" os acontecimentos do quotidiano nem ter uma relação traquila com a sua história - oscilando entre a celebração heróica de um passado triufante e a negação absoluta das faces negras da sua história.

Pior do que alterar a história é ignorá-la.

(Jorge Lopes)
 


QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES:
COMPORTAMENTOS DE SALÃO DE BAILE





de .
 


RETRATOS DO TRABALHO EM FÃO, PORTUGAL



As imagens mostram o trabalho de operários na velha e encerrada ponte de Fão (nacional 13, Esposende).

(Luís Miguel Reino)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 17 de Agosto de 2006


Uma observação ainda muito impressionista, mas que justificava um estudo mais detalhado: os jornais e revistas, por ordem de proximidade, da blogosfera são o Diário de Notícias, o 24 Horas, o Público, o Correio da Manhã, o Expresso, a Sábado e a Visão. Essa ordem de proximidade é vista da blogosfera para os jornais e revistas e não vice-versa (o que implicava outro estudo), em função dos temas, citações, influência do conteúdo dos blogues na agenda dos jornais. De qualquer modo, o lugar do Diário de Notícias parece-me indesmentível e, embora nem sempre os jornalistas reconheçam o que devem aos blogues, é também o mais transparente nessa relação, o que é um mérito.

*

BLOGOSFERA CONTRA PROMESSOSFERA

Repito a pergunta do BLOGUITICA : "O que é feito do Projecto MIT?". Secundo também o apelo, que mais do que apelo é exigência cívica, de que está na altura da imprensa fazer um balanço sobre os anúncios de projectos e obras, anúncios de investimentos e outras promessas cujo tempo de realização, ou o início de concretização já deviam ser do domínio da atmosfera e não da promessosfera. É porque se não for assim tornam-se cúmplices na propaganda governamental.
Recentemente, perguntei porque é que não é possível usufruir do magnífico jardim da Biblioteca das Galveias - que tem sombras, bancos, mesas e cadeiras, além de que as portas que lhe dão acesso até estão escancaradas. A resposta foi que «o assunto já está a ser tratado».

Também quis saber porque é que não há, nos transportes públicos, locais próprios para depositar os jornais gratuitos que, depois de lidos, vão quase sempre parar ao chão. A resposta foi que «o assunto já está a ser tratado».

Em tempos, perguntei a um agente da BT da PSP porque é que as autoridades não reprimem eficazmente os carros que atafulham os passeios por onde eu gostaria de circular. A resposta foi que «o assunto já está a ser tratado».

Como essa resposta é válida para todas as perguntas que faço, suponho que o Projecto MIT também já está a ser tratado.

(C. Medina Ribeiro)
*

Se a informação do Diário de Notícias é de fonte segura, o Governo faz bem em tomar esta posição, a mesma que aqui se defendeu em tempo útil:
"O Governo recusa intromissões do Parlamento Europeu na definição da sua política, nomeadamente no capítulo da defesa e dos negócios estrangeiros. Com base neste princípio, prepara-se para recusar informações aos eurodeputados que investigam "o envolvimento e a cumplicidade" de Estados membros da União Europeia numa série de alegadas actividades ilegais da CIA no Velho Continente a pretexto do combate aos terroristas islâmicos."
 


RETRATOS DO TRABALHO EM AVEIRO, PORTUGAL



Oleiro em actividade na FARAV 2006 (Feira de Artesanato de Aveiro).

(Paulo Cardoso)
 


EARLY MORNING BLOGS
842 - Poema do jornal

O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensangüentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A polícia dissolve o meeting.
A pena escreve.

Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.

( Carlos Drummond de Andrade)

*

Bom dia!

15.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM MONCHIQUE, PORTUGAL



O Algarve no Verão serve banhistas veraneantes. Também há os que trabalham. Passei de carro e tirei a foto. Pergunto-me: o que faz este senhor e o seu burro? No limiar da fantasia acho que posa para fotos de turistas e se assim for arrependo-me de não o ter remunerado. Aqui fica, em forma de reconhecimento.

(Humberto Bernardo)

Resposta: o senhor posa mesmo para turistas (ele, o burro e os turistas que quiserem); há muitos anos que está na quele lugar (a poucos quilómetros de onde moram os meus pais; desde criança que me habituei a vê-lo lá)

(António Manuel Venda)
 


AS VÁRIAS COISAS QUE ESTÃO A ARDER
[2ª série]



É perfeitamente notório que a estratégia comunicacional do Governo nesta época de fogos está a revelar-se eficaz. Já a realidade da devastação que se assiste não tem paralelo com as promessas que antecederam a época dos fogos. Perante tal realidade eis que o nosso ministro mais intocável do Governo, estatuto que ainda o vai levar bem longe, tira novamente da cartola o bode expiatório da falta de limpeza das matas, á semelhança do ocorrido o ano passado , com o beneplácido do á data urbano-citadino presidente Sampaio. E então verificamos que não são aqueles incautos e irresponsáveis milhares de pequenos proprietários , mas também o Estado “os responsáveis”, como se pudéssemos afirmar peremptoriamente que aí está o cerne do problema.

Ora nem a floresta é um jardim ordenado, e circunscrito a fileiras de arvores militarmente dispostas em filas, nem a fauna e flora restante sobreviveria á uma tal disposição de jardim artificial.Ou seja , ou se mantém alguma veracidade no que é uma floresta , ou então de floresta não terá nada.

Quero dizer com isto, que ou se aposta na vigilância das matas a sério , ou vale mais desistir e entregar a gestão florestal , como parece ser a tendência actual , subliminar, mas latente, ás ditas sociedades de gestão florestal, ( cujos accionistas já estamos a adivinhar quem são) as quais forçosamente nos darão um ambiente de jardim catalogado e inventariado.Pergunta-se, e depois qual seria o problema ?

Bom , na tendência actual em que o País caminha , nenhum. Afinal não se está a desfigurar as zonas naturais no sentido de fomentar o abandono da actividade agrícola em deterimento das novas “oportunidades” como os parques éolicos, os resorts , o turismo ruralóide de televisão ? Não é este o modelo para o qual Alquevas são reformulados, Otas devem ser construídas, e TGVs instalados ? Afinal não é verdade que quem está a mais no interior são os velhos e os pinheiros e eucaliptos ?

Se o modelo de desenvolvimento futuro é este do turismo, das novas energias vale mais virem todos para o litoral para casa dos filhos que estão a pagar casas á Banca a 40 anos.Deixem os montes do Algarve, as planuras Alentejanas, as quintas do Douro, há por aí muita gentinha para as vender.

Podemos ainda manter aquelas produçõeszitas DOC e Certificadas tão do gostos da telejornalada e do turista europeu, as quais se pagam bem acima do seu real valor.Um País assim tem grande futuro.Afinal é o nosso Petróleo verde , de campos de golfe e toalhinha na mão.

(António Carrilho)

*

Há algum tempo, ainda antes da chamada "época de fogos", vieram a público uns senhores garantir que algumas corporações de bombeiros poderiam recusar-se a actuar fora das suas áreas específicas. Não me recordo das razões que invocavam, mas ficou-me na memória o facto de essa ameaça prefigurar uma situação totalmente simétrica da que nos é mostrada em «Os Gangues de Nova Iorque» - um filme muito violento onde, a dada altura, o realizador introduziu um episódio cómico para amenizar o excessivo dramatismo:

Quando uma corporação de bombeiros se prepara para combater um incêndio num edifício, aparece uma outra a disputar-lhe o trabalho... e descamba tudo numa monumental cena de pancadaria. Para que a comicidade seja perfeitamente conseguida, a cena prossegue com as chamas a consumirem tudo até aos alicerces... enquanto os soldados-da-paz (?), felizes e contentes, se entretêm a agredir-se mutuamente.

Na plateia, é claro, a assistência delira com o absurdo da cena - e descomprime da tensão acumulada.

Ah! Assim pudéssemos nós rir, com um riso aberto e inocente, de rábulas verídicas como a que no início se refere, bem como da falta de sintonia (passe o eufemismo...) entre os Ministérios da Administração Interna, da Agricultura e do Ambiente a propósito do estado actual das nossas florestas que continuam, ano após ano, impreparadas para enfrentar os fogos!

(C. Medina Ribeiro)

*

É a segunda vez que lança o tema. A primeira tinha o assunto remetido para este título FOGOS, BALDES E BALDAS. Lança agora o debate sobre o tema em epígrafe.
Independentemente da justeza do debate, das justas críticas ao governo e a todos os outros que consciente ou inconscientemente colaboram nesta desgraça e das muito doutas e sapientes opiniões de Francisco M. Figueiredo, Pedro Almeida Vieira e outros que mais para frente se ouvirão parece-me um bocado demagógico lançar agora o tema.
No mesmo sentido do provérbio espanhol que na minha anterior intervenção citei (os fogos apagam-se no Inverno) porque não lançar o tema por exemplo em Janeiro?
E não nos preocupemos porque a imprensa (vide a caixa do Correio da Manhã de hoje) já escolheu o próximo assunto. Amanhã abre a caça ás espécies migratórias e passa a estar na ordem do dia a Gripe das Aves (mesmo assim com caixa alta).

Os fogos deixam de existir na televisão, na cabeça das pessoas e dos jornalistas e, em breve, veremos os repórteres a correrem (razão têm os Adiafa a propósito dos foguetes) na tonteria habitual atrás do último Pato ou da última Galinhola abatida perguntando em directo aos caçadores se não têm medo do bicho estar infectado.
Acho que tem(os) obrigação de fazer melhor.

(Fernando Frazão)

*

1 - No seu balanço dos fogos florestais a meio de Agosto, o ministro António Costa aludiu por alto à questão que tratei na m/ anterior intervenção: a expansão incontrolada dos espaços urbanos para junto das áreas florestais. Fê-lo, porém, em tom de mero lamento, sem perspectivar solução para o problema. Não me pareceu que, entretanto, tenha aludido à não menos incontrolada expansão do eucalipto e à extinção desregrada das espécies autóctones (tomou-se o eucalipto de ponta, mas o pinheiro também tem que se lhe diga...).

Apesar do que referi no anterior texto, o facto é que, para o ordenamento urbanístico ainda vai havendo algumas regras, que uma ou outra Câmara Municipal vão tentando levar com mais ou menos rigor. Mas para o ordenamento agrícola e florestal é que parece não haver praticamente rei nem roque. Aparecem extensões enormes de novas plantações, em muitos casos financiadas por fundos públicos, sem que as autarquias sejam consultadas. E no entanto trata-se de questões relevantes do ordenamento do território.

A verdade é que existem capelas intocáveis, cada instituição tem (quando tem...) apenas a visão estreita dos parâmetros de ordenamento do seu sector, que não coordena com os outros, as coisas passam-se em circuito fechado, ai de quem se intrometa!
Estão actualmente a ser elaborados pelas CCDR´s os Planos Regionais do Ordenamento do Território (PROT): é uma boa oportunidade para colocar ordem nestas matérias e rigor e exigência nestas instituições.

2 - Um erro estratégico na concepção do modelo de prevenção dos fogos florestais foi ter apostado na limpeza coerciva das matas. Pelas razões que são sobejamente conhecidas, nas actuais circunstâncias (e então nos meios rurais...) as pessoas estão-se nas tintas para as ameaças, e só mandarão limpar as suas matas quando isso voltar a ter vantagem económica. Ora, esse potencial económico está bem à vista: o que está nas matas com abundância, e que as matas reproduzem regularmente, é biomassa, susceptível de ser transformada em energia.
Sejamos construtivos: é capaz de valer a pena investir em centrais eléctricas de biomassa, disseminadas pelo país, uma por cada dois distritos ou assim.

Isso geraria a criação de pequenas empresas recolectoras e transportadoras da biomassa, postos de trabalho, receita para os donos das matas, limpeza assegurada, menos condições para a propagação do fogo, etc. Esta ideia, aliás, não é novidade nenhuma, custa entender porque é que, depois de tantos anos de incêndios, não vai para a frente.

Suponho que haverá já quem exclame: é o lóbi do sector energético que ateia os incêndios para evidenciar a necessidade dessas centrais de biomassa! Lóbis haverá muitos, e então no sector das várias alternativas de produção de energia... calculo: ele é o vento, ele é o urânio, ele são as mini-hídricas, são os produtores convencionais, são os distribuidores tradicionais, são os negócios da importação de energia...

Mas que não seja por isso que, sem reflectir, se ponha de parte a hipótese da biomassa, até porque essa, parece-me, teria adesão popular por distribuir amplamente receitas da venda da matéria prima, e por, a prazo, abrandar os incêndios.

3 – Houve erros, é certo, mas neste momento já não parece muito relevante discutir as responsabilidades dos sucessivos governos (que aliás são também de todos nós, dos nossos pequenos egoísmos, etc.) Relevante é que, mais que os anteriores, o actual Governo está politicamente em óptimas condições para levar estes assuntos a (p)eito.

A elaboração dos PROT, que referi acima, é uma excelente oportunidade e uma óptima instância para fazer as necessárias reflexões e tomar medidas concretas sobre todas as questões referidas: coordenação efectiva dos critérios de ordenamento territorial dos diversos sectores da administração pública, mais rigor e exigência contra a dispersão das casas, penalização dos solos urbanizados expectantes, contenção dos investimentos em infraestruturas urbanas, rentabilização efectiva das imensas infraestruturas públicas desperdiçadas, regras e acções eficientes para a gestão cadastral dos solos, proibição efectiva do fraccionamento dos solos rústicos, avaliação séria do aproveitamento do recurso "biomassa", etc.
Pelas especiais condições políticas que nós, os eleitores, lhes outorgámos, espera-se deste Governo, e do Presidente da República, que aprofundem o mais possível a avaliação do fenómeno dos incêndios e, sem contemplações na defesa do interesse público, que mexam a fundo nos problemas do ordenamento do território, na sua racionalização e no aproveitamento real dos seus recursos.

(Joaquim Jordão)

*

No que diz respeito ao seu post sobre os incêndios é caso para dizer, “preso por ter cão e preso por não ter”…
Na verdade, a sua forma de argumentação política, consoante se trate ou não de um ministro ou personalidade da sua simpatia pessoal - e António Costa é, já todos percebemos, um ministro que claramente não gosta – inquina totalmente a discussão. Senão vejamos, quando não se deu importância à chaga económica e social dos incêndios, à mobilização de meios dispersos e complementares, à chamada de profissionais militares e militarizados e ao reforço de meios de acção e combate, nenhum governo pode ser merecedor de censura pública por ausência de políticas eficazes.
Ao contrário, quando um decisor político, neste caso António Costa, faz o que deve, não se resignando com o agravamento desta chaga social e procura reforçar os meios como nunca antes tinha sido feito, mobilizando os profissionais mais capazes, envolvendo as forças de segurança e as forças armadas, ainda que com isso não consiga resolver o problema, a culpa já passa a ser dele ?.

(João Paulo Pedrosa)
 


RETRATOS DO TRABALHO NO RIBATEJO, PORTUGAL



Apanhando legumes (courgettes) em trabalhos agrícolas no Ribatejo (Riachos concelho de Torres Novas, junto ao rio Almonda).
Ao meio dia de sábado, 29 de Julho de 2006, debaixo de um sol tórrido.


(Manuel Ferreira dos Santos)

*
Curioso olhar, ver a fotografia. Várias milheres trabalham debaixo do tal sol implacável. É verdade. Mas o que faz o homem da foto? Controla? Admira? Ou simplesmente faz o que a grande maioria dos homens fazem: Contemplam, sem ver!

(Fortunata de Sá)
 


EARLY MORNING BLOGS
841 - Ité

Go, my songs, seek your praise from the young
and from the intolerant,
Move among the lovers of perfection alone.
Seek ever to stand in the hard Sophoclean light
And take your wounds from it gladly.

(Ezra Pound)

*

Bom dia!

14.8.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 14 de Agosto de 2006


Isabel do Carmo escreve hoje no Público um artigo intitulado "Resposta a Esther Mucznik" com que não concordo nem com uma linha. Mas não é isso que vem ao caso, mas sim a bizarra nota da redacção que foi acrescentada no fim:
NR - O PÚBLICO não alterou a grafia deste texto, designadamente o facto da autora escrever Holocausto com caixa baixa.
Esta agora, então num artigo de opinião o seu autor não pode escrever "holocausto" com minúscula? Usar maiúsculas ou minúsculas, aspas ou outros mecanismos com significado é parte indissociável da liberdade de opinião. Não percebo por que razão escrever "holocausto" em minúscula justifica uma nota da redacção, nem me parece que o Livro de Estilo (que não posso consultar agora, nem sei se se aplica) se sobreponha sobre a intencionalidade valorativa da opinião. De facto, independentemente do artigo de Isabel do Carmo, eu também escolheria escrever "holocausto" e não Holocausto se tivesse percebido o sentido interpretativo e ideológico que lhe dá a redacção do Público que de todo recuso - a transformação do holocausto numa identidade a-histórica impossível de interpretar fora do quadro de uma determinada leitura disfarçada de intangibilidade moral.
 


AS VÁRIAS COISAS QUE ESTÃO A ARDER
[Actualizado]



Os incêndios prestam-se a demagogia, responsabilizando-se com facilidade os governos de culpas que muitas vezes ou lhes são injustamente atribuídas, ou devem ser partilhadas por vários executivos. Nos tempos recentes, últimos dez anos, ninguém fez mais demagogia com os incêndios do que o PS, em particular pela voz de António Costa, em intervenções na Assembleia quando do governo de Durão Barroso. É um facto indesmentível. O PSD e o CDS também caíram algumas vezes em declarações demagógicas mas parecem meninos de coro comparados com a ofensiva que o PS fez sobre os incêndios.


Ontem.

(Nuno Margarido)

Este lastro do passado deve ser lembrado, porque se vive este ano uma situação peculiar que não pode nem deve continuar: se no ano anterior seria insensato culpar o governo da situação dramática dos fogos, agora não tem sentido iludir as suas responsabilidades, na exacta medida em que as tem. Como medimos essa responsabilidade? Pelas declarações feitas pelos membros do governo antes e depois dos incêndios. É por essas declarações, cujo objectivo tem sido essencialmente propaganda das medidas governativas ou desresponsabilização pela sua ineficácia, que se devem pedir contas.

O Ministro da Administração Interna é um dos ministros mais protegidos por alguma comunicação social, independentemente do seu mérito, que o tem, e da sua intuição política e ambições, que as tem. Alguns jornais e televisões deram-lhe títulos e manchetes que nenhum outro ministro teve, sem escrutínio, que pareciam vindas directamente do gabinete do ministro para as redacções. Excelente trabalho dos seus assessores que merecem tudo quanto ganham, mas também resultado das relações de simpatia política que alguns jornalistas próximos dos socialistas têm com o ministro. Com António Costa dá-se um feito que também já se deu com António Vitorino, a “protecção do sucessor”, preservar sempre a imagem da alternativa ao actual poder do PS. É um efeito político que só existe para o PS, mas existe.

Seria, no entanto, injusto limitar a este efeito, o que se passa com Costa e os incêndios. O governo tem beneficiado de uma cobertura jornalística que tem minimizado a importância dos incêndios este ano, e consequentemente, não confronta a realidade com o que foi prometido e anunciado. Parte desta situação vem dos compromissos que a comunicação social, em particular as televisões, assumiram quanto à cobertura dos fogos, corrigindo os excessos do ano passado. Mas, como quase sempre acontece, a correcção do excesso foi desequilibrada e neste ano, a não ser os atingidos pelos incêndios, não há percepção pública da gravidade do que se está a passar. Isso ajuda à desresponsabilização do governo e impede o debate sobre a eficácia das suas medidas e sobre o modo como está a reagir à situação, assumindo uma atitude de de muito mau agoiro para o futuro.

No Abrupto têm sido recebidas muitas colaborações dos leitores sobre os fogos, de que tenho apenas publicado uma pequena parte e evitado as fáceis responsabilizações do governo, que ainda me pareciam prematuras. Agora está aberto o debate.

*

Não sei de quem é culpa mas lavra um incêndio em Arcos de Valdevez há MAIS DE UMA SEMANA... O incêndio consome uma das mais sublimes paisagens do Parque NACIONAL Peneda-Gerês, a única área protegida em Portugal digna desse estatuto (todas as outras são Parques Naturais), no entanto dos holofotes da imprensa pouca voz dão a esta catástrofe. Se calhar é demasiado longe de Lisboa...

(Alberto Fernandes)

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Devo começar por fazer uma 'declaração de interesses': sou neste momento adjunto de um presidente de Câmara, depois de década e meia de jornalismo em Leiria (ou a partir de Leiria...).
Creio que conheço um pouco da realidade, quer através do meu trabalho enquanto jornalista quer agora, mercê das funções que desempenho.

E sem entrar em 'condenações' ou 'absolvições', há algo que desde que acompanho o 'fenómeno' mais de perto muito me faz imensa confusão: por que razão (ou razões) não se investe mais na prevenção/vigilância, quando se conhecem alguns casos de (relativo) sucesso?
Há dois ou três anos (talvez quatro), o então governador civil do Distrito de Leiria teve a iniciativa de mobilizar os militares do Regimento aqui aquartelado para acções de vigilância nas áreas mais florestadas do Distrito. Todos os dias, quatro equipas partiam sem conhecimento antecipado do respectivo itinerário e, durante todo o dia, 'mergulhavam' em pinhais e matas... A campanha foi devidamente divulgada pelos media regionais e o facto é que nesses anos ardeu pouco (e, em alguns casos, o que ardeu foi mais por deficiências de comando dos bombeiros...).
Também desde há três anos, a Câmara Municipal de Leiria, com os agrupamentos de escuteiros e outros voluntários oriundos dos programas do IPJ, montou uma operação de vigilância de todo o território que permite a 'detecção precoce' e o imediato alerta dos bombeiros. É verdade que o ano passado houve uma situação muito complicada (três fogos em pontos distintos e bastante afastados num período de 15 minutos), mas a verdade é que o sistema ajuda a atacar os fogos na fase 'emergente'.

Isto custa dinheiro, é verdade, mas custa muito menos do que o combate que, já se sabe, está condenado ao insucesso: com os meios que Portugal tem, com bombeiros voluntários insuficientemente preparados e equipados, com comandos deficientes e dispersos, com o clima, a orografia e a 'porcaria' em que se tornaram as matas... já se sabe o resultado.
Culpar os proprietários (como agora fez o ministro), as autarquias, o clima e sei lá que mais não resolve coisa alguma. Propagandear o que se vai fazer, muito menos. 'Enterrar' dinheiro em mais meios de combate, pode ser necessário, mas não resolve nada, como se tem visto.
Enquanto os fogos de um ano não começarem a ser combatidos em Setembro do ano anterior... nada feito! Apenas mais uns segundos de fama na televisão, se possível a 'desoras' e com um ar bastante compungido.

(Francisco M. Figueiredo)

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Não me pretendo alongar muito sobre o desafio que lançou no Abrupto sobre um debate em redor dos incêndios florestais - nesse aspecto, escrevi durante meio ano o livro «Portugal: O Vermelho e o Negro», (...), mas gostaria somente de fazer algumas considerações rápidas.

a) Responsabilizar o partido que, conjunturalmente, ocupa o Governo pelos incêndios soa sempre a demagogia. Mas, claro, choca-me ainda mais a forma demagógica (e irresponsável) como estas questões são tratadas pelas classe política. Os problemas são demasiado estruturais e de longo prazo - e aí não se vê nada de concreto, além de legislação, que é cópia da que tem saído desde os tempos de Marcelo Caetano), passando pelo modo como deixámos o mundo rural ao abandono, como se liquidou a agricultura (que permitia a presença de população no interior e funcionava como zona-tampão à progressão dos fogos), como não se incentivou a gestão em espaços florestais descapitalizados, como os PDM permitiram a construção de casas dentro das florestas, como não se faz vigilância (para a detecção rápida dos incêndios), como se permitiu a manutenção do status quo das corporações de bombeiros (com um voluntariado que nos custa muito dinheiro e de eficácia fraca), etc., etc., etc..

Na verdade, perde-se demasiado tempo a tentar identificar responsáveis (mas em Portugal, isso dá em nada...), quando, na verdade, a culpa é de todos os políticos que passaram pelos Governos nas últimas, pelo menos, duas décadas. Isto pode ser visto como uma crítica demagógica, mas não é. Qualquer primeiro-ministro que continue a insistir no actual modelo é culpado por um ano calamitoso de incêndios, independentemente de este ocorrer durante ou após o seu mandato. E isto porque a contabilidade não deve ser vista a curto prazo (um ano pode arder pouco ou muito por razões conjunturais, como a chuva; ou por em anos imediatamente anteriores ter ardido muito e as zonas mais críticas estarem em «pousio», como é o caso deste ano). Permita-me, por outro lado, discordar de se conceder o direito de um Verão de «estado de graça» aos novos Governo. Temos tido demasiadas desgraças por causa desses anos de graça.

b) Quanto à «boa sorte» de António Costa, de facto há um excelente trabalho dos assessores de imprensa, com mais uns pozinhos de manipulação da informação à mistura (o caso mais evidente passa-se com o número de fogos - para ver como, consulte um texto que saiu hoje publicado no DN, da minha autoria) e de aproveitamento de alguns desconhecimento da generalidade dos jornalistas (ardeu 900 mil hectares nos últimos três anos, nas zonas de maior risco e com maior manchas florestal em contínuo; nessas circunstâncias, é quase impossível termos este ano incêndios de mais de 10 mil hectares). Na verdade, a situação é mais grave do que aparenta, pois os maiores incêndios estão a ocorrer em zonas que pouco arderam na última década, o que mostra estar a intensificar-se a «globalização» do fogo em Portugal.

b) A minha opinião sobre a eficácia das medidas deste Governo é de que, para já, se confirmam erros que detectei desde o início e não me admiram os resultados actuais (muito maus...). Por exemplo, na localização das brigadas helitransportadas de primeira intervenção, colocar duas em Sines e em Faro foi um absurdo. Primeiro porque metade da sua área potencial de intervenção é no mar (onde é suposto não haver incêndios); segundo porque, sobretudo no Algarve, não haverá grandes problemas nos próximos 2-3 anos, porque ardeu quase tudo nos últimos três. Onde era preciso, e não havia, era no Alentejo interior (p.ex., na zona da serra de Ossa), onde os rácios de eficácia de primeira intervenção foram, pelo menos no ano passado, deploráveis; ou então nas área protegidas, onde se torna fundamental extinguir os fogos nascentes, sob risco de acontecer os desastres do Parque Nacional da Peneda-Gerês (uma autêntica vergonha...) ou no Parque Natural da serra de Aire e Candeeiros. A estratégia de combate apenas assente na protecção das casas (onde não são feitas limpezas em redor) é também uma das causas para arder tanto em Portugal. É uma auntêntica bola de neve, perigosíssima: salva-se uma casa, continua a arder floresta; continua a arder mais floresta, colocam-se mais casas em perigo. Em suma, temos bombeiros para as casas; não temos para a floresta. (sobre estas questões, o livro aborda uma possível solução...).

De resto, tenho tentado, na medida do possível, dar o meu contributo. Além do livro, tenho acompanhado estas questões no meu blog Estrago da Nação . Lá poderá encontrar alguma informação, eventualmente útil.


(Pedro Almeida Vieira)

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Os fogos de Verão são um exemplo brilhante, pela pior da razões, da forma como quando não queremos nada funciona. Fatalmente este é daqueles casos em que a culpa é de todos. E por isso não é de ninguém. Mas há culpados. Na minha opinião são os responsáveis governamentais. Precisamente aqueles que tendo autoridade para, negaram sempre uma realidade bem real na expectativa que no próximo ano o vento e o calor fossem mais brandos com a nossa tragédia colectiva. Precisamente aqueles que deviam há muito ter tido a coragem para, depois da casa arrombada, colocar trancas na porta. Mas as prioridades políticas deste governo do politicamente correcto e da propaganda política que nos faz acreditar que vivemos no país das maravilhas, ou a caminho dele, estão sempre invertidas. É demasiado fácil culpar os bombeiros. É demasiado fácil culpar os incendiários. É demasiado fácil culpar os proprietários que não fazem a limpeza dos seus terrenos e dos terrenos adjacentes à sua propriedade mesmo não sendo seus. É demasiado fácil culpar o vento e o calor. E todos eles, à primeira vista, têm culpa. Os bombeiros porque são poucos e os poucos que são não servem. Como não servem as latas vermelhas a que chamam «carros de bombeiros» e as ridículas mangueiras de quintal. Os incendiários, por outro lado, são a escumalha sem rosto. Nunca ninguém os viu a não ser em número. E mesmo assim gritam-lhes sentenças de morte em espectáculos de regozijo público propagandeado como a vingança do bem contra o mal. Seguem-se os proprietários. Esses inconsequentes que constróem casas ao pé de árvores. E que não cumprem com os seus deveres na limpeza da mata e dos terrenos adjacentes à sua propriedade porque as Câmaras Municipais não têm nem dinheiro nem pessoal para o fazer. E finalmente o clima. Essa fatalidade dos deuses que não param de nos atazanar. Tudo isto é irónico. E verdadeiro.

O assunto dos fogos é complexo. Vejamos o que falha e porque falha.

1. PREVENÇÃO. A prevenção é aqui um caso bicudo e de difícil operância. Exigir a limpeza das matas não chega. A não ser que o princípio seja cimentá-las. Há um elo muito importante da cadeia que é a vigilância. Terrestre e aérea. Não no sentido de evitar o inevitável, porque o há, mas de actuar com rapidez e eficácia. Não se incendeia uma mata de centenas de hectares em meia dúzia de minutos. A prevenção falha sobretudo porque dá o alerta muito tarde, na maioria dos casos tarde demais. Desconheço o que a lei portuguesa reserva para os incendiários. E falo dos incendiários porque a teoria do vidrinho e do sol não me convencem. Há gente por aí gravemente doente. Em todas as frentes. Do lado de cá e do lado de lá. A comunicação social, involuntariamente, acaba por sustentar o motivo desta gentalha que delira, muito provavelmente no conforto do seu lar, com as magníficas imagens do fogo que consome, que destrói e que mata.

2. LUTA CONTRA O FOGO. Quando o alerta vem tarde demais, a luta contra o fogo torna-se tarefa particularmente difícil. Mais ainda quando os meios materiais e humanos são ineficientes e, na maioria dos casos, ignorantes quanto às formas de luta contra o fogo florestal. É deprimente ver as latas vermelhas de um lado para o outro a transportar homens cansados, exaustos, absolutamente frustrados. Precisamente os mesmos que o ministro, depois dos tempos de cólera, vai agradecer e homenagear em cerimónia pomposa.

Chegamos então à parte do governo. Há, por parte deste, uma posição de fundo que me parece bem clara. Para este governo o património natural representado pela floresta não é uma prioridade. Ele diz que é. Mas não é. Senão vejamos a título de exemplo a mais recente trapalhada política: Nunes Correia, Ministro do Ambiente, afirmou ao Correio da Manhã que «não podemos ter uma econmia predadora das condições naturais, a biodiversidade e a paisagem são um dos principais patrimónios de Portugal». Curiosamente, no dia seguinte o Conselho de Ministros aprovava as alterações à Reserva Ecológica Nacional que vai permitir que os agricultores possam construir casas de habitação em áreas classificadas. O diploma abre também a possibilidade de se realizarem ampliações de empreendimentos turísticos, instalações de aquacultura, plantações de olivais, vinha e pomares, abertura de caminhos e implantação de projectos de energias renováveis. Este swing faz-me suspeitar das intenções do governo mas isso é matéria especulativa. Vamos ao que realmente interessa. E o que realmente interessa é o que o governo deveria ter feito e não fez.

1. É urgente criar um corpo de bombeiros profissionais. A imagem do «soldado da paz» é anacrónica. A luta contra o fogo é tão importante como a manutenção da ordem pública.

2. É urgente criar uma força (porque não militar?) de vigilância capaz de detectar e accionar imediatamente o alerta de fogo e intervir numa primeira frente.

3. É urgente dotar os bombeiros de meios materiais REALMENTE eficazes. Não basta lamentar as inacessibilidades que me parecem óbvias. É necessário um investimento sério em meios aéreos.

4. É urgente assumir a luta contra o fogo florestal como uma prioridade política e de interesse nacional.

Ao fim e ao cabo, é na intervenção que o governo deveria investir. E é na administração interna que o nosso ministro deveria investir. Em detrimento das suas transumâncias imbecis. Não chega rezar pelos tempos de bonança. É preciso agir. Nas várias frentes. E já. Antes que os nossos tempos se tornem tempos da terra queimada.

(Ricardo S. Reis dos Santos )

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Qualquer análise que se faça à actuação de um governo PS, seja qual for a área de actuação governativa, terá de ter sempre em conta esta permissa básica da democracia portuguesa: o PS tem sempre razão.

Sempre que alguém consegue convencer o eleitorado do contrário, lá temos nós o perigo para a democracia, a ditadura da maioria, o cartão laranja, os tenebrosos tráficos de influências, o nepotismo, a incompetência, a insensibilidade social, as políticas de direita, os atentados aos básicos direitos dos cidadãos... e a vaga e difusa impressão de que os eleitores são estúpidos.

Concentrando-me nos incêndios, o resultado deste tipo de interpretação do mundo é simples:

- se o governo for PS, a lei não é cumprida (coisa esotérica esta de a lei não ser cumprida), as pessoas são negligentes na limpeza das matas, as temperaturas são muito elevadas, há muito vento, o vento muda de direcção, quando muda de direcção muda sempre para a pior direcção possível frustrando as medidas tomadas pelo governo no combate aos incêndios...

- se o governo for PSD, a lei não é cumprida porque o governo não quer, as pessoas são vitimas da negligência do governo que não impõe a limpeza das matas, as temperaturas são elevadas, o vento muda de direcção e quando muda muda sempre na pior direcção por incúria do governo que não soube planear a tempo a época de fogos...

Isto aprende-se em qualquer faculdade de jornalismo em Portugal... digo eu.

(Mário Almeida )

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Àcerca do seu post sobre demagogia e incêndios, permita-me que lhe diga o seguinte: O exercício de reflexão é coerente mas o resultado é igual às situações que critica, isto é, pura demagogia. Já é tempo de acabar com este tipo de raciocínio - os da Direita não foram maus mas estes da esquerda são muito piores porque são ... da esquerda. Esse parece ser o seu principal defeito. Já não há muita pachorra para esta conversa, basta pensar um bocadinho para ver que se os da Direita são maus é porque, de facto, quando estão no poder passam o tempo a fazer de conta que fazem alguma coisa e, mal de lá saêm, começam a clamar pelas reformas que não tiveram coragem de fazer. Se o ministro António Costa tem boa imprensa é porque tem algum mérito, pelo menos é assim que o senhor escreve quando o mimnistro é de Direita.

Peço desculpa pela frontalidade mas já começam a passar das marcas estes "comícios" de má disposição só porque temos um governo qué não é da sua côr. Deixe os "comícios" para o Prof. Marcelo, o senhor já nos habituou a muito melhor que isso. E já agora uma sugestão, vá para fora cá dentro, este país que o senhor tanto desdenha tem coisas que valem a pena, mesmo os portugueses nos quais vê tantos defeitos também têm coisas boas. (...) tinha esta atravessada há muito tempo, só criticar pode não ser a melhor ajuda.

(Jorge Silva)

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Não sei quem constrói o Google News Portugal, mas deve ser alguém com experiência na TVI. Ontem a noticia da morte do Bombeiro encontrava-se na secção entretenimento.
Hoje a noticia mantinha-se lá acompanhada por uma outra que relatava o ataque de um Pitbull a uma criança!!!!!! No meio das duas o concerto dos Rollinng Stones.

Estranhos critérios

(Luís Bonifácio)

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Como deve saber, nas últimas 72 horas faleceram dois bombeiros em Portugal.


Na sexta-feira de manhã, a operadora do CDOS de Leiria, Viviana Dionísio, foi encontrada morta no veículo que servia de posto de comando, estacionado perto da frente de incêndios de Porto de Mós, após ter trabalhado mais de 36 horas.

No domingo à tarde, o bombeiro Joel Gomes morreu em consequência de um despiste da viatura de intervenção rápida onde seguia a caminho de um incêndio na serra da Aboboreira.

Ontem, o ministro António Costa declarou "em nove dias, não houve mortos nem feridos graves em combate", frase que, podendo ser tecnicamente verdade, se entendermos que estas duas mortes não ocorreram na frente de fogo, escamoteia completamente a realidade.


(Nuno M. Cabeçadas)
 


EARLY MORNING BLOGS
840 - ... não há ladrões senão onde há que furtar.


A terra é abastada de pastos, e assim como cria o bom, cria o mau. E já ouvi dizer um grande homem que era dado às cousas do outro mundo, falando na povoacão deste terra (que ainda que a vedes assim por partes metida a mato, é de pastores em muita maneira povoada) que esta era uma das maravilhas da natureza, de uma terra mesma nasceram duas tão contrárias uma à outra. E que isto não era só nas alimárias, mas nos homens: que não há maus senão onde há os bons, e não há ladrões senão onde há que furtar.

(Bernardim Ribeiro)

*

Bom dia!

13.8.06
 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: NAPOLEÃO

http://www.powells.com/cgi-bin/imageDB.cgi?isbn=


J Marshall Cornwall, Napoleon as Military Commander

No início da sua expedição ao Egipto, Napoleão mandou distribuir um panfleto em árabe em que dizia que os franceses eram verdadeiros muçulmanos, tinham deposto o Papa, culpado de ter "sempre incitado os cristãos a combater os muçulmanos" e apelava a uma espécie de jihad contra os mamelucos, seus adversários e aliados dos ingleses e turcos. Chamou os imans e colocou-lhes fitinhas tricolores. Vive la France. De facto, nunca é tarde para aprender.
 


EARLY MORNING BLOGS
839 - Icebergs
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Icebergs, sans garde-fou, sans ceinture, où de vieux cormorans
abattus et les âmes des matelots morts récemment viennent s'accouder
aux nuits enchanteresses de l`hyperboréal.

Icebergs, Icebergs, cathédrales sans religion de l'hiver éternel,
enrobés dans la calotte glaciaire de la planète Terre.
Combien hauts, combien purs sont tes bords enfantés par le froid.

Icebergs, Icebergs, dos du Nord-Atlantique, augustes Bouddhas gelés
sur des mers incontemplées. Phares scintillants de la Mort sans issue, le
cri éperdu du silence dure des siècles.

Icebergs, Icebergs, Solitaires sans besoin, des pays bouchés, distants,
et libres de vermine. Parents des îles, parents des sources, comme je
vous vois, comme vous m'êtes familiers...

(Henri Michaux )

*

Bom dia!

12.8.06
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS



Detalhes.

 


A RECUPERAÇÃO DAS IMAGENS

começou a ser feita, com prioridade para os "Retratos do Trabalho". A série é em grande parte constituída por trabalhos dos leitores que merecem toda a consideração pelo seu esforço, até porque iniciativas como esta estão em curso usando o material do Abrupto.

 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER:
KUBRICK COMO FOTÓGRAFO EXISTENCIALISTA

http://images.amazon.com/images/P/0714844381.01.LZZZZZZZ.jpg

O trabalho de Kubrick como fotógrafo é uma descoberta relativamente recente. No final dos anos quarenta, Kubrick trabalhou como fotógrafo da Look, à qual vendia os seus trabalhos sem manter os direitos de autor nem ficar com cópias. O esquecimento do fotógrafo tinha crescido com a sua fama de cineasta. Descobertas no arquivo da revista, agrupadas em séries, como o autor as tinha realizado, as fotografias retratam a América de um modo mais sombrio e cruel do que se podia imaginar nesses anos do pós-guerra. A preto e branco, num tom felliniano, "drama" e "sombras" quanto baste. Foi a fotografia da capa que me fez comprar o livro, um momento e um olhar de medo de cair que quem transportou muitas pilhas de livros por escadas, conhece muito bem. Depois encontrei poucos livros no álbum, a não ser fotos do metropolitano em que se vê muita gente a ler, mas também não era suposto ser um livro sobre livros. Mas quase tudo vale a pena nestes retratos de um mundo essencialmente urbano perdido numa solidão individual, perdido nas imagens quando as pessoas se tornam personae, figuras, traços, sinais numa paisagem em que não há nada para se agarrarem. As fotos de Kubrick são contemporâneas do existencialismo francês do pós-guerra, e mostram como o "espírito do tempo" lavra pelo tempo, pelo mesmo tempo ao mesmo tempo.

 


EARLY MORNING BLOGS
838 - Aubade

The lark now leaves his wat’ry nest,
And climbing shakes his dewy wings.

He takes this window for the East,

And to implore your light he sings
Awake, awake! the morn will never rise
Till she can dress her beauty at your eyes.


The merchant bows unto the seaman’s star,
The ploughman from the sun his season takes,

But still the lover wonders what they are

Who look for day before his mistress wakes.

Awake, awake! break thro’ your veils of lawn!

Then draw your curtains, and begin the dawn!


(William Davenant)

*

Bom dia!

11.8.06
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS


Detalhes.
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 11 de Agosto de 2006


A ler WARNING... no BLOGUITICA. A questão tem todo o sentido, porque, se em matéria de defesa, o governo tem a capacidade de governar nas matérias "habituais" sem droit de regard, em tudo o que seja mais sensível, o PR tem mais do que um direito de "olhar", tem capacidade política para decidir, enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas. Foi o que se viu quando Sampaio impediu a ida de tropas regulares para o Iraque impondo a presença apenas de um contingente da GNR. É um mau precedente por parte do governo, mas pode ser desatenção e incúria que venha a ser corrigida. Mas que foi notada, foi. E bem.

*

No Diário de Notícias, Fernanda Câncio, Assumir a relação :
"As pessoas têm o direito de saber", ouve-se nas rodas de comadres das TV e repete-se em publicações consideradas de "informação geral", em nome, imagine-se, da "democracia". Este "direito de saber" inclui as fotos à traição e à força, "revelações" sobre quem dançou com quem , quem beijou quem, quem fez topless. As regras são simples: é fora de casa, é público; é público, é publicável; quem se mostra uma vez legitima todas as intrusões; quem não se mostra está a esconder algo, logo, legitima todas as intrusões. A indústria tem sempre razão.

Contra isto, nenhum argumento é aceite, nenhuma lei eficaz. Proteste-se ou processe-se e é-se acusado de "falta de transparência", "censura", ou, mais uma vez, "ter algo a esconder". Para esta nova polícia de costumes, preservar é sonegar, recusar "esclarecimentos" é crime. Em poucos anos, aqueles que decorreram desde o triunfo desta inquisição, o que era considerado o cúmulo da vulgaridade - a exposição da intimidade -, passou a norma. Na relação entre o direito à reserva da vida privada, garantido pela Constituição, e o "direito" à intrusão, proclamado pela confederação dos alcoviteiros, ganhou o que vende mais. Perdeu a liberdade, claro."
Há já muitos anos, este tema foi discutido no "Terça à Noite" e lembro-me de me opor a Miguel Sousa Tavares que dizia que "isto" nunca iria acontecer na imprensa portuguesa. Tanto iria que foi mesmo. Um dia que se faça a genealogia desta intrusão obscena na privacidade e intimidade, ver-se-á como tudo começou na "Gente" do Expresso, passou por uma página de "revelações" nunca esclarecida na sua autoria e intenções do Semanário, e depois disseminou-se nas "revistas cor-de-rosa". Isto para que não se pense que começou na imprensa pimba. Não, começou na imprensa "séria".
 


RETRATOS DO TRABALHO EM ÍLHAVO, PORTUGAL



Ílhavo (Praia da Costa Nova do Prado). Esta senhora passou por mim por volta das 11 horas da manhã. Faz a limpeza da praia a horas impróprias, sob um sol abrasador! A vida custa a ganhar! A senhora tem certamente mais de 50 anos! Ainda por cima vestida daquela maneira - imagino o sofrimento!

(Ângelo Eduardo Ferreira)
 


EARLY MORNING BLOGS
837 - Proserpina, Cyane Libro V - vv 385-520

http://www.latein-pagina.de/ovid/pic_ovid_5/proserpina%20krauss%205,7.jpg
Ora, mentre scorrevo per i gorghi dello Stige,
vidi Proserpina, triste ed ancora spaurita
nel volto, ma regina del mondo delle ombre,
ma già sposa potente del re dell'Averno.»
E a questo parole, la madre parve di pietra,
e a lungo rimase stupita, come presa dal fulmine.
Ma quando il dolore vinse la sua grave inerzia,
allora si levò col carro su per l'alto cielo.
E là, cupa in volto, coi capelli sparsi, irata,
ferma davanti a Giove, così disse: «O Giove,
per il sangue mio, ti prego, per il tuo sangue.
Se non hai amore per me, chiedo pietà per la figlia:
invoco il tuo aiuto, anche se nacque da me.
Ho ritrovato la figlia che così a lungo cercai,
se ritrovarla vuol dire sapere d'averla perduta;
se sapere dov'è vuol dire averla trovata.»

(Salvatore Quasimodo, Dalle "Metamarfosi" di Ovidio)

*

Bom dia!

10.8.06
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: PAISAGEM MARCIANA

 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: NAPOLEÃO

http://www.powells.com/cgi-bin/imageDB.cgi?isbn=0141391014


J Marshall Cornwall, Napoleon as Military Commander

O livro, escrito por um militar inglês, tem como tese que Napoleão nunca inovou no plano militar, foi apenas (e este "apenas" não é pouco) um brilhante estudioso da teoria e da história militar e um não menos brilhante comandante no terreno. Por exemplo, nas suas travessias alpinas nas campanhas no norte da actual Itália, Napoleão estudou a passagem dos Alpes por Aníbal.

(Continua)

*
Sobre o seu comentário em relação a Napoleão, o historiador alemão Hans Delbruch (no seu livro "História da Arte da guerra") dissera o mesmo sobre Júlio César, que não inovara mas se limitara a usar a máquina romana ao limite das suas capacidades (e com uma genial capacidade de improvisação).
Inovadores tinham sido Filipe e o seu filho Alexandre da Macedónia, Aníbal e Cipião o Africano.

(Fabiano)
 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL


Engraxador.

(Gil Coelho)
 


PIRATARIA 18







O "ataque" ao outro blogue português é falso. O facto foi comunicado ao Blogger.
 


A GUERRA ...

mesmo que não o queiramos admitir, está em curso.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL



Pintura de uma torre de telecomunicações em Lisboa (zona expo).

(Luís Campos Pinto)
 


PIRATARIA 17


Os ataques ao Abrupto repetiram-se durante a noite, o que já não é , infelizmente, novidade. A novidade é que o "Mike" se chama agora "Pimpinha" e atacou outro blogue português, o Licenciosidades (sem ligação para não haver benefício do infractor), exactamente da mesma forma, e com o mesmo template. Estranho californiano, tão versado em coisas portuguesas, leitor fiel do Abrupto, seguidor das suas notas e dos seus horários... Deve ser uma máquina a actuar ao acaso, como diziam os "técnicos".
 


EARLY MORNING BLOGS
836 - Proserpina, Cyane Libro V - vv 385-520

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Lungo sarebbe dire per quante terre e mari

vagò la dea: non c'era più luogo al mondo
dove ancora cercare. E ritornò in Sicilia,
e andò per tutta l'isola e giunse fino a Ciane,
che certo, se ninfa, le avrebbe detto ogni cosa;
ma non aveva più bocca, né lingua per parlare,
né modo per esprimersi; pure le mostrò un segno:
caduta là, galleggiava sull'acqua
della sorgente la cintura di Proserpina,
nota alla madre. E appena Cerere la vide,
come se allora sapesse la sorte della figlia,
cominciò a strapparsi i capelli e a lungo a battersi il petto.
E ancora non sa dove si trovi la figlia,
e dà colpa a tutta la terra (e la chiama nemica
e indegna del dono delle messi), e più alla Sicilia,
dove vide quel segno, ragione del suo pianto.
E là con mano spietata rompe gli aratri che voltano
le zolle, e con ira dà morte ai coloni ed ai giovenchi,
e vuole i campi sterili, e guasta le sementi.
E si perde la fama della terra siciliana,
dovunque esaltata come fertile; e le messi
muoiono appena verdi, ora perché il sole infuria
pioggia, e avversi sono i venti e le stelle.
E gli uccelli divorano i semi appena sparsi,
e il loglio e l'erbe spinose e la tenace gramigna
frmano il grano che cresce. Allora Aretusa
levò il capo fuori dall'acque dell'Elide
e, gettate le chiome stillanti dalla fronte
dietro le orecchie, così disse: «O madre delle messi,
madre della vergine cercata in ogni luogo, riposa
della lunga fatica, non fare violenza alla terra.
La terra è fedele, non ha colpa, senza volere
si aprì quando veniva rapita Proserpina.
Non prego per la mia terra, sono qui straniera,
io nacqui a Pisa. la mia patria è l'Elide.
Abito la Sicilia come ospite; ma questa terra
mi è cara più d'ogni altra; e per me, Aretusa,
questi sono i Penati, questa la casa, e tu,
dea benigna, difendila. Perché venni in Ortigia
dalla mia terra lungo infinite onde del mare,
dirò a suo tempo, quando avrai meno dolore
e più sereno il volto. Vado per un sentiero
aperto sotto terra e per caverne profonde
sollevo qui il capo e vedo stelle ignote.

(Continua)

(Salvatore Quasimodo, Dalle "Metamarfosi" di Ovidio)

*

Bom dia!
 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Segurança do Metro do Porto.

(Tiago Azevedo Fernandes)

9.8.06
 


PIRATARIA 16

O Blogger afirma que ainda não conseguiu resolver o ataque e continua a "investigar". O Blogger confirma também a perda irreparável das imagens de arquivo:

"(...) In regards to your images, unfortunately we believe they were lost in the process of trying to move the second blog to another URL. We attempted to recover them but were unsuccessful. We apologize greatly for the inconvenience and hope you are able to upload them again, if possible."

Três anos de trabalho e ainda há uns imbecis que dizem que não aconteceu nada.
 


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FOGOS, BALDES E BALDAS.
 


QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES: "NENHUM POVO DO MUNDO..."




 


RETRATOS DO TRABALHO NO TOGO



No Togo há zonas que de tão pobres serem não é possivel adquirir o que quer que seja com notas (Franco CFA) de maior valor uma vez que ninguém tem troco para essas notas, pelo que existem estes individuos, geralmente sentados num banco á beira das estradas, que as trocam por notas de pequeno valor cobrando para o efeito uma comissão. São os bancos.

(A. Bento)
 


PIRATARIAS 15

O pirata parece muito sensível às notícias sobre ele no Abrupto e activa o falso Abrupto sempre que se pensa que está a desaparecer. Para um inocente californiano que, por acaso, escolheu o nome de Abrupto em milhões e nem sequer sabe o que está a fazer - a lenda urbana que alguns circulam para negar a evidência dos ataques ao Abrupto - é muita perseverança e dedicação. A tese do roubo de visitas também é débil porque se esse fosse o objectivo o autor da pirataria, que certamente descobriu uma falha no Blogger (isso é incontroverso, porque, repito-o mais uma vez, não há intrusão nos dados, nem roubo de password, senão eu não tinha blogue por esta altura), teria sido tentado fazer o mesmo com blogues em inglês com muito mais "audiência". O ataque ao Abrupto na forma que ele assume é "único", como admite o próprio Blogger, que afirma continuar as "investigações" mas que, começa a ser óbvio, não sabe como resolver o problema. Pode ser que precise do mastim acima.

Muito obrigado a todos que altas horas da noite, consultando o Abrupto, me enviam dados importantes para combater o pirata, assim como a todos que estão a ajudar a identificar e resolver o problema.
 


EARLY MORNING BLOGS
836 - Proserpina, Cyane Libro V - vv 385-520

Né l'Aurora dai capelli freschi di rugiada,
non Espero la vide mai in riposo,
andò con due torce di pino accese
nel fuoco dell'Etna, lungo le gelide notti,
quando la dolce luce oscura le stelle.
E sempre cercava la figlia dal sorgere
Al tramonto del sole; e stanca, arsa di sete,
dai aveva bagnato le labbra ad una fonte,
vide una capanna dal tetto di paglia
andò subito a battere alla piccola porta.
Ina vecchia venne ad aprire, e alla dea
che chiedeva da bere, offrì dell'acqua dolce
da lei preparata con il grano cotto.
E mentre beve, un fanciullo senza grazia in volto,
anche audace, si ferma davanti alla dea,
e la deride dicendole: «Avida!» E la dea offesa
riversa sul fanciullo ciò che ancora restava
dell'acqua mescolata al grano. E subito quel volto
si copre di macchie, e le braccia diventano gambe,
e la coda s'aggiunge alle membra mutate,
e il corpo (perché non abbia molto potere nel male)
si contrae in piccola forma: non più lungo
d'una lucertola. E la vecchia, stupita, piangendo
vuole toccare il mostro che fugge e si nasconde:
il mostro ha un nome che s'addice al suo colore,
screziato sul corpo di macchie variopinte.

(Continua)

(Salvatore Quasimodo, Dalle "Metamarfosi" di Ovidio)

*

Bom dia!
 


exp

8.8.06
 


HOJE, AGORA



Lua cheia, imperfeita como tudo, perfeita uma vez só.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FOGOS, BALDES E BALDAS



Há cerca de um ano, Jorge Sampaio, acompanhado por António Costa, visitou uma zona martirizada pelo fogo. A certa altura, perplexo com o facto de haver casas com a floresta a entrar pelo quintal adentro, o Presidente perguntou ao Ministro como é que tal era possível - e a resposta foi tão curta quanto esclarecedora: «É proibido, mas a lei não é cumprida».
Não ficámos a saber se, porventura, Sampaio lhe terá respondido que um Ministro da Administração Interna é pago, precisamente, para fazer com que a lei seja cumprida - porque, se as árvores estão junto às casas, não é só porque alguém lá as meteu, mas também porque as autoridades o não impedem. Suponhamos, no entanto, que esta acção, pela sua envergadura, é impraticável.
Mas... e se alguém dissesse a essas pessoas - que parece que convidam o fogo para almoçar... - que o Estado não pagará os prejuízos que venham a ter?
E se os bombeiros fizessem saber que, em caso de escassez de meios, elas não terão prioridade no socorro?
Que diabo! Não há autarcas, bombeiros nem GNR que ajudem ou obriguem as pessoas a cumprir a lei, cortando, atempadamente, as árvores que estão onde não deviam estar, mesmo que seja preciso intervir em propriedades de donos desconhecidos ou ausentes?
Mas, é claro, palpita-me que vamos continuar indefinidamente a ver gente desesperada, a clamar por meios aéreos enquanto enfrenta as chamas do quintal com mangueiras de jardim e baldes de plástico - porque o mais certo é que desabafos como este não passem de conversa... debalde.

(C. Medina Ribeiro)

*
Em jeito de comentário sobre o assunto e sobre o que escreveu o C. Medina Ribeiro apetece-me citar o velho provérbio que diz “só te lembras de S. Barbara quando fazem trovões”, e já agora aquela velha filosofia do “isto só acontece aos outros”.
É verdade que toda a gente sabe que não se deve ter mato até à porta de casa, que as arvores até uma determinada distância devem ser abatidas, que as matas devem ser limpas. E é também verdade que os autarcas, bombeiros, parques naturais, protecção civil, comunicação social etc. dizem repetidamente às pessoas o que devem fazer.

E isto não é um problema de lei é um problema de bom senso. Além disso a afirmação do ministro de que a lei não é cumprida é apenas o reconhecimento de que a sanha legisladora deste país produz coisas impensáveis e impossíveis de fazer cumprir (conhece algum peão que alguma vez tenha sido multado por atravessar uma rua a menos de 50 metros de uma passadeira?).
Acontece ainda que a floresta e o mato deixaram de ter importância económica para as pessoas. Já não se apanha mata para fazer camas para o gado nem para o alimentar, os baldios já não existem, não há lareiras nem fogões nas casas (a não ser para divertimento) que consumam os resíduos florestais. Tudo isso deixou de ter importância. Disso tudo resta apenas a beleza das paisagens e o impacto ambiental na desertificação.
O que é espantoso é o facto de na televisão nós sermos bombardeados com a atitude desesperada das pessoas quando lhes ardem coisas às quais não dão qualquer importância durante o resto do ano. Para além disso o velho provérbio espanhol que diz que “os fogos se apagam no Inverno” faz todo o sentido.

Fernando Frazão

*

1 - A questão colocada por C.Medina Ribeiro, das "árvores junto às casas", carece de melhor precisão. O que vejo no território são cada vez mais casas novas a serem construídas junto às árvores. Não se pode falar apenas nas "árvores que estão onde não deviam estar", isso é escamotear o problema das casas que estão onde não deviam estar. Estão aqui subjacentes questões profundas do ordenamento do território que é preciso enfrentar.

Confrontando os PDM com a realidade no terreno, verifica-se que, especialmente nas áreas periféricas, permanecem vagos a esmagadora maioria dos solos que eram destinados a novas construções para colmatação dos núcleos e consolidação dos aglomerados. Entretanto, o valor patrimonial desses solos aumentou graças à sua classificação como "urbanos" no PDM. Aumentou também porque, em virtude da sua classificação, é nessas áreas que se vão fazendo investimentos públicos na instalação de novas infraestruturas e melhoria das já existentes. Basta dar uma volta por qualquer aldeia do norte e do centro para ver a imensa quantidade de espaços livres entre as casas existentes, terrenos que confinam com a rua, com passeios de peões, com redes de água e esgotos, iluminação pública, etc, com todas as aptidões para receber casas – mas que permanecem desaproveitados. No entanto, na matriz esses solos permanecem, de um modo geral, inscritos como "rústicos", e é nessa base que são tributados. Em suma: a classificação administrativa como "urbanos" valoriza-os automaticamente, o dinheiro público infraestrutura-os, os proprietários, sem esforço, ficam com o seu património altamente valorizado, não pagam impostos por isso, especulam com o seu valor no mercado, o preço do metro quadrado atinge valores absurdos até nas aldeias – e muitas pessoas acabam por ir construir em áreas indesejáveis, onde o solo é mais barato, dispersando cada vez mais as construções. É por isso que as casas estão a ir para ao pé das árvores. Depois, recomeça o ciclo: os eleitores reclamam, a junta da freguesia asfalta a estrada, 4 anos depois põe a rede de água...
Este fenómeno da dispersão urbanística, combinado com a profusão descontrolada do eucalipto – que, sendo a mais rentável, é a árvore que arde melhor e a que mais eficazmente propaga o fogo – constituem a matriz do nosso actual ordenamento do território em extensas áreas do país.

2 - Agora cabe perguntar-se: porque é que se deixam construir as casas nesses locais? Porque são muito débeis os regimes de protecção dos solos não urbanos:
um vulgar solicitador facilmente monta esquemas que, a coberto da compropriedade, dão cobertura jurídica ao fraccionamento descarado de artigos rústicos; facilmente se manipulam e multiplicam os artigos; facilmente se obtém uma desafectação da RAN (Reserva Agrícola Nacional) ou da floresta para construção de "habitação própria"; facilmente se vende essa "habitação própria" e se faz outra, noutro "artigo"; as áreas florestais, nos PDM, são em regra "o que sobra" em termos de ordenamento, sem regime de protecção ou com fracas restrições à urbanização; etc.
Ou seja: as facilidades e os direitos inerentes ao uso da propriedade do solo são cada vez mais fortes e mais desproporcionais em relação ao interesse público.
A verdade é que a legislação e a regulamentação são cada vez mais protectoras dos direitos da propriedade do solo (vd os valores absurdos alcançados em sede de expropriação para fins de utilidade pública). Por outro lado, no que se refere ao controlo do uso do solo / ordenamento do território, as leis e regras são cada vez mais defensivas e cada vez menos proactivas.

Por outras palavras: quem de facto tem a iniciativa e a capacidade de ocupar, usar e transformar o solo é essencialmente o agente do interesse privado, alicerçado no valor financeiro do solo. A administração pública reduz-se ao papel de defensora dos outros valores inerentes ao território (vd estrutura ecológica, RAN, valores intangíveis como a "paisagem", etc) – e mesmo aí vai recuando e cedendo cada vez mais. Entregue à iniciativa do interesse privado, o crescimento das povoações é inconsistente, errático, descontínuo no espaço e no tempo.
Entretanto, nas nossas vilas e cidades, é extraordinário o número de edifícios abandonados e em ruínas, absurdo o número de novos fogos excedentários, incontável o número de construções não licenciadas. Simultaneamente, cresce imparável o fenómeno das periferias.

Nas aldeias também há especulação fundiária, por isso também há periferias. "As casas vão para ao pé das árvores. Depois, recomeça o ciclo... "
Em suma: desenvolveu-se, generalizou-se e consolidou-se por todo o país, e no próprio aparelho de Estado, um complexo e poderoso modelo de operação sobre o território, em que o interesse privado é definitivamente o líder proactivo e o interesse público é o espectador conformado, o agente servil, passivo/defensivo.
O ordenamento do território está cada vez mais refém dos grandes, médios, pequenos e manhosos interesses do mercado fundiário e imobiliário, o qual assenta essencialmente no valor do solo e nos exagerados direitos da propriedade.
As implicações deste modelo vão muito para além do mero resultado físico e do aspecto (in)estético das nossas cidades, vilas, paisagens.
Os eucaliptos e as casas vão ardendo, mas nem por isso o negócio dos solos deixa de prosperar.

(Joaquim Jordão)
 


RETRATOS DO TRABALHO NA RIA DE AVEIRO, PORTUGAL



(Gil Coelho)
 


COISAS DA SÁBADO:
GUERRA, A DIMENSÃO QUE NÓS PERDEMOS, FELIZMENTE / INFELIZMENTE



Felizmente que nós, a minha geração europeia, perdemos a noção do que era a guerra. Infelizmente que nós, a minha geração europeia e as gerações seguintes, perdemos a dimensão do que é a guerra. Pode parecer contraditório mas não é. Entre 1945 e 1990, os europeus conheceram o período maior de paz continuada de toda a sua história. Toda, desde há mais de dois mil anos, se é que se pode contar a Europa desde o império romano e o nascimento de Cristo no Médio Oriente.

Pudemos viver grande parte da nossa vida em paz, em Portugal mais do que no resto da Europa, sem sequer as angústias dos nossos pais e avós, com a guerra espanhola ao lado e a segunda guerra europeia de que escapamos por um fio. Como os europeus desde 1945, vivemos a guerra fria protegidos pelo guarda-chuva nuclear americano, nem sequer tivemos que pagar os custos plenos da defesa, construindo um “modelo social” que deve muito da sua existência aos gastos americanos com a defesa. Foi bom, enquanto durou, mas está a acabar.

Subitamente, a guerra da Jugoslávia e os terrorismos de Madrid e Londres, mostraram que a guerra está mais perto do que imaginamos, mas continuamos a não querer ver e a confiar no destino. O conflito no Médio Oriente, o terrorismo em Nova Iorque são muito nossos, mas continuamos a meter a cabeça na areia e a desejar que os americanos e os israelitas paguem o preço do sangue e nos protejam. É por isso que, ou estamos dispostos a assumir que a paz se defende, inclusive por meios militares, ou teremos guerra na nossa casa em condições de muito maior fragilidade. Um teste importante pode ser a disposição europeia de participar numa força efectiva que garanta que não há ataques na fronteira norte de Israel, diminuindo assim significativamente a tensão na zona, construindo a paz com os moderados árabes e impedindo que os extremistas a sabotem todos os dias. Uma força efectiva, disse eu.
 


PIRATARIAS 14



Nos últimos quatro dias o Abrupto foi ele mesmo, sem perturbações alheias. A última vez que o falso apareceu, a uma hora habitual, por volta das 20 horas, o Blogger prometeu mais uma vez "investigar". Já tive retornos suficientes para ainda não considerar a pirataria encerrada e o Abrupto navegando como habitual. O(s) responsável(eis) ainda não teve (tiveram) que se passear pela prancha ou ver a vista de uma corda alta, pelo que continua a vigilância.
 


EARLY MORNING BLOGS
835 - Proserpina, Cyane Libro V - vv 385-520

Raub der Proserpina - Kunstdrucke, Gemälde und Bilder

(Continuação)

Fra Ciane ed Aretusa si stende una zona di mare
chiusa da due esili punte di terra:
qui visse Ciane, la ninfa più famosa di Sicilia,
e da lei ebbe nome lo stagno. Ora la ninfa
uscendo improvvisa dall'acque sino ai fianchi,
riconobbe la dea e così disse: «O Plutone,
non andrai lontano; se Cerere non vuole
non potrai avere la fanciulla: dovevi chiedere
Proserpina, non prenderla con forza.
E se piccole cose posso accostare alle grandi,
anch'io, amata da Anapo, divenni la sua sposa
alle vive preghiere, non per timore.»
Disse, e aprendo le braccia cercava di fermarlo.
Ma non tenne più l'ira il figlio di Saturno,
e incitando i tremendi cavalli, col braccio potente
vibrò lo scettro dentro il profondo dell'acque:
e la terra percossa aprì la via del Tartaro,
e riportò nell'abisso l'obliquo carro veloce.
Ora Ciane piangendo la dea rapita e le leggi
della fonte spezzate da Plutone, ha come ferito
il cuore silenzioso, e si consuma in lacrime
e si scioglie in quelle acque di cui fu dea suprema.
Avresti potuto vedere le membra farsi tenere,
le ossa Flessibili, le unghie perdere durezza,
e sciogliersi in acqua le parti più sottili:
le chiome azzurre, i piedi, le dita, le gambe,
perché più rapide mutano le esili membra
in acque gelide. Poi gli òmeri, la schiena,
fianchi e il petto furono piccoli ruscelli,
l'acqua giunse al sangue per le vene guaste,
nulla rimase di lei che si potesse prendere.
Intanto la madre cercava con ansia la figlia
per tutta la terra e nel profondo del mare.

(Continua)

(Salvatore Quasimodo, Dalle "Metamarfosi" di Ovidio)

*

Bom dia!

7.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA TUNÍSIA



(José Farinha)
 


COISAS DA SÁBADO:
SERÁ QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO CONSEGUE FAZER AS COISAS BEM UMA ÚNICA VEZ?



A mediatização da justiça podia ser inevitável, era só uma questão de tempo, mas, no caso nacional, essa mediatização foi deliberadamente procurada por um dos “agentes da justiça”, o Ministério Público. Tudo resultou de uma prática que uniu dois interesses convergentes: o Ministério Público no tempo de Narciso da Cunha Rodrigues, que exerceu o cargo de 1984 a 2000 e moldou a instituição e um jornal populista, e o Independente, destinado a combater o governo do PSD e a abrir caminho para a carreira política de Paulo Portas. Esta coligação de interesses era muito semelhante à que se tinha verificado em Itália durante os tempos da “república dos juízes” e associava o justicialismo comunista e da extrema-esquerda, muito bem representado na corporação dos procuradores, com o populismo anti-políticos e anti-parlamentar da direita radical.

Com o tempo, esta aliança começou a desgastar-se e a revelar os seus efeitos perversos. O MP, afinal só anunciava não “produzia” e aqueles que viam o seu nome envolvido em suspeitas públicas e publicadas nunca eram levados a tribunal e, se o eram, saiam inocentes. Por outro lado, o principal político populista, Portas, a quem esta estratégia serviu para colocar o PS no poder (com quem objectivamente se aliou) em vez do PSD, acabou por provar da sua própria medicina no “caso Moderna”. No intervalo, os políticos do PSD, do PS, do CDS e do PCP deram ao MP quase tudo que ele exigia, em particular um modelo de autonomia quase sem limites, à italiana, com medo de parecerem pouco zelosos na luta contra a corrupção.

Com a mudança do Procurador, este encontrou um MP fortalecido com poderes até ao limite da afronta às liberdades pessoais e direitos de defesa, com utilização quase indiscriminada e incontrolada das escutas telefónicas (responsável: António Costa) e da prisão preventiva como instrumento de coação. A instituição estava solidamente ancorada no justicialismo. Só que o monstro que o anterior Procurador tinha despertado, a comunicação social, já não era apenas e só um jornal e um político, mas sim uma multidão de voyeurs (no meio de alguns poucos bons jornalistas) que queria sangue dos políticos e queria resultados, queria barras da cadeia à frente de caras conhecidas. Como isso não acontecia, começou a olhar para os lados do próprio MP com uma nova curiosidade e com perguntas cada vez mais complicadas. A chave de todo este “sistema” era a violação programada do segredo de justiça, mas, a uma dada altura, o “programado” passou a ser “programado por A contra B” e vice-versa. O vice-versa estragou tudo e o caso Casa Pia explodiu no ar rarefeito.

Começou a perceber-se que o MP usava e abusava das escutas telefónicas e que os métodos de investigação mostravam que esta descambara de uma procura de responsáveis para os crimes que se sabiam ter sido cometidos, para uma investigação sistemática de todos os políticos. O caso chamado do “envelope 9”, que é um subproduto do caso Casa Pia, tornou-se revelador dessa inquirição sistemática, tipo rede de arrasto, o que pouco tem a ver com a investigação de um crime. É outra coisa, é política.

SERÁ QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO CONSEGUE FAZER AS COISAS BEM UMA ÚNICA VEZ? - 2

As notícias sobre a ilibação de Nobre Guedes, cuja busca ao escritório foi precedida de indicação à comunicação social de que esta ia ser realizada, (como aconteceu também com Jorge Coelho) , obriga a condenar a forma como se fez uma penalização social gravíssima para pessoas que acabam por ser inocentadas sem nada de semelhante às parangonas com que foram culpabilizadas. Isto, junto com a negação pelo tribunal do acesso aos computadores do 24 Horas, cortando cerce uma cortina de fumo sobre o objectivo inicial do inquérito (saber por que razão estavam no processo Casa Pia listagens que não deveriam estar e quem foi responsável por esse acto), são importantes revezes do Ministério Público. Somam-se a muitos outros revezes, do caso Apito Dourado ao que aconteceu com Fátima Felgueiras e Isaltino de Morais. O MP atira para vários lados, as fugas de informação criam expectativas de culpas e de penas e depois, nada, nada, nada…

No intervalo, ficam estilhaços por todos os lados, inocentes que carregarão sempre a culpa que lhes foi lançada nos jornais, culpados que se escapam no meio de métodos de investigação, que se revelam incompetentes e negligentes. Mais do que isso: os abusos entretanto cometidos revelam os efeitos perigosos de uma atitude justicialista, ou seja, de uma política que nada tem a ver com a democracia. Quando uma instituição central do nosso sistema de justiça entra na política está posto em causa o funcionamento normal da democracia.

Esta é a questão de fundo do que se passa no MP e, hoje, é responsabilidade do Primeiro-Ministro e do Presidente da República. Assim não pode continuar.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM VALADARES, PORTUGAL



Venda ambulante na praia.

(Gil Coelho)
 


EARLY MORNING BLOGS
834 - Proserpina, Cyane Libro V - vv 385-520

http://www.uvm.edu/~classics/slides/a51.jpeg

Non lontano dalle mura di Enna s'apre il Pergo,
lago d'acque profonde; mai il Caistro,
nelle sue onde fuggenti, ode canti di cigni
più di quello. Una selva corona le sue acque
e ne avvolge le rive, e le fronde come velo
allontanano l'impeto di Febo. I rami danno ombra
e l'umida terra fiori d'ogni specie:
là eterna è primavera. Mentre in quel bosco
giocava Proserpina cogliendo bianchi gigli e viole
con gioia di fanciulla, a gara con le amiche,
colmandone il grembo e i canestri, la vide Plutone
e subito l'amò e la rapì: tanto fu rapido amore.
Proserpina, impaurita, chiamava con voce dolente
la madre e le compagne, ma più la madre;
e poi che lacerata alle spalle pendeva la sua veste,
caddero dalla tunica sciolta tutti i fiori.
V'era tanta innocenza nella sua fresca età,
che per i fiori caduti fu in pena la fanciulla.
E intanto Plutone dal carro incitava i cavalli
chiamandoli per nome ad uno ad uno,
e sul collo e la criniera scuoteva le briglie
d'oscuro colore di ferro. E passò dai profondi
laghi e gli stagni acri di zolfo dei Pàliei
che su ribollono da squarci della terra,
e là dove i Bacchiadi, gente di Corinto,
fra due porti ineguali, alzarono una città.

(Continua)

(Salvatore Quasimodo, Dalle "Metamarfosi" di Ovidio)

*

Bom dia!

6.8.06
 


QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES:
UMA TEORIA DAS "IDEIAS PERTURBADORAS" 2


 


QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES:
UMA TEORIA DAS "IDEIAS PERTURBADORAS"
 


EARLY MORNING BLOGS
833 - Provérbios

El tiempo es el que haze
Y deshaze lo ya hecho,
Y lo baxo sube al techo.

El frayle va por estremos:
O es diablo o es sancto,
O consuela o pone espanto.

Si usares de virtud,
Fueres rico y de buen gesto,
Imbidia saldrá tras esto.

El tiempo es sabio doctor,
Lleno de tanta prudencia
Que con él no ay competencia.

Al ave de tuyo en fabor
Ningún ave se yguala,
Ni que ansí ayude y vala.

Renzillas, muertes descubren
El hablar ser muy dañoso,
Y el callar más provechoso.

Ninguna cosa se olvida
Tan presto como el servicio
Que se haze, o beneficio.

Alguna vez desmampara
Al sin culpa la fortuna,
Más la esperança ninguna.


(Trezientos proverbios, consejos y avisos muy provechosos para el discurso de nuestra humana vida. Compuestos por muy breve estillo por el noble don Pedro Luys Sanz, Doctor en derechos, advogado de la insigne ciudad de Valencia, 1545?)

*

Bom dia!
 


OUTRA VEZ DE NOVO



O incêndio de Paredes há poucas horas.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM TÂNGER



Peixeiro no mercado de Tânger em 2004.

(José Fernando Guedes Correia)

4.8.06
 


EARLY MORNING BLOGS
832 - Portugal

Então João Gouveia abandonou o recosto do banco de pedra e teso na estrada, com o coco à banda, reabotoando a sobrecasaca, como sempre que estabelecia um resumo:

- Pois eu tenho estudado muito o nosso amigo Gonçalo Mendes. E sabem vocês, sabe o Sr. Padre Soeiro quem ele me lembra?

- Quem?

- Talvez se riam. Mas eu sustento a semelhança. Aquele todo de Gonçalo, a franqueza, a doçura, a bondade, a imensa bondade, que notou o Sr. Padre Soeiro... Os fogachos e entusiasmos, que acabam logo em fumo, e juntamente muita persistência, muito aferro quando se fila à sua idéia... A generosidade, o desleixo, a constante trapalhada nos negócios, e sentimentos de muita honra, uns escrúpulos, quase pueris, não é verdade?... A imaginação que o leva sempre a exagerar até à mentira, e ao mesmo tempo um espírito prático, sempre atento à realidade útil. A viveza, a facilidade em compreender, em apanhar... A esperança constante nalgum milagre, no velho milagre de Ourique, que sanará todas as dificuldades... A vaidade, o gosto de se arrebicar, de luzir, e uma simplicidade tão grande, que dá na rua o braço a um mendigo... Um fundo de melancolia, apesar de tão palrador, tão sociável. A desconfiança terrível de si mesmo, que o acovarda, o encolhe, até que um dia se decide, e aparece um herói, que tudo arrasa... Até aquela antigüidade de raça, aqui pegada à sua velha Torre, há mil anos... Até agora aquele arranque para a África... Assim todo completo, com o bem, com o mal, sabem vocês quem ele me lembra?

- Quem?...

- Portugal.

(Eça de Queiroz)

*

Bom dia!

3.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Vendedores ambulantes em Cimo de Vila, junto à estação de S.Bento (Porto).

(Vieira Pinto)

2.8.06
 


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 1 de Agosto de 2006.
 


PIRATARIAS 13

Como ainda ontem se viu, o falso Abrupto continua a aparecer de vez em quando, sinal de que a falha no Blogger continua a ser explorada. Na sua última comunicação de ontem, o Blogger afirma que está a "investigar a situação (...) para impedir interferências" no Abrupto.

Para os que nunca viram o falso, - ah! maus leitores por onde é que andam? ah! gente de pouca fé que acha que "ele" não existe! -, aqui fica a reprodução de uma das suas versões: a versão "abrupto.blogspot.com" (também houve a "abrupto") e de "Mike" (também houve a de "Alex").


 


RETRATOS DO TRABALHO EM CHINATOWN, NOVA IORQUE, EUA



Filmagens de um filme, o 16 Blocks que deve estrear cá em Outubro.

(André Ferreira)
 


EARLY MORNING BLOGS
831 - Provérbios

Cosa es muy vil y baxa,
Y lexos de hombre bueno,
Gozarse de mal ageno.

Quando más seguro piensa
Estar en sí [e]l engañoso,
Él está más peligroso.

Sin duda oye sus males
Quien no calla los agenos,
Y le hinchen bien sus senos.

Recrescer grandes peligros
Dela mala compañía
Pruévanse de noche y día

El falso y malicioso
Guardese bien quien lo fuere,
Que antes de tiempo muere.

Los que fueren virtuosos
Son verdaderos amigos
Y los malos, enemigos.

Por mucho que dissimule,
Y simule cada qual,
Buelve a su natural.


(Trezientos proverbios, consejos y avisos muy provechosos para el discurso de nuestra humana vida. Compuestos por muy breve estillo por el noble don Pedro Luys Sanz, Doctor en derechos, advogado de la insigne ciudad de Valencia, 1545?)

*

Bom dia!

1.8.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM HANOI, VIETNAM



(César Branco)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
DRESDEN E OS BOMBARDEAMENTOS DE CIVIS


http://www.wilsonsalmanac.com/images1/feb13_dresden_bicycle_boy.jpgA "mini série" que começou ontem e acaba hoje, na RTP 1, "Dresden", constitui uma excelente oportunidade para nos interrogarmos e analisarmos um pouco mais "a fundo" a questão do bombardeamento de populações "civis", em teatros de guerra. Não pela série em si, que se baseia numa história de amor pouco menos que imbecil e improvável de um piloto de bombardeiros abatido e fugitivo na Alemanha por uma enfermeira em crise de consciência moral e política, mas pelo que o episódio de Dresden, que eu conhecia em termos gerais das leituras sobre a WWII, representa e pelo excelente pretexto que oferece a quem quiser aprofundar um pouco o tema. Dresden, em si, não era um objectivo militar estratégico. Ao contrário de outras cidades arrasadas na WWII (como Coventry, por exemplo), não era um centro de produção industrial relevante, não tinha instalações militares importantes e a sua estação de caminhos de ferro não tinha um papel vital no sistema de comunicações alemão. Aliás, depois do bombardeamento, ficou operacional, de novo, em cerca de uma semana. Para além disso, a cidade estava cheia de refugiados, cerca de 200.000, fugidos da frente leste face ao ataque dos soviéticos que já tinham, salvo erro, ocupado algumas cidades alemãs (estávamos em Fevereiro de 1945, a quatro meses do fim da guerra). Dresden foi escolhida e arrasada, isso sim, conhecendo o alto comando aliado toda esta situação, apenas com o objectivo de "destruir" a moral e a capacidade de resistência (ou o que restava dela) do povo alemão, inclusivamente ajudando a criar divisões entre este e a liderança nazi, facilitando o avanço do exército vermelho. A cidade foi arrasada e o bombardeamento e incêndio que se lhe seguiu (foram utilizadas bombas incendiárias) matou, no mínimo (ainda hoje não existe consenso), 25.000 pessoas. É um dos episódios mais controversos da WWII, praticado sob a égide das duas democracias mais respeitadas do mundo e em nome de objectivos (a vitória dos aliados na guerra) que a todos nós, democratas, são caros.

Claro que isto vem a propósito da morte de civis no actual conflito no Médio-Oriente, que tem conduzido às análises menos rigorosas e mais maniqueístas a que tenho assistido, consoante o lado da barricada em que cada um se situa. Não tenho qualquer dúvida que grupos como o Hezbollah recorram a "civis" como "escudos humanos" (dada a natureza deste tipo de organizações, será mais rigoroso dizer que, por vezes, o que é difícil será distinguir o que são "civis", como já o era, por exemplo, na guerra colonial ou no Vietnam), que, outras vezes, Israel bombardeie populações civis efectivamente "por engano" ou erro técnico e que, aqui e ali, recorra ao bombardeamento dessas mesmas populações civis propositadamente, com objectivos idênticos ao de Dresden. Tal como os fundamentalistas islâmicos e os árabes da Palestina o fazem, já que, para eles, o inimigo não é o exército de Israel e os seus aliados, mas toda a população, que terá ocupado as suas terras e expulso para os campos de refugiados. Destruir a capacidade de resistência "moral" será também aqui um dos seus objectivos. De facto, a guerra "limpa" e cirúrgica, que salvaguarda os civis e as chamadas "populações indefesas", é um dos primeiros mitos do século XXI e a guerra tal qual ela é, na realidade, cada vez mais difícil de aceitar, nos países democráticos, por uma opinião pública apesar de tudo mais informada e que tem, hoje em dia, acesso à "guerra em directo".

(João Cília)
 


GRANDES CAPAS

(Arrumando os livros comprados a peso.)


 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Agosto de 2006


Hoje é o dia oficial da transumância nacional para o Algarve. Alguém levanta uma ponta do país, como se de uma tábua se tratasse, e a gravidade faz o resto. Só quem está apegado à terra, quase sempre por pobreza e trabalho, e os originais que rumam a norte, a uma outra estrela, escapam do declive nacional para as semi-ondas de água morna. O meu mar é outro, mais bravio e frio.

*
So what?
Não será também o dia da transumância nacional espanhola para a Costa do Sol ou para a Costa Blanca ou para a Costa Brava, ou, com sorte, para as ilhas? E o dia da transumância nacional italiana, ainda com mais sorte, para as praias da Sardenha? E a dos franceses para a Camarga?

Mais uma vez constato no seu discurso, com pena, uma espécie de sobranceria que não calha bem com a sua sofisticação intelectual. O povo gosta de praia com sol quente, mar ameno; o povo tem férias em Agosto, as crianças têm férias em Agosto, as fábricas fecham em Agosto; Portugal tem o Algarve, o Alentejo, os outros têm as Cyclades, a Córsega ou não têm nada…So What?

O novo/velho discurso de desprezo pelo Algarve porque é o destino de todos ou só de alguns, porque é muito português ou já não é nada português, porque é popular ou porque é in, porque é só praia ou porque a praia não presta, é absolutamente redutor, snob e está estafado.

O Algarve é apenas um recanto bonito de Portugal, onde há sol, mar ameno e limpo, um aroma a Mediterrâneo ainda intacto, gente boa de trato difícil, comida deliciosa. É um caos urbanístico? É, mas bem menos do que a costa espanhola. Tem muita gente em Agosto? Tem, tal como toda as praias do Sul da Europa. É muito caro? Menos do que a maioria dos outros lugares de veraneio. É o destino da classe média? Será, mas sempre é preferível do que esta se endivide para ir para Cuba ou para Punta Cana. Está infestado das “novas celebridades” nacionais? Está, mas basta ler a Hola para perceber que Marbella ainda é pior.

Clara Ferreira Alves também se lamentou n’Pluma Caprichosa (eu leio o Espresso emprestado…) de ter ido para o Algarve com argumentos deste tipo. Parece que toda a gente, incluindo insuspeitos como o JPP, tem que colocar uma tabuleta a dizer “Eu não vou para o Algarve”. É também um posicionamento, uma atitude política, uma afirmação de diferença que é totalmente desnecessária em gente superior.

Olhe, eu vou para o Algarve; para o meu Algarve que eu faço à minha maneira e que é lindo, solarengo, com mar morno, com saladas de tomate, pepino e coentros, conquilhas e vinho branco gelado. E não digo a ninguém.

Helena Mota (Porto)
*

Uma das coisas que recebo por dia no correio é uma citação bíblica enviada por um grupo evangélico brasileiro. A de hoje é apropriada a tudo:
21 - E o SENHOR ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite.
22 - Nunca tirou de diante do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite.

(Êxodo. Capítulo 13)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LUBLIANA, ESLOVÉNIA



Vestindo os manequins de uma montra de loja de roupa, 2002

(Carlos Fernandes)
 


EARLY MORNING BLOGS
830 - To Put One Brick Upon Another

To put one brick upon another,
Add a third and then a forth,
Leaves no time to wonder whether
What you do has any worth.

But to sit with bricks around you
While the winds of heaven bawl
Weighing what you should or can do
Leaves no doubt of it at all.

(Philip Larkin)

*

Bom dia!

© José Pacheco Pereira
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