sábado, 26 de março de 2011

BRASIL IMPORTA ALCÓOL COMBUSTÍVEL DOS EUA!!!!: MUDA A ESTRATÉGIA NACIONAL PARA OS COMBUSTÍVEIS RENOVÁVEIS.

Realmente para os americanos a viagem de Obama ao Brasil foi extremamente lucrativa.
O presidente americano voltou com uma garantia de fornecimento de petróleo bruto, o que facilita parcialmente a vida deles em relação a instável e problemática Venezuela do “amigo” Chaves, e, de quebra vendeu para nós o que já foi fonte de orgulho nacional pelo pioneirismo e pela liderança mundial na produção: Álcool combustível.

Em épocas passadas o antigo PT da presidenta Dilma, fosse outro presidente, FHC, por exemplo, já teria ido às ruas denunciando a confirmação da relação imperialista: Exportação de produto em estado natural contra a importação de produto beneficiado. Obama deve estar muito satisfeito. Talvez nem tenha se dado conta da ausência de Lula, nessa altura o “ex”-cara. Afinal vendeu para o Brasil um produto cuja produção dentro dos EUA tem sido razão de pesadas críticas por conta de um especial dilema entre produzir combustível ou produzir alimento essencial. No caso o álcool americano é derivado do milho que é o segundo maior produto agrícola americano depois do trigo. Muitos americanos apontam o exemplo negativo da produção de álcool brasileira sobre a produção e o preço do açúcar como um exemplo “a não ser seguido”.

No fim do dia nada demais. Apenas o que parece ser uma completa desorientação estratégica. Vamos argumentar e mostrar que está muito longe disso e é, na verdade, uma lógica já consolidada de despriorizar os combustíveis renováveis em favor do petróleo, combustível não renovável.

Primeiro vamos contar uma historinha. Existe um Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
É um entre uma verdadeira multidão, pós Constituição Federal de 1988, de “conselhos” de todo o tipo. A Administração Pública brasileira vai transformando o Brasil no “País dos Conselhos”, talvez numa analogia tardia com o “País dos Soviets”.
Muito bem. O papel principal do CDES é produzir a estratégia nacional. É o documento chamado Agenda Nacional de Desenvolvimento, renovado periodicamente, pari passu com o Plano Plurianual, que serve para informar a fundamentação estratégica do PPA que é o plano estratégico da gestão pública brasileira.

Em dezembro de 2010, ao apagar das velas da gestão Lula, o CDES produziu uma espécie de atualização da AND: Agenda para um novo ciclo de desenvolvimento. Obs.: Na página procure o tópico "documento estratégico".
Na realidade está dentro das competências do Conselho e das boas regras de planejamento atualizar documentos estratégicos. O que soa estranho é que tenha sido feito no último minuto do segundo tempo.
Eu diria que houve a nítida intenção de deixar já delimitado o pensamento estratégico do novo governo. Tentativa, aliás, feita em diversas outras áreas por ações construídas na última hora e que normalmente, até por respeito ao sucessor, não deveriam ser produzidas.

Bom, agora voltemos ao fio da meada. Lido o documento o que se fala sobre combustível?
Baratear os custos de energia e de combustíveis. Realizar estudos para viabilizar a redução das tarifas de energia e praticar a modicidade tarifária, considerando os encargos que incidem sobre as tarifas de energia elétrica e de combustível, inclusive a carga tributária.”
Uma interessantíssima proposta que estaria bem na oposição: Corte de impostos para baratear o combustível!?? Podemos realmente esperar este tipo de atitude do governo Dilma? Quem viver verá ou melhor, não verá.

Nada mais. Mesmo falando sobre economia verde, produção sustentável etc. nada se fala sobre álcool combustível. Apesar de um processo de mais de duas décadas com pesadíssimos investimentos, apesar do remanejamento da frota nacional para o motor flex, nada.
Pelo contrário o documento lança um argumento verdadeiramente revolucionário: O combustível fóssil “sustentável”:

“Aumentar a produção e exploração de petróleo e gás natural, com ênfase nas reservas da província petrolífera da camada do pré-sal, considerando os novos marcos regulatórios, o incentivo à formação de cadeia de fornecedores nacionais com competitividade internacional e adotando tecnologias que garantam a exploração, a produção e o refino da maneira mais sustentável possível, de modo que o Brasil possa liderar a produção global de hidrocarbonetos sustentáveis.”

Conforme pudemos argumentar em outros posts e argumentamos agora a visão estratégica governamental deixa de lado a questão dos combustíveis renováveis, usa o alcóol combustível para suplementar a balança comercial e foca sua atenção no Pré-Sal que se transforma na bola da vez. Assim, sem choro, nem vela. Não tem plano B.
A idéia é extrair tudo o que der. Não se discute o custo ambiental. Parece que a questão dos combustíveis renováveis fica para um segundo momento, o que é uma péssima orientação, pois desestimula pesquisas e congela propostas, inclusiva as alternativas ao álcool combustível.
É totalmente incoerente falar em Economia Verde, como está no documento, adotando este estilo de proposta quanto aos combustíveis.

E prior, a sustentação da lógica não parte da autoridade. Parte de um conselho paritário, exercendo a democracia participativa, que tem representantes da “sociedade civil” que nos representam a todas e todos.

Podem até me “representar”, mas ando muito longe de concordar com isso. Agora, para meu azar, ser voz discordante num país onde a esfera da política profissional e os partidos em geral estão mais perdidos que cego em tiroteio quando se trata de discordar do Poder é triste. Espero que pelo menos nisso todos concordemos.


Demetrio Carneiro