quinta-feira, 31 de julho de 2008

A REPÚBLICA DO BRASIL


A República do Brasil

Reprodução da cena passada no dia 16 de Novembro de 1889 - um dia depois da proclamação da República do Brasil - no Palácio de S. Cristóvão (Rio de Janeiro), da entrega da mensagem (Lei do Banimento) a D. Pedro II pelo Major Solon Sampaio Ribeiro [pai de Ana de Assis, futura esposa do escritor Euclides da Cunha] e que dava 24 horas para D. Pedro II sair do país. O Imperador partiu no dia seguinte, com a família real, para a Portugal a bordo da fragata "Alagoas".

Foto in Galeria histórica da revolução brazileira

J.M.M.

terça-feira, 22 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte VI)



Chegados aos dias da revolução, que José Relvas deixou bem documentados nas suas Memórias Políticas, vol. I, Terra Livre, Lisboa, 1977, p. 109 a 148, onde são descritos pormenorizadamente os episódios que viveu, assistiu ou que lhe foram relatados na época. Não iremos, certamente, transcrevê-los, mas podemos considerar que são um elemento precioso para o estudo da época, até porque outros relatos surgiram mas foram publicados na imprensa da época e, já agora a sugestão à Comissão do Centenário da República, porque não recolher esses relatórios e publicá-los enquadrando-os com a diversidade dos participantes.

O relatório de Machado Santos, A Revolução Portuguesa (1907-1910) ainda recentemente republicado, tem sido um bom repositório dos acontecimentos, mas existiram outros que nos recordamos de ter encontrado na imprensa republicana pós 5 de Outubro como os de Afonso Pala, José de Ascensão Valdês, Ernesto Gomes da Silva, Caetano do Carvalhal Correia Henriques, Mariano Choque Júnior, Francisco de Sousa Marques, António Joaquim de Sousa Dinis entre outros que já foram recolhidos e publicados no ido ano de 1978, pela Câmara Municipal de Lisboa, com notas de Carlos Ferrão que mereciam conhecer nova edição, provavelmente, acompanhada de estudos críticos sobre os diferentes autores e respectivos relatórios.[A. H. de Oliveira Marques, Guia de História da 1ªRepública Portuguesa, Editorial Estampa, Lisboa, 1981, p. 140]

Já agora outra sugestão, porque não proceder à publicação da correspondência das figuras importantes da República: Afonso Costa (propriamente sobre a vigência da República), António José de Almeida, Brito Camacho, Bernardino Machado, entre outros, que têm espólios conservados, mas que ainda se mantêm por descobrir pois alguns estão dispersos por várias partes do País e muitas vezes inacessíveis. Ou então, porque não mandar digitalizar esses espólios e colocá-los acessíveis (on line)a todos os interessados seja nas casas-museu, fundações, Assembleia da República, Presidência da República ou outras estruturas que foram criadas ao longo do tempo.

José Relvas revela que o seu círculo privado de amigos era constituído por João Chagas, a que já fizemos referência anteriormente, Manuel de Brito Camacho, José Barbosa, Inocêncio Camacho, António Ladislau Parreira, José Carlos da Maia e Aníbal de Sousa Dias com quem mantinha contacto quase permanente. De certo, a correspondência com estas personalidades seria importante de descobrir e estudar, mas por onde andará?

Quando José Relvas foi nomeado Ministro das Finanças, ele que era tido como um moderado, como afirmou Vasco Pulido Valente, tal como António José de Almeida e Brito Camacho e que "queriam uma república liberal, ordeira e respeitável" [Vasco Pulido Valente, Moderados e Radicais na I República: da Conciliação ao Terror(Outubro de 1910-Agosto de 1911)", Análise Social, vol. XI, n. 42-43, 1975 , pgs. 232-265] foi nomeado em 12 de Outubro de 1910 e substituído nas funções governativas em 3 de Setembro de 1911, regressando somente em
1919, após o assassinato de Sidónio Pais. Em 27 de Janeiro de 1919 foi convidado a formar governo, sendo o Presidente do Ministério até 30 de Março de 1919.

Quando presidiu a este último ministério teve que enfrentar as dificuldades provocadas pela revolta de Monsanto e pelo período que ficou conhecido como a Traulitânia.

Entre 1911 e 1914, durante as incursões monárquicas de Paiva Couceiro, com vista a restaurar a monarquia, partindo de Espanha, Relvas foi o Ministro de Portugal em Madrid, enfrentando grandes dificuldades.

Foi iniciado na Maçonaria com o nome simbólico de Beethoven, em 1911, pertencendo à loja Acácia, mas afastou-se da sociedade em 1913.

Publicou:

- A Questão Económica Portugueza. Aspectos do problema agrícola, Lisboa, 1910 (Conferência realizada no Centro Comercial do Porto em 3 de Março de 1910)
- Memórias Políticas, 2 vols., Terra Livre, Lisboa, 1978, com prefácio de João Medina e apresentação e notas de Carlos Ferrão.(postumamente)

Colaborou nas seguintes publicações periódicas:
- VOLTA DO MUNDO (Á). Jornal de viagens e de assumptos geographicos, illustrado com milhares de gravuras, Porto, 1880 a 1883;
- ARTE MUSICAL(A), Revista quinzenal, Lisboa, 15 de Janeiro de 1899 até o n.º 409, de 31 de Dezembro de 1915, em que terminou esta publicação.

Provavelmente terá ainda colaborado noutras publicações, mas não as conseguimos localizar.

José de Mascarenhas Relvas faleceu na sua Casa dos Patudos em 31 de Outubro de 1929, curiosamente no mesmo dia em que falecia também outra das figuras fundamentais do movimento republicano em Portugal: António José de Almeida.

A.A.B.M.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

EXPOSIÇÃO - ILUSTRAÇÃO E LITERATURA NEO-REALISTA


Exposição - Ilustração e Literatura neo-realista

"Pela sua maior projecção social ligada ao mercado editorial, o livro e os periódicos culturais significaram para o neo-realismo visual português uma espécie de meio privilegiado, onde mais facilmente se podia apresentar o desenvolvimento desse trabalho de ilustração que teve à época uma produção profícua e bastante decisiva na divulgação da estética neo-realista, com destaque para artistas como Júlio Pomar, Manuel Ribeiro de Pavia, Vítor Palla, Cipriano Dourado, Lima de Freitas, ou Rogério Ribeiro. Esta exposição procura assim apresentar alguns dos melhores resultados artísticos e editoriais dessa estreita relação entre artistas e escritores neo-realistas" [ler aqui]

Exposição:19 de Julho e 25 de Janeiro de 2009

Museu do Neo-Realismo: Rua Alves Redol, nº 45, Vila Franca de Xira.

J.M.M.

PARTIDO REPUBLICANO


Partido Republicano

Fotografia (por Joshua Benoliel) do directório do Partido Republicano:

da esquerda para a direita, Joaquim Ribeiro de Carvalho (jornalista), Marinha de Campos (ofical da Marinha), José Barbosa, Eusébio Leão, José Relvas, Malva do Vale e Inocêncio Camacho.

Via Arquivo Fotográfico, aliás Ilustração Portuguesa, 1910, 17 de Outubro, p.494.

J.M.M.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte IV)


JOSÉ RELVAS (Parte IV)

Quando estava na viagem por alguns países da Europa [França e Inglaterra], para garantir o apoio à causa republicana que preparava a revolução, enviou uma missiva ao seu amigo João Chagas onde explicava algumas das acções que desenvolveu juntamente com Magalhães Lima. Assim, escreveu José Relvas:

Não foi sem grande dificuldade que eu resolvi anuir à publicação duma nota oficial, e por duas razões: a primeira porque a orientação da junta consultiva se tinha pronunciado no sentido de uma simples missão de contacto, embora por último tivesse inclinado para nos deixar árbitros do que mais conviesse fazer; segundo porque, não sendo eu na realidade um político receei colaborar num documento em que pudesse ver-se a intenção de depreciar por qualquer forma o País.

A nota foi muito cuidada e revista por vários modos. Por último pedi a Jean Bernard que a lesse e verificasse bem se haveria nesse documento uma afirmação, ou qualquer palavra, que se prestasse a uma desagradável interpretação. Afirmou-me terminantemente que não via outra coisa que não fosse um alto sentimento patriótico. Então, e, visto que sem essa nota, muito pouco se faria, resolvi anuir à publicação, pensando ainda que só comprometia a responsabilidade do partido republicano, afirmando o seu propósito de manter todos os compromissos internacionais, legalmente tomados por Portugal.

Não sei como o partido vai receber essa resolução; se a não aprovar, que ao menos nos conceda que procedemos com a melhor intenção.
[...] [Correspondência Literária e Política com João Chagas, vol. I, Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1957, p. 156-157]

Nota-se nestas afirmações a necessidade de justificação dos actos de uma missão que procurava garantir o apoio que o País iria necessitar após a implantação da República. Para tal, os emissários do partido republicano pareciam estar hesitantes quanto às acções a tomar, porque tinham indicações iniciais para um determinado tipo de tarefa, mas que com o evoluir dos acontecimentos internamente conduziu à tomada de um conjunto de decisões que podiam ultrapassar a missão para a qual tinham sido mandatados.

Outro dos aspectos relevantes, nesta carta, é que permite ver a preocupação sincera deste republicano. Por um lado, a preocupação em não fazar nada que pudesse prejudicar o País, porque externamente para garantir o reconhecimento era necessário assumir a manutenção de todos os compromissos já estabelecidos por Portugal. Por outro lado, afirmava claramente a sua condição de não político, embora momentaneamente envolvido activamente na arte de tentar governar um país.
Nas suas Memórias Políticas, vol. I, Relvas afirma que havia três pontos fundamentais na acção desta missão: evitar contactos com sectores especualtivos da economia que podiam assumir propósitos sectaristas; manter afastados os partidos avançados da Espanha; finalmente, procurar conseguir o apoio da opinião pública moderada em França e Inglaterra, objectivos que parecem ter sido alcançados com a publicação da "Nota Oficiosa", elaborada pelos emissários republicanos, em vários jornais diários da França, Bélgica, Itália, Brasil, Estados Unidos da América e Inglaterra.

No regresso a Portugal, em 17 de Julho de 1910 [??], intensificam-se as actividades secretas conducentes à preparação da revolução de Outubro de 1910. Houve múltiplas movimentações e mesmo tentativas malogradas de implantar a República. Concomitantemente, as reuniões preparatórias sucediam-se no consultório de Eusébio Leão e as divergências entre as personalidades republicanas acentuavam-se. Porém, exteriormente essas divisões não tinham visibilidade porque as eleições gerais, realizadas em Agosto de 1910, obrigavam a cerrar fileiras para garantir credibilidade junto da opinião pública portuguesa.

[em continuação]
A.A.B.M.

sábado, 12 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS, O CONSPIRADOR CONTEMPLATIVO



A exposição, que decorre no Parlamento, subordinada ao título supra referido, e que o Almanaque Republicano procurou divulgar na blogosfera, mostra como é importante recuperar a memória. Neste caso, a memória sobre uma figura da República e esperemos que outras sejam a seu tempo recordadas.

Um povo sem memória e consequentemente sem história é, sempre, a nosso ver, um povo sem futuro, porque não conhece o seu passado. Não acreditamos que isso venha a acontecer em Portugal, mas assiste-se a uma tendência cada vez maior para se valorizar só o momento que se vive, como se nada do que acontece tenha a ver com o que já passou. Quer se queira quer não, o passado projecta-se sempre no futuro. É uma inevitabilidade, mas que muitos, em particular os órgãos de comunicação, tendem a fazer-nos esquecer. Os assuntos tratados consomem/absorvem a vida das populações que depressa viram as suas atenções para novos temas, mesmo que muitas vezes não conheçam o epílogo dos assuntos. As consequências dos acontecimentos são muitas vezes omitidas ou mesmo esquecidas porque o frenesim é permanente.

Neste momento, quando se avizinha o centenário da República é fundamental não esquecer que a História não procura fazer julgamentos a posteriori, como ainda se vê em alguns sítios. Todos temos consciência que qualquer ser humano tem atitudes, comportamentos, decisões com as quais podemos ou não concordar, mas procuraremos estar afastados dessas atitudes mais radicais que ainda vão por aí pontuando a paisagem. Não estamos a viver em 1930, estamos em 2008, e somos capazes de analisar o que consideramos correcto e o que podemos designar de erros, mas muitas vezes os participantes nos acontecimentos não conseguiram o distanciamento para admitir ou reconhecer a falha cometida.

Temos elaborado diversas biografias ao longo deste tempo, e esperamos conseguir criar bastantes mais, mas tentamos sempre manter a figura que estamos a dar a descobrir a alguma distância. Evitaremos o elogio simples, porque também sabemos que não estamos perante seres perfeitos, nem nós somos perfeitos, mas que, no seu tempo, procuraram fazer o que podiam e sabiam, condicionados que estavam, como todos nós, por uma sociedade e uma economia que não conseguiam controlar.

José Relvas foi um homem que viveu intensamente a sua época. Envolveu-se politicamente e tomou opções sobre os mais variados assuntos. Concordamos com João Bonifácio Serra quando afirmou, na abertura da Exposição sobre a personalidade em causa: uma figura singular, das mais fascinantes do Portugal das últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX, José Relvas. Porque era um homem que podia fazer a sua vida sem grandes perturbações, já que os seus meios económicos eram significativos e não procurava na política mais do que uma forma de melhorar o país onde vivia. Para além disso, era uma pessoa com maturidade (50 anos) quando decidiu envolver-se na vida política de forma activa, quando, normalmente, as pessoas iniciam essa actividade bastante mais jovens.

A pesquisa elaborada pelo Doutor João B. Serra para construir a biografia de José Relvas, que ficamos a aguardar com expectativa, mostra que ainda existem muitos dados pouco conhecidos sobre a personalidade. Afirmou este investigador na sessão inaugural da exposição: Para José Relvas, a existência tinha uma ética e uma estética. A ética cumpriu-a na acção associativa e política e no programa de mudança do regime e reforma das instituições – o conspirador. A estética cumpriu-a na reunião de um património artístico – o contemplativo.

Uma personalidade como José Relvas, marcada por uma vida que poderia ser adaptada a cinema ou televisão, porque viveu um pouco de tudo. O sucesso na política e nas finanças e a tragédia na vida famíliar. A vida é, de facto, cheia de contradições, mesmo muitas vezes para os mais famosos.

Recomendamos portanto, novamente, uma visita ao Parlamento, para conhecer melhor a figura de José Relvas, o conspirador contemplativo.

NOTA FINAL: O agradecimento público ao Doutor João B. Serra, que amavelmente nos forneceu a sua declaração na abertura da exposição.

A.A.B.M.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

EURICO DE FIGUEIREDO - GUERRILHEIRO SENTIMENTAL. ESTÓRIAS DE EXÍLIO


Eurico de Figueiredo – Guerrilheiro sentimental. Estórias de exílio

"Estas 'Estórias' estão na gaveta desde 1977. Têm todas um núcleo verdadeiro. Recorremos à amálgama, à descontextualização e a outros estratagemas para tornar irreconhecível, salvo eventualmente para os próprios, se ainda vivos, a identidade das personagens. São estórias muito portuguesas relacionadas com a emigração e o exílio, onde se revelam o sentimentalismo, o abandono e o desespero dos que ficam, o desenrascanço, o risco, a indecisão, a dependência dos que partem, a nobreza de carácter de muitos e a baixeza de alguns! O exílio e a emigração são experiências que nos põem à prova, no melhor e no pior que temos.

Esta primeira experiência de contista, apenas revela uma propensão pessoal para a intervenção polivalente. Não temos qualquer pretensão literária tardia. Quisemos apenas guardar memórias. Além do mais escrevê-las deu-nos um imenso prazer
" [Eurico Figueiredo – ver aqui]

Eurico Figueiredo nasceu em 1939, em Vila Real. Militou no MUD Juvenil e na juventude comunista. Apoiou a campanha de Humberto Delgado. Foi um destacado militante do movimento associativo estudantil, tendo sido preso em 1962, quando era Presidente da Comissão pró-Associação da Faculdade de Medicina de Lisboa. Tal facto valeu-lhe a expulsão, por 30 meses, da Universidade. Pede a transferência para Coimbra e aí participa na reorganização do movimento estudantil coimbrão, tendo sido nomeado secretário-geral do Secretariado Nacional dos Estudantes Portugueses. Funda, clandestinamente, com António Correia de Campos, José Medeiros Ferreira e Nuno Brederode dos Santos (entre outros), o Movimento Sindical Estudantil. Integra a partir de 1963 (e até 1965) a FPLN (ligado ao grupo de Argel, onde pontificam Piteira Santos, Manuel Sertório e Manuel Alegre) e, por isso mesmo, é preso várias vezes. Parte para o exílio (1965), fixando residência na Suíça, onde vive até 1976. Antes, em Agosto de 1974, integra o Partido Socialista, tendo sido depois deputado parlamentar. Pertenceu sempre à direcção nacional do PS até 1999, ano em que abandona o partido, em discordância com a sua linha politica, que considera reformista. É um defensor intransigente da "identidade transmontana e duriense", dando relevância às questões ambientais e ecológicas, ao mesmo tempo que defende o movimento regionalista, constituindo o movimento "Portugal Plural".

Licenciado (1967) em Medicina pela Universidade de Lausana e doutorado pela Universidade de Genebra (em 1976), faz parte de várias sociedades internacionais e nacionais, entre as quais a Sociedade Portuguesa de Psicanálise. Actualmente é Professor Catedrático de Psiquiatria aposentado pela Universidade do Porto (Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar), onde aliás teve cargos relevantes.

Colaborou na estimada revista Cadernos de Circunstância (nº1, Novembro de 1967; sendo a sua comissão coordenadora composta por Alfredo Margarido, Aquiles de Oliveira, Fernando C. Medeiros, João Rocha, José Porto e M. Villaverde Cabral). Funda (com Ana Benavente, António Barreto, Carlos de Almeida, Medeiros Ferreira e Manuel Lucena), em 1970, a importante revista clandestina "Polémica" (1970-1974), editada em Genebra (Suíça) e ligada ao Grupo Socialista Revolucionário. Tem publicado, ainda, inúmeros artigos em periódicos portugueses e vários livros no âmbito da psicanálise e da ecologia.

Fonte: Dicionário dos Mais Ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, Vol II, Guimarães, Editora Cidade Berço, 2001

J.M.M.

DAS TRINCHEIRAS A VERSALHES: GUERRA E MEMÓRIA (1914-1919)


From the trenches to Versailles: War and Memory (1914-1919)
[DAS TRINCHEIRAS A VERSALHES: GUERRA E MEMÓRIA (1914-1919)]

O Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, da Universidade de Coimbra, e o Instituto de História Contemporânea, da Universidade Nova de Lisboa, estão a preparar um colóquio internacional para assinalar os noventa anos da assinatura do Tratado de Versalhes.

Este colóquio que deverá realizar-se em Lisboa em Junho do próximo ano, está a ser organizado por: Maria Fernanda Rollo, Ana Paula Pires, João Paulo Avelãs Nunes e Armando Malheiro da Silva.

Os elementos desta organização informam todos os interessados que entre 1 de Julho e 30 de Novembro de 2008 aceitam porpostas para apresentações de trabalhos conexos com o tema proposto. Como principais linhas de análise propõem-se as seguintes:
- o início da guerra;
- a frente de batalha;
- mobilização económica e economia de guerra;
- alimentação e política de abastecimentos;
- intelectuais em armas;
- a vida nas trincheiras;
- a propaganda de guerra;
- oposição e movimentos anti-guerra;
- a outra guerra: doenças e saúde pública;
- ciência e desenvolvimento tecnológico;
- a conferência de Paz;
- memória e lamento.

Os interessados devem preparar um resumo de cerca de 500 palavras e enviar para:
Maria Fernanda Rollo
Institute of Contemporary History
Faculty of Social and Human Sciences
New University of Lisbon
Avenida de Berna 26 C
1069-061 Lisboa
E-mail: ihc@fsch.unl.pt

As propostas que sejam aceites, para constarem no programa, devem enviar até 1 de Fevereiro de 2009, um texto até 3000 palavras. As apresentações devem durar cerca de vinte minutos seguidas de dez minutos para discussão.

Foram convidados os seguintes oradores, de universidades estrangeiras:
Andrea Fava, Anny Jackeline Torres Silveira, Beatriz Echeverri Dávila, David Welch, Francisco Javier Ponce Marrero, Filipe Ribeiro de Meneses, Giovanna Procacci, John Horne, Luigi Tomassini, Marvin Fried, Nadia Marchioni e Patrízia Doglioni.

A.A.B.M.

terça-feira, 8 de julho de 2008

"QUEM É RICARDO?" - CURTA-METRAGEM DE JOSÉ BARAHONA




Curta-metragem (2004, 34 minutos) realizada por José Barahona, com argumento original de Mário de Carvalho. Montagem de Isabel Antunes e José Barahona; Fotografia de Leonardo Simões;Som por Quintino Bastos; Música de Joaquim de Brito. Produção Cinequanon.

Intérpretes: Augusto Portela, Luís Mascarenhas, Quim Cachopo, João Didelet, Heitor Lourenço, João Miguel Rodrigues, André Gago, António Marques, Jorge Estreia

Trata-se da detenção, interrogatório e tortura (do sono) feito pela PIDE, durante os anos 70, a um preso político e que dura ininterruptamente quase 1 semana.

[via Caminhos da Memória]

J.M.M.

TRIBUNAIS MILITARES ESPECIAIS E OS TRIBUNAIS PLENÁRIOS


Tribunais Militares Especiais e os Tribunais Plenários durante a Ditadura e o Estado Novo – Apresentação Pública

Uma equipa de investigação do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa realizou um estudo académico sobre a história dos tribunais políticos especiais durante o Estado Novo (1926-1974), que amanhã (dia 9 de Julho, pelas 17.30 horas) será apresentado na Sala do Plenário da Boa Hora (Rua Nova do Almada, Lisboa).

A equipa de professores-investigadores que constituiu o projecto – Maria Inácia Rezola, Irene Pimentel, Luís Farinha, João Madeira, Cristina Sizifredo, Ana Filipa Horta, Patrícia Alexandra, Ana Catarina Pinto – teve a coordenação de Fernando Rosas e foi solicitado pelo Ministério da Justiça.

Locais a consultar: Tribunais Militares e Plenários da Ditadura Militar e do Estado Novo (1) / Tribunais Militares e Plenários da Ditadura Militar e do Estado Novo (2)

J.M.M.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A CASA DOS PATUDOS


Casa dos Patudos

A Casa dos Patudos, "artística residência" de José Relvas, que domina a "vasta planície ribatejana" [Raul Proença, in Guia de Portugal II, p. 366], nasce da remodelação encomendada ao então "jovem arquitecto promissor" Raul Lino, em 1904, decorrendo as obras entre 1905-1909.

Diz-nos Raul Proença [ob. cit.]:

"... o aspecto exterior da Casa dos Patudos prende logo a atenção pela elegante concordância dos diferentes motivos arquitectónicos, pela simplicidade das suas linhas e pela harmonia das suas proporções. Os dois corpos que constituem a formosa habitação, o maior, aquele que, voltado ao poente, mais avança sobre a extensa planura do Ribatejo, é emoldurado por uma ampla varanda ou galeria, formada de arcarias de volta inteira, apoiadas em colunas de capitéis românicos, sendo os parapeitos dos vãos formados por variadas combinações de tijolo caiado, tanto de uso nas regiões do sul de Portugal. Dessa galeria a vista estende-se para O. E para N. por todas essa campina do vale do Tejo, povoada de vinhas e olivais e cortada pelas fiadas de choupos que orlam as valas, sendo a linha do horizonte apenas limitada, para o poente, pelas elevações montanhosas de Santarém ..."

Por testamento (1929), José Relvas "legou a Quinta dos Patudos e praticamente todos os seus demais bens ao município de Alpiarça, determinando, entre outras cláusulas, que a residência fosse conservada como museu e mantivesse sempre a designação de Casa dos Patudos" [ler mais, aqui]

Na Casa dos Patudos, a "elegância requintada das suas salas", a presença das "preciosidades artísticas que a adornam, numa disposição dum bom gosto inexcedível", "o mobiliário, as porcelanas, as pinturas e as tapeçarias" fazem parte do riquíssimo acervo que "carinhosamente" nos legou. Futuramente será construído na Casa-Museu um Centro de Documentação, com acesso ao rico e invulgar arquivo documental de José Relvas.

Casa dos Patudos: Rua José Relvas, Alpiarça
Horário de Funcionamento: De Terça a Domingo: 10h–12h / 14h–17h (Inverno) e 10h–12h / 14h–18h (Verão).

Foto, via Arquivo Fotográfico

J.M.M.

JOSÉ RELVAS (Parte III)



Foi durante o Congresso do Partido Republicano de 1908, inicialmente indicado para se realizar em Coimbra em Abril, mas que acabou por se efectuar em Lisboa, que as facções em confronto chegaram a "vias de facto, quando os radicais pediram a demissão do Directório, caso não se comprometesse a organizar e apoiar a revolução"[Vasco Pulido Valente, O Poder e o Povo, col. Participar, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1974, p. 85-86]. Nesta contenda, os radicais foram derrotados, mas no congresso seguinte (Abril de 1909 - Setúbal) já sairiam claramente vencedores. Nesse congresso, os denominados radicais, conseguiram eleger para o Directório do partido um conjunto de personalidades que defendiam a via da revolução, eram elas: José Relvas e Eusébio Leão e entre os substitutos destacavam-se Inocêncio Camacho , Malva do Vale e José Barbosa, que substituíam com frequência os membros efectivos: Basílio Teles e Cupertino Ribeiro que viviam no norte do País e não podiam comparecer a todas as reuniões.

O Directório eleito em 1909 tinha o apoio da Carbonária e a conspiração para derrubar o regime monárquico assume outras proporções quando este Directório nomeou um comité revolucionário secreto de que faziam parte: Cândido dos Reis, João Chagas e Afonso Costa que se encarregariam de desenvolver esforços junto das patentes militares, enquanto, por seu lado, António José de Almeida funcionou como o elo de ligação com os elementos civis, em particular a Carbonária.

José Relvas "na plêiade dos propagandistas da República", "colaborou activamente na propaganda do ideal democrático" [Carlos Ferrão, A Obra da República, Editorial O Século, Lisboa, 1966, p. 264], em especial na região do Ribatejo, onde presidiu a comícios e desenvolveu significativos esforços no sentido de implantar o novo regime. José Relvas e Sebastião de Magalhães Lima foram enviados como emissários do Partido Republicano, em missão ao estrangeiro,particularmente a França, onde Magalhães Lima dispunha de diversos contactos pessoais (em especial Alves da Veiga, que vivia em Paris desde a tentativa revolucionária de 31 de Janeiro de 1891 e conhecia importantes empresários e advogados franceses) e a Londres, onde José Relvas também dispunha de uma rede de amigos bem colocados. O objectivo desta viagem, era garantir que os países europeus mais influentes se manteriam afastados das convulsões que se previam vir a acontecer em Portugal e conseguir o apoio da opinião pública desses países para a implantação da República.

[em continuação]

A.A.B.M.

domingo, 6 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte II)



A sua adesão ao Partido Republicano em 1907 vai conduzi-lo à via revolucionária, dentro do partido. Adpotando esta postura, cria dentro do partido um clima de alguma tensão, porque alguns dos mais destacados membros deste grupo político defendiam uma posição eleitoralista dentro do partido e ambicionavam tomar o poder através da via democrática e com o apoio popular. Outros, pelo contrário, não acreditavam ser possível chegar a implantar a República em Portugal, porque o regime monárquico nunca deixaria de tentar manter o poder a todo o custo, mesmo que as eleições fossem muitas vezes resolvidas através da famosas "chapeladas" ou do "carneiro com batatas" bem regado, que tornava os eleitores, em muitas regiões do país, dóceis cordeirinhos nas mãos dos influentes caciques locais.

Estas duas correntes dentro do Partido Republicano confrontaram-se por várias vezes com intrigas e jogadas políticas que só a unidade face à necessidade de implantar um novo regime impedia as cisões entre os republicanos. José Relvas adopta, desde que assume publicamente a sua adesão ao Partido Republicano, a defesa da via revolucionária (desde Maio de 1907, que se realizavam reuniões de conspiradores, defensores da implantação da República, na Casa dos Patudos, em Alpiarça), enquanto outras personalidades como Teófilo Braga defendiam a via eleitoral para chegar ao poder.

Apesar de ser surpreendido com o desenrolar dos acontecimentos, em particular com a questão do regicídio em 1908, o que terá provocado algum atraso no movimento revolucionário, porque alguns republicanos defenderam nessa altura um período de tréguas com o regime monárquico. José Relvas chega a estabelecer contactos com figuras próximas da família real onde essa hipótese chega a ser aflorada, já que em reunião realizada em casa de Bernardino Machado foi formulado esse pedido de trégua por parte dos republicanos que deveriam passar a integrar também a plataforma liberal. Porém, esta proposta não avançou porque os monárquicos a recusaram. Esta proposta chegou a ser discutida no Congresso de Coimbra do Partido Republicano, tendo Afonso Costa por proponente.

A divergência de posições entre José Relvas e Bernardino Machado foi assumida, pelo menos desde 1909, porque o primeiro enveredou pela via revolucionária enquanto o segundo optou sempre pela eleitoral. No fundo, esboçavam-se já aqui dois dos três grandes grupos que iriam emergir após a implantação da República: de um lado, José Relvas próximo do grupo do jornal A Luta, dirigido por Brito Camacho e, por outro lado, Bernardino Machado e Afonso Costa próximos do jornal O Mundo e que, segundo Carlos Ferrão, nunca terão trabalhado para provocar a revolução que conduziu à implantação da República.

[em continuação]
A.A.B.M.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte I)



Nascido na Golegã em 5 de Maio de 1858, filho de Carlos Relvas, importante proprietário, coleccionador de arte, amador tauromático, fotógrafo, filantropo e homem influente do liberalismo na região de Santarém. Era proveniente de uma família originária da Beira Alta (região de Viseu), que se estabelece na região do Ribatejo.

José de Mascarenhas Relvas frequentou, durante dois anos, a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, na década de setenta do século XIX, mas acabou por abandonar o curso e matriculou-se no Curso Superior de Letras, que viria a concluir em 1880, com distinção[Carlos Ferrão, "Apresentação", in José Relvas, Memórias Políticas, vol. 1, col. Portugal Ontem, Portugal Hoje, Terra Livre, Lisboa, 1977, p. 37]. Durante este percurso terá certamente contactado com algumas das personalidades marcantes da primeira fase do movimento republicano, particularmente Manuel Emídio Garcia, professor de Direito em Coimbra e, Teófilo Braga e Zófimo Consiglieri Pedroso, professores no Curso Superior de Letras e adeptos das ideias republicanas.

Desde cedo estabeleceu relações de amizade com João Chagas , que passava longas temporadas na propriedade de Relvas, onde decorriam animados serões culturais com a presença de figuras de destque da cultura portuguesa dos finais do século XIX e inícios do século XX. José Relvas tornou-se um grande apreciador das artes e cultivava-as. Tornou-se um violinista respeitado e chegou a colaborar em alguns concertos públicos. Porque a sua fortuna familiar lhe permitia viajava com grande frequência pelo estrangeiro onde começou a coleccionar obras de arte que adquiria com frequência e que se tornaram polo de atenção para a Casa dos Patudos, onde ainda actualmente é possível encontrar esse precioso recheio.

A chegada de João Franco ao poder, em 1906, em conjunto com a tomada de todo um conjunto de decisões que favorecia o desenvolvimento do sector vinícola do Douro em prejuízo das restantes regiões vinícolas do País, acelerou a tomada de decisão de José Relvas se filiar no Partido Republicano, facto que viria a acontecer em 1907. Desde esse momento, o seu grande objectivo foi desenvolver todos os esforços para que a Monarquia fosse derrubada.

A sua residência, habitualmente sempre fervilhante de gente ligada às artes, começa a transformar-se num centro de conspiração contra o regime monárquico. Nela terão tido lugar as reuniões preparatórias onde se esboçou o plano que viria a culminar na tentativa fracassada de revolta republicana de 28 de Janeiro de 1908 e, mais tarde, no 5 de Outubro de 1910. Ali acorriam, com frequência, alguns dos seus amigos mais próximos e que, como ele, partilhavam do mesmo ideal político, como: Ricardo Durão, Joaquim Romão, Manuel Duarte, Manuel Nunes Godinho, entre outros.

[em continuação]

A.A.B.M.

terça-feira, 1 de julho de 2008

COLECÇÃO EXTREMÓFILOS


Livros de José Pacheco Pereira na Colecção Extremófilos

Uma nova colecção da Editora AlêtheiaExtremófilos – vai surgir e será dirigida por José Pacheco Pereira. O primeiro livro a publicar será do próprio e terá o título "Um Divide-se em Dois". Diz-nos o autor que "é um estudo sobre o movimento marxista-leninista nos países ocidentais (de cultura política e instituições ‘ocidentais’, da Europa à Nova Zelândia) na sua fase genética, antes sequer de se poder falar de ‘maoísmo’ propriamente dito, antes da Revolução Cultural. Nele se analisa o modo como o conflito sino-soviético foi evoluindo para a cisão do movimento comunista mundial, a política dos chineses e albaneses face aos Partidos Comunistas, e o impacto das teses chinesas no seu interior". Trata ainda, e como seria de esperar face à essa temática histórica, "o impacto do conflito sino-soviético no PCP e a cisão que dá origem à FAP /CMLP, assim como o papel de Francisco Martins Rodrigues".

Um segundo volume a publicar, ainda da sua autoria, será um estudo bibliográfico (detalhado) sobre Publicações Clandestinas e do Exílio Ligadas a Movimentos Radicais de Esquerda Cultural e Política (1964-1974). Para o efeito e de acordo com este texto/post, faz J.P.P. um pedido de ajuda/colaboração aos leitores, que pode e deve aqui ser lido.

Fotos: retiradas, com a devida vénia, dos Estudos Sobre o Comunismo.

J.M.M.