quinta-feira, 26 de junho de 2008

Síntese da análise da Dissertação: “As TIC no Jardim de Infância: contributos do Blogue para a Emergência da Leitura e da Escrita” - Trabalho de Grupo

Grupo constituído por Bruno Miranda, Carla Alves, Henriqueta Costa, Odília Leal e Teotónio Cavaco
Partindo para a análise da dissertação de Mestrado intitulada “As TIC no Jardim de Infância: contributos do Blogue para a Emergência da Leitura e da Escrita”, de Ádila Ferreira Lopes, foi possível identificar as fases do processo de investigação utilizadas. A autora dá – nos a conhecer a caracterização geral do estudo, formulando o problema que se propõe tratar de forma muito sucinta: a demonstração da importância da criação do blogue no que concerne a emergência da leitura e da escrita em contexto pré – escolar.
Este estudo apresenta como objectivos: a análise da contribuição do blogue para a emergência da leitura e da escrita; a tentativa de compreensão do modo como se processa a emergência da leitura e da escrita através dos suportes informáticos; a reflexão sobre a contribuição dos projectos integradores e promotores da leitura e escrita, em suporte digital; a compreensão da forma segundo a qual o blogue influenciará o processo da aprendizagem da leitura e da escrita; a “formulação” de respostas para as dúvidas dos educadores de infância quanto ao uso das tecnologias de informação e comunicação no jardim – de – infância. No fundo, o objectivo central deste estudo será a demonstração da importância do blogue, em contexto educativo, como ferramenta promotora da literacia. Nessa perspectiva afigura-se uma boa adequação entre os objectivos delineados e o problema formulado. Embora se constate a correcta delimitação do estudo, paira no ar, todavia, a dúvida sobre o facto de o estudo ter obedecido “rigorosamente” aos “critérios” implícitos numa investigação. Esta questão surge em virtude de não se encontrar, objectivamente no estudo, um grupo de “perguntas – chave”, para além da própria definição do problema, que procurem ir ao encontro das respostas inerentes ao problema formulado…
À medida que a autora vai descrevendo todo o processo de investigação, recorrendo ao paradigma qualitativo expresso no estudo de caso, o próprio blogue e o modo como as crianças vão interagindo é, no entanto, possível identificar conclusões que acabam por reflectir as suas “deduções” relativamente aos processos observados.
Como a própria autora do estudo refere “ (…) interessa – nos mais o processo de aprendizagem e não tanto qualificar resultados (…), os investigadores qualitativos interessam – se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos”[1].
A autora, ao optar pela criação de um blogue em contexto de jardim-de-infância, intuiu que esta ferramenta (utilizada em vários contextos sociais, nomeadamente na educação, de utilização intuitiva e muito flexível, não exigindo portanto grandes competências tecnológicas para a sua criação e manutenção) pode, como refere Barujel (2005), “promover a leitura e a escrita, contribuindo para a aquisição de competências de comunicação”.
Podemos completar esta informação dizendo que este estudo vai, ainda, “de encontro às ideias dos autores que defendem a familiarização da criança em idade pré – escolar com o computador (…) pensamos que ao integrar o blogue nas actividades curriculares, estamos a fomentar o uso de outras ferramentas como seja a utilização do Word, do e – mail, do programa Paint, navegação na Internet em pesquisas organizadas, exploração de sites onde destacamos as histórias interactivas para a infância” (p. 7).
Existe, ao longo de todo o trabalho, uma preocupação da autora relativamente à necessidade do “contacto precoce” com as TIC por parte das crianças nesta faixa – etária. A autora chega mesmo a afirmar que:
“(…) através das ferramentas digitais” podemos desenvolver “consistentes aquisições de práticas de autonomia e de espírito critico”, na medida em que “o carácter dinâmico das tecnologias favorece uma observação mais selectiva e uma atitude mais critica (…) “ (resumo – IV).
Sobre a planificação da investigação é perceptível a tentativa da autora em "compreender os processos de integração das TIC no jardim-de-infância", fazendo ainda uma "reflexão aprofundada sobre essa realidade e as suas mutações ao longo desta experiência" (p. 49).
Ao referir o seu interesse pelo "processo de aprendizagem e não tanto quantificar resultados"[2] - investigação qualitativa – podemos aferir que a autora:identifica a problemática a estudar – as TIC no jardim-de-infância: contributos do blogue para a emergência da leitura e escrita; encontra um contexto – Jardim-de-Infância de Rio Covo St.ª Eulália; define um objecto de estudo – Sala 1- e adopta um paradigma[3]; apresenta a metodologia aplicada: "a recolha de dados foi feita no ambiente natural – sala – sendo a Educadora/investigadora uma observadora participante. A sua posição na investigação
“(…) é a de quem assume um papel activo, acompanhando as crianças em contexto de sala de actividades. Aobservação participante no contexto natural de acção, consubstanciadano diário de pesquisa, constituiu a principal forma de recolha de dados, aque se juntam informações provenientes de outras fontes, permitindo assim a realização de processos que se aproximam da triangulação. Adoptámos,pois, outras técnicas de recolha de dados que se afiguraram relevantes,entre elas os registos diários do trabalho das crianças, os registos de vídeo, e as entrevistas às crianças a partir das quais descobrimos a sua perspectiva sobre as experiências de aprendizagem que realizaram." (p. 51).
Ainda em relação à planificação é possível constatar outras condicionantes do processo, nomeadamente: selecção de crianças a estudar, segundo faixa etária bem definida; realização de calendarização, com explicitação de dois momentos definidos (construção da ferramenta blogue – Outubro 2006; trabalho de campo no Jardim de Infância - Dezembro a Maio de 2007).
Indagando sobre os elementos referenciados sobre o estudo empírico, entendem-se referências quanto aos instrumentos de recolha de dados, realizados pela autora ao longo do capítulo IV, nomeadamente: observação participativa (com elaboração de um diário de pesquisa); realização de entrevistas informais com as crianças; registo de entradas e comentários no blogue; realização de notas de campo.
Quanto aos procedimentos de análise de dados permitimo-nos inferir sobre a realização de uma análise quantitativa e qualitativa das intervenções das crianças no blogue; a transposição de realidades apreendidas no blogue para a sala de aula; a participação das crianças em actividades com novos materiais tecnológicos. Esta análise está subjacente nas conclusões retiradas no capítulo VI. Não há, contudo, uma especificação dos procedimentos adoptados.
É também possível identificar as conclusões da investigação. De facto, o capítulo 6 da Tese é todo ele dedicado à análise e apresentação dos dados, ao que se segue a conclusão. No entanto, ao longo dos capítulos anteriores foi possível identificar conclusões, sobretudo à medida que a autora ia descrevendo todo o processo de investigação, o próprio blogue e o modo como as crianças interagiram. Assim, podemos retirar como conclusões as seguintes constatações:
O blogue Da Janela do Meu Jardim, para além de permitir o carácter lúdico (aspecto muito importante sobretudo neste nível etário), funcionou como espaço de colaboração, cooperação e interactividade, o que potenciou a emergência de competências de literacia e contribuiu para o desenvolvimento global daqueles alunos, tanto em termos cognitivos como psicológicos e sócio-afectivos. Convém lembrar, no entanto que, desde o início, a investigadora teve consciência de que só por si, o uso das TIC não alteraria nada, caso não houvesse um plano cuidado no sentido de criar ambientes propícios. Essa preocupação nota-se ao longo da investigação. A autora chega a citar estudiosos que alertam até para o perigo da introdução demasiado precoce do uso do computador poder atrofiar a imaginação. É por isso também que há o cuidado de usar os anteriores meios de motivação para a leitura e escrita, sendo o blogue apenas mais um e funcionando como mediador e potenciador dos outros.
Outra das conclusões aponta no sentido do estabelecimento de redes interactivas, assumindo as crianças um protagonismo difícil de obter com métodos tradicionais. As crianças envolvidas no estudo revelaram um à-vontade e uma agilidade no manuseamento do computador, o que comprova a designação de “verdadeiros nativos digitais” tão querida a certos autores.
Ficou também bem claro que o objectivo de desenvolver comportamentos emergentes de leitura e escrita e não propriamente ensinar a ler e escrever, foi totalmente alcançado. Esta competência deve ser desenvolvida antes da entrada da criança na escolaridade obrigatória.
Existiu, porém, um facto que nos levou a questionar se as conclusões não teriam sido contaminadas pelo facto de investigadora ter o estatuto de participante. Facto que nos parece de somenos importância, tendo em conta o inegável cuidado como o estudo se desenrolou e as marcas positivas que terá deixado junto daquelas crianças. Se se pretendesse, a partir daqui ditar receitas plagiadas deste projecto e aplicadas mecanicamente noutros contextos, aí sim, tínhamos um problema, mas em investigação qualitativa, como sabemos, o objectivo não é esse. Obviamente, trabalhos como este servem apenas de modelo, requerendo-se a adaptabilidade aos processos de desenvolvimento curricular (inserção nos PCT e Planos de Actividades da turma/escola de aplicação).
Como a autora afirma, não se trata de chegar a leis ou explicações causais, mas tão só de comprovar a tese de que a construção de um blogue num jardim infantil pode ser «uma estratégia pedagógica, um instrumento de formação cívico-pessoal e de desenvolvimento da autonomia e de formação pessoal e social» (p. 64).
Relativamente à escolha do paradigma de investigação, a autora opta claramente pelo Paradigma Qualitativo e está bem consciente das suas potencialidades e virtualidades, sendo o Capítulo V dedicado, precisamente, a esses esclarecimentos. O paradigma qualitativo é o mais adequado a este tipo de investigações, pois o objectivo não é chegar a conclusões generalizáveis, mas apenas estudar, acompanhar, apoiar o processo de aprendizagem. Numa óptica construtivista, este paradigma é o ideal para permitir alcançar estes objectivos.
A autora utiliza a estratégia do Estudo de Caso, citando autores de referência como Cohen e Manion, Yin, Bogdan e BiKlen, Gómez, Flores e Jiménez. Esta técnica permite um exame detalhado, compreensivo e sistemático do caso em questão (concretamente, a importância das TIC e, mais especificamente, do blogue, para o desenvolvimento de competências de literacia), assim como uma observação detalhada de um contexto, organização ou acontecimento ou indivíduo, proporcionando uma análise intensiva do fenómeno em estudo, nos seus múltiplos aspectos e, geralmente, permite que se prolongue no tempo. Neste caso, prolongou-se por apenas um ano lectivo, o que leva também a investigadora a colocar a questão temporal como um dos constrangimentos encontrados, pois, como sabemos, nestes assuntos, a observação num tempo médio e longo permite obter dados mais consistentes. Por exemplo, observar aquele grupo/turma durante todo o seu percurso escolar, pelo menos no ensino básico, seria o ideal. Todavia, a ciência faz-se colectivamente e nada impede que alguém continue essa linha investigadora.
A qualidade de uma investigação também se mede pelas novas problemáticas que alimenta. Daí nos parecer importante que o acompanhamento a longo prazo permitiria perceber quão decisiva se revelou ou perpetuou a intervenção.
Ainda é apontada a técnica do Observador Participante, a qual faz parte do método escolhido, embora houvesse alternativas, como por exemplo, a Entrevista em Profundidade mas que, dado o nível etário, seria pouco adequada. Esta técnica utilizada foi consubstanciada no Diário de Pesquisa, principal forma usada pela investigadora para recolher os dados. Ainda que a autora tenha evidenciado preocupação pelos constrangimentos associados, julgamos os aspectos positivos alcançados com este estudo, capazes de superar qualquer pequena existência de contaminação que possa ter existido.
Na verdade, “a integração e apropriação das tecnologias por parte das crianças é um caminho sem retorno”. Não podemos ignorar que “os “nativos digitais” (Prensky, 2007) convivem de uma forma perfeitamente natural com os artefactos tecnológicos – verdadeiras extensões do seu cérebro, servindo para comunicar, pesquisar, partilhar, criar, socializar e, claro, aprender” (p. 2).
Os investigadores qualitativos[4] “tentam analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto quanto o possível, a forma como estes foram registados ou transcritos” e, como tal, tendem a analisar os seus dados de forma indutiva. Não recolhem dados ou provas com o objectivo de confirmar hipóteses construídas previamente; ao invés disso, as abstracções são construídas à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando.

[1] In Faria. A., As TIC no Jardim – de – Infância: Contributos do Blogue para a Emergência da Leitura e da Escrita, Universidade do Minho (Instituto de Estudos da Criança), 2007, 49.

[2] Bogdan e Biklen (1994)

[3] "mais do que quantificar ou generalizar, interessa-nos compreender um processo e, para esse efeito tivemos que observar e questionar os sujeitos – crianças – de forma a compreendermos o que experienciam e, sobretudo, como praticam as suas experiências." (p. 51)

[4] “Na investigação qualitativa a fonte directa de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal”, in Bogdan e Biklen (1994, 47), Investigação Qualitativa em Educação, Porto, Porto Editora

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Bem Vindo(a)

Este espaço, aberto a todos os colegas e Professores do Mestrado em Supervisão Pedagógica 2007/2009, da Universidade Aberta, pretende consignar temas e reflexões sobre vivências, experiências e novas aprendizagens, no âmbito da unidade curricular de Investigação Educacional.