sábado, 8 de agosto de 2009

Os dedos e a revolta

Então que um belo dia, os dedos das mãos acordaram revoltados. Todos os 10 dedos estavam um tanto quanto surtados com o que estava acontecendo na vida deles.
Quem liderou a revolta foi o dedo indicador.
- O que é isso, minha gente, temos que nos organizar! Até quando vamos ficar aguentando esse infeliz humano nos fazer trabalhar, digitar trabalhos, lavar as partes íntimas, segurar as coisas para ele? Até quando?
A mão, que não era boba nem nada, concordou.
-É verdade. E depois sobra tudo para mim. Lavar a louça no inverno, segurar o copo quente no verão...
- Pois então - disse o indicador da mão direita - temos que nos organizar.
- Mas espere aí - gritou o dedão do pé - o motivo da sua revolta deve ser outro.
O indicador ficou furioso e nesse instante disse:
- Sim, na verdade o que tenho a dizer é: não vamos nos organizar não. Quero que vocês se lasquem. Meu humano é destro então sobra tudo pra mim. Nem meu irmão gêmeo faz alguma coisa....
O indicador esquerdo nesse momento estava dentro da calça e não ouviu nada.
- Vejam vocês: o polegar é o mais importante do grupo e se acha total. Quando o humano que dizer que está tudo bem, mostra o polegar levantado. É o fim! Quando quer xingar alguém, quem é o mais importante, quem? O dedo do meio que manda meia dúzia ir tomar no cú. E por falar nisso, quem é que limpa o cú? Quando dizem assim: Enfia o dedo no cú! qual dedo vocês acham que é? Eu! O indicador!
Nessa hora todos os dedos perceberam que o indicador não estava bem e que poderia fazer algo de pior.
- Eu só sirvo pra tirar meleca do nariz, tirar ramela do olho, pedir pra ir no banheiro na escola, pedir a conta, julgar os outros! Até o anelar é mais importante! É ele que está no casamento, ele é fotografado, cuidado...Ah, puta que pariu!
Foi então que o dedo mindinho que manifestou. Calmamente:
- Indicador, entendo o que quer dizer. Compreendo você. Mas me diga: e eu? Você está aí todo revoltado, todo cheio de assunto, se dizendo injustiçado. Já me viu reclamar? Para que eu sirvo? Uma vez, um primo distante meu me contou que o humano dele deixou a unha dele crescer e usava pra coçar o ouvido, tirar meleca. Com o mindinho, meu primo tão pequeno...E eu? Vamos, me diga? E só pra completar: quem está na figura de Michelangelo na capela Sistina? Hã? Quem entrou pra história?
Todos os dedos ficaram parados observando a conversa.
- Eu não sirvo para muita coisa. Tenho apenas uma utilidade: completar a mão. E olha que o mindão, meu primo do ceará foi decepado da mão de um fulano aí que mesmo assim virou presidente.
O indicador parou, prestou atenção e foi de encontro à palma da mão chorar. Nunca ele tinha olhado a mão toda daquele jeito. Se viu como um egocêntrico que só pensava nele.
Tentou abraçar o mindinho, mas não conseguiu. Apenas um toque de longe.
Os dedos assim se tocaram e cruzaram uma mão com a outra, tentando se encontrarem.
Todos eram diferentes, cada um com suas peculiaridades e defeitos. Compraram um anel e coroaram o mindinho da mão esquerda.
Ele reinou absoluto não como um rei, mas como um conselheiro.
O tamanho e a utilidade no mundo, muitas vezes são perceptíveis, mas o que fazemos com os nossos pensamentos e ações é o mais importante. Pensar é melhor que aparentar.

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