terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - UMA EXPLICAÇÃO PARA O FIM DA URSS


No pós-guerra, embalados pelo Plano Marshall, os aliados aos Estados Unidos cresceram aceleradamente. Movidos por acirradas concorrências, as empresas dos Estados Unidos , da Europa Ocidental e do Japão fizeram um gigantesco esforço bisando à introdução de novas tecnologias, principalmente daquelas aplicadas ao processo produtivo, tais como a informática, a robótica, técnicas de miniaturização, etc., tudo isso possibilitou uma brutal elevação, tornando-as mais competitivas.
Evidentemente, para alcançar esse novo patamar houve um esforço conjunto entre as empresas e os Estados e os Estados que as abrigam no sentido de se investir maciçamente em pesquisa e desenvolvimento e na elevação dos níveis de qualificação da mão-de-obra. A essas novas tecnologias e às mudanças radicais que elas estão provocando, não só do ponto de vista socioeconômico, mas também cultural, é consenso definir como uma Terceira revolução Industrial. É o capitalismo adentrando no seu atual período técnico cientifico. Os paises lideres desse processo, ora em curso, são os Estados Unidos e o Japão, seguidos de perto pela Alemanha e a França e, em menor escala, por outros países desenvolvidos, como o Reino Unido, a Itália, o Canadá, a Suécia, Suíça, etc.

A DECADÊNCIA DA SUPERPOTÊNCIA

E a União Soviética? Como é que ficou nesse contexto de grandes transformações tecnológicas? Foi em meados da década de 70 que a União Soviética começou a perder o “bonde da história”. Ficava evidente, mesmo para os próprios soviéticos, que o império vermelho era uma superpotência apenas pelo seu poderio militar, pelo seu arsenal nuclear e pela sua capacidade de destruição em massa. Devido ao seu baixo dinamismo econômico, sua produtividade industrial não acompanhava nem de longe os avanços dos países capitalistas desenvolvidos mais competitivo. Seu parque industrial, sucateado, era incapaz de produzir bens de consumo em quantidade e qualidade suficientes para abastecer a própria população. As filas intermináveis eram parte do cotidiano dos soviéticos e o descontentamento se generalizava.
As filas nas lojas do Estado atormentavam a população. Era o retrato mais fiel da falência da economia soviética.

Mas o golpe de misericórdia na combalida economia soviética foi dado pelos Estados Unidos, no inicio da década de 80. a campanha dos republicanos para a eleição presidencial norte-americana, em 1980, foi baseada na recuperação da auto-estima e do prestigio internacional do país, abalado pela gestão democrata de Jimmy Carter, tido por muitos como um governo fraco. Ronald Reagan foi eleito presidente dos Estados Unidos com esse discurso e, para viabilizá-lo, prometeu triplicar o orçamento para a defesa. Como a União Soviética, não tinha mais condições de continuar com a Corrida Armamentista, os acordos de paz entre as duas superpotências se tornam necessários.
Nas eleições parlamentares, ocorridas em dezembro de 1995, o grande vencedor foi o partido Comunista. Isso refletiu o descontentamento da população com as reformas econômicas, ou seja, seu sofrimento com a prolongada crise. Assim, os partidos reformistas reduziram sua representação no Parlamento, conforme se pode constatar. O discurso xenófobo e radical de Jirinovsky também não empolgou tanto como em 1992 e seu partido também perdeu cadeiras no Parlamento.

O AGRAVAMENTO DA CRISE

Rússia, assim, como os demais países que integravam a extinta União Soviética, passam por um momento bastante delicado. Desmontaram a economia planificada, que bem ou mal funcionava e à qual estavam adaptados, mas não conseguiram ainda construir nada para substituí-la. Estão vivendo um momento de transição rumo ao capitalismo, mas até agora só conseguiram “conquistar” os aspectos negativos da economia de mercado: inflação, recessão, falências de empresas, desemprego em massa, empobrecimento da população, etc. A crise é muito grave, conforme se pode constatar pela analise dos dados a seguir.
A economia russa encolheu mais nesse período do que a norte-americana durante a crise de 29. estima-se que haja mais de 10 milhões de desempregados atualmente no país. O empobrecimento é generalizado e os russos começavam a conviver com um fenômeno com o qual não estavam acostumados: a miséria.
As antigas repúblicas da União Soviética estão descobrindo a duras penas que, para a economia de mercado funcionar direito, exigem-se ajustes estabilidades macroeconômicas e também um aspecto que vão demorar a incorporar: uma cultura capitalista, um modo de pensar capitalista que evidentemente deixou de existir depois de setenta anos de economia planificada. O capital estrangeiro, que era esperança de salvação econômica, não está entrando nesses países conforme era esperado, devido à instabilidade econômica e política. Particularmente na Rússia, além da grave crise econômica, como foi visto, há também uma crise política, provocada pelo separatismo. A Rússia continua sendo um país multinacional e o separatismo é sempre um fator de instabilidade. Isso ficou claro quando o governo de Bons Yeltsin reprimiu violentamente o movimento separatista da Chechênia (localiza-se no mapa da CEI).
Com o capital estrangeiro “assustado” e com mercados mais interessantes para investir no mundo, cada vez mais a economia russa é controlada por grupos mafiosos, que nada deixam a dever a AL Capone, no Chicago dos anos 30. O trecho do artigo de Antônio Gonçalves Filho mostra bem isso.

(...) A má fia dos tártaros, a má fia dos curdos, a má fia dos chechenos, todas elas têm o país nas mãos. Velhinhas aposentadas aparecem mortas por criminosos organizados que estão construindo fortunas sobre o sangue de seus compatriotas. Como agora é possível comprar imóveis por preços irrisórios (para os mafiosos), eles emprestam” o dinheiro a esses aposentados e, após a compra, os infelizes não recebem a casa própria, mas duas balas na cabeça (...).

Nessa terra desolada, a revolução não terminou com um bom, mas com a terrível constatação de que os russos jamais conquistaram sua cidadania, que sempre foram súditos de regimes de força — primeiro, os czares, depois o Estado soviético, e agora as máfias.
(O Estado de São Paulo, 14 de maio de 1995)

Mas quais foram as principais mudanças que ocorreram com o surgimento da CEI? Elas foram maiores no plano político. Houve uma descentralização de poder e, gradativamente, consolida-se a democracia em novos países independentes. O cargo mais importante da hierarquia de poder agora é o de presidente da República, que governa com o parlamento. Presidente e parlamentares são eleitos diretamente por voto popular em cada um dos novos países.
O grande vencedor nessa história toda foi o ultra-reformista Bons Yeltsin, que foi eleito presidente da Rússia, de longe a mais importante das ex-repúblicas soviéticas e principal herdeira da antiga superpotência, passando inclusive a ocupar o assento que pertencia à União Soviética como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Bons Yeltsin foi apoiado pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais porque, apesar de suas manifestações autoritárias e xenófobas, era o político que mais acenava com mudanças rápidas e profundas em direção a economia de mercado. Yeltsin era também o que mais afinava com a ideologia das potências ocidentais. Já que Gorbachev havia saído de cena, não restava outra alternativa senão apostar nele. É importante salientar, no entanto, que a própria saída de cena de Gorbachev foi um golpe branco impetrado por Yeltsin. Ao declarar a independência da Rússia, eliminou qualquer possibilidade de instauração de uma nova estrutura federativa, que, embora, fizesse algumas concessões aos separatistas, seria talvez a única chance de manter coesão territorial do país — o objetivo fundamental de Gorbachev.
Com o passar do tempo, Yeltsin daria demonstrações de autoritarismo. Em setembro, de 1993, ele fechou o Parlamento russo. Esse ato, claramente golpista, foi uma reação aos empecilhos colocados ao projeto ultra-reformista não só pelo Parlamento, de maioria conservadora comunista, mas também pela própria Constituição. Essas estruturas de poder eram uma herança da União Soviética, pois a Constituição datava de 1978 e o Parlamento tinha sido eleito em 1989. Assim, ao tomar essa altitude, Yeltsin buscou retirar os entraves que dificultavam suas reformas, tendo sido apoiado pelos Estados Unidos e países europeus. No entanto, agiu de maneira claramente ditatorial, mantendo uma tradição da Rússia, onde nunca houve de fato democracia.
Quando fechou o Parlamento, Yeltsin prometeu convocar eleições para dezembro de 1993. Cumpriu sua promessa, mas não foi muito bem nas urnas, embora tenha conseguido aprovar em plebiscito à nova Constituição, que lhe deu mais poderes. Seu partido, Opção da Rússia teve 13 % dos votos, mas o grande vencedor com 24 % dos votos, foi o Partido Liberal Democrático, oposição de extrema direita, liderado por Vladimir Jirinovsky. O Partido Comunista ficou com 10 % dos votos, seguido do Partido Agrário, com 9 %.
Foi com essa espinhosa missão que Mikhail Gorbatchev chegou ao cargo de secretário-geral do PCUS, posição mais alta da estrutura de poder da extinta União Soviética. Cabia a ele recolocar o país no mesmo patamar tecnológico do mundo ocidental, aumentando os níveis de produtividade econômica. Cabia a ele também aumentar a oferta e a qualidade de bens de consumo de alimentos para a população.
Para isso, era importante atrair investimentos estrangeiros, garantindo acesso a novas tecnologias. Com esse objetivo, foram firmadas muitas associações (ioint ventures) com empresas ocidentais. Era fundamental, para tanto, introduzir entre os administradores e trabalhadores o conceito de lucro, de produtividade, de controle de qualidade, etc, afim de modernizar empresas industriais e agrícolas.
O próprio Gorbatchev fez uma análise bastante realista da situação do país e propôs reformas nos planos político e econômico. Essas propostas aparecem de forma cristalina no livro Perestroika — novas idéias para o meu país e mundo, um best-seller mundial:
O sucateamento das indústrias, na extinta União Soviética, era cada vez mais acentuado, aumentando uma defasagem em tecnologia de produtos em relação às potências capitalistas. Seus produtos eram piores, uma produtividade, menor.

Estava-se desenvolvendo uma situação absurda: a URSS, o maior produtor mundial de aço, matérias-primas, combustiveis e energia, apresentava escassez de tais recursos devido ao uso ineficiente ou ao desperdício. Apesar de ser um dos maiores produtores de grãos para alimentação, tinha de comprar milhões de toneladas por ano para fornagem. Possuímos o maior número de médicos e leitos hospitalares para cada 1000 habitantes, e, ao mesmo tempo, existem claras deficiências em nossos serviços de saúde. Nossos foguetes conseguem encontrar o cometa de Halley e atingir Vênus com uma precisão surpreendente, mas ao lado desses triunfos científicos às necessidades econômicas, e muitos dos eletrodomésticos na URSS apresentam uma qualidade sofrível.
Infelizmente, isso não é tudo iniciou-se uma gradual erosão de valores ideológicos e morais de nosso povo.
Ficou claro que a taxa de crescimento caía rapidamente e que todo o mecanismo de controle de qualidade não estava funcionando de forma adequada. Havia falta de receptividade com relação aos avanços científicos e tecnológicos, a melhoria do padrão de vida estava diminuindo e havia dificuldade no fornecimento de alimentos, bens de consumo e serviços.
(GORBACHEV, Mikhall, Perestroika - novas idéias para o meu país e o mundo. P 20)

Nesse livro, Gorbatchev, rompendo com o imobilismo da era Brejnev, propôs uma reestruturação (Perestroika, em russo) da economia soviética visando à superação de suas profundas contradições. Mas, para a implantação da Perestroika, para o seu sucesso, respondendo a pressões internas e externas, seriam necessárias reformas também no sistema político-administrativo.
Era preciso pôr fim à ditadura, desmontando o aparelho repressor erigido na era Stálin. Outra necessidade era frear a corrida armamentista. Gorbatchev sempre tomou a iniciativa para a assinatura de acordos de paz com os Estados Unidos, o que acabou lhe garantindo o Prêmio Nobel da Paz, em 1990. Independentemente de seus princípios éticos, ele necessita urgentemente desses acordos para ter as condições econômicas e políticas que sustentariam a implantação de suas reformas.
O primeiro passo foi a glasnost, que pode ser traduzida como uma nova fase de transparência política. Teve inicio, assim, uma abertura política na extinta União Soviética. Entretanto, a desmontagem do aparelho repressor foi como se um poderoso vulcão, há muito adormecido, entrasse em atividade. Forças nacionalistas imediatamente começaram a reivindicar autonomia em relação a Moscou. Durante toda a existência da União Soviética, as minorias oprimidas pelos russos, que eram de fato os senhores do país, foram controladas pelo uso da força bruta — repressão, tortura, assassinatos, etc, - e pelo controle ideológico — o partido único como encarnação da revolução socialista e do proletariado no poder. Assim, com o primeiro relaxamento nessa estrutura de dominação, brotaram vários movimentos separatistas. As repúblicas bálicas foram pioneiras, declarando unilateralmente sua independência. Em seguida, os ideais de liberdade espalharam-se pelo Cáucaso, Ásia Central e outras regiões do país, levando à completa fragmentação política da antiga superpotência.

O FIM DA SUPERPOTÉNCIA

Mikhail Gorbatchev, que já estava sendo fortemente pressionado pela crise econômica e pelos insucessos da Perestroika, teve de contemporizar as pressões dos separatistas. Tentando manter a coesão territorial do país, fez um acordo com as repúblicas, concedendo-lhes maior autonomia no âmbito de uma federação renovada. A idéia de Gorbatchev era de que a União Soviética caminhasse gradativamente para uma espécie de confederação. Porém, isso era inadmissível para os comunistas conservadores. Um dia antes da entrada em vigor do acordo firmado entre Gorbatchev e representantes das repúblicas, os comunistas ortodoxos, sob a liderança de Guenedi lanaev, deram um golpe de Estado. A tentativa golpista, que durou de 18 a 20 de agosto de 1991, fracassou por falta de apoio popular por divisões no PCUS e nas forças armadas pela resistência liderada por Bons Yeltsin, presidente da Rússia. Mas, aproveitando-se da crise política que acabou o país, do vazio de poder que se instaurou, os países bálticos proclamaram sua independência política. Era o início do desmembramento do país.
Após a fracassada tentativa de golpe, Míkhail Gorbatchev foi reconduzido ao poder com apoio de Bóris Yeltsin. No entanto, o poder central esvaziara-se. Uma a uma, as repúblicas proclamaram a sua independência política, enfraquecendo o poder central. Gorbatchev era então presidente de um aglomeramento de países, de uma ficção geopolítica, não mais que um Estado unificado e centralizado. Mas o golpe fatal veio em dezembro de 1991, quando a própria Rússia, sustentáculo da União Soviética, proclamou também a sua independência, sepultando de vez a outrora superpotência. Um encontro dos presidentes da Rússia, da Ucrânia, e de Belarus, em 9 de dezembro de 1991, em MinsK (Belarus), selou o fim da União Soviética. Como resultado do Acordo de Minsk, surgiu a Comunidade de Estados Independentes (CEI). Em 21 de dezembro de 1991, essa entidade foi instituída pelo Tratado de Alma-Ata (Casaquistão). Onze das antigas repúblicas soviéticas aderiram á CEI, em Alama-Ata. Em 1993, Geórgia também ingressou na CEI. Das antigas repúblicas soviéticas, apenas a Lituânia, a Letônia e a Estônia não entraram para essa entidade. Veja o mapa e compare-o com o da extinta União Soviética.

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