sexta-feira, 12 de junho de 2009

Erros comuns em textos braille

Instituto Benjamin Constant
Curso de Revisão de Textos
em Braille
2005

Disciplinas:
Grafia Braille para a
Língua Portuguesa
Simbolização Científica em
Braille

Ministrante:
Jonir Bechara Cerqueira

Assistentes:
Arinísia Helen B. Souza
Vanessa de Oliveira A. Valença
Maria Luzia do L. Rocha
Yvonne da Silva C. Marques

Atividades Práticas de Revisão

Erros comuns em textos braille





Considerações preliminares sobre tipos de erro comumente verificados na
transcrição para o braille

O revisor deve sempre estar alerta para diferentes tipos de erro a
serem encontrados no trabalho de revisão. Estes decorrem, geralmente, da
má aplicação das normas de representação braille. Outro aspecto
importante a considerar é o processo de produção do texto: em máquina
braille, digitado ou digitalizado. Leve-se ainda em conta a qualidade da
impressão produzida, dependente do estado de funcionamento das
impressoras braille.

Sem prejuízo de outras situações a serem verificadas, destacamos, a
seguir, alguns tipos de erro comumente encontrados:

Palavras juntas

Palavras separadas por dois ou mais espaços

Linha em branco desnecessária em meio ao texto

Meia linha em branco

Parágrafo com um espaço em branco, com três ou mais espaços em branco

Travessão junto da palavra

Vírgula separada da palavra por um espaço

Ponto separado da palavra por um espaço

Ponto-e-vírgula separado da palavra por um espaço

Dois-pontos separados da palavra por um espaço

Citação em que se abrem aspas e não se fecham

Citação em que se fecham aspas sem terem sido abertas

Título centralizado e título na margem no mesmo texto

Título sem separação do texto por linha em branco

Troca de posição de letras na mesma palavra

Palavra repetida na mesma frase

Palavra fora de posição na frase

Introdução de uma palavra que não faça sentido no texto

Erros de grafia diversos

Parágrafo iniciando sem maiúscula

Maiúscula desnecessária em meio a uma frase

Uma letra maiúscula no meio de uma palavra

Sinais de sublinhado empregados erradamente: abrir e não fechar e
fechar sem ter aberto

Vogais sem acento ou com acento trocado

Falta de uma frase num período

Emprego de hífen em vez de travessão

Troca da ordem das páginas de um texto

Repetição de letras numa palavra: apprender

Falta de letra na palavra: aprener

Existência de letras e sinais estranhos, quando o original foi
digitalizado

Erro do texto original

Dimensões da Cela Braille

Dados extraídos da Notación U del Sistema Braille, ONCE, 1978

Medidas em milímetros

Pontos
Altura: 1,5 mm
Diâmetro: 0,5 mm

Distância entre os pontos
1/3: 5 mm
1/4: 2,5 mm
1/2: 2,5 mm

Distância entre celas
4/1: 3,5 mm (celas consecutivas)
3/1: 5 mm (celas na mesma linha vertical, em linhas consecutivas)

Primeiro dia mundial do BRAILLE





TORONTO, 3 de janeiro /CNW/
Quatro de janeiro de 2001
marca o primeiro Dia Mundial do Braille.


Delegados presentes à 5ª Assembléia Geral da União Mundial de Cegos,
realizada no final do ano passado em Melbourne, Austrália, aprovaram uma
resolução unânime que declarou 4 de janeiro, data do nascimento de
Louis Braille, como Dia Mundial do Braille.
A iniciativa é um tributo a este gênio, que, há quase 200 anos,
revolucionou as vidas das pessoas cegas e deficientes visuais com a
invenção de seis pontos "mágicos", num sistema, ao mesmo tempo simples e
sofisticado, capaz de representar letras do alfabeto, notações musicais,
símbolos químicos, números e sinais de pontuação.

"O Braille é, para a pessoa cega, o que a palavra impressa é para o
indivíduo que vê - acesso à informação e contato com o mundo exterior",
diz James Sanders, Presidente da União Mundial de Cegos da Região
Norte-Americana e do Caribe.

Para encorajar as pessoas de todo o mundo a comemorar o Dia Mundial do
Braille, a União Mundial de Cegos desenvolveu um site que inclui
atividades especiais da comunidade e programas escolares que marcam o
evento. O site tornou-se possível graças à União Mundial de Cegos e sua
parceria com o "Human Resources Development Canada"

- National Literacy
Secretariat (Secretariado Nacional de Alfabetização)

, the Canadian National Institute for the
Blind (Instituto Canadense para Cegos)

(CNIB), the Canadian Braille Literacy Foundation
and the Canadian Braille Authority (Fundação Canadense de Alfabetização
Braille e Comissão Braille Canadense)

.

Para acessar as informações sobre o Dia Mundial do Braille em francês e
inglês, visite o site do CNIB em:

www.cnib.ca

.
Voz internacional de mais de 165 milhões de pessoas cegas e deficientes
visuais em todo o mundo, a União Mundial de cegos (UMC) acompanha
legislações e trabalhos que visem mudar atitudes acerca da cegueira, com
dois objetivos fundamentais: prevenção e cura da cegueira evitável e
oferecimento de serviços e programas a pessoas cegas.

Desde 1918, o CNIB tem ajudado os canadenses cegos, deficientes visuais
e surdo-cegos a enfrentar seu maior desafio: progredir, de modo
independente, num mundo visual. Para mais informações sobre o Dia Mundial do Braille, visite, por favor:



Para mais informações sobre o Dia do Braille no Canadá, visite, por
favor:

Headline News
<../../Hdlnenws.htm>

Louis Braille :Sua vida e seu sistema

LOUIS BRAILLE
SUA VIDA
E SEU SISTEMA

Edison Ribeiro Lemos
Jonir Bechara Cerqueira
Jurema Lucy Venturini
Teresinha Fleury de Oliveira Rossi

2ª Edição, revisada e atualizada

Edição Comemorativa dos
190 anos do nascimento de
Louis Braille

FUNDAÇÃO DORINA NOWILL PARA CEGOS

São Paulo - Brasil
1999

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*01 ÍNDICE

Observações:
1. Os numerais indicados após a série de pontos se referem à numeração
do livro original em tinta.
2. Os numerais antecedidos de asteriscos facilitam a localização dos
textos, independentemente dos respectivos títulos.

*02 APRESENTAÇÃO ..... 4

*03 INTRODUÇÃO À PRIMEIRA EDIÇÃO ..... 5

*04 LOUIS BRAILLE ..... 8

*05 O SISTEMA BRAILLE ..... 22

*06 O SISTEMA BRAILLE NO MUNDO ..... 28

*07 O SISTEMA BRAILLE NA LÍNGUA PORTUGUESA ..... 33

*08 O SISTEMA BRAILLE NO BRASIL ..... 36

*09 COMISSÃO BRASILEIRA DO BRAILLE ..... 48

*10 PORTARIA N. 319, DE 26 DE FEVEREIRO DE 1999 ..... 48

*11 MEMBROS DA COMISSÃO BRASILEIRA DO BRAILLE ..... 53

*12 BIBLIOGRAFIA ..... 54

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*02 APRESENTAÇÃO

LOUIS BRAILLE, SUA VIDA E SEU SISTEMA é obra destinada a marcar os
grandes momentos comemorativos do genial inventor e de sua maravilhosa
contribuição para as pessoas cegas de todo o mundo.

Lançada em 1975, sua primeira edição homenageava os cento e cinqüenta
anos de uso do Sistema Braille no mundo.

Esta segunda edição, revista e atualizada, insere-se nos eventos
comemorativos dos 190 anos do nascimento de Louis Braille, como uma das
mais efetivas homenagens levadas a efeito no brasil.

Fonte de estudo, consulta e pesquisa, afirmou-se, durante estes vinte e
quatro anos, como verdadeira obra de referência editada no Brasil sobre
a matéria.

Sua leitura torna-se indispensável para os usuários do Sistema Braille e
para todos os profissionais que, de algum modo, estejam ligados à
educação, à reabilitação e à profissionalização das pessoas cegas em
nosso país.

Julho de 1999

Jonir Bechara Cerqueira

Presidente do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos
Cegos

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*03 INTRODUÇÃO À PRIMEIRA EDIÇÃO

René Maheu, diretor geral da UNESCO, numa mensagem de abertura do Ano
Internacional do Livro, escreveu: O livro como um instrumento de uso
diário, um meio para desenvolvimento do caráter, ou um veículo para
lazer e repouso, é parte vital para uma vida feliz e dignificada.

Esses três usos do livro, fundamentais para todas as pessoas, incluem
também aquelas com deficiência visual.

Através da leitura, as pessoas podem adquirir os conhecimentos básicos
e o aperfeiçoamento que as capacitam a tornar-se membros integrantes da
sociedade. É também através do livro que a pessoa acompanha a evolução
literária e científica, amplia seus conhecimentos e formação. É o livro
que fornece os elementos necessários ao desenvolvimento da imaginação
e à abertura de novas perspectivas.

A importância e a necessidade do livro para uso das pessoas cegas
preocupou a humanidade através dos tempos e a aplicação dos recursos
oferecidos pela evolução tecnológica e científica vem favorecendo a
constante ampliação de instrumentos de comunicação para os portadores
de deficiência visual.

Porém, entre todos os sistemas de leitura e escrita para cegos
inventados desde os primórdios da civilização, o sistema Braille criado
por Louis Braille em 1825, é o sistema de escrita e leitura que tem
substituído com maior eficiência e facilidade a palavra impressa em
tinta ou manuscrita.

Esse sistema utiliza o tato como substituto da visão na leitura. A
palavra em Braille significa para a pessoa cega o que a palavra em
tinta significa para a pessoa que vê.

O sistema Braille é um meio de comunicação que permite à pessoa cega
expressar-se, informar-se e exercitar a estrutura da linguagem, podendo
ser usado também pela pessoa cega-surda.

Através do sistema Braille, as pessoas cegas têm recursos para formar
conceitos sobre ortografia e disposições gráficas como sentenças,
parágrafos, pontuação, quadros informativos, esquemas, formas,
posições e simbologias diversas.

A experiência da leitura visual ou tátil não pode ser substituída pela
audição de textos lidos por outra pessoa. Estar apto a escrever os seus
pensamentos, em tinta ou em Braille, possibilita à mente humana ter um
espelho à sua frente.

A palavra escrita, lida em silêncio ou em voz alta, de acordo com a
qualidade e acentuação tônica possibilita à inteligência melhores
condições de compreensão de seu conteúdo, proporcionando o máximo de
objetividade na solução de um problema.

Sem livros, os cegos não podem realmente aprender, disse uma vez Louis
Braille a seu pai.

Braille teria sido ainda mais correto se dissesse que sem estarem aptos
a usar a palavra e outras expressões escritas, as pessoas cegas não
poderiam atuar como verdadeiros membros da sociedade.

O progresso da tecnologia e da informática, sem dúvida, beneficiou as
pessoas portadoras de deficiências visuais com inúmeros equipamentos e
sistemas para acesso à informação, mas o sistema Braille ainda
representa recurso indispensável para a sua formação educacional,
cultural e profissional.

São Paulo, 1975.

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*04 LOUIS BRAILLE

A maioria das pessoas sabe que as pessoas cegas utilizam um sistema
especial de leitura tátil e escrita. Mas o que ninguém poderá deixar de
saber é que esse sistema tem o nome de seu inventor - Louis Braille -
que é hoje profundamente distinguido por sua criação.

A sua história é a de um homem que conseguiu muito lentamente o
reconhecimento do valor de sua obra. Durante a maior parte da vida de
Louis Braille, seu sistema só foi conhecido na escola onde ele estudou
e foi professor.

As pessoas relutaram muito em mudar os métodos insatisfatórios usados
para educar as pessoas cegas. Foi somente no fim de sua vida que o uso
do sistema Braille começou a expandir-se. E, mesmo assim, a
significância de sua realização permaneceu obscura para o mundo durante
muitos anos.

Louis Braille nasceu em quatro de janeiro de 1809, na pequena cidade
francesa de Coupvray, pertencente ao distrito de Seine-Marne, que se
situa a cerca de quarenta e cinco quilômetros da cidade de Paris.

Seu pai, Simon René Braille, era um conceituado seleiro na região e
sustentava a família com o fruto de seu trabalho, de maneira simples
mas confortável. Sua mãe, Monique Baron, foi uma jovem simples de
fazenda que veio a Coupvray para casar-se com Simon em 1792, dezessete
anos antes do nascimento de Louis Braille.

O casal teve quatro filhos: em setembro de 1793, Catherine Joséphine;
em março de 1795, Louis Simon; em janeiro de 1798, Marie Céline; e,
onze anos mais tarde, Louis. Seu pai tinha então quarenta e quatro
anos de idade e costumava dizer orgulhosamente do último filho que ele
teria sido o arrimo de sua velhice.

Como todo filho caçula, Louis recebeu sempre profundo carinho de pais e
irmãos. Demonstrou desde cedo ser uma criança dócil e inteligente e seu
pai acreditava que, quando o filho primogênito deixasse o lar, Louis
passaria a ser seu auxiliar no trabalho de seleiro. Logo que deu seus
primeiros passos, Louis acostumou-se a brincar na oficina do pai com os
pequenos retalhos de couro usados na confecção das selas.

No ano de 1812, não se sabe exatamente em que dia e mês, o pequeno
Louis brincava na oficina como de costume. Em dado momento, apanhou um
dos instrumentos de retalhar o couro e experimentou imitar o trabalho
de seu pai. Ao tentar perfurar um pedaço de couro com uma sovela
pontiaguda, aproximou-a do rosto. O couro era rijo e o pequeno forçava
para cortá-lo. Em dado momento, a sovela resvalou e atingiu-lhe o olho
esquerdo, causando grave hemorragia.

Simon René tomou o garoto nos joelhos e, com a ajuda da filha, lavou o
olho machucado, tentando cortar a hemorragia. Uma velha senhora,
conhecida por suas curas, preparou e aplicou compressas e conseguiu
estancar a hemorragia.

Um pequeno livro intitulado Medicina Popular, escrito pelo Dr. Leopold
Turk, muito conhecido na época, descreve o tratamento dado a um olho
ferido, naquele tempo: O quarto deve permanecer no escuro e o olho
deve ser coberto com compressas de água fria. Em caso de hemorragia,
aplicações de sanguessugas ao redor do olho, dieta e uma dose de
calomelano são o método usualmente empregado neste caso e em todos
aqueles nos quais o olho tenha recebido ferimentos sérios.

O médico de Coupvray foi chamado para tratar o menino, mas a sua
prescrição também foi inadequada. Não havia medicação positiva para
eliminar o centro da infecção. Veio a conjuntivite e depois, oftalmia.
Alguns meses mais tarde, a infecção atingiu o outro olho e a cegueira
total adveio quando Louis estava com cinco anos. Seus pais ainda
tentaram outros tratamentos. Procuraram consultar um oftalmologista num
hospital da cidade vizinha de Meaux, mas todos os esforços foram em
vão. A infecção generalizada havia destruído ambas as córneas.

Em 1815, o velho abade que havia batizado Louis Braille morreu. O novo
cura indicado, abade Jacques Palluy, tornou-se grande amigo dos seus
paroquianos, dedicou especial atenção ao menino cego, que demonstrava
vivacidade e inteligência.

Graças ao abade Palluy, Louis Braille pouco a pouco começou a
desenvolver sua natureza investigadora e a familiarizar-se com o mundo.
O abade levava o menino ao velho presbitério e, no seu interior ou
entre as árvores de seus jardins, procurava ensiná-lo. A orientação
cristã recebida em sua primeira infância marcou toda sua vida através
de seu amor, sua bondade e sua humildade.

Em 1816, o Conselho da cidade de Coupvray realizou um concurso para
admitir um professor. O senhor Antoine Brecheret, que contava vinte e
um anos de idade, foi admitido por sua reputação moral e formação
profissional.

Logo após a chegada de Brecheret, o abade Palluy pediu-lhe que
ensinasse Louis Braille. Durante dois anos, o menino freqüentou a
escola de Brecheret. Um colega da vizinhança acompanhava-o no caminho
de ida à escola e de volta ao lar.

Louis Braille decorava e recitava as lições que ouvia, demonstrando ao
professor sua extrema vivacidade. Brecheret logo constatou sua
inteligência brilhante. O abade Palluy preocupava-se sempre com o seu
futuro. Como orientá-lo quando crescesse? Como cuidar de sua educação?

Um acontecimento precipitou a solução. No ano de 1817, por ordem do
prefeito, um novo método de ensino foi experimentado em várias escolas.
Antoine Brecheret descobriu nele vários defeitos pedagógicos e recusou-
se a adotá-lo, comunicando sua decisão ao Prefeito de Coupvray. Em
resposta, o prefeito proibiu-o de continuar lecionando em Coupvray e
transferiu-o, temporariamente, para estudar o método na cidade de
Melun.

Ao retornar, em 1818, Brecheret introduziu o novo método em Coupvray
com resultados satisfatórios. Entretanto, o abade Palluy não mostrou
entusiasmo pelo método, influenciando os alunos a transferirem-se para
a escola da cidade vizinha, onde o ensino era tradicional.

Os pais de Louis Braille, preocupados com a situação pediram ao abade
que encontrasse uma solução para a educação de seu filho. O abade
Palluy começou, então, a procurar uma escola para Louis.

Antoine Brecheret, durante seus estudos em Paris, tinha ouvido falar de
uma instituição para cegos. Interessado nisso, o abade Palluy procurou
o marquês d'Orvilliers, que era latifundiário na região e reconhecido
por sua grande generosidade.

O marquês ouviu o abade com muita atenção, pois ele conhecia o menino.
Lembrou-se também que em 1786, na corte de Versalhes, Valentin Haüy
apresentou ao rei e à rainha um menino cego educado por ele. Ele
próprio havia encorajado e auxiliado Haüy no seu projeto de fundar a
primeira escola para cegos em Paris. O rei e a rainha destinaram fundos
para criar o Instituto Real para Jovens Cegos de Paris.

O marquês concordou, então, em dar sua proteção ao menino e escreveu ao
diretor da instituição para pedir sua admissão. O abade relatou esse
fato aos pais de Louis, que preocuparam-se com a possibilidade de ter
seu filho longe de casa. Mas, quando perceberam as vantagens que ele
teria em sua educação, fizeram milhares de planos para o futuro do
filho. Logo receberam uma carta do Dr. Guillié, diretor do Instituto
Real para Jovens Cegos, comunicando que a diretoria da escola havia
decidido admitir Louis Braille. Ele tinha recebido uma bolsa de estudos
e sua entrada estava marcada para 15 de fevereiro de 1819.

Na madrugada desse dia, Louis partiu com seu pai com destino a Paris e,
quatro horas mais tarde, entrava na instituição. Uma nova vida começava
para ele.

O senhor Demeziere, que aguardava na entrada, levou pai e filho à
presença do diretor, Dr. Guillié, que descreveu-lhes como seria a vida
na escola. Simon René Braille despediu-se de seu filho, voltando a
Coupvray.

Pouco a pouco, Louis Braille, que era então o mais jovem estudante, foi
se ajustando à escola, aos professores, aos supervisores e aos colegas.

O método de ensino consistia em fazer os alunos repetirem as
explicações e textos ouvidos. Alguns livros escritos no sistema de
Valentin Haüy, método oficial de leitura para cegos, permitiam leitura
suplementar. Apesar de em pequeno número, esses livros eram os únicos
existentes.

Louis Braille era um ótimo estudante e dedicou-se profundamente aos
estudos. A recreação era parte importante na vida da escola e Louis
participava com entusiasmo. Gostava de música clássica e, como os
professores do conservatório vinham dar aulas gratuitas no Instituto,
dedicou-se ao estudo de música, que consistia em ouvir e repetir o que
era ouvido. As condições não eram ideais, mas Braille tornou-se um
excelente pianista e mais tarde talentoso organista da igreja de Notre
Dame des Champs.

O dr. Guillié mostrou ao pai de Louis apenas o lado bom da escola, pois
a situação financeira era catastrófica. As instalações, úmidas e frias,
eram completamente inadequadas. A disciplina era extremamente rígida e
os alunos recebiam desde punições físicas até isolamento a pão e água.
Louis Braille não escapou das punições.

Apesar de todas as dificuldades, no fim do período escolar, Louis
recebeu um certificado de mérito por sua habilidade em cortar e fazer
chinelos e pôde então voltar para o seu lar, onde permaneceu dois meses
de férias. Foi uma alegria rever seus pais, falar de seus estudos, dos
novos amigos, rever também o abade Palluy, o sr. Brecheret e o marquês
d'Orvilliers.

No reinício das aulas, em outubro, Louis dedicou-se ainda mais aos
estudos, alcançando sempre mais progressos.

No início de 1821, o dr. Guillié foi demitido da instituição, assumindo
o cargo o dr. Pignier, que se tornou um grande amigo e incentivador de
Louis Braille.

Em 21 de agosto de 1821, Braille participou emocionado dos preparativos
e da homenagem prestada a Valentin Haüy, fundador do Instituto. Nessa
ocasião, estiveram juntos o fundador da primeira escola para cegos na
França e o futuro inventor de um sistema de leitura tátil e escrita
para cegos.

As dificuldades enfrentadas por Louis Braille em seus estudos o levaram
desde cedo a preocupar-se com a necessidade de um sistema de escrita, e
o interesse de outras pessoas, como Barbier, ofereceu-lhe uma série de
circunstâncias para que criasse o seu sistema.

Charles Barbier de la Serre, Capitão de Artilharia do Exército de Luís
XIII, encontrava dificuldades em transmitir ordens durante a noite.
Elaborou, então, um sistema de sinais em relevo que, combinados,
permitiam a transmissão das ordens militares. Assim, no escuro, os
subordinados decifravam pelo tato as ordens superiores. Esse sistema,
que se denominou escrita noturna, consistia na combinação de pontos e
traços em relevo que significavam ordens como Avance!, etc.

Com essa experiência, Barbier pensou na possibilidade de seu processo
servir para a comunicação entre pessoas cegas. Transformou-o então num
sistema de escrita para cegos que denominou grafia sonora.

Através da grafia sonora, qualquer sentença podia ser escrita, mas como
o sistema era fonético, as palavras não podiam ser soletradas. Um
grande número de sinais era usado para uma única palavra, o que tornava
a decifração demorada e difícil. Foi esta fase de sua invenção que
Barbier apresentou no fim do ano de 1820 para o dr. Guillié. Este
considerou o sistema muito complicado e desencorajou Barbier que,
entretanto, prometeu voltar.

Porém, em sua nova visita ao Instituto, Barbier foi recebido pelo novo
diretor, dr. Pignier, que também resistiu por considerar o sistema
complicado. Mas na segunda visita de Barbier, alguns dias mais tarde,
ele prometeu submeter o sistema aos seus professores e alunos. Todos
mostraram-se muito interessados, experimentaram ler palavras e deram
opiniões. Alguns acharam complicado, mas todos concordaram em que o
sistema deveria ser adotado.

Na semana seguinte, Barbier recebeu uma carta comunicando que o sistema
seria adotado no Instituto como método auxiliar de ensino.

Louis Braille rapidamente aprendeu a usar o sistema. Nas horas vagas,
ele e seu amigo Gauthier praticavam, lendo e escrevendo sentenças um
para o outro. A escrita era possível com o auxílio de uma régua-guia e
de um estilete. Adquirindo maior habilidade no uso do método, Braille
descobriu seus problemas e começou a pensar em possíveis modificações.

O sistema de Barbier apresentava as seguintes dificuldades: não
permitia conhecimento de ortografia, pois os sinais representavam
somente sons; não havia símbolos para pontuação, acentos, números,
símbolos matemáticos e notação musical; e, principalmente, a
complexidade de combinações tornava a leitura difícil e lenta.

Braille propôs alguns aperfeiçoamentos, que foram apresentados a
Barbier pelo dr. Pignier. Barbier foi ao Instituto discutir as
modificações e ficou surpreso ao deparar-se com um pálido garoto de
cabelos loiros. Apesar de reconhecer o valor das propostas de Louis,
Barbier defendeu fervorosamente o fundamento de sua invenção, pois não
considerava necessária a ortografia e não queria ver alterações básicas
em seu método.

Louis Braille começou então a trabalhar num sistema novo que pudesse
eliminar completamente os problemas da grafia sonora. Durante muitas
noites, trabalhou incansavelmente sobre a régua e o estilete que ele
próprio inventou. As férias chegaram e ele voltou ao lar, onde
permaneceu estudando o seu novo sistema.

Na reabertura das aulas, em outubro de 1824, Louis Braille tinha
prontos os primeiros estudos de sua invenção. E, em 1825, aos 16 anos
de idade, inventou o sistema em relevo semelhante ao que se usa hoje e
que recebeu o seu nome. Obteve 63 combinações, que representavam todas
as letras do alfabeto, acentuação, pontuação e sinais matemáticos.

Apresentou sua invenção ao diretor, dr. Pignier, que apreciou seu
trabalho e autorizou-o a experimentá-lo no Instituto. Os alunos
rapidamente adotaram o sistema, que era simples, e o dr. Pignier
começou a pensar na possibilidade de substituir o sistema de Barbier.

Com o sistema de Braille, os alunos eram capazes de tomar notas em
classe, aprender ortografia, redigir composições, copiar livros, fazer
ditados, corresponder-se entre si, enfim, podiam registrar seus
sentimentos e impressões.

Embora continuasse trabalhando em sua pesquisa para aperfeiçoar seu
sistema, Louis não negligenciou seus estudos. Foi sempre um dos
primeiros alunos. Em 1826, ainda estudante, começou a ensinar álgebra,
gramática e geografia. Freqüentou o colégio de França, estudou órgão e
deu aulas de piano.

Em 1827, Louis escreveu em Braille a Gramática das Gramáticas. Em 1828,
continuando seus estudos, ele aplicou seu sistema à notação musical.

Em 1829, apresentou a primeira edição do Método de Palavras Escritas,
Músicas e Canções por meio de Sinais, para uso de Cegos e Adaptados
para eles. No prefácio desse livro, Braille refere-se a Barbier: Se
nós temos vantagens de nosso método sobre o seu, devemos dizer em sua
honra que seu método deu-nos a primeira idéia sobre o nosso próprio.

Ainda em 1829, Louis Braille foi oficialmente designado professor do
Instituto e ensinou gramática, matemática e geografia. Apresentou seu
sistema à direção e a professores do Instituto e foi autorizado a
ensiná-lo aos alunos, embora a adoção oficial ali no Instituto só tenha
ocorrido em 1854. Neste ano, Braille escreveu também outro texto
básico: Gramática de Noiêl y Chaptal.

Um de seus alunos, Coltat, tornou-se um de seus grandes amigos e mais
tarde biógrafo, tendo escrito o livro Notas Históricas sobre Louis
Braille onde narra detalhes de toda sua vida no Instituto.

Louis Braille continuou a viver no Instituto, embora sua vida social
tenha sido intensa fora dele. O dr. Pignier encorajava-o a sair com
ele. Louis Braille também era freqüentemente convidado para tocar em
festas.

Apesar de sua saúde deficiente, pois contraiu tuberculose aos 26 anos,
Braille trabalhou continuamente no aperfeiçoamento de seu sistema. Em
1837, publicou sua Anagliptografia, estrutura do sistema Braille
utilizada até hoje mundialmente, contendo toda a simbologia para
literatura, matemática, canto e simbologia para diferentes
instrumentos musicais.

Em 1839, Louis Braille publicou Novo Método para Representação por
Sinais de Formas de Letras, Mapas, Figuras Geométricas, Símbolos
Musicais para uso de Cegos. Esse método consistia em escrever as letras
na forma convencional, marcando com o punção uma série de pontos em
relevo. Para padronizar as dimensões das letras, Braille determinou num
quadro o número de sinais necessários para cada letra. Esta nova
invenção também foi adotada pelos alunos e Braille chamou-a de
rafigrafia (grafia pontilhada). O objetivo desse sistema era facilitar
a comunicação com videntes. Foucault, seu grande amigo, colaborou no
invento, fabricando o rafígrafo.

Entretanto, apesar dos esforços de Braille em aperfeiçoar e desenvolver
seu sistema e de sua aceitação pelos alunos do Instituto, o método
oficial de ensino continuava sendo as letras em relevo de Valentin
Haüy. Muitos conservadores reagiam em abandonar os velhos métodos.

O dr. Pignier tentou oficializar o uso do sistema Braille, mas, quando
começou esse trabalho, foi substituído pelo dr. Dufau, que tornou-se
diretor do Instituto em 1840. O dr. Dufau foi contrário à
oficialização, dizendo que o sistema Braille isolava os cegos. O
Ministro do Interior da França, a quem coube a decisão final, opinou
que os estudos de Braille deveriam ser encorajados, mas que eles não
estavam prontos para a mudança do sistema.

Louis Braille tentou também divulgar seu sistema em outros países e, em
julho de 1840, escreveu para J. Wilhelm Kleim, fundador da primeira
escola para cegos de Viena. Lamentavelmente, Kleim não aceitou o
método.

Em 1843, o Instituto Real para Jovens Cegos foi transferido para um
prédio novo. Nessa época, o dr. Dufau já havia mudado seu pensamento,
aceitando o sistema de Braille. Assim, na cerimônia de inauguração do
novo prédio, Louis Braille ficou profundamente comovido quando seu
sistema foi demonstrado publicamente e declarado aceito. Este foi o
primeiro passo para a aceitação geral. Desde então, seu uso começou a
expandir-se na Europa.

Durante esses últimos anos, a doença de Louis Braille foi progredindo e
sua saúde foi se tornando mais frágil. Em 1850, pediu sua demissão do
cargo de professor, mas continuou dando aulas de piano.

Em dezembro de 1851, sofreu uma grande recaída, recolhendo-se ao leito.
Faleceu no dia 6 de janeiro de 1852, certo de que seu trabalho não
tinha sido em vão. Foi enterrado em sua cidade natal em 10 de janeiro.

Louis Braille não teve o reconhecimento de sua obra por seus
contemporâneos, a não ser pelo círculo restrito de amigos. Somente cem
anos mais tarde, a história do garoto de quinze anos que inventou um
sistema de seis pontos em relevo expandiu-se pelo mundo.

Louis Braille não assistiu, em 1854, à aprovação oficial do uso de seu
sistema para o ensino de cegos na França. Não assistiu, também, à
adoção universal do sistema Braille, durante o Congresso Internacional
de Surdos-Mudos e Cegos de Paris, realizado em 1877, que o proclamou
como o melhor sistema de leitura e escrita para ensino de cegos em todo
o mundo.

Em 20 de junho de 1952, o governo francês transferiu seus restos
mortais da cidade de Coupvray para Pantheon Nacional, em Paris. Nessa
ocasião, em que tomou seu lugar entre os grandes homens da França,
merecidas homenagens lhe foram prestadas por representantes de quarenta
nações.

Ainda em 1952, a casa onde nasceu Louis Braille foi comprada pela
Associação Amigos de Louis Braille e transformada em museu municipal
para visitação pública. Em 1956, a Associação doou o Museu para a União
Mundial de Cegos, que criou o Comitê Louis Braille para administrar e
levantar fundos para a manutenção do museu.

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*05 O SISTEMA BRAILLE

O Braille é um sistema de leitura tátil e escrita para pessoas cegas,
que consta da combinação de seis pontos em relevo, dispostos em duas
colunas de três pontos. O espaço ocupado pelos seis pontos forma o que
se convencionou chamar cela Braille. Para facilitar a sua identificação,
os pontos são numerados da seguinte forma: do alto para baixo, coluna da
esquerda: pontos 1,2,3; do alto para baixo, coluna da direita: 4,5,6.

1 4
2 5
3 6

As diferentes combinações desses seis pontos permitem a formação de 63
símbolos Braille. As dez primeiras letras do alfabeto são formadas
pelas diversas combinações possíveis dos quatro pontos superiores (1-
2-4-5); as dez letras seguintes são as combinações das dez primeiras
letras, acrescidas do ponto 3 e formam a 2ª linha de sinais. A terceira
linha é formada pelo acréscimo dos pontos 3 e 6 às combinações da 1ª
linha.

Os símbolos da 1ª linha são as dez primeiras letras do alfabeto latino
(a-j). Esses mesmos sinais, na mesma ordem, assumem as características
dos valores numéricos 1 - 0, quando precedidos do sinal de número,
formado pelos pontos 3-4-5-6.

No ocidente, vinte e seis sinais são utilizados para o alfabeto; dez
para os sinais internacionais de pontuação, que correspondem aos dez
símbolos da 5ª linha, localizados na parte inferior da cela Braille
(pontos 2-3-5-6). Os vinte e sete sinais restantes são destinados às
necessidades específicas de cada língua (letras acentuadas, por
exemplo) e para abreviaturas.

Doze anos após a invenção desse sistema, Louis Braille acrescentou a
letra w ao 10º sinal da 4ª linha para atender às necessidades da língua
inglesa.

O sistema Braille é utilizado por extenso, isto é, escrevendo-se a
palavra letra por letra ou de forma abreviada, adotando-se códigos
especiais de abreviaturas para cada língua ou grupo lingüístico. O
Braille por extenso é denominado grau 1. O grau 2 é a forma empregada
para representar, de maneira abreviada, as conjunções, preposições,
pronomes, prefixos, sufixos, grupos de letras que são comumente
encontradas nas palavras de uso corrente.

A principal razão do emprego da forma abreviada é reduzir o volume dos
livros em Braille e permitir o maior rendimento na leitura e na
escrita. Uma série de abreviaturas mais complexas forma o grau 3, que
necessita de um conhecimento profundo da língua, uma boa memória e uma
sensibilidade tátil muito desenvolvida por parte do leitor cego.

O tato é também um fator decisivo na capacidade de utilização do
Braille.

O sistema Braille aplica-se à estenografia, à música e às notações
científicas em geral, através da utilização das 63 combinações para
códigos especiais.

O sistema Braille permite uma forma de escrita eminentemente prática. A
pessoa cega pode satisfazer o seu desejo de comunicação. Abre-lhe os
caminhos do conhecimento literário, científico e musical,
permitindo-lhe, ainda a possibilidade de manter uma correspondência
pessoal e a ampliação de suas atividades profissionais.

COMO O BRAILLE É PRODUZIDO?

O aparelho de escrita usado por Louis Braille consistia de uma prancha,
uma régua com 2 linhas de retângulos vazados correspondentes às celas
Braille - que se encaixa, pelas extremidades laterais, na prancha - e
de um punção. O papel era introduzido entre a prancha e a régua, o que
permitia à pessoa cega, pressionando o papel com o punção, escrever os
pontos em relevo.

Hoje, as regletes, uma variação desse aparelho de escrita de Louis
Braille, são ainda muito usadas pelas pessoas cegas. Todas as regletes,
quer sejam modelos de mesa ou de bolso, consistem essencialmente de
duas placas de metal ou de plástico, fixas de um lado com dobradiças,
de modo a permitir a introdução do papel.

A placa superior funciona como a primitiva régua e possui os retângulos
vazados correspondentes às celas Braille. Diretamente sob cada
retângulo vazado, a placa inferior possui, em baixo-relevo, a
configuração da cela Braille. Ponto por ponto, a pessoa cega, com o
punção, forma o símbolo Braille correspondente às letras, números ou
símbolos desejados.

na reglete, escreve-se o Braille da direita para a esquerda, na
seqüência normal de letras ou símbolos. A leitura é feita normalmente
da esquerda para a direita. Conhecendo-se a posição dos pontos
correspondente a cada símbolo, torna-se fácil tanto a leitura quanto a
escrita feita em regletes. A escrita na reglete pode tornar-se tão
automática para o cego quanto a escrita com o lápis para a pessoa de
visão normal.

Além da reglete, o Braille pode ser produzido através de máquinas
especiais de datilografia Braille, que contém seis teclas para
representação do símbolo. O papel é fixado e enrolado em rolo comum,
deslizando normalmente quando pressionado o botão de mudança de linha.
O toque de uma ou mais teclas simultaneamente produz a combinação dos
pontos em relevo, correspondente ao símbolo desejado. O Braille é
produzido da esquerda para a direita, podendo ser lido normalmente sem
a retirada do papel da máquina. Existem diversos tipos de máquina de
datilografia Braille, tendo sido a primeira delas inventada por Frank
H. Hall, em 1892, nos Estados Unidos.

Hoje, as imprensas Braille produzem livros a partir de matrizes de
metal ou formulários contínuos, utilizando máquinas eletrônicas com
sistemas informatizados. A impressão do relevo pode ser feita dos dois
lados do papel ou da matriz. Esse é o Braille interpontado: os pontos
são dispostos de tal forma que a impressão de um lado não coincide com
a impressão da outra face, permitindo uma leitura corrente, um
aproveitamento melhor do papel, reduzindo o volume dos livros
transcritos.

Novos recursos para a produção do Braille têm sido empregados de acordo
com os avanços tecnológicos de nossa era. O Braille, hoje, é produzido
por equipamentos e sistemas informatizados.

COMO O BRAILLE É LIDO?

A maioria dos leitores cegos lê preferencialmente com a ponta do dedo
indicador de uma das mãos. Um número indeterminado de pessoas,
entretanto, que não são ambidestras em outras atividades, pode ler o
Braille com as duas mãos. Algumas pessoas utilizam o dedo médio ou
anular, ao invés do indicador. Os leitores mais experientes comumente
utilizam o dedo indicador da mão direita, com uma leve pressão sobre
os pontos em relevo, o que lhes permite uma ótima percepção,
identificação e discriminação dos símbolos Braille.

Este fato acontece somente através da estimulação consecutiva dos dedos
pelos pontos em relevo. Essa estimulação ocorre muito mais quando se
movimenta a mão ou mãos sobre cada linha escrita num movimento da
esquerda para a direita. Alguns leitores são capazes de ler 125
palavras por minuto com uma só mão. Alguns outros, que lêem com as duas
mãos, conseguem dobrar a sua velocidade de leitura, atingindo 250
palavras por minuto.

Em geral, a média atingida pela maioria de leitores é de 104 palavras
por minuto. É a simplicidade do Braille que permite essa velocidade de
leitura. Os pontos em relevo permitem a compreensão instantânea das
letras como todo, uma função indispensável ao processo da leitura.

Para a leitura tátil corrente, os pontos em relevo devem obedecer às
medidas padrão e a dimensão da cela Braille deve corresponder à unidade
perceptual tátil da ponta dos dedos. Todos os caracteres devem possuir
a mesma dimensão, obedecendo aos espaçamentos regulares entre as letras
e entre as linhas. A posição de leitura deve ser confortável, de modo a
que as mãos dos leitores fiquem ligeiramente abaixo de seus cotovelos.

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*06 O SISTEMA BRAILLE NO MUNDO

Inventado em 1825, o sistema Braille foi empregado inicialmente por
Louis braille e seus alunos no Instituto Real de Jovens Cegos de Paris.
Em 1829, a administração do Instituto Real de Jovens Cegos publicou,
com a intenção de difundir e divulgar oficialmente o sistema, um livro
intitulado Método de Palavras, escritas, música e canções por meio de
sinais, para uso dos cegos e adaptados para eles. Uma nova edição desse
método foi feita em 1837 com algumas modificações.

O sistema de 63 sinais que conhecemos até hoje foi então codificado.
Somente em 1847, entretanto, devido à política interna do próprio
Instituto Real, voltou a ser utilizado o sistema Braille para a
impressão de livros por essa instituição, sendo proclamado
oficialmente. Em 1854, o Instituto publicou em Braille o primeiro
trabalho em língua estrangeira: um livro de leitura em português. Os
recursos para essa impressão foram doação pessoal do Imperador do
Brasil.

Paris finalmente venceu e outras cidades da França foram seguindo seus
passos na medida que as escolas especiais eram criadas nas províncias.
A adoção do sistema Braille na Europa foi mais lenta. Em 1860, foi
impresso o primeiro livro em sistema Braille fora da França, em
Lousane, na Suíça. Apesar da incontestável vantagem do Braille, a
completa adoção do sistema levou muitos anos.

De 1860 a 1880, o sistema Braille foi adotado em toda a Europa, em sua
forma original, com pequenas alterações devidas às particularidades de
cada língua. Mas a luta pela introdução do sistema em outros países
fora da Europa estava longe de terminar.

Na América do Norte, o sistema Braille foi introduzido em 1860, mas
houve muita relutância em sua aceitação. Somente em 1918, após quinze
anos de trabalho de um comitê especial, a unificação foi possível. O
comitê aceitou o Braille francês inicial, restabelecendo a
uniformidade não só no próprio país como entre os Estados Unidos e a
Europa. Em 1932, foi feito um acordo para o estabelecimento da
unificação do sistema Braille padrão da língua inglesa.

Na Ásia, as primeiras adaptações do Braille às línguas não européias
datam do período de 1870 a 1880. O Braille foi adaptado inicialmente às
línguas mais conhecidas e toda a honra da introdução do Braille na
Ásia, África e nos territórios mais longínquos cabe aos missionários
europeus e americanos.

Nos seus postos avançados e isolados, eles procuraram dar atendimento
aos cegos que chegavam às missões e, sem premeditação, criaram as
primeiras escolas para cegos nessas regiões. Para proporcionar um
ensino sistemático, os missionários fizeram o melhor que lhes foi
possível para adaptar o Braille aos seus dialetos.

O Braille no Extremo Oriente teve grande dificuldade para ser
introduzido. Foi preciso muito esforço e criatividade para condensar os
longos alfabetos a fim de exprimir os milhares de ideogramas utilizando
as 63 combinações do sistema.

A introdução do Braille foi então sendo feita através das adaptações
necessárias a cada língua ou dialeto, de uma forma desordenada.
Entretanto, em 1949, a Índia fez um apelo à UNESCO para que essa
organização mundial contribuísse de alguma forma positiva para a
racionalização do Braille nas diversas partes do mundo.

Os sessenta e dois anos de discussões e estudos sobre as diversas
aplicações do Braille foram sem dúvida inevitáveis. Mas, diante dessa
solicitação da Índia, o Conselho Executivo da UNESCO reconheceu a
importância internacional do problema, decidindo que aquele organismo
deveria contribuir ativamente para encontrar uma solução satisfatória
tanto aos governos quanto aos cegos de todo o mundo. A UNESCO aceitou o
desafio e começou os seus trabalhos sobre o sistema Braille em 1º de
julho de 1949, terminando-o em 31 de dezembro de 1951.

Em março de 1950, realizou-se a Conferência Internacional de Braille,
em Paris. Para essa reunião, foram convidados especialistas em Braille
das diversas zonas lingüísticas, especialistas na educação de cegos e
dirigentes de imprensas Braille.

Os técnicos convocados pronunciaram-se a favor de um sistema Braille
mundial unificado e estabeleceram os princípios sob os quais esse
sistema deveria ser baseado. O estabelecimento do Braille mundial e as
modalidades de sua aplicação nas principais línguas constituiu a fase
seguinte dos trabalhos.

A Conferência Geral da UNESCO autorizou a convocação de reuniões
regionais para a elaboração de um código Braille uniforme aos países de
fala árabe, como Egito, Iraque, Jordânia, Líbano, Paquistão, Irã e
Síria, além de Sri-Lanka, Índia e Malásia. Outras conferências
regionais também foram realizadas para a unificação do Braille
abreviado para o português e espanhol.

Uma das recomendações da Conferência Geral da UNESCO, da qual
participou um delegado da Fundação Dorina Nowill para Cegos, reunida em
março de 1950 em Paris, era que fosse criado um Conselho Mundial de
Braille para promover a adoção do sistema Braille unificado para o uso
normal e códigos especiais de matemática e música.

O Conselho Executivo da UNESCO, levando em consideração esse pedido,
autorizou em outubro de 1951, o funcionamento provisório, sob a forma
de um Comitê Consultivo, do Conselho Mundial de Braille diretamente
ligado à UNESCO, que passou a funcionar oficialmente em 1952.

A primeira comissão indicada para estudar a criação do conselho definiu
a sua composição, as suas funções e os seus estatutos, propondo também
os membros que deviam fazer parte do mesmo. Atualmente, o Conselho
Mundial de Braille faz parte integrante da União Mundial de Cegos, como
um de seus comitês.

Todas essas resoluções, explicações e introduções sobre o uso do
Braille por extenso e abreviado foram publicadas pela UNESCO em 1954 no
livro A escrita braille no mundo. Essa publicação encontra-se
esgotada. Em 1975, foi indicada uma nova comissão do então Conselho
Mundial para o Bem-Estar dos Cegos para estudar a edição desse mesmo
livro, atualizado e revisto.

A música também foi objeto de estudos, a partir de 1929, por ocasião da
realização da Conferência Internacional de Braille. Entretanto, foi
impossível um acordo total sobre o código de notações musicais. Nova
conferência foi organizada pela UNESCO, pela União Mundial de Cegos e
pelo Conselho Mundial de Braille, em paris, em 1954, da qual participou
um delegado brasileiro, representante da Fundação Dorina Nowill para
Cegos.

Como conseqüência do trabalho dos especialistas reunidos nessa
conferência, surgiu o Manual Internacional de Notações Musicais em
Braille. Essa publicação, compilada por H. V. Spanner e publicada pelo
Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, hoje União Mundial de
Cegos, estabeleceu normas gerais de transcrição de músicas para o
sistema Braille. Embora não seja de uso universal, a maioria dos países
tomam- no como base para a aplicação do sistema Braille à música, em
todos os seus aspectos e para todos os instrumentos musicais.

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*07 O SISTEMA BRAILLE NA LÍNGUA PORTUGUESA

O Braille foi adaptado à língua portuguesa em 1880 e o primeiro sistema
de abreviaturas, introduzido em 1905, em Portugal.

No Brasil, o Braille da língua portuguesa por extenso foi introduzido na
primeira escola para cegos, criada em 1854, o Instituto Benjamin
Constant, do Ministério da Educação. Essa escola foi a primeira a
utilizar o sistema Braille na América Latina.

O sistema Braille usado em Portugal e no Brasil é o mesmo, tendo havido
para isso a assinatura de diversos acordos entre os dois países. O
primeiro deles, promovido pela UNESCO em Montevidéu, em 1951,
estabelecia a unificação das abreviaturas grau 2 da língua portuguesa,
tendo sido assinado por delegados brasileiros e portugueses e
referendado pelo então Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos,
hoje União Mundial de Cegos.

Entretanto, a introdução das abreviaturas braille grau 2 da língua
portuguesa por parte do Brasil teve de ser reexaminada devido à
publicação da lei nº 4.169 de 4/12/62, que oficializava as convenções
Braille para uso na escrita e leitura dos cegos e o Código de
Contrações e Abreviaturas Braille.

Após a publicação dessa lei, os estudos intensivos que continuaram a
ser realizados pelas comissões criadas pela Fundação Dorina Nowill para
Cegos, pelo Instituto Benjamin Constant e pela Campanha Nacional de
Educação dos Cegos revelaram a necessidade de incluir algumas
modificações no Código oficializado pela lei, pois o mesmo
impossibilitava o estabelecimento de novos acordos internacionais.

Em 1963, foi realizada uma reunião conjunta Brasil- Portugal e novo
acordo foi assinado para uso uniforme das abreviaturas Braille nos dois
países. Desde essa data, os estudos continuam através de reuniões
periódicas para sua uniformização, adaptando o código de abreviaturas
Braille às diretrizes impostas pelos acordos assinados entre os dois
países para uso uniforme da língua portuguesa, principalmente no que
se refere a ortografia.

As exigências do desenvolvimento atingido pela educação das pessoas
cegas no Brasil fez com que as abreviaturas Braille se tornassem objeto
de estudo permanente entre Portugal e Brasil. O mesmo tem acontecido
com o Código Unificado de Símbolos Matemáticos e Notações Científicas.
Esse código, preparado pela equipe da Espanha, tem sido constantemente
estudado por todos os especialistas representantes de todos os países
de língua espanhola e portuguesa.

A unificação do Código de Matemática e Notações Científicas
proporcionará um intercâmbio muito grande entre as imprensas Braille,
evitando duplicidade de publicações, e trará enormes benefícios a todos
os cegos que falam a língua portuguesa e se utilizam de livros
transcritos em códigos especiais para a matemática e obras científicas.

As imprensas Braille do Instituto Benjamin Constant do Ministério da
Educação e da Fundação Dorina Nowill para Cegos adotaram as mesmas
normas e orientações para a impressão de seus livros e revistas,
utilizando o Braille unificado para Portugal e Brasil.

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*08 O SISTEMA BRAILLE NO BRASIL

EDISON RIBEIRO LEMOS
JONIR BECHARA CERQUEIRA
(Membros da Comissão Brasileira do Braille)

O sistema Braille, utilizado universalmente na leitura e na escrita por
pessoas cegas, foi inventado na França por Louis Braille, um jovem
cego, reconhecendo- se o ano de 1825 como o marco dessa importante
conquista para a educação e a integração dos deficientes visuais na
sociedade.

Antes desse histórico invento, registram-se inúmeras tentativas em
diferentes países, no sentido de se encontrarem meios que
proporcionassem às pessoas cegas condições de ler e escrever. Dentre
essas tentativas, destaca-se o processo de representação dos caracteres
comuns com linhas em alto-relevo, adaptado pelo francês Valentin Haüy,
fundador da primeira escola para cegos no mundo, em 1784, na cidade de
Paris, denominada Instituto Real dos Jovens Cegos.

Foi nesta escola, onde os estudantes cegos tinham acesso à leitura
apenas através do processo de Valentin Haüy, que estudou Louis Braille.
Até então, não havia recurso que permitisse à pessoa cega comunicar-se
pela escrita individual.

Louis Braille, ainda jovem estudante, tomou conhecimento de uma
invenção denominada sonografia ou código militar, desenvolvida por
Charles Barbier, oficial do exército francês. O invento tinha como
objetivo possibilitar a comunicação noturna entre oficiais nas
campanhas de guerra. Baseava-se em doze sinais, compreendendo linhas e
pontos salientes, representando sílabas na língua francesa. O invento
de Barbier não logrou êxito no que se propunha, inicialmente. O bem
intencionado oficial levou seu invento para ser experimentado entre as
pessoas cegas do Instituto Real dos Jovens Cegos.

A significação tátil dos pontos em relevo do invento de Barbier foi a
base para a criação do Sistema Braille, aplicável tanto na leitura como
na escrita por pessoas cegas e cuja estrutura diverge fundamentalmente
do processo que inspirou seu inventor. O Sistema Braille, utilizando
seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas, possibilita a
formação de 63 símbolos diferentes que são empregados em textos
literários nos diversos idiomas, como também nas simbologias
matemáticas e científicas, em geral, na Música e, recentemente, na
Informática.

A partir da invenção do Sistema Braille, em 1825, seu autor desenvolveu
estudos que resultaram, em 1837, na proposta que definiu a estrutura
básica do sistema, ainda hoje utilizada mundialmente.

Comprovadamente, o Sistema Braille teve plena aceitação por parte das
pessoas cegas, tendo-se registrado, no entanto, algumas tentativas para
a adoção de outras formas de leitura e escrita e, ainda outras, sem
resultado prático, para aperfeiçoamento da invenção de Louis Braille.

Apesar de algumas resistências mais ou menos prolongadas em outros
países da Europa e nos Estados Unidos, o Sistema Braille, por sua
eficiência e vasta aplicabilidade, se impôs definitivamente como o
melhor meio de leitura e de escrita para as pessoas cegas.

Em 1878, um congresso internacional realizado em Paris, com a
participação de onze países europeus e dos Estados Unidos, estabeleceu
que o Sistema Braille deveria ser adotado de forma padronizada, para
uso na literatura, exatamente de acordo com a proposta de estrutura do
sistema, apresentada por Louis Braille em 1837, já referida
anteriormente.

Os símbolos fundamentais do Braille utilizados para as notações
musicais foram também apresentados pelo próprio Louis Braille na versão
final dos estudos constantes da proposta de estrutura do Sistema
concluída em 1837.

Hoje, a musicografia braille é adotada uniformemente por todos os
países. Para tanto, contribuíram, principalmente, os congressos
realizados em Colônia (Alemanha), 1888, em Paris (França), 1929 e,
finalmente, num congresso realizado em Nova Iorque, 1954, onde foram
adaptados símbolos, de acordo com novas exigências da musicografia.

A aplicação do Sistema Braille à Matemática foi também proposta por seu
inventor na versão do Sistema editada em 1837. Nesta, foram
apresentados os símbolos fundamentais para os algarismos, bem como as
convenções para a Aritmética e para a Geometria.

Esta simbologia fundamental, entretanto, nem sempre foi adotada nos
países que vieram a utilizar o Sistema Braille, verificando-se
posteriormente, diferenças regionais e locais mais ou menos acentuadas,
chegando a prevalecer, como hoje, diversos códigos para a Matemática e
as ciências em todo o mundo.

Com o propósito de unificar a simbologia braille para a Matemática e as
ciências, realizou-se na cidade de Viena, em 1929, um congresso,
reunindo países da Europa e os Estados Unidos. Apesar desse esforço, a
falta de acordo fez com que continuassem a prevalecer as divergências,
que se acentuaram, face à necessidade de adoção de novos símbolos,
determinada pela evolução técnica e científica do século XX.

O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, criado em 1952, hoje
União Mundial de Cegos, com apoio da UNESCO, passou a se preocupar,
através de seus especialistas, com o problema da unificação da
simbologia matemática e científica, em nível mundial.

Com esse propósito, a Organização Nacional de Cegos da Espanha (ONCE),
em princípios da década de 1970, desenvolveu estudos, através da
análise e comparação de diferentes códigos em uso no mundo, para,
finalmente, propor um código unificado que denominou "Notación
Universal".

A Conferência Ibero-Americana para a Unificação do Sistema Braille,
realizada em Buenos Aires, 1973, foi uma tentativa de se estabelecer um
código único para países de língua castelhana e portuguesa. Na
oportunidade, foram apresentados três trabalhos, elaborados pela
Espanha, Argentina e Brasil. A acentuada divergência entre os códigos
inviabilizou um desejável acordo.

O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, reunido por seu
Comitê-Executivo na cidade de Riyadh, Arábia- Saudita (1977), criou o
Subcomitê de Matemáticas e Ciências, integrado por representantes da
Espanha, Estados Unidos, União Soviética, Alemanha Ocidental e
Inglaterra, com a finalidade principal de promover, em diferentes
países, estudos e experiências de âmbito nacional e regional, visando a
unificação dos diversos códigos em uso.

Em nível de países de língua castelhana, finalmente, foi possível um
acordo para a unificação da simbologia matemática, celebrado em 1987 na
cidade de Montevidéu, durante uma reunião de representantes de
imprensas braille dos países que falam o referido idioma. A esta
reunião compareceram representantes brasileiros, como observadores.

Em nível mundial, o esforço para a unificação dos códigos matemáticos e
científicos ainda não alcançou o êxito desejado.

Especialistas no Sistema Braille do Brasil, especialmente ligados ao
Instituto Benjamin Constant e à, hoje, Fundação Dorina Nowill para
Cegos, a partir da década de 70, passaram a se preocupar com as
vantagens que adviriam da unificação dos códigos de Matemática e das
ciências, uma vez que a tabela Taylor adotada no brasil desde a década
de 40, já não vinha atendendo satisfatoriamente à transcrição em
Braille, sobretudo, após a introdução dos símbolos da Matemática
Moderna, revelando-se esta tabela insuficiente para as representações
matemáticas e científicas em nível superior.

Deste modo, o Brasil participou inicialmente e, posteriormente
acompanhou os estudos desenvolvidos pelo Comitê de especialistas da
ONCE, e que resultaram no Código de Matemática Unificado.

Em 1991 foi criada a Comissão para Estudo e Atualização do Sistema
Braille em Uso no Brasil, com a participação de especialistas
representantes do Instituto Benjamin Constant, da Fundação Dorina
Nowill para Cegos, do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos,
da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais e da
Federação Brasileira de Entidades de Cegos, com o apoio da União
Brasileira de Cegos e o patrocínio do Fundo de Cooperação Econômica
para Iberoamérica - ONCE - ULAC. Os estudos desta comissão foram
concluídos em 18 de maio de 1994, constando das principais resoluções a
de se adotar no Brasil o Código Matemático Unificado para a Língua
Castelhana, com as necessárias adaptações à realidade brasileira.

Por orientação da União Brasileira de Cegos, especialistas da Comissão
na área da Matemática vêm realizando estudos para o estabelecimento de
estratégias para a implantação, em todo o território brasileiro, da
nova simbologia matemática unificada.

Com o patrocínio financeiro da Organização Nacional dos Cegos da
Espanha (ONCE), a Fundação Dorina Nowill para Cegos (FDNC), em 1998,
publicou a 1ª edição em Braille do Código Matemático Unificado para a
Língua Portuguesa.

Sob o ponto de vista histórico, a utilização do Sistema Braille no
Brasil pode ser abordada em três períodos distintos:

1854 - 1942

Em 1854 o Sistema Braille foi adotado no Imperial Instituto dos Meninos
Cegos (hoje, Instituto Benjamin Constant), sendo assim, a primeira
instituição na América Latina a utilizá-lo. Deve-se isto aos esforços
de José Álvares de Azevedo, um jovem cego brasileiro, que o havia
aprendido na França.

Diferentemente de alguns países, o Sistema Braille teve plena aceitação
no Brasil, utilizando-se praticamente toda a simbologia usada na
França. A exemplo de outros países, o Brasil passou a empregar, na
íntegra, o código internacional de musicografia braille de 1929.

1942 - 1963

Neste período verificaram-se algumas alterações na simbologia braille
em uso no Brasil.

Para atender à reforma ortográfica da Língua Portuguesa de 1942, o
antigo alfabeto braille de origem francesa foi adaptado às novas
necessidades de nossa língua, especialmente para a representação de
símbolos indicativos de acentos diferenciais.

Destaca-se, ainda, a adoção da tabela Taylor de sinais matemáticos, de
origem inglesa, em substituição à simbologia francesa até então
empregada.

A Portaria nº 552, de 13 de novembro de 1945, estabeleceu o Braille
Oficial para uso no Brasil, além de um código de abreviaturas, da
autoria do professor José Espínola Veiga. Esta abreviatura teve uso
restrito, entrando em desuso, posteriormente.

A Lei nº 4.169, de 04/12/1962, que oficializou as convenções braille
para uso na escrita e leitura dos cegos, além de um código de
contrações e abreviaturas braille, veio criar dificuldades para o
estabelecimento de acordos internacionais, pelo que, especialistas
brasileiros optaram por alterar seus conteúdos, em benefício da
unificação do Sistema Braille.

1963 - 1995

Os fatos marcantes deste período podem ser assim destacados:

Em 05 de janeiro de 1963 foi assinado um convênio luso-brasileiro,
entre as mais importantes entidades dos dois países, para a
padronização do Braille integral (grau 1) e para a adoção, no Brasil,
de símbolos do código de abreviaturas usado em Portugal.

Em relação à matemática, educadores e técnicos da FLCB e do IBC,
principalmente, complementaram a tabela Taylor com o acréscimo de
símbolos braille aplicáveis à teoria de conjuntos.

A atuação profissional de pessoas cegas no campo da Informática, a
partir da década de 70, fez com que surgissem diferentes formas de
representação em Braille desta matéria, com base, sobretudo, em
publicações estrangeiras. Em nível de imprensas e centros de produção
de Braille, finalmente, foi acordada em 1994, a adoção de uma tabela
unificada para a Informática.

Durante todo esse período, o brasil participou dos esforços do Conselho
Mundial para o Bem-Estar dos Cegos (hoje, União Mundial de Cegos) para
a atualização e a unificação do Sistema Braille, como o demonstram a
contribuição brasileira à Conferência Ibero-Americana para Unificação
do Sistema Braille (Buenos Aires, 1973), a participação de técnicos
brasileiros, como observadores, na Reunião de Imprensas Braille de
Países de Língua Castelhana (Montevidéu, 1987), a criação da Comissão
para Estudos e Atualização do Sistema Braille em Uso no Brasil (1991 -
1994), a atuação de especialistas brasileiros na Conferência O Sistema
Braille Aplicado à Língua Portuguesa (Lisboa, 1994), além de outras
iniciativas e atividades desenvolvidas.

Destaque-se, em todo este período, o trabalho conjunto da, hoje,
Fundação Dorina Nowill para Cegos e do Instituto Benjamin Constant,
através de seus especialistas, aos quais se reuniram, muitas vezes,
competentes profissionais de outras importantes entidades brasileiras.

As tentativas de destacadas entidades para cegos, no sentido de se
criar, no âmbito federal, uma comissão nacional de Braille não foram bem
sucedidas. O insucesso, porém foi certamente compensado pelo trabalho
profícuo e harmonioso dos especialistas em Braille do Brasil.

A União Brasileira de Cegos, na assembléia geral ordinária de 28 de
agosto de 1995, homologou a criação, no âmbito dessa entidade, da
Comissão Brasileira de Braille, constituída de cinco membros.

Os membros da Comissão deveriam atender aos critérios de serem,
preferentemente, usuários do Sistema Braille e de ter conhecimento e
experiência reconhecidos no campo da produção de material braille e da
educação de cegos.

FINALIDADES DA COMISSÃO BRASILEIRA DE BRAILLE

1- Propor às autoridades competentes e diligenciar por sua execução, em
nível nacional, a política de diretrizes e normas para o uso, o ensino,
a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as suas modalidades
de aplicação, compreendendo, especialmente, a Língua Portuguesa, a
Matemática e outras ciências, a Música e a Informática.

2- Propor ao Governo Federal a promulgação de leis, a edição de
decretos e regulamentações concernentes ao uso do Sistema Braille no
Brasil, visando, inclusive, a unificação das aplicações do referido
Sistema em nível internacional, especialmente nas línguas portuguesa e
castelhana.

3- Cumprir e fazer cumprir, no que lhe couber, os acordos
internacionais referentes ao uso do Sistema Braille.

4- Funcionar como equipe técnica de assessoria sobre questões relativas
ao uso do Sistema Braille, junto a entidades públicas e privadas.

5- Avaliar, permanentemente, a simbologia braille adotada no país,
atentando para a necessidade de adaptá-la face à evolução técnica e
científica, particularmente, procurando compatibilizar esta
simbologia, sempre que possível, com as adotadas nos países de língua
portuguesa e castelhana.

6- Manter intercâmbio permanente com comissões de Braille de outros
países, de acordo com a política de unificação do Sistema Braille, em
nível internacional.

7- Estabelecer, com base em estudos realizados, conteúdos, metodologias
e estratégias a serem adotados em cursos de aprendizagem do Sistema
Braille, com caráter de especialização, treinamento e reciclagem de
professores e de técnicos, como também nos cursos destinados a usuários
do Sistema e à comunidade, em geral.

8- Estabelecer critérios e fixar estratégias para a implantação de
novas simbologias braille que alterem ou substituam os códigos em uso
no Brasil, prevendo a realização de avaliações sistemáticas com vistas
a modificações de procedimentos, sempre que necessário.

9- Manter, com objetivos de estudos e de pesquisa, acervo bibliográfico
de origem nacional e estrangeira, acerca do Sistema Braille,
compreendendo códigos, manuais, tabelas e outras publicações afins.

10- Elaborar catálogos, manuais, tabelas e outras publicações que
facilitem o processo ensino- aprendizagem e o uso do Sistema Braille em
todo o território nacional.

Esta iniciativa da União Brasileira de Cegos nivelou o Brasil com os
países em que as questões referentes à leitura e à escrita das pessoas
cegas são da competência de verdadeiras Autoridades Braille.

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*09 COMISSÃO BRASILEIRA DO BRAILLE

Em 26 de fevereiro de 1999, o Ministro de Estado da Educação coroou
condignamente todo o trabalho realizado pela Comissão Brasileira de
Braille e pela União Brasileira de Cegos, instituindo no Ministério da
Educação a Comissão Brasileira do Braille, através da Portaria n. 319,
publicada no Diário Oficial da União de 02 de março de 1999.

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*10 PORTARIA N. 319 , DE 26 DE FEVEREIRO DE 1999

O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições e

- considerando o interesse do Governo Federal em adotar para todo o
País, uma política de diretrizes e normas para o uso, o ensino, a
produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de
aplicação, compreendendo especialmente a Língua Portu

- considerando a permanente evolução técnico-científica que passa a
exigir sistemática avaliação, alteração e modificação dos códigos e
simbologia Braille, adotados nos Países de língua portuguesa e
espanhola; e, finalmente,

- considerando a necessidade do estabelecimento de permanente
intercâmbio com comissões de Braille de outros Países, de acordo com a
política de unificação do Sistema Braille, a nível internacional,
resolve

Art. 1º - Fica instituída no Ministério da Educação, vinculada à
Secretaria de Educação Especial/SEESP e presidida pelo titular desta, a
Comissão Brasileira do Braille, de caráter permanente.

Art 2º - A Comissão Brasileira do Braille será constituída de 08 (oito)
membros sendo:

I - 1 representante do Instituto Benjamin Constant - IBC;
II - 1 representante da União Brasileira de Cegos - UBC;
III - 1 representante da Fundação Dorina Nowill para Cegos - FDNC;
IV - 5 representantes de instituições de e para cegos, escolhidos em
fórum convocado pela União Brasileira de Cegos - UBC.

§ 1º - Os membros referidos nos itens I, II e III terão um mandato de 3
anos e os no item IV terão mandato de 2 anos.

§ 2º - Os representantes do Instituto Benjamin Constant - IBC, da União
Brasileira de Cegos - UBC e da Fundação Dorina Nowill para Cegos - FDNC,
referidos nos incisos I; II e III deste artigo, constituirão a
Consultoria Técnico Científica da Comissão.

§ 3º - Os cinco representantes escolhidos no fórum referido no inciso IV
deste artigo, deverão preferencialmente atender as áreas de aplicação do
Sistema Braille especificados no parágrafo subsequente.

§ 4º - Os membros da Comissão Brasileira do Braille deverão ser pessoas
de notório saber e larga experiência no uso do Sistema Braille, nas
seguintes áreas:

Braille integral e abreviado (grau I e grau II) da língua portuguesa e
conhecimentos específicos de simbologia Braille usada em outras línguas,
em especial espanhol, francês e inglês.
Simbologia Braille aplicada à matemática e ciências em geral;
Musicografia Braille;
Simbologia Braille aplicada à informática, produção Braille
(transcrição, adaptação de textos, gráficos e desenhos em relevo e
impressão).

§ 5º - Os trabalhos da Comissão serão considerados relevantes e as
funções exercidas por seus membros não serão remuneradas, sendo vedada a
percepção de vantagens pecuniárias de qualquer natureza, exceto despesas
eventuais de passagens e diárias.

Art. 3º - Compete à Comissão Brasileira do Braille:

I - Elaborar e propor a política nacional para o uso, ensino e difusão
do Sistema Braille em todas as suas modalidades de aplicação,
compreendendo especialmente a língua portuguesa, a matemática e outras
ciências exatas, a música e a informática;

II - Propor normas e regulamentações concernentes ao uso, ensino e
produção do Sistema Braille no Brasil, visando a unificação das
aplicações do Sistema Braille, especialmente nas línguas portuguesa e
espanhola.

III – Acompanhar e avaliar a aplicação de normas, regulamentações,
acordos internacionais, convenções e quaisquer atos normativos
referentes ao Sistema Braille.

IV – Prestar assistência técnica às Secretarias Estaduais e Municipais
de Educação, bem como a entidades públicas e privadas, sobre questões
relativas ao uso do Sistema Braille.

V – Avaliar permanentemente a Simbologia Braille adotada no País,
atentando para a necessidade de adaptá-la ou alterá-la, face à evolução
técnica e científica, procurando compatibilizar esta simbologia, sempre
que for possível com as adotadas nos Países de língua portuguesa e
espanhola.

VI – Manter intercâmbio permanente com comissões de Braille de outros
Países de acordo com as recomendações de unificação do Sistema Braille
em nível internacional.

VII – Recomendar, com base em pesquisas, estudos, tratados e convenções,
procedimentos que envolvam conteúdos, metodologia e estratégias a serem
adotados em cursos de aprendizagem no Sistema Braille com caráter de
especialização, treinamento e reciclagem de professores e de técnicos,
como também nos cursos destinados a usuários do Sistema Braille e à
comunidade geral.

VIII – Propor critérios e fixar estratégias para implantação de novas
Simbologias Braille que alterem ou substituam os códigos em uso no
Brasil, prevendo a realização de avaliações sistemáticas com vistas a
modificações de procedimentos sempre que necessário.

IX – Elaborar catálogos, manuais, tabelas e outras publicações que
facilitem o processo ensino-aprendizagem e o uso do Sistema Braille em
todo o território nacional.

Parágrafo Único - Os itens IV, V, VI e IX, poderão constituir matéria de
apreciação e deliberação da Consultoria Técnico Científica.

Art. 4º - A SEESP assegurará o apoio técnico, administrativo e
financeiro indispensável ao funcionamento da Comissão.

Art. 5º - A instalação da Comissão Brasileira do Braille dar-se-á no
prazo de até 60 (sessenta) dias da data de publicação desta Portaria.

Art. 6º - A Comissão elaborará o Regulamento Interno no prazo de 60
(sessenta) dias a partir de sua instalação.

Art. 7º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.


PAULO RENATO SOUZA

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*11 MEMBROS DA COMISSÃO BRASILEIRA DO BRAILLE

Os membros da Comissão Brasileira do Braille foram empossados pelo
Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação, Dr. Paulo Renato Souza, em
reunião realizada em Brasília, no dia 10 de junho de 1999. A Comissão
ficou assim constituída:

Professora Marilene Ribeiro dos Santos (titular da Secretaria de
Educação Especial do MEC e presidente da Comissão);

Membros da Consultoria Técnico-Científica:
Professora Maria Helena Franco Sena (representante do Instituto
Benjamin Constant),
Professor Edison Ribeiro Lemos (representante da União Brasileira de
Cegos - UBC) e
Professora Regina Fátima Caldeira de Oliveira (representante da
Fundação Dorina Nowill para Cegos);

Membros indicados pelas organizações nacionais de e para cegos em foro
específico da UBC.

Professor Jonir Bechara Cerqueira,
Doutor Márcio Neves Penido,
Maestro Angelin Loro,
Professora Lusia Maria de Almeida e
Professor Aristides Antônio dos Santos

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*12 BIBLIOGRAFIA

AMERICAN FOUNDATION FOR THE BLIND. Understanding
Braille. New York, AFB, 1969.

FARREL, Gabriel. The story of Blindness. Cambridge
Harvard University Press, 1956.

HENRI, Pierre. La vie et l’oevre de Louis Braille.
Paris, Presses Universitaires de France, 1952.

IRWIN, Robert B. As I saw it. New York, American
Foundation for the Blind, 1955.

LOOMIS, Madeleine Seymour. The Braille reference book.
New York, Harper & Brothers, 1942.

MACKENZIE, Sir Clutha. L’éscriture Braille dans le
monde. Paris, UNESCO, 1954.

ROBLI, Jean. The reading fingers. New York, American
Foundation for the Blind, 1975.

Louis Braille. Londres, Royal National Institute for
the Blind, 1955.

FRENCH, Richard Slayton. From Homer to Helen Keller.
New York, American Foundation for the Blind, 1932.

FIM DA OBRA

Invenção de BRAILLE

COMISSÃO DE BRAILLE

José António Lages Salgado Baptista

A INVENÇÃO DO BRAILLE E A SUA IMPORTÂNCIA NA VIDA DOS CEGOS

LOUIS BRAILLE

1809 - 1852

2000

LISBOA

Ficha Técnica:

Título: A invenção do Braille e a sua Importância na Vida dos Cegos

Autoria: José António Lages Salgado Baptista

Impressão: Gráfica 2000

Rua Sacadura Cabral, 89-91 A 1495 Cruz Quebrada

Data de Impressão: Novembro de 2000

Depósito Legal Nº.: 157713/00

ISBN: 972-98660-0-7

I - A EDUCAÇÃO DOS CEGOS

Foi no século XVIII que se iniciou, de forma sistemática, o ensino dos

cegos.

Valentin Haüy (1745-1822), homem de ciência e homem de coração, fundou em

Paris, em 1784, a primeira escola destinada à educação dos cegos e à sua preparação profissional. Homem de coração, Valentin Haüy teve a idéia de instruir os cegos depois

De haver contemplado, na Feira de Santo Ovídio, em Paris, um espetáculo que o chocou profundamente. Sobre um estrado, por conta de um empresário sem escrúpulos, dez cegos exibiam-se como fantoches. Homem de ciência, influenciado pelas filosofias sensistas segundo as quais tudo vinha dos sentidos, Valentin Haüy entendeu que na educação dos cegos o problema essencial consistia em fazer que o visível se tornasse tangível. Adaptou, pois, para o seu uso, os processos dos videntes. Aliás, Valentin Haüy foi o primeiro a defender o princípio de que, tanto quanto fosse possível, a educação dos cegos não deveria diferenciar-se da dos videntes. Na sua escola, para a leitura, adotou o alfabeto vulgar, que se traçava em relevo na expectativa de que as letras fossem percebidas pelos dedos dos cegos. Para a escrita (redações e provas ortográficas), serviu-se de caracteres móveis. Os alunos aprendiam a conhecer as letras e os algarismos, a combinar os caracteres para formar palavras e números e a construir frases. Tudo isso não passava de meros exercícios tipográficos, sempre condenados à destruição. O problema da educação dos cegos só ficou satisfatoriamente resolvido com a invenção e adoção do Sistema Braille - processo de leitura e escrita por meio de pontos em relevo hoje empregado no mundo inteiro. O Sistema Braille é um modelo de lógica, de simplicidade e de polivalência, que se tem adaptado a todas as línguas e a toda a espécie de grafias. Com a sua invenção, Luís Braille abriu aos cegos, de par em par, as portas da cultura, arrancando-os à cegueira mental em que viviam e rasgando lhes horizontes novos na ordem social, moral e espiritual.

II - LUÍS BRAILLE

Luís Braille era natural de Coupvray, pequena aldeia a leste de Paris, Onde nasceu a 4 de Janeiro de 1809. Era o filho mais novo de Simão Renato

Braille, o

correeiro da localidade, e de Mónica Baron. Tinha um irmão e duas irmãs.

A sua

vida foi uma vida humilde. Das mais modestas.

Em 1812, quando brincava na oficina do pai, Luís Braille feriu-se num dos

olhos.

A infecção progrediu, transmitiu-se ao olho são, vindo o pequeno a ficar

completamente cego algum tempo depois. Pouco deve ter conservado em

termos de

imagens visuais ou de recordações dos rostos e dos lugares que rodearam a

sua

infância.

Os pais souberam assegurar, da melhor maneira possível, a primeira

educação

deste seu filho cego. Sabe-se que Luís Braille frequentou a escola da sua

aldeia, beneficiando assim do contacto com pequenos condiscípulos

videntes.

Sabe-se também que quando Luís Braille chegou à escola que Valentin Haüy

havia

fundado com carácter privado, e que, depois de ter passado por diversas

vicissitudes, tinha então o nome de Instituição Real dos Jovens Cegos,

sabia

fazer franjas para os arneses. Este trabalho foi a base do

desenvolvimento da

sua destreza manual.

O pai de Luís Braille teve conhecimento da existência da Instituição Real

dos

Jovens Cegos, em Paris, e escreveu repetidas vezes ao director para se

inteirar

dos trabalhos que ali se realizavam e certificar-se de que eram

verdadeiramente

úteis para a educação do seu filho. Depois de algumas hesitações,

decidiu-se

pelo internamento.

Luís Braille deu entrada na Instituição em 15 de Fevereiro de 1819. Ali

estudou

e leu nos livros impressos em caracteres ordinários, ideados por Valentin

Haüy.

Era habilidoso, aplicado e inteligente. Carácter sério, dele também se

pode

dizer que era a honradez em pessoa. Espírito metódico e apaixonado pela

investigação, nele predominava a imaginação criadora e a mentalidade

lógica.

A partir de 1819 Luís Braille viveu uma vida de internado na Instituição

dos

Jovens Cegos, que foi para ele como que um segundo lar. Mas passava as

suas

férias em Coupvray e aqui residiu também todas as vezes que a doença o

obrigou a

prolongados repousos. Em Coupvray permaneceram os seus restos mortais

desde 10

de Janeiro de 1852, já que a sua morte se verificou em Paris, a 6 do

mesmo mês.

No centenário da sua morte, em Junho de 1952, representantes de quarenta

países

foram em romagem a Coupvray, ao túmulo de Luís Braille, e acompanharam a

transladação do seu corpo para o Panteão dos Homens Ilustres. Era o

reconhecimento da França, para quem o nome de Braille é um raio do

esplendor da

intelectualidade e do humanismo francês. Era a gratidão dos cegos de todo

o

mundo, para quem Braille, mais do que um nome, é um símbolo. Símbolo da

emancipação conquistada, para todos os cegos, por um dos seus.

III - DA SONOGRAFIA DE BARBIER AO SISTEMA BRAILLE

No próprio ano em que Luís Braille foi admitido como aluno da Real

Instituição,

o capitão de artilharia Carlos Barbier de la Serre começou a interessar-

se pela

escrita dos cegos.

Apaixonado pelos problemas da escrita rápida e secreta, Carlos Barbier

ideou um

processo, que foi evoluindo ao longo de sucessivos aperfeiçoamentos,

destinado a

velar o segredo das mensagens militares e diplomáticas. Em determinada

fase da

sua evolução o processo aparece na forma de uma sonografia constituída

por 36

sinais representativos de outros tantos sons e distribuídos por 6 linhas

de 6

sinais cada uma, formando igual número de colunas. Bastava indicar, por

dois

algarismos, a linha e a ordem que o sinal nela ocupava para facilmente o

identificar.

Numa outra fase desta evolução Barbier teve a ideia de designar as

coordenadas

dos seus símbolos sonográficos por certo número de pontos (indicativos da

linha

e da coluna a que o símbolo pertencia) colocados em duas filas verticais

e

paralelas. Assim, por exemplo, o sinal que estivesse em última posição na

segunda linha seria representado por dois pontos na fila vertical

esquerda e

seis pontos na fila vertical direita.

Neste ponto da sua evolução a sonografia de Barbier estava concebida e

realizada

para que os videntes se entendessem no que concerne à escrita secreta por

meio

de pontos, que deviam fazer-se com o lápis ou a pena.

Mas, sendo Barbier capitão de artilharia, algum dia terá pensado na

necessidade

de os oficiais em campanha expedirem mensagens na obscuridade. Assim, em

novo

aperfeiçoamento, introduziu os pontos em relevo para ir ao encontro dessa

necessidade. Barbier inventou um pequeno instrumento por meio do qual,

com

auxílio de um estilete, podiam gravar-se no papel todos os símbolos do

seu

sistema. E deu o nome de «escrita nocturna sem lápis e sem tinta» a esta

sonografia mais aperfeiçoada. A «escrita nocturna» podia até tornar

possível

decifrar mensagens no escuro, contando os pontos com os dedos.

O tacto acabou por aparecer como elemento essencial para a interpretação

dos

símbolos formados por pontos em relevo, que agora constituíam a

sonografia de

Barbier. Foi então que lhe ocorreu, não se sabe devido a que

circunstâncias, pôr

esta sonografia, ou «escrita nocturna», ao serviço dos cegos. Do ponto de

vista

psicológico, coube-lhe o mérito de evidenciar que a leitura por meio de

pontos é

mais adequada para o sentido do tacto do que as letras vulgares em relevo

linear.

Em Março e Abril de 1821, depois de ter experimentado com alguns cegos,

Carlos

Barbier foi recebido na Instituição e apresentou a sua «escrita

nocturna». Mas

as grandes dimensões dos caracteres tornavam difícil conhecê-los ao

primeiro

contacto táctil e lê-los sem ziguezaguear com o dedo através das linhas.

Por outro lado, os princípios fonéticos em que o sistema assentava faziam

dele,

apesar dos seus méritos, um sistema pouco prático.

O sistema de Barbier nunca foi usado na Instituição, mas constituiu a

base dos

trabalhos que Luís Braille realizou por volta de 1825. Luís Braille

reconheceu

que os sinais com mais de três pontos em cada fila ultrapassavam as

possibilidades de uma única percepção táctil. Tratou, pois, de lhes

reduzir as

proporções, de modo a obter sinais que pudessem formar uma verdadeira

imagem

debaixo dos dedos. Além disso, criou uma convenção gráfica, atribuindo a

cada

símbolo valor ortográfico e não fonético, em perfeita equivalência com os

caracteres vulgares.

Aponta-se geralmente o ano de 1825 como a data do aparecimento do Sistema

Braille, mas só em 1829 Luís Braille publicou a primeira edição do seu

«Processo

para Escrever as Palavras, a Música e o Canto-Chão por meio de Pontos,

para Uso

dos Cegos e dispostos para Eles», a que deu forma definitiva na segunda

edição

publicada em 1837.

Na edição de 1829 há 96 sinais. Os sinais estão agrupados em nove séries

de dez

sinais cada uma e mais seis suplementares. Apenas as quatro primeiras

séries

correspondem ao sistema que actualmente conhecemos. As restantes séries

combinam

pontos e traços, aproveitando, pois, elementos dos métodos anteriores de

escrita

linear.

O «Processo» de 1829 proporcionou uma excelente base de experimentação.

Sabe-se

que por volta de 1830 o Sistema Braille se começou a empregar nas aulas

para a

escrita de exercícios.

Esta feliz iniciativa fez com que se prescindisse dos sinais com traço

liso,

muito difíceis de escrever. A edição de 1837 confirma o alfabeto e

estabelece

uma estenografia rudimentar, que evoca claramente a sonografia de

Barbier.

Normaliza a representação dos números, que vêm formados pelos sinais da

primeira

série precedidos do que ainda hoje conhecemos como «sinal numérico». Os

sinais

de pontuação são representados com os sinais que constituem a actual

quinta

série.

A edição de 1837 contém ainda uma notação que, nas suas linhas

essenciais,

constitui o núcleo da musicografia braille dos nossos dias.

IV - O TRIUNFO DO SISTEMA BRAILLE

Era necessário um cego para imaginar um alfabeto táctil. E também foi

preciso,

em muitos sítios, o esforço perseverante dos cegos para impor o seu uso.

Os

professores e directores de escolas especiais, quase sempre pessoas

videntes,

eram contrários à adopção de um alfabeto duro para a vista. Por isso,

agarravam-se ao princípio de Haüy segundo o qual a educação dos cegos não

deveria diferenciar-se da dos videntes, levavam esse princípio ao exagero

e não

renunciavam à leitura em caracteres comuns. Só o formidável impulso dos

cegos

que se serviam do alfabeto braille pôde obrigar os responsáveis pela sua

educação a reconhecer os frutos que a aplicação deste alfabeto produzia

nas

escolas.

Coisa diferente aconteceu nos países ou regiões em que não era conhecido

nenhum

outro método de leitura e escrita para cegos. Foi o caso da América

Latina, onde

a história da educação das pessoas cegas começa com o Sistema Braille. A

chegada

do braille, o início da alfabetização e educação e também a criação de

imprensas

e bibliotecas para cegos foram fenómenos simultâneos.

NA FRANÇA. - A Instituição Real dos Jovens Cegos, onde o Sistema Braille

foi

concebido e aperfeiçoado, demorou 25 anos a aceitá-lo de maneira

definitiva.

Aponta-se a data de 1854 como a da implantação do Sistema Braille em

França.

Na Instituição era conhecido outro método de leitura para cegos. O

director foi

jubilado prematuramente e o novo director pretendeu voltar ao relevo

linear,

impondo-o no campo literário entre 1840 e 1850. Durante esses anos de

eclipse o

braille afirma-se na música (há obras impressas em que o texto literal

aparece

em caracteres ordinários em alto relevo e a música em notação braille) e

os

alunos e professores usam-no nas suas coisas pessoais.

NO BRASIL. - A data de 1854 pode também considerar-se como o ponto de

partida da

difusão do Sistema Braille fora da França.

Nesse ano foi levada a cabo, na Instituição Real dos Jovens Cegos, a

impressão

de um método de leitura em língua portuguesa, registado no Museu Valentin

Haüy

com o nº 1439.

Acontece que um rapaz cego, José Álvares de Azevedo, regressou ao Brasil

depois

de ter estudado durante seis anos em Paris. O Dr. Xavier Sigaud, médico

francês

que esteve ao serviço da corte imperial brasileira e pai de uma filha

cega,

Adélia Sigaud, conheceu-o e apresentou-o ao Imperador D. Pedro II,

conseguindo

despertar o seu interesse para a possibilidade de educar os cegos. O Dr.

Xavier

Sigaud foi o primeiro director do Imperial Instituto dos Meninos Cegos,

hoje

Instituto Benjamin Constant, inaugurado no Rio de Janeiro em 17 de

Setembro de

1854.

EM PORTUGAL. - Adélia Sigaud estava em Lisboa por volta de 1885. É

conhecida na

história da tiflologia em Portugal como «Madame Sigaud Souto». Aqui

estava

também, por essa altura, Léon Jamet, que era organista na igreja de S.

Luís dos

Franceses e havia estudado na Instituição de Paris.

A convivência com estes dois não videntes instruídos motivou, em 1887, um

grupo

de pessoas a fundar a Associação Promotora do Ensino dos Cegos. Em 1888 a

APEC

inaugurava a sua primeira escola, que adoptou a classificação de asilo-

escola e

tomou por patrono António Feliciano de Castilho em 1912, ao instalar-se

em Campo

de Ourique, em edifício próprio.

Branco Rodrigues (1861-1926) colaborou com Madame Sigaud Souto. Foi o

primeiro

grande impulsionador da valorização dos cegos em Portugal. Em 1896,

depois de

ter instruído alguns alunos na escola da APEC, criou uma aula de leitura

e de

música no Asilo de Nossa Senhora da Esperança, em Castelo de Vide. Em

1897, numa

sala cedida pela Misericórdia de Lisboa, instalou outra aula de leitura.

Fundou

escolas que vieram a transformar-se no Instituto de Cegos Branco

Rodrigues, em

S. João do Estoril, e no Instituto S. Manuel, no Porto. Dotou essas

instituições

com bibliotecas braille, literárias e musicais, quer adquirindo livros

impressos

no estrangeiro, quer promovendo a sua produção por transcritores e

copistas

voluntários. Além disso, com a colaboração de um habilidoso funcionário

da

Imprensa Nacional, fez as primeiras impressões em braille que apareceram

em

Portugal. A primeira impressão foi em 1898, de um número especial do

«Jornal dos

Cegos», comemorativo do 4º centenário do descobrimento do caminho

marítimo para

a Índia.

NOS PAÍSES GERMÂNICOS. - A segunda edição do «Processo», em 1837, foi

confeccionada para dar a conhecer o Sistema Braille e assegurar a sua

difusão no

estrangeiro. Apresentava o Pai Nosso em seis línguas - latim, italiano,

espanhol, inglês, alemão e francês -, com a correspondente versão em

caracteres

ordinários em relevo linear. Sabe-se que esta edição foi remetida a todas

as

escolas de cegos então existentes.

Mas nos países germânicos o Sistema Braille levou 40 anos a impor-se. Era

acusado de erguer um muro entre os cegos e os videntes. Não se queria

aceitar um

processo que os videntes não podiam ler senão após um período de

aprendizagem.

Uns estavam demasiado apegados à rotina e outros queriam ser também

inventores.

Por isso, o sistema original francês haveria ainda de sofrer um novo

embate. Em

Santa Maria de Leipzig, fazendo malabarismos com o braille, idearam um

alfabeto

no qual as letras com menos pontos correspondiam às letras mais usadas em

língua

alemã. Assim, a primeira série representava as letras e, m, r, u, i, l,

p, g, d,

f. O Congresso Internacional de Paris, em 1878, liquidou estas diferenças

por

grande maioria, inclinando a balança para o sistema francês. Assistiram

representantes da Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda,

Suécia, Suíça, Estados Unidos...

NOS ESTADOS UNIDOS. - De todos os países de línguas europeias só os

Estados

Unidos da América se atrasaram muito em seguir este movimento. Na maior

parte

das instituições usavam-se os caracteres romanos juntamente com o «New

York

Point» ou «Wait System». Neste sistema, o rectângulo braille tinha três

pontos

de largura por dois de altura. O acordo apenas surgiu no Congresso de

Little

Rock, em 1910.

O braille original impunha-se pelas suas próprias virtudes.

V - O SISTEMA BRAILLE E A VIDA DOS CEGOS

O Sistema Braille é constituído por 63 sinais, obtidos pela combinação

metódica

de seis pontos que, na sua forma fundamental, se agrupam em duas filas

verticais

e justapostas de três pontos cada. Estes sinais não excedem o campo

táctil e

podem ser identificados com rapidez, pois, pela sua forma, adaptam-se

exactamente à polpa do dedo.

Na leitura qualquer letra ou sinal braille é apreendido em todas as suas

partes

ao mesmo tempo, sem que o dedo tenha que ziguezaguear para cima e para

baixo.

Nos leitores experimentados o único movimento que se observa é da

esquerda para

a direita, ao longo das linhas. Não somente a mão direita corre com

agilidade

sobre as linhas, mas também a mão esquerda toma parte activa na

interpretação

dos sinais. Em alguns leitores a mão esquerda avança até mais ou menos

metade da

linha, proporcionando assim um notável aumento de velocidade na leitura.

Dispondo de um processo fácil de leitura, o gosto pelos livros estendeu-

se

amplamente entre os cegos e ocupou um lugar importante na sua vida. À

instrução

oral sucedeu a instrução pelo livro. O conhecimento intelectual, sob

todas as

suas formas (filosofia, psicologia, teologia, matemáticas, filologia,

história,

literatura, direito...), tornou-se mais acessível aos cegos.

Os benefícios do Sistema Braille estenderam-se progressivamente, à medida

que as

aplicações revelavam todas as suas potencialidades. As estenografias

tornaram a

escrita mais rápida e menos espaçosa. As máquinas de escrever permitiram

fazer

simultaneamente todos os pontos de um sinal, em vez de os gravar um a um,

com o

punção. Enfim, obteve-se o interponto, graças a um sistema de precisão em

que é

possível intercalar os pontos do reverso de uma página com os do seu

anverso.

Nos dias de hoje as novas tecnologias representam o mais espantoso

contributo

para valorizar o Sistema Braille, depois da sua invenção. A drástica

redução de

espaço proporcionada pelo braille electrónico é exemplo disso. Um livro

em

braille com 2000 páginas de formato A4 pode ficar contido numa só

disquete. Uma

vez introduzido o texto desse livro no computador, o utilizador cego tem

ao seu

alcance toda a informação não gráfica disponível no ecrã, que pode ler

através

de um terminal braille.

Um outro exemplo é a facilidade de imprimir textos em braille.

Introduzidos no

computador, os textos podem ser submetidos a um programa de tratamento

específico e sair numa impressora braille. Os textos assim tratados podem

utilizar-se, quer na produção directa em papel, quer na produção de

placas de

impressão, conforme o número de exemplares a obter. A impressão de

livros,

permitindo a sua multiplicação, tem um efeito cultural considerável.

VI - A UTILIZAÇÃO DO SISTEMA BRAILLE NOS NOSSOS DIAS

Não obstante as virtudes do Sistema Braille, não obstante a extensão dos

seus

benefícios, temos de reconhecer que nos nossos dias existe uma tendência

para a

menor utilização do braille e para o abaixamento da qualidade do braille

que se

utiliza. O alerta foi dado quando o uso dos livros sonoros se começou a

generalizar, mas há outros factores que igualmente explicam a crise.

Entre estes

factores conta-se a exiguidade dos fundos bibliográficos braille, que

podem

eventualmente não corresponder às necessidades dos potenciais

utilizadores. Em

Portugal, por exemplo, a maior parte do braille que se produz é destinada

ao

ensino, designadamente aos estudantes que frequentam o ensino regular.

A crise do braille também tem a ver com dificuldades inerentes ao próprio

braille, sobretudo quando, como acontece actualmente entre nós, essas

dificuldades são agravadas por um ensino mal orientado. Efectivamente,

hoje em

dia, durante a Escolaridade Obrigatória, os nossos estudantes cegos não

são

motivados para a prática do braille nem o conhecem em todas as suas

modalidades.

Lêem pouco, o processo de reconhecimento dos caracteres é lento e eles

cansam-se

depressa. Incapazes de ler a um ritmo satisfatório, fogem de utilizar os

livros

e manuais que já vão tendo ao seu dispor. Recorrem preferencialmente a

textos

introduzidos no computador, que ouvem com recurso à voz sintética, ou

servem-se

de leituras feitas por outrem, normalmente gravações em fita magnética

(livros

sonoros). A falta de leitura directa reflete-se, naturalmente, na

escrita, que é

deficiente quanto ao braille e desconcertante quanto à ortografia.

Os livros sonoros e a informática são muito importantes para o

desenvolvimento

cultural dos cegos, mas nada poderá ou deverá substituir o braille como

sistema

base da sua educação. Tal como a leitura visual, a leitura braille leva

os

conhecimentos ao espírito através de mecanismos que facilitam a meditação

e

assimilação pessoal daquilo que se lê. O braille permite estudar os

quadros em

relevo e ler eficientemente os livros técnicos. O braille é, ainda, o

único meio

de leitura disponível para os surdocegos. Por outro lado, a perfeição na

escrita

está relacionada com a leitura braille que cada um faz, pois é através

dela que

entra em contacto com a estrutura dos textos, a ortografia das palavras e

a

pontuação.

A qualidade do ensino do braille é decisiva para uma leitura destra e

para a

aquisição de hábitos de leitura. Se os alunos cegos, como as outras

crianças,

forem motivados para a prática normal e constante do seu método de

leitura e

escrita, a leitura será rápida e tornar-se-á também mais agradável e

instrutiva,

porque a atenção, menos requerida pelo trabalho de reconhecimento dos

caracteres, irá mais em ajuda do pensamento. Ao acabarem de ler, as

crianças e

jovens cegos terão aprendido alguma coisa e estarão mentalmente dispostos

a

partir para novas leituras. Ora, é a ler que se ganha e se desenvolve o

gosto

pela leitura. Só o gosto de ler garante que o processo de aquisição de

cultura

não se interromperá ao sair da Escola, apesar das vicissitudes do

quotidiano. E

não se pode ignorar a importância da cultura como factor de integração

social,

como instrumento de trabalho e como elemento de conscientização na vida

das

pessoas cegas.

É, pois, necessário rever a política até agora seguida pelo Ministério da

Educação no que toca ao ensino dos alunos cegos, para que os passe a

habilitar a

ler e a escrever braille exactamente como os demais alunos são

habilitados a ler

e a escrever. Levar os jovens cegos a utilizar abusivamente meios que são

complementares do braille, não lhes fornecer os livros em braille e

outros

materiais de que precisam e já existem ou é possível produzir, abandoná-

los a si

mesmos ou às condições que o meio familiar e a sua escola lhes dêem,

equivale a

comprometer seriamente, no dia de amanhã, as suas possibilidades de

afirmação,

tanto na vida profissional como nas actividades de lazer.

Julho de 2000.

[início da contracapa]

Alfabeto Braille

COMISSÃO DE BRAILLE

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DEFICIÊNCIA

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Fax: 21 794 22 08

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[fim da contracapa]