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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Brincadeiras indígenas: a abordagem da diversidade etno-cultural na Educação Física escolar

Brincadeiras indígenas: a abordagem da diversidade etno-cultural na Educação Física escolar
Denise Aparecida Corrêa – Mestre e Doutora em História Universidade Católica de São Pulo (PUC/SP)
Resumo
A proposta da pesquisa é um relato de experiência acerca do desenvolvimento do projeto citado na pesquisa “Brincado e aprendendo com o povo indígena” na educação física escolar. Abordando o tema da diversidade ética da aproximação com a cultura corporal indígena, especialmente na forma de brincadeiras, com o intuito de promover conhecimento às diferenças etno-culturais. “E vem a pergunta o que podemos aprender com essa pesquisa?”. Podemos dizer que será uma experiência enriquecedora para o desenvolvimento temático da diversidade etno-cultural na educação física escolar.
Assim unimos Educação física escolar, Diversidade etno-cultural, Cultura corporal indígena.

INTRODUÇÃO

Considerando a proposta sobre a pesquisa pelo professor Davi baseado no tema sobre brincadeiras, estudamos vários relatos e optamos por falar sobre brincadeiras indígenas, e relatamos que foi um estudo de experiência acerca do desenvolvimento da temática da diversidade ética na educação física escolar por meio da aproximação com a cultura corporal indígena, especialmente na forma de brincadeiras, com o intuito de promover conhecimento e respeito às diferenças etno-culturais.
O interesse pela abordagem da cultura corporal indígena na temática da diversidade cultural surgiu por ocasião do “ evento que o professor Davi trouxe em sala de aula” e que não é um assunto muito comentado por alunos e professores, demonstrando um conhecimento limitado e estereotipado acerca dos povos indígenas.
Tal situação nos instigou pensar para a contribuição dos componentes da classe, sendo que engloba elementos da cultura corporal na perspectiva da diversidade etno-cultural, uma vez que “a aprendizagem da Educação Física permite que se vivenciem diferentes formas de movimento advindos das mais diversas culturas e que se enxergue como esta variada combinação de influências está presente na vida cotidiana”. (BRASIL, 1997, P 28-29).
As brincadeiras de crianças constituem no nosso entender um dos meios que todo credito da a verificar as práticas corporais de uma determinada sociedade, principalmente no que se refere à prática de jogos e brincadeiras e sobre tudo porque define o quanto ainda existe de tradicional nessas práticas.
Em conjunto com as crianças podemos observar vários tipos de brincadeiras similares as que conhecemos, estando aí provavelmente a sua origem. Vimos também outras brincadeiras que são totalmente localizadas, ou seja, próprias da cultura do POVO KALAPALO
As brincadeiras envolvem uma boa variedade de formações como colunas, fileiras, rodas, e ações como corridas, pega-pega e esconde-esconde, utilizando figuras de animais locais como o gavião e a onça além de figuras mitológicas como o curupira. Destacamos também a brincadeira cujo nome é UNO um jogo que envolve o pensar e o raciocínio com isso o jogador aprimora suas habilidades mentais.

O Povo Kalapalo

A etnia Kalapalo habita a Aldeia Aiha, localizada na Terra Indígena do Xingu, Mato Grosso.
È interessante notar que os Kalapalo têm uma forma peculiar de brincar como observam Lima; Gonçalves Junior; Franco Neto (2008) os jogos e brincadeiras entre os Kalapalos, sempre acontecem num ambiente de muita alegria, com freqüentes algazarras, nos quais quem “perde” ou “erra” (do ponto de vista da nossa cultura) se diverte tanto ou mais do que aquele que “ganha”. Além disso, os autores destacam que não há entre eles o hábito de guardar os implementos usados para brincar, ou seja, os brinquedos são construídos no momento do desejo de brincar sendo depois descartados.

DESCRIÇÃO DE ALGUMAS BRINCADEIRAS

1-BRIGA DE GALO - ota arü nu

Crianças aos pares, em apoio numa das pernas, segurando no tornozelo da perna livre flexionada para trás. A outra mão fica ao peito. Ao sinal, uma criança tenta desequilibrar a outra, empurrando com o ombro. Ganhará aquele que conseguir ficar mais tempo em equilíbrio, ou seja, aquele que levar menos tombos.
Vê-se que este é um jogo de disputa acirrada. Entram aqui as qualidades de equilíbrio, força e atenção. Cada criança quer manter-se de pé, e faz de tudo para derrubar o colega. Um não pode perder o controle sobre o outro, sob pena de ser derrubado.
A origem dessa brincadeira: "Havia um Rei, que tinha uma filha. E foi trabalhar na casa do rei um rapaz chamado João. Este se apaixonou pela filha do rei e ela por ele. João roubou a moça. E para ganhar o Rei, sabendo que ele gostava de briga de galo, João treinou dois galos e levou ao rei para que ele apreciasse a briga".

2-MELANCIA - Woratchia

Crianças representam as melancias, ficando agachadas, em posição grupada, com a cabeça baixa, espalhadas pelo terreno. Existe o dono da plantação de melancias, que fica cuidando, com dois cachorros. Existe outro grupo, que representa os ladrões.
Os ladrões vêm devagar, e experimentam as melancias para saber quais estão no ponto de colheita, batendo com os dedos na cabeça das crianças. Quando encontram uma melancia boa, enfiam-lhe um saco, e saem correndo com ela. É aí que o cachorro corre atrás do ladrão para evitar o roubo.
Quer nos parecer que essa brincadeira é representativa do mundo diário e cotidiano dos Kalapas. A melancia é uma das frutas mais cultivadas por eles na várzea. A figura do ladrão é representativa daqueles que não trabalham, preferindo roubar o que encontram pronto. E o cachorro, sempre fiel ao seu dono, é a segurança do dono da plantação.

3-PETECA - Kopu Kopu

O jogo consiste em dois ou mais participantes, utilizando-se as mãos, onde a peteca é arremessada ao ar de um jogador para o outro, evitando que o mesmo toque o solo numa área definida.
A Peteca é constituída de uma base que concentra a maior parte se seu peso, geralmente feito de borracha, e uma extensão mais leve, geralmente feita de penas naturais ou sintéticas, com o objetivo de dar equilíbrio. Essa brincadeira possibilita às crianças refletirem sobre semelhanças e diferenças do modo de brincar entre duas culturas.

4-MOTO-SERRA

É confeccionada pelas crianças e pode ser feita de duas tampinhas de refrigerante, tipo chapinhas, aplainadas. Furam-se dois buracos no centro das tampinhas, e passa-se um fio por entre eles, amarrando-se as pontas. Prende-se nos dedos médios e com movimentos de aproximação e distanciamento dos dedos, a cordinha vai enrolando e desenrolando, e as tampinhas, parecendo duas rodinhas, giram ora num sentido, ora no outro. A disputa consiste na tentativa de cortar as linhas do brinquedo do colega. Se tocar no corpo, é possível que corte. Por isso, moto-serra.

5-CORRE COTIA

Essa brincadeira de pega-pega em forma de ciranda. As crianças formam uma roda e sentam no chão, menos uma. A criança que sobrou corre pelo lado de fora da roda, com um lenço (ou outro objeto) na mão, ao ritmo da ciranda, cantando a seguinte musica:
Corre cotia,
Na casa da tia,
Corre cipó,
Na casa da avó,
Lencinho na mão
Caiu no chão,
Maca (o) bonita (o),
Caiu no chão,
Moça (o) bonita (o) do meu coração.
As crianças perguntam: Posso jogar? A roda responde pode! As crianças novamente perguntam: Ninguém vai olhar? A roda responde não!
Neste momento, as crianças da roda abaixam a cabeça e tapam os olhos com as mãos. A criança que está fora da roda deixa cair o lenço ou objeto escolhido atrás de uma criança que ela escolha. Quando essa perceber, começa o pega-pega entre as duas. Quem está com o lenço é o pegador. O lugar da roda vazio é o pequi. Quem perder fica fora da roda e a brincadeira recomeça.
OBS: Corre Cotia é uma brincadeira que praticamente todo o mundo conhece ou já brincou um dia. Naturalmente, em cada lugar as crianças cantam a ciranda de um modo diferente.

6-UNO

O jogo deve ter entre 2e10 jogadores. O baralho é composto por cartas de quatro cores: verde, amarelo, vermelho e azul As fileiras de cada cor variam entre 0e9. Existem três ações especiais para cada tipo de cor de carta, identificadas como “pular”, “pescar duas” e “inverter”. Há também cartas de ações especiais como fundo preto, “coringa” e “coringa pescar quatro”. Para cada carta regular ou de ação, existem duas das mesmas no baralho, com exceção do zero, no que resulta um total de 108 cartas. Para diferenciar de 6do9, é utilizado um sublinhado da carta respectiva.
Para começar o jogo, são distribuídas sete cartas para cada jogador, e a carta que ficou em cima do baralho é virada para cima, sendo que está é a primeira. Caso esta carta possua uma “habilidade especial” ela é tratada como se o jogador que deu as cartas tivesse jogado as mesmas. Se a carta for um coringa, o jogador escolhe a cor que deve começar. Se for um coringa pescar quatro, deve ser devolvida ao baralho. O jogo começa com a pessoa posicionada ao sentido horário de quem distribuiu as cartas.
Em cada oportunidade, o jogador pode jogar uma carta de sua mão que seja igual à cor ou número da última carta apresentada, ou então jogar um coringa mais quatro. Se a pessoa não possuir carta para jogar na ocasião, deve pescar apenas a primeira que estiver no topo do trabalho. Se o jogador possuir a carta que precisa para ser jogada, mas não jogá-la e pescar outra, nenhuma penalização é aplicada. Depois de um jogador jogar a sua carta, o próximo ao sentido horário ou anti-horário – se estiver invertida a ordem – joga. As cartas podem ser jogadas na seqüência dos números e colocar cartas com cores diferentes com o mesmo número ou símbolo (em conjunto ao você jogar).
Se as cartas que eram utilizadas para pescar esgotarem, as jogadas na mesa são embaralhadas novamente e colocadas como pilha. Quando um jogador estiver com apenas uma carta na mão, deve falar UNO! Em voz que todos os outros jogadores ouçam. Caso isso não ocorrer, qualquer outro jogador pode obrigá-lo a pescar duas cartas. O jogo termina quando um jogador está sem nenhuma carta na mão.

CONCLUSÕES

Ainda nos nossos dias atuais guardamos um pouco da tradição indígena, vista aqui através de alguns brinquedos e jogos como os que apresentamos.
A brincadeira da Moto Serra é resultante de uma clara interferência dos costumes dos brancos. A moto-serra é um instrumento motorizado, possui lâminas, e é utilizado na derrubada da floresta. As crianças utilizam o brinquedo para cortar o brinquedo do colega.
Em todas as comunidades as crianças possuem vários tipos de brinquedos, confeccionados pelos mais velhos e por eles próprios. Na maioria das vezes são miniaturas de objetos de uso cotidiano. Em geral as crianças indígenas gostam mesmo é de brincar na água, subir nas árvores, "balar" passarinhos e jogar bola.
Com base na pesquisa podemos constatar que a palavra brincadeira é para as crianças, a mais valiosa oportunidade de aprender a conversar com as pessoas ao seu redor. De compartilhar idéias, regras e avaliações entre si.
A brincadeira estimula a inteligência por que faz com que a criança solte sua imaginação e desenvolva a sua criatividade possibilitando a exercício de concentração de engajamento.
Se pararmos para pensar verá que a brincadeira é um convite que proporciona a criança desafios e motivações, desafios, por que busca fazer com que a criança procure a entender o que de fato ocorre no dia-a-dia de si própria, motivação por que faz com faz com que a criança pare para pensar sobre o que aconteceu e procura a tomar suas próprias decisões, por exemplo, classes sociais e preconceitos.

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