O objecto arquitectónico em projecto é parte integrante de uma consolidada malha urbana. A Rua António Carneiro, pontuada pelas diferentes relações volumétricas do edificado, ainda possui alguns edifícios de valor arquitectónico, no entanto é já de notar a existência de alguns edifícios de escassa qualidade arquitectónica, enfatizando a especificidade destes edifícios de arquitectura denominada “arte nova”.

Alçado Nascente - Rua António Carneiro

O projecto assenta em dois edifícios construídos pela mesma empresa: Fábrica Manuel Pinto de Azevedo, um em 1916 e outro em 1918. A sua fachada principal, apresenta um trabalho ornamental de muito interesse, acima de tudo é um exemplar da riqueza da arquitectura denominada “arte nova”, com a utilização de apontamentos de azulejo.

É nosso interesse manter a imagem dos prédios e existem exigências que nos parecem fundamentais no programa. A primeira é, sem dúvida, dar resposta às necessidades de espaços mais confortáveis inerentes à função de habitar, para um usufruto aprazível das habitações; a segunda e não menos importante, preservar os principais atributos desta construção, não os demolindo ou descaracterizando.

A atitude conceptual resume-se a actualizar o valor deste património. Manter todas as fachadas, recuperando todos os elementos de valor, nomeadamente ferragens, azulejos, caixilharias, entre outros e respeitar as paredes principais das estrutura dos edifícios, assim como a estrutura de betão do edifício datado de 1918 (já que o relatório apresentado pelo Instituo da Construção certifica o bom estado de conservação desta estrutura) e uma das coberturas em madeira que será recuperada e substituindo os elementos inoperantes.

Alçado Norte

Programa

O alçado norte, com grande valor arquitectónico, ditou algumas regras. A repetição de vãos e os acessos já definidos e tão demarcados nesse alçado estruturou todo o desenho interior. Os dois edifícios dão lugar assim a 4 tipologias habitacionais (uma T4, duas T3 e uma T2) e 2 espaços comerciais. Propõe-se para todas as habitações entradas independentes a efectuar pelas escadas existentes no alçado norte.

O desenvolvimento do programa, pretende gerar hierarquias espaciais. Pretende-se que a leitura da distribuição tipológica seja feita a partir da entrada. Parte-se das áreas ditas comuns para as individuais, distribuídas por 4 pisos (cave, piso térreo, primeiro andar e aproveitamento das águas furtadas).

Planta da Cave

Cave

O acesso automóvel à cave é feito pelo nº 379. A cave terá como função o estacionamento para as fracções habitacionais. Estão previstos para cada habitação dois lugares de estacionamento assim como um espaço de arrumos. Cada habitação tem o seu acesso individual à garagem através de uma escada interior.

Planta do Piso térreo

Piso térreo

Ao nível do piso térreo, distribuem-se as áreas comuns, sala de estar, sala de jantar e cozinha, instalação sanitária de serviço e lavandaria, que pretende ser um espaço fluido, gerador de um uso comunitário.

Planta do 1º andar

Primeiro andar
Ao nível do 1º andar, encontra-se a zona com maior privacidade onde situam-se todos os quartos e instalações sanitárias de apoios.

Planta das Águas Furtadas

Aproveitamento das águas furtadas

O aproveitamento das águas furtadas pretende ser o mais flexível possível de modo a ser adaptado de acordo com a família que habitar a casa. A solução tipológica, procura preservar as relações existentes do edificado com o lote, mantém a estrutura inicial e relaciona-se com o terreno através dos vãos existentes. Simultaneamente, no seu interior, existem elementos geradores dos espaços, tais como, a escada que faz a transição do piso térreo para os restantes. Pretende se então um funcionamento de conjunto numa clara separação entre as partes.

Fachadas
As fachadas mantêm-se. Na fachada poente uma parede considerada um elemento dissonante será demolida, para dar vista à fachada original. Todos os elementos decorativos serão mantidos e recuperados.
Todas as caixilharias serão elaboradas de acordo com o desenho original e com o mesmo material – madeira pintada.

Alçado Sul

Método Construtivo
O edifício encontra-se em estado de degradação avançado. Para nos esclarecer algumas dúvidas consultamos o Instituto da Construção e o resultado é o relatório de inspecção e diagnóstico com identificação do estado de conservação dos elementos estruturais e patologias existentes na construção. Através do relatório podemos ver que “Os dois edifícios apresentam algumas particularidades que os tornam em interessantes exemplos de construções com algum arrojo para a época em que foram construídas. Em primeiro lugar, o grande vão do edifício A com estrutura de madeira, de cerca de 11,50m, com o recurso à utilização de vigas transversais a meio vão, acaba por ser uma solução com alguma audácia, permitindo a obtenção de duas grandes salas (A3 e A4) com uma enorme amplitude visual. Por outro lado, a utilização de lajes em betão armado no edifício B, quando esta técnica estava ainda nos seus primórdios, é também um bom exemplo de acompanhamento da evolução das técnicas construtivas por parte do projectista e do empreiteiro”. (in Relatório de Inspecção realizado pelo Instituto da Construção).

As paredes são de alvenaria de granito e não apresentam qualquer patologia relevante, no entanto temos um movimento na parede norte que terá de ser tratado. (ver Relatório). Todas as paredes de alvenaria serão mantidas e a laje de betão armado do edifício B também será mantida uma vez que se encontra em bom estado de conservação. Serão substituídas as vigas de madeira do edifício A, por uma estrutura semelhante ao edifício B, ou seja com lajes de betão armado. O passadiço existente em betão armado será demolido e a ruína existente será mantida com o intuito de funcionar como espaço de lazer, e de brincar para as futuras crianças do empreendimento, uma espécie de casa de bonecas à escala natural.

Espaço Exterior
O espaço será tratado e desenhado de forma a garantir a privacidade das casas relativamente às construções vizinhas. Esse espaço pretende-se que seja um espaço de lazer comum a todos os habitantes, e por isso agradável e funcional. Nos espaços verdes serão utilizadas espécies autóctones mais resistentes e adaptadas garantindo assim que um jardim de baixa manutenção sem comprometer o usufruto e valor estético desse espaço.

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Adriana Floret
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