terça-feira, outubro 20, 2009

IKEA , por Ricardo Araújo Pereira

Os problemas dos clientes do IKEA começam no nome da loja. Diz-se «Iqueia» ou «I quê à»? E é «o» IKEA ou «a» IKEA»?
São ambiguidades que me deixam indisposto. Não saber a pronúncia correcta do nome da loja em que me encontro inquieta-me. E desconhecer o género a que pertence gera em mim uma insegurança que me inferioriza perante os funcionários. Receio que eles percebam, pelo meu comportamento, que julgo estar no «I quê à», quando, para eles, é evidente que estou na «Iqueia».

As dificuldades, porém, não são apenas semânticas mas também conceptuais. Toda a gente está convencida de que o IKEA vende móveis baratos, o que não é exactamente verdadeiro. O IKEA vende pilhas de tábuas e molhos de parafusos que, se tudo correr bem e Deus ajudar, depois de algum esforço hão-de transformar-se em móveis baratos. É uma espécie de Lego para adultos.
Não digo que os móveis do IKEA não sejam baratos. O que digo é que não são móveis. Na altura em que os compramos, são um puzzle. A questão, portanto, é saber se o IKEA vende móveis baratos ou puzzles caros.

Há dias, comprei no IKEA um móvel chamado Besta. Achei que combinava bem com a minha personalidade. Todo o material de que eu precisava e que tinha de levar até à caixa de pagamento pesava seiscentos quilos. Percebi melhor o nome do móvel. É preciso vir ao IKEA com uma besta de carga para carregar a tralha toda até à registadora. Este é um dos meus conselhos aos clientes do IKEA: não vá para lá sem duas ou três mulas. Eu alombei com a meia tonelada. O que poupei nos móveis, gastei no ortopedista. Neste momento, tenho doze estantes e três hérnias.

É claro que há aspectos positivos: as tábuas já vêm cortadas, o que é melhor do que nada. O IKEA não obriga os clientes a irem para a floresta cortar as árvores, embora por vezes se sinta que não faltará muito para que isso aconteça. Num futuro próximo, é possível que, ao comprar um móvel, o cliente receba um machado, um serrote e um mapa de determinado bosque na Suécia onde o IKEA tem dois ou três carvalhos debaixo de olho que considera terem potencial para se transformarem numa mesa-de-cabeceira engraçada. Por outro lado, há problemas de solução difícil. Os móveis que comprei chegaram a casa em duas vezes.

A equipa que trouxe a primeira parte já não estava lá para montar a segunda, e a equipa que trouxe a segunda recusou-se a mexer no trabalho que tinha sido iniciado pela primeira. Resultado: o cliente pagou dois transportes e duas montagens e ficou com um móvel incompleto. Se fosse um cliente qualquer, eu não me importaria. Mas como sou eu, aborrece-me um bocadinho. Numa loja que vende tudo às peças (que, por acaso, até encaixam bem umas nas outras) acaba por ser irónico que o serviço de transporte não encaixe bem no serviço de montagem. Idiossincrasias do comércio moderno.

Que fazer, então? Cada cliente terá o seu modo de reagir. O meu é este: para a próxima, pago com um cheque todo cortado aos bocadinhos e junto um rolo de fita gomada e um livro de instruções. Entrego metade dos confetti num dia e a outra metade no outro. E os suecos que montem tudo, se quiserem receber .


PARTILHO A MESMA OPINIÃO.
No sábado andei por lá e ia-me passando.
Também andei de volta de uma estante BESTA ( entre muitas outras coisas ) e trouxe as instruções do “puzzle” para casa, já que ninguém teve paciência para me ajudar :(
Tenho andado a pensar em tudo o que vivi naquela tarde e acho que vou mesmo procurar uma loja onde me tratem como cliente e não como uma BESTA.
O dinheiro que iria gastar no ortopedista , gastarei pelos serviços prestados e poupo as minhas costas que já não andam lá grande coisa , bem como a minha saúde mental, já que ando numa fase em que não me apetece andar mal encarada.
Se alguém tiver sugestões ou quiser ajudar , cá fico à espera.

2 comentários:

Unknown disse...

"Também andei de volta de uma estante BESTA ( entre muitas outras coisas ) e trouxe as instruções do “puzzle” para casa, já que ninguém teve paciência para me ajudar :( "

ok... msg recebida e encaixada.... :(

Unknown disse...

Oi Ana,
Cheguei aqui procurando um texto de "Ricardo Araújo Pereira sobre a IKEA".
Morri de rir com o texto. Bem, aqui no Brasil não temos IKEA, mas temos uma outra nestes mesmos moldes já há bastante tempo.
Adoro ler textos com esse "português de Portugal" !!
Beijo para vc!
Ursula Cardoso
Rio de Janeiro-Brasil