segunda-feira, 24 de março de 2008

MACROECONOMIA PRINCIPIOS E APLICAÇÃO

MACROECONOMIA
PRINCÍPIOS E APLICAÇÕES

ROBERT E. HALL
MARC LIEBERMAN

O QUE É ECONOMIA?


Economia. A palavra nos faz pensar em todo o tipo de imagem: corretores enlouquecidos em Wall Street, um encontro de cúpula numa capital européia, um sisudo âncora de telejornal dando boas ou más notícias sobre a economia...Cada um de nós provavelmente ouve falar de economia diversas vezes pordia. Mas o que é, exatamente, economia?
Antes de mais nada, economia é uma ciência social, o que significa que procura explicar algo sobre a sociedade. Neste sentido, tem algo em comum com a psicologia, a sociologia e com as ciências políticas. Mas difere destas outras ciências sociais por causa daquilo que os economistas estudam e da maneira como o fazem. Os economistas fazem perguntas fundamentalmente diferentes e as respondem por meio do uso de ferramentas que os demais cientistas sociais consideram
algo exóticas.

ECONOMIA, ESCASSEZ E ESCOLHA

Uma boa definição de economia, capaz de destacar a diferença entre ela e asdemais ciências sociais é a seguinte:

Economia é o estudo da escolha sob condições de escassez.

Esta definição pode parecer estranha. Onde estão as palavras que estamos habituados a associar à economia como “dinheiro”, “ações e títulos”, “preços”, “orçamentos”etc.? Como veremos em breve, a economia trata de todas essas coisas e de outras mais. Mas vamos, primeiro, estudar um pouco mais a fundo duas idéias importantes presentes nesta definição: escassez e escolha.

ESCASSEZ E ESCOLHA INDIVIDUAL

Pense um pouco em sua própria vida – em suas atividades rotineiras, nos bens que você possui e aprecia, no ambiente em que vive. Há algo que você não tenha no momento e que gostaria de ter? Algo que você já tenha, mas gostaria de ter em maior quantidade? Se a sua resposta for “não”, parabéns! Ou você já está bem avançado no caminho do ascetismo Zen ou, então, é parente próximo do Bill Gates. A maioria de nós, contudo, sente a pressão das restrições ao nosso padrão material de viver. Esta verdade encontra-se no coração da economia, e pode ser rescrita da seguinte maneira: Todos enfrentamos o problema da escassez.

À primeira vista, pode parecer que você sofre de uma infinita variedade de escassezes. São tantas as coisas que você gostaria de ter exatamente agora – uma sala ou um apartamento maior, um carro novo, mais roupas... a lista é interminável. Mas um pouco de reflexão sugere que nossa limitada capacidade de satisfazer esses desejos baseia-se em duas outras limitações mais fundamentais: escassez de tempo e de poder aquisitivo.

Na qualidade de indivíduos, deparamo-nos com escassez de tempo e de poder aquisitivo. De posse de uma maior quantidade de qualquer das duas coisas, cada um de nós poderia ter mais dos bens e serviços que desejamos.

A escassez de poder aquisitivo é, sem dúvida, familiar a você. Todos já quisemos ter renda maior para podermos comprar mais das coisas que desejamos. Mas a escassez de tempo é igualmente importante. Muitas das atividades de que gostamos

– ir ao cinema, tirar férias, dar um telefonema – exigem tanto tempo quanto dinheiro.
Assim como nosso poder aquisitivo é limitado, também temos um número finito de horas por dia que podemos dedicar à satisfação de nossos desejos. Por causa de escassez de tempo e poder aquisitivo, somos forçados a fazer escolhas. Precisamos distribuir nosso escasso tempo entre diferentes atividades: trabalho, diversão, educação, sono, compras, entre outras coisas. E precisamos distribuir nosso ecasso poder aquisitivo entre diferentes bens e serviços:
abrigo, alimento, móveis, viagens e muitas outras coisas. Cada vez que escolhemos comprar ou fazer uma coisa, estamos também escolhendo não comprar ou fazer outra.

Os economistas estudam as escolhas que precisamos fazer como indivíduos e a maneira como estas escolhas moldam nossa economia. Por exemplo, na última década, cada um de nós pode – como indivíduo – ter optado fazer uma maior quantidade de compras pela Internet. Coletivamente, esta decisão determinará quais firmas e indústrias se expandirão e contratarão novos empregados (por exemplo, firmas de consultoria para a Internet e fabricantes de tecnologia para a Internet) e quais firmas se contrairão e demitirão empregados (como ovarejo tradicional).

Os economistas também estudam os efeitos mais sutis e indiretos da escolha individual sobre nossa sociedade. Será que a maioria dos americanos continuará a viver em casas ou será que – como se deu com os europeus – a maioria deles acabará em apartamentos? Teremos uma população educada e bem informada?
Será que os engarrafamentos de nossas cidades ficarão cada vez piores ou haverá uma luz no fim do túnel? Poderá a Internet gerar crescimento econômico acelerado e padrões de vida em ascensão mais rápida por muitos anos, ou apenas uma pequena explosão de atividade econômica que em breve irá diminuir? Estas perguntas giram, em grande parte, em torno das decisões individuais de milhões de pessoas. Para responder, é preciso compreender como os indivíduos fazem escolhas em condições de escassez.

ESCASSEZ E ESCOLHA SOCIAL

Pensemos, agora, em escassez e escolha do ponto de vista da sociedade. Quais são as metas de nossa sociedade? Queremos um padrão de vida mais elevado para nossos cidadãos; ar limpo, ruas seguras, boas escolas e muito mais. O que nos impede de realizar estes objetivos de maneira satisfatória para todos? A resposta é óbvia: a escassez.


Capítulo 1 Economia, Escassez e Escolha

No caso da sociedade, o problema é uma escassez de recursos – aquilo que usamos para produzir bens e serviços que nos ajudam a atingir nossos objetivos. Os economistas classificam os recursos em três categorias:

1. Trabalho é o tempo que as pessoas despendem produzindo bens e serviços.
2. Capital consiste nos instrumentos duradouros que as pessoas usam para
produzir bens e serviços. Isto inclui capital físico, que reúne coisas como prédios, maquinário e equipamentos, e capital humano – as habilidades e o treinamento que têm os trabalhadores.
3. Terra é o espaço físico em que se dá a produção, além dos recursos naturais
nela encontrados como petróleo, ferro, carvão e madeira.
Qualquer coisa produzida na economia resulta, em última análise, de alguma
combinação destes recursos. Pense na última palestra que você assistiu na faculdade.
Você estava consumindo um serviço – uma palestra universitária. O que foi usado na produção desse serviço? Seu instrutor forneceu trabalho. Também foram usadas muitas formas de capital. O capital físico incluiu coisas como as mesas, cadeiras, lousa ou retroprojetor e o próprio prédio da faculdade. Incluiu , também, o computador que seu instrutor pode ter usado para preparar
o texto da apresentação. Além disso, há o capital humano – o conhecimento especializado de seu instrutor e sua habilidade como palestrante. Finalmente, há a terra – o terreno em que foi construído o prédio da faculdade.

Além dos três recursos, outras coisas também foram usadas para produzir a palestra. O giz, por exemplo, é uma ferramenta usada pelo instrutor e poderíamos pensar que se trata de uma forma de capital, mas isto seria um erro. Por que? Porque não é duradouro. De maneira geral, os economistas somente consideram uma ferramenta como capital se ela tiver duração de alguns anos ou mais. O giz é consumido à medida que se desenrola a palestra, de modo que é considerado matéria-prima e não capital.

Um pouco de reflexão deve bastar para nos convencer de que o próprio giz é produzido a partir de alguma combinação dos três recursos (trabalho, capital e terra). Na verdade, todas as matérias-primas usadas para produzir a palestra

– a energia usada para aquecer ou refrigerar o prédio, o papel que o instrutor usou para fazer anotações sobre a palestra, etc. – vêm, em última análise, dos três recursos da sociedade. E a escassez destes recursos, por sua vez, causa a escassez de todos os bens e serviços a partir deles produzidos.
Como sociedade, nossos recursos – terra, trabalho e capital – são insuficientes para produzir a totalidade dos bens e serviços que desejamos.

Em outras palavras, a sociedade enfrenta uma escassez de recursos.

Esta dura verdade a respeito do mundo nos ajuda a entender as escolhas que a sociedade precisa fazer. Queremos um povo mais educado? Claro que sim. Mas isso exigirá mais trabalho – operários para construir mais salas de aula eprofessores para ensinar nelas. Isso exigirá mais recursos naturais – terra para instalação das salas e madeira para sua construção. E exigirá mais capital – betoneiras, caminhões e outras coisas mais. Mas estes mesmos recursos poderiam ser
usados para produzir outras coisas que desejamos – coisas como novas casas, hospitais, carros ou filmes. Como resultado, toda sociedade deve dispor de algum método de alocação de seus recursos escassos, escolhendo quais de nossos muitos desejos concorrentes serão satisfeitos e quais não serão.Recursos A terra, o trabalho e o capital usados para produ­zir bens e serviços.

Trabalho O tempo que as
pessoas dedicam à produção
de bens e serviços.

Capital Os instrumentos
duradouros usados para
produzir bens e serviços.

Capital Humano As habilida­des e o treinamento da força de trabalho.

Terra O espaço físico em quese dá a produção e os recur­sos naturais dela extraídos. Muitas das perguntas mais importantes de nossos tempos giram em torno das diferentes maneiras segundo as quais os recursos podem ser alocados. As mudanças cataclísmicas que abalaram o Leste Europeu e a antiga União Soviética durante o início da década de 90 se deveram a um fato simples: o método que estes países usaram durante décadas para alocar recursos não estava funcionando. Mais próximo de nós, os intermináveis debates entre democratas e republicanos nos Estados Unidos refletem diferenças de opinião sutis, porém importantes, sobre como alocar recursos. Trata-se, em muitos casos, de desavenças quanto a se deve o setor privado lidar sozinho com a alocação de recursos ou se deve haver envolvimento do governo.

ESCASSEZ E ECONOMIA

A escassez de recursos – e as escolhas a que somos forçados a fazer – é a fonte de todos os problemas que estudaremos em economia. As famílias têm rendas limitadas a partir das quais buscam satisfazer seus desejos, de modo que precisam escolher cuidadosamente como alocar seus gastos entre diferentes bens e serviços. As empresas desejam ter o maior lucro possível, mas precisam pagar por seus recursos e por isso escolhem cuidadosamente o que produzir, quanto produzir e como produzir. Agências governamentais federais, estaduais e municipais operam com orçamentos limitados e por isso precisam escolher cuidadosamente as metas a que pretendem se dedicar. Os economistas estudam estas decisões tomadas por lares, empresas e governos para explicar como opera nosso sistema econômico, para prever o futuro de nossa economia e para sugerir meios para chegar a um futuro melhor.

O MUNDO DA ECONOMIA

O campo da economia é surpreendentemente amplo. Vai do rotineiro – por que um quilo de picanha custa mais do que um quilo de frango? – ao pessoal e profundo – como os casais decidem quantos filhos ter? Com um campo tão grande, é bom que se tenha algum meio de classificar os diferentes tipos de problemas estudados pelos economistas e os diferentes métodos que usam em sua análise.

MICROECONOMIA E MACROECONOMIA

O campo da economia se divide em duas partes principais: microeconomia e macroeconomia. Microeconomia vem da palavra grega mikros, que significa “pequeno”. Dedica-se a uma visão em close da economia, como se estivesse olhando a economia por um microscópio. A microeconomia se dedica ao comportamento de agentes individuais no panorama econômico – lares, empresas e governos, avalia as escolhas que estes agentes fazem e as interações que há entre eles quando se encontram para negociar bens e serviços específicos. O que acontecerá com o preço dos ingressos para o cinema nos próximos cinco anos? Quantos empregos serão criados no setor de fast-food? Como seriam as empresas de telefonia dos Estados Unidos afetadas por um imposto sobre telefones importados? Todas estas questões são de natureza microeconômica porque analisam partes individuais da economia e não a economia como um todo.

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