O Artista e o Artesão.

O Artista e o Artesão. Será que realmente existe este binómio? Será que são categorias diferentes? Se são, o que os diferencia?

Vamos discutir sobre isso com várias opniões.

Comecemos com as dos famosos

Artista que não seja bom artesão,

não é que não possa ser artista;

simplesmente ele não é artista bom.

E desde que vá se tornando verdadeiramente artista,

é porque concomitantemente está se tornando artesão.

Mário de Andrade

Os objetos de artesanato pertencem

a um mundo anterior à separação

entre o útil e o belo.

Octávio Paz

“Feito pelas mãos, o objeto artesanal está feito para as mãos: não só
podemos ver como apalpar. A obra de arte nós vemos, mas não tocamos.
O
tabu religioso que nos proíbe tocar nos santos(…) se aplica também nos quadros e esculturas. Nossa relação com o objeto industrial é funcional; com a obra de arte, semi-religiosa; com o artesanato, corporal. (Octávio Paz).
Em parte, a arte contemporânea desmistificou a obra de arte ao possibilitar o contato. O artesanato, neste sentido, é mais livre, e esse é um dos aspectos que atrai e que quero preservar em minha pintura: a relação corporal, o trânsito entre os sentidos, como diz Merleau-Ponty: é necessário ver com as mãos e tocar com os olhos.

“Ver não é tocar, mas o tato nos ensina o que é a visão e as coisas visíveis estão prometidas a tangibilidade (…). Um olho que apalpa cores e superfícies, num pensar que tateia idéias para encontrar uma direção de pensamento, numa idéia sensível que nos possui mais do que a possuímos, como o pintor que se sente visto pelas coisas enquanto as vê para pintá-las.(Maurice Merleau-Ponty)

2 comentários Adicione o seu

  1. Detendo-se nas questões arte e artesanato, começamos a identificar o fazer que destingue cada uma delas… Que arte na realidade não se aprende. Existe, é certo, dentro da arte, um elemento, o material, que é necessário por em ação, mover, para que a obra de arte se faça. O som em suas múltiplas maneiras de se manifestar, a cor, a pedra, o lápis, o papel, a tela, a espátula, são o material de arte que o ensinamento facilita muito a por em ação. Mas nos processos de movimentar o material, a arte se confunde quase inteiramente com o artesanato. Pelo menos naquilo que se aprende. Afirmemos, sem discutir por enquanto que todo o artista tem de ser ao mesmo tempo artesão. Isso parece incontestável e, na realidade, perscrutamos a existência de qualquer grande pintor, escultor, desenhista ou músico, encontramos sempre por detrás do artista, o artesão.

    O artesanato, os segredos, os caprichos, as exigências do material, isso é assunto ensinável, e de ensinamento por muitas partes dogmático, a que fugir será sempre prejudicial para a obra de arte. E se um artista é verdadeiramente artista, ou seja, está consciente do seu destino e da missão que se deu para cumprir no mundo, ele chegará fatalmente àquela verdade de que, em arte, o que existe de principal é a obra de arte.
    O artesanato é uma parte da técnica da arte, a mais desprezada infelizmente, mas a técnica da arte não se resume no artesanato. O artesanato é a parte da técnica que se pode ensinar mas há uma parte da técnica de arte que é por assim dizer, a objetivação, a concretização de uma verdade interior do artista. Esta parte da técnica obedece segredos, caprichos imperativos do ser subjetivo, em tudo o que ele é, como indivíduo e como ser social. Isto não se ensina e reproduzir é imitação. Isto é o que chamamos a técnica de Rembrant, e Fra Angelico ou de Renoir, que divergem os três profundamente não apenas na concepção do quadro, mas consequentemente na técnica do fazer.

    1. nnacsa disse:

      Olá, este texto está em “O artista e o artesão” na seqüência dos textos. É uma aula inaugural da universidade da Guanabara (faz tempo) do Mário de Andrade. Acho um texto super importante onde ele expõe o que acha sobre os dois. Concordo mas não plenamente. Acho um pouco “burguês” e um pouco em cima dessa história de “belas artes” onde já colocamos que a arte é mais que o artesanato, é mais elaborada e é a expressão pessoal. O artesanato também não deixa de ser. Hoje vemos o artesanato virar industria e deixa de ter seu sentido original. Mas a arte também se reproduziu e posso comprar a monalisa impressa até em papel higiênico. Mas nem por isso deixa ela de ser arte. Os antigos mestres também não faziam muita representação pessoal do mundo: pintavam o rei porque era ele que tinha dinheiro e se não o pintassem bonito, o artista estava frito….
      Ainda não sei aonde esta exatamente a linha que separa (se é que existe esta linha). Acho eu que há diferença mas não acho bem aonde. É uma bem tenue linha.
      Obrigada pelo texto.

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