domingo, 20 de julho de 2008

Natureza morta com cesta de fruta ('A mesa de cozinha', 1888-1890)

Uma reprodução de um clássico de Paul Cézanne (1839-1906), mestre impressionista contemporâneo de Monet, Renoir, Van Gogh, Sisley e Pissaro. Curiosamente, este tempestivo artista, de reputado mau feitio, foi reprovado na Escola de Belas Artes e recusado em sucessivos salões de exposição, antes de ser reconhecido como mestre. As suas obras chegaram depois a vender-se por mais do dobro que as de Monet (o que eu, pessoalmente, não entendo, mas gostos são gostos. Gosto de Cézanne mas venero Monet).
Podem conferir o original da tela aqui.
Este quadro tem uma história curiosa, pois a base não é mais do que uma daquelas telas pré-impressas, cheias de números que correspondem a cores, e que comprei no Lidl por uma ridicularia. Sou, por norma, favorável a tudo o que leve as pessoas a criarem. E, se for preciso pintar por números, não tenho absolutamente nada contra. Mas, esta técnica tem as suas limitações. Primeiro, o material fornecido nunca é de boa qualidade. Já não falo em qualidade de primeira, que aí também eu não posso chegar, mas não é possível fazer ovos sem omeletes. O material destes kits é francamente primário. Depois, ao pintar áreas geometricamente delimitadas, perde-se o envolvimento global da tela que se está a tentar reproduzir. Quando a tela é originalmente geométrica, por exemplo um cubista, o problema é menor, ainda que persista. Mas, num quadro impressionista, que vive da pincelada, do matizar das cores e da noção de movimento, até podia vir Cézanne em pessoa que isto ficaria horrível se ele se limitasse a pintalgar as cores indicadas nas zonas, seguindo as instruções. É que os kits falham numa coisa essencial: não ensinam a dar volume nem movimento. Nem a misturar as cores de forma correcta. São uma boa base, mas aconselho toda a gente a pegar no resultado final e não ter medo de dar uns retoques pessoais.
Foi o que eu fiz. Quando acabei o 'by the book', olhei para aquilo e....blarghhhh! Ca nojo! Não havia nada que me parecesse bem, apesar de ter executado com precisão as instruções do kit. Frustradíssima pelo tempo perdido, mas teimosa o suficiente para tentar salvar o que pudesse ser salvo, fui buscar os meus óleos e voltei a fazer tudo, trabalhando sobre o primeiro resultado final como se de uma base se tratasse. Novas misturas de cores, o franco arredondar das formas, o matizar da cor nos fundos, o trabalhar das sombras (o preto, esse tão pouco conhecido aliado...é ele que dá toda a profundidade a um quadro, e tanta gente tem receio de o usar. Eu também, no início, mas agora, preto com ele!)... no final, nem eu o reconhecia. Deu-me um gozo brutal fazer esta tela, depois da frustração inicial, e gosto tanto dela que a tenho na sala.
Retenho a dificuldade em pintar a toalha, de modo a que parecesse dobrada, vincada, amassada, manuseada, como no original. Tudo isso é feito trabalhando tom sobre tom, e trabalhando sombras. É o chamado 'faz e desfaz', colocando a tinta, e depois esbatendo, decompondo a pincelada que acabámos de dar, e integrando-a no que já tínhamos feito. Muitas vezes, é um trabalho que só é possível em seco. Camada sobre camada. Por isso é que os óleos são mais morosos: há muito tempo morto entre secagens. Mas é tempo bem empregue. Remember: a pressa é inimiga da perfeição. O próprio Cézanne levou cerca de dois anos a concluir este quadro...
A foto, como sempre, está meio nojentinha, porque até ter uma ligação internet eficiente tenho de fotografar a menos de um mega pixel para conseguir fazer o upload. Vou ter de substituir isto tudo, mas por enquanto é o que há.

6 comentários:

mjf disse...

Olá!
Sim senhora...temos mão de artista ;=)

Beijocas

Je Vois La Vie en Vert disse...

Só sei pintar assim : preenchendo os números como explicaste. Foi por isso que abri um blog, para deixar alguma "obrinha" minha....
Se quiseres ver um exemplo de felicidade malgrado a aversidade, vai visitar o meu cantinho.
Beijinhos verdinhos

Unknown disse...

Amiga, és uma verdadeira artista:
pintas, cantas (segundo dizem pk no jipe não dava para ouvir), tocas alguns intrumentos, fotografas, andas a cavalo, escreves...
Que inveja, eu não sei fazer nada disso,bem...pintar não sei, mas copio ao lado mt bem...cantar, só sem ninguém ouvir...tocar, nem pensar, não tenho jeito nem ouvido...andar a cavalo, só se for de uma bossa,eh,eh,eh...escrever, para grande pena minha é mais ler e sem tempo...sou uma triste!!!!
Bjs

Safira disse...

Olá, MJF, obrigada pela passagem pelo continho secreto. Mãozinhas irrequietas, é como eu gosto de chamar-lhes.
Beijinho

Je vois la vie en vert: vais ver que com o tempo vais começar a imprimir mais alguma coisa tua, e os números acabam por ser só uma ferramente como outra qualquer. MAs eu vou várias vezes ao teu cantinho e ainda não vi...ando distraída, ou tens outro?
Beijos

Zabour: desenhas bem, que eu já vi! ;)
Ora, artista é quem faz uma coisa original muito bem feita. Sou uma curiosa, é mais por aí. Gosto de várias coisas mas não sou espectacular em nenhuma delas. Sou irrequieta e gosto de criar. É assim que me defino.
Beijos

kanjas disse...

a mim parece-me que está muito bom!! tirando aquelas coisas brancas dentro da cesta que nao consigo perceber o que são :x
acho que nao fazia melhor. alias, tenho a certeza que nao ;)

Ana disse...

espectacular....palavras para que, o teu quadro diz tudo sobre ti... ;-)