Almeida Jr: um mestre da pintura brasileira

Almeida Jr seguramente é um dos nomes mais expressivos da pintura brasileira, mas a circulação de suas obras ainda está restrita aos intelectuais interessados por artes plásticas; o nome do pintor paulista nunca alcançou grande popularidade, aspecto comum entre os nossos modernistas, como é o caso de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Lasar Segal ou o celebradíssimo Candido Portinari.
Isso não significa, entretanto, que Almeida Jr não tivera seu talento reconhecido; já era bastante aclamado quando ainda morava em Itu, sua cidade natal. Depois de uma temporada na Europa patrocinada pelo imperador D. Pedro II, o pintor conseguir suster grande reputação entre os intelectuais da época.
O ponto alto de sua obra se concentra na representação dos tipos regionais - aspecto caro ao Romantismo brasileiro. Trata-se, evidentemente, de uma concepção inovadora de arte, já que se distanciava da polpa academicista em voga naquele momento (composta por palácios e dirigentes governamentais lutando em gloriosas batalhas épicas) e se concentrava nos aspectos mais pobres do país. É certo que há um tom pitoresco na representação dessa pobreza, mas isso não diminui o brilho e a vida que o pintor souber impregnar aos seus personagens.
Não é de se estranhar, portanto, o viés dialético que endossa a sua pintura, marcada pelo enobrecedor semblante romântico, mas extremamente preocupada em captar a realidade circundante. Uma tela como “O derrubador brasileiro” é primorosa para mostrar esse aspecto:

A temática escolhida por Almeida Jr o liga diretamente aos ideais realistas. A ambientação e a figura humana rústicas tendem a transmitir uma sensação de pobreza, ainda que ela não fira os olhos do espectador; bem pelo contrário, a harmonia da composição (também decorrente do descanso de seu personagem) antes transmite certa paz.
O pintor luta por criar uma cena em que se sobressais certa indigência: o cigarro na mão do trabalhador, a camisa despida, o corpo robusto, os pés descalços, o machado ao lado e as rochas foram os elementos usados para criar a impressão de realidade. Com efeito, essa composição está um pouco distante da idealista paisagem romântica ou do harmonioso cenário árcade; Almeida Jr antes buscava captar uma imagem mais acabada do povo brasileiro.
Evidentemente, essa realidade nunca seria atingida, pois os temas captados pelo pintor não se livraram do nacionalismo corrente na época, razão pela qual se nota um tom glorioso em suas cenas. Na tela acima, a situação árdua de trabalho não foi suficiente para aniquilar o semblante vigoroso do personagem; a retratação de suas formas corporais é imponente e se confundiria com qualquer herói grego. Os rochedos e a mata no canto superior esquerdo auxiliam na composição do aspecto rústico da tela, mas simultaneamente lhe impregna um aspecto impressionista.
Almeida Jr é, de fato, um nome que merece ser comentado além das fronteiras formadas por estudiosos de artes plásticas. Cabe aos institutos educacionais buscar uma forma de inserir sua obra no processo formativo de nossos jovens.