sexta-feira, junho 23, 2006

A Mão de Obra Escrava como Custo

A escravatura tem origem antiga. O trabalho manual, essencialmente manual, durante séculos justificou, economicamente, o uso do trabalho escravo. Não era levado em conta o custo da manutenção e da renovação da força de trabalho. A reprodução era entendida como um "ganho", um novo escravo a custo zero.
Com a evolução da ciência econômica o escravagismo passou a ser considerado pouco produtivo. A primeira contraposição aos resultados obtidos pela mão de obra escrava veio com o moinho movido pela água. As primeiras máquinas industriais levaram ao estudo do custo de seu uso e às primeiras observações sobre a produtividade e sua importância na lucratividade dos empreendimentos.
No Brasil o escravagismo está ligado a agricultura a partir da cultura da cana de açucar, início do século XVI, e a cafeicultura, já no século XIX.
Nos dias de hoje concentra-se no que é conhecido como "arco do desmatamento", é utilizado na abertura de pastagens, lavouras de soja e nas carvoarias. Igualmente nas platações de cana de açucar, com maior incidência, pelas dimensões da área plantada, no estado de Saõ Paulo.
Diversos órgãos do Governo Federal e Organizações não Governamentais vem desenvolvendo um trabalho intenso no combate ao trabalho escravo. Industrias, frigoríficos, redes varejistas e exportadores, já ha algum tempo se reúnem em busca de uma prática empresarial socialmente responsável.
A exploração do trabalho escravo é uma gritante violação da Legislação Trabalhista e implica em uma série de crimes contra a pessoa humana e ao direito da propriedade. Por ser ilegal e combatido, o trabalho escravo não se presta a um monitoramento que forneça elementos que permitam identificar o que representam de custo financeiro para o agronegócio brasileiro.
Se visto sob a ótica do MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, os prejuízos que podem causar a toda a cadeia produtiva são extremamente elevados. O MDL está intimamente ligado ao Desenvolvimento Sustentável, que leva em conta, nas suas formulações, a preservação das condições ambientais, que tornam possível a atividade econômica, com vistas ao futuro do ambiente de negócios.
O Brasil é grande produtor de gado, de açucar e alcool, de soja e de ferro gusa. Estas atividades, que se não observados os fundamentos do Desenvolvimento Sustentável ameaçam a posição do Brasil no mercado de carbono, são, igualmente, as que mais se relacionam com o trabalho escravo.
A derrubada das matas para formação de pastagens e cultura de soja, derrubada por sí ilegal, as queimadas provocadas nas áreas desmatadas, na renovação dos pastos e nos canaviais, como se a prepara-los para o corte da cana, constituem dois dos grandes causadores do aumento do efeito estufa, resultante do aumento da emissão do dióxido de carbono, o CO2.
O carvão vegetal, matéria prima do ferro gusa, implica no desmatamento descontrolado sem qualquer atenção para a sustentabilidade de sua própria origem, a madeira. Quando produzido a partir de árvores plantadas com esta finalidade é um importante facilitador do MDL, podendo constituir-se em projetos que resultarão na emissão dos CERs, Certificados de Redução de Emissões, os títulos negociados no mercado de carbono.
A cana de açucar durante o período de crescimento é um efetivo sumidouro de carbono. Também aqui abre-se a possibilidade de emissão de CERs.
Ao queimar o canavial para o corte, seus proprietários buscam permitir ao trabalhador braçal o corte o mais próximo da raíz, de modo a conseguir um ganho adicional ao do corte feito por máquinas cortadeiras, que se movidas a diesel emitem uma quantidade de CO2 imensamente menor do que a queimada. O monitoramento do cortador braçal é feito por área cortada e por tonelada de cana cortada, não é possível controlar a quantidade de centímetros, eventualmente ganhos, por pé de cana cortado manualmente, se comparado ao corte mecânico. O corte manual, por escravos ou não, constitue-se em uma perda adicional, e de valor elevado, se o plantio e o corte não estiverem integrados a um projeto do MDL.
A soja, que durante todo o seu ciclo utiliza de forma intensiva maquinas e aviões, com suas consequentes emissões de CO2, ao se estender por áreas contíguas, sem nada a distinguir-se, torna-se presa fácil para espécies invasoras, como ocorre agora, no Brasil, com a ferrugem asiática.