sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Traslado: de Salvador a João Pessoa.

Prezados amigos. Tenho tido pouco tempo para atualizar nosso Blog, inclusive estou devendo as fotos do 1º Aeropau e as fotos do encontro na Fazenda Antas, o II Aeroantas. Mas enquanto isso não acontece, posto aquí o relato do nossso amigo Fernando Gama no seu último traslado.
Traslado do novo avião de Marcone Brandão, o “PU-MBN”.


Caros amigos, este é mais um relato de um vôo de traslado. Desta vez, a bordo de um Paradise P1 o PU-MBN da Paradise Indústria Aeronáutica que fica em Itaparica, próximo a Salvador-BA para João Pessoa-PB, tendo como companheiro de vôo o nosso amigo Marcone Brandão proprietário da aeronave. Foram três dias de vôo sobre belas paisagens do sertão da Bahia, Pernambuco e Paraíba.
Marcone e Gama na chegada em Cajazeiras-PB, dia 22.08.08.

Como combinado fomos para o Aeroporto Castro Pinto para embarcarmos no vôo da TAM com hora prevista de decolagem para as 03:00 da manhã. Após o check-in, fomos para a praça de alimentação fazer um lanche. Quando estávamos tomando aquele cafezinho tivemos a grata satisfação de encontrar o nosso amigo Allison que iria embarcar como extra no mesmo vôo. Allison hoje é piloto da TAM e estava indo para assumir sua escala em São Paulo. O vôo saiu no horário previsto e como era madrugada, aproveitei para dar um cochilo. Vôo tranqüilo pousamos em Salvador aproximadamente às 04:45. Como ainda era muito cedo, e conhecia bastante aquele aeroporto, pois comecei a minha vida como profissional da aviação aqui, mais precisamente voando na Abaeté Táxi Aéreo no ano de 1988, fomos para o andar superior onde fica o mirante e que tem algumas cadeiras para dormimos um pouco aguardando o amanhecer. Acordei já com o sol brilhando. Como Marcone ainda estava dormindo fiquei esperando que ele acordasse, e após ele acordar fomos tomar o café da manhã para depois irmos para a fábrica da Paradise.

Ao chegarmos a Vera Cruz-BA (SNVR) na Ilha de Itaparica fomos recebidos pelo Bruno que é neto do Sr. Noé dono da Paradise. Como sempre, nos recebeu com a gentileza e cordialidade dos baianos. Bruno levou o Marcone para conhecer toda a fábrica e todo o processo de fabricação das aeronaves, pois o Marcone não conhecia pessoalmente a Empresa. Passamos o resto da manhã finalizando todo o processo de recebimento da aeronave, checando os últimos detalhes, pois o nosso plano era decolarmos depois do almoço para Paulo Afonso-BA (SBUF) e pernoitarmos lá. A escolha desta rota foi devido a um convite do nosso amigo Maj. Dodó para passarmos em Cajazeiras-PB sua terra natal, pois naquele final de semana era o aniversário da cidade e ele tinha organizado um encontro, e convidou todos os colegas para se fazerem presentes ao evento, que teria almoço na fazenda de um familiar seu e uma festa dançante à noite no clube local. Após plano feito no FL075 via telefone com a sala AIS (SBSV) e as despedidas de prache do Bruno, Sr. Noé e funcionários, decolamos com destino a (SBUF) as 14:35. Prosseguimos o cruzamento da Bahia de Todos os Santos, interceptamos a rota e aí eis que aparece bem na nossa proa alguns TCU’s (grandes cumulus) que formavam aquele paredão com chuva na base. Não tínhamos nem começado o vôo e eu já tinha de tomar a primeira decisão, pois se optássemos por desviar pelos lados, o contorno seria muito grande com muita perda de tempo. Analisei a situação, e como tenho experiência em vôo por instrumentos, pois é o meu trabalho e como a aeronave era equipada com horizonte artificial nivelei no FL 055 para passar aquela formação, pois nesse tipo de camada de nuvens de desenvolvimento vertical nos níveis mais baixos encontraremos mais chuva e menos turbulência, o que seria melhor para aeronave, pois com menos turbulência nós não imporíamos maiores esforços estruturais ao avião. Informei antes ao Marcone o que eu iria fazer e assim foi feito. Notei apenas um certo silêncio na passagem da camada. Era por que o meu colega ainda não tinha passado por uma situação dessas, e estava cem por cento concentrado e observando aquele vôo diferente para ele, pois como é um vôo muito técnico, requer conhecimento, avaliação da situação, do tipo de formação, da aeronave, etc. para saber se pode ou não ser feito. Passamos tranquilamente com alguma turbulência de intensidade leve, e quando estávamos mais ou menos no meio da camada fomos brindados com uma chuva um pouco mais intensa, então falei: Marcone isso é a natureza batizando seu avião no primeiro vôo para que ele faça muitas e muitas horas de vôo com segurança, aí ele relaxou um pouco e deu um sorriso dizendo ser uma experiência muito interessante. O vôo transcorreu até a metade com muitas camadas, porém bem mais tranqüilo com direito até a usar o piloto automático, é mole? Isso é a aviação desportiva de hoje. Ao nos aproximarmos de Paulo Afonso já no final da tarde o tempo já estava bem mais aberto, então chamei a rádio e pedi as condições. A informação era de que o aeródromo estava operando em condições visuais. Mais alguns minutos e começamos a descida e ao cruzarmos o FL035 visualizamos a represa da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso-BA, com a Cidade à esquerda. Ingressamos no tráfego e pousamos às 16:45, portanto 02:10 de vôo. Preparamos o avião para o pernoite observando aquele lindo pôr do sol do sertão nordestino. Quando estávamos nos preparando para sair do aeroporto, encontramos o grande amigo Antonio Carlos vulgo Fifi, que não tem nada a ver com o apelido, pois é um negão de aproximadamente 1,80 m de altura com aquela tranqüilidade dos baianos. Pessoa muito gentil e prestativa que é o responsável pelo abastecimento local. Combinamos que iríamos abastecer só no dia seguinte, então fomos para o hotel Executivo, indicado pelo Fifi que fica no centro da cidade. O hotel é simples porém muito agradável e perto de tudo. Indico para os que estão de passagem pela cidade. À noite fomos para um restaurante bem próximo, e após o jantar fomos descansar para no dia seguinte prosseguir para Cajazeiras, oeste da Paraíba, terra do Padre Rolim que segundo a história ensinou a Paraíba a ler, e terra do Maj. Dodó pessoa muito querida, alegre e alto astral do nosso Aeroclube.

Dia 23.08.08

Como fomos dormir cedo, consequentemente acordamos cedo. Dei uma olhada no tempo pela janela do apartamento e vi que tinha chovido à noite e o teto estava baixo e nublado. Então resolvemos fazer as coisas mais lentamente, pois daquele jeito não poderíamos decolar. Tomamos o café da manhã e o Marcone ligou para um amigo em Cajazeiras para saber como o tempo estava por lá, o mesmo disse-lhe que não havia quase nenhuma nuvem no céu. Prosseguimos para o aeroporto, ao chegar fizemos a inspeção do avião, abastecemos, adiantamos o plano de vôo e ficamos esperando as condições meteorológicas melhorarem. Aproximadamente às 09:00 o tempo melhorou com algumas brechas o que nos possibilitaria passar para cima da camada que não estava muito alta. Nos despedimos do amigo Fifi, dos amigos da sala AIS e decolamos subindo para o FL075. Alguns desvios feitos e já estávamos no topo daquele lindo tapete de estratocumulus todo branquinho sem uma só nuvem para cima, ou seja, tudo azul. Nesse vôo o Marcone já estava voando na esquerda para poder ir tomando contato com o seu novo avião, pois era tudo novidade para ele. O avião que ele possuía anteriormente era um Astro II, aeronave de configuração em tandem, portanto pilotagem com a mão direita e uso do acelerador com a mão esquerda. Nesse caso, tudo trocado: avião de configuração lado a lado, pilotagem com a mão esquerda e uso da potência com a mão direita, além do manche ser igual às aeronaves convencionais: yoke e não bastão como era no Astro. Ao passarmos no través de Serra Talhada (SNHS) as camadas foram desaparecendo confirmando as informações do amigo de Marcone, céu de brigadeiro sem praticamente nenhuma nuvem. Quando já estávamos sobrevoando a Paraíba começamos a ouvir os colegas em 123.45 que já se aproximavam de Cajazeiras e passamos a fazer a coordenação para a aproximação e pouso. Próximo ao cruzamento da pista para o ingresso no tráfego, escuto a voz do Lincoln de Campina Grande que estava no solo com um rádio portátil fazendo a coordenação e prevenindo quanto a possíveis pessoas cruzando a pista, pois ao lado da mesma existe uma pequena vila e as pessoas insistem em não contornar a pista para ir à cidade. Entro no tráfego, perna do vento, perna base e quando estou na final avisto animais cruzando a pista, e uma pessoa tangendo-as. Mais uma vez aquela dúvida cruel, arremeter ou não arremeter eis a questão. Decidi prosseguir, pois o suposto vaqueiro já estava conseguindo tirar os animais da pista. Para a minha surpresa quando estava próximo ao arredondamento os animais pararam na lateral esquerda e um bezerro ameaçou sair de perto das vacas, então imaginem, o pouso foi um olho no arredondamento e o outro nos animais. Que maravilha!?!? Isso tinha de acontecer em um avião novinho em folha e com aquela platéia toda de curiosos e dos colegas que fazem parte da AOPP (Associação dos Observadores de Pouso de Plantão) que observam os pousos para depois dar suas tesouradas. Hahaha.... Nesse momento dei motor e puxei o avião para a lateral direita, avaliei o quanto de pista ainda tinha para frente e como ainda estava antes do meio da pista, e já tinha passado dos animais prossegui e efetuei o pouso mais à frente, e com certeza o pouso não foi aquele que podemos chamar de manteiga. Acho que estava mais para o boing-boing! Ao estacionar desliguei o motor e fiquei parado alguns minutos dando um replay no filme que acabara de protagonizar e lembrando o quanto é segura a aviação, mas basta alguns segundos e se a iniciativa não for rápida a coisa pode se complicar. Fiquei indignado com a situação daquela pista que não difere de outras que conheço no interior do nosso Estado. Acho que o Governo do Estado deveria dar mais atenção às nossas pistas do interior que estão abandonadas, eles esquecem que um aeroporto é uma das portas de entrada de uma cidade. Refeito do susto saí do avião e fui cumprimentar os amigos que ali estavam: de João Pessoa, Campina Grande, Recife, Caruaru, Natal e Aracajú todos debaixo daquele sol forte do sertão da Paraíba. Após arrebanhar a tropa, Dodó nos levou em uma van para o hotel onde deixamos nossas bagagens e posteriormente prosseguimos para o almoço na fazenda de seus familiares.
A turma durante o almoço na fazenda de familiares de Dodó.

Fomos todos para o almoço que se prolongou até as 15:30, aproximadamente, com muito bate-papo, histórias e estórias como sempre. Antes do final do almoço os colegas Roberto e Juan de Campina Grande e Gutemberg e Junior de João Pessoa tiveram que retornar, pois não tinham conseguido NOTAN com as esposas para pernoitar em Cajazeiras. Antes de prosseguirem na rota fizeram uma passagem sobre a fazenda onde estávamos dando um até logo aos presentes, balançando as asas. Depois retornamos ao hotel para descansarmos. À noite fomos para a festa no clube local onde escutamos boas músicas ao som de uma orquestra, inclusive descobri dois amantes e conhecedores do assunto os Cmtes. Biuzinho de Caruarú e o Ricardo Chaves de Campina Grande, que passaram a noite identificando os tons e os instrumentos da orquestra. Com o sono chegando, retornamos todos para o hotel.

No clube local escutando boas músicas.

Dia 24.08.08

Nos encontramos todos no café da manhã, alguns ainda com ressaca da noite anterior. Após reunir a turma prosseguimos para o aeroporto. Aeronaves inspecionadas e prontas, tivemos uma grata surpresa, a maioria dos colegas que iria voar direto para as sua bases decidiu aceitar o convite de Marcone e fazer um pouso em Patos, sua terra natal e futura base do PU-MBN, para que pudesse mostrar o seu novo avião aos familiares, e nesse meio tempo iríamos saborear um Tucunaré na brasa que segundo ele é o melhor peixe da região. A turma não resistiu e o convite foi aceito de imediato. E assim fomos num bate papo sem fim na fonia até o pouso em Patos (SNTS).

Foto da turma para a posteridade - Aeroporto de Cajazeiras-PB.

Após 00:50 de vôo pousamos em Patos, fomos para o referido restaurante e saboreamos o peixe que estava realmente muito bom. Só quem não foi para Patos devido a assuntos particulares foi o Adolpho com sua esposa Zenilma e JC com sua esposa Íris que prosseguiram direto para as suas bases.

Junior fazendo uma “munganga” imitando o Gutemberg.

Após o almoço voltamos para o aeroporto onde ficamos jogando conversa fora esperando o Marcone que foi buscar sua família para conhecer o avião. Lá pelas 14:30 começaram as despedidas para a decolagem, Gutemberg decolou primeiro com Junior, Ricardo em segundo, depois Marcone e eu levando seu avião para passar uns dias em João Pessoa para poder completar a instrução e solar sua nova aeronave, pois devido ao meu trabalho ficaria difícil ficar indo para Patos ministrar a instrução. O tempo seria muito curto e em João Pessoa todo tempo livre seria dedicado ao colega. Depois decolou o Biuzinho e por último Faruk, fechando a porteira. Foi um vôo muito agradável já no final da tarde com temperatura mais amena e consequentemente menos turbulento. Chegamos em João Pessoa (SNJO) após 01:35 de vôo com um ventinho forte de frente nos segurando nesta época do ano.

Toda a turma antes da decolagem de Patos para suas bases.

Bem amigos, como sempre, minha família e amigos estavam nos esperando no nosso Aeroclube para a minha alegria, e assim vamos chegando ao fim de mais um traslado com a aeronave sendo entregue ao feliz proprietário com total segurança. Gostaria de aproveitar o momento e agradecer primeiramente ao nosso Cmte. Maior Deus, por nos ter guiado em mais um vôo, ao amigo Marcone por ter depositado em mim a confiança para trazer o seu avião e aos colegas do nosso clube pela amizade e respeito de todos, que me ajudam na minha função atual como RRABUL a implantar uma nova mentalidade nos colegas que estão chegando e a mudar a imagem desta categoria das aeronaves desportivas ditas “ultraleves” que no passado eram tão descriminadas e que hoje são verdadeiros aviões leves. Que o amigo Marcone desfrute de muitos e muitos vôos à bordo do PU-MBN, que segundo ele foi uma das maiores realizações de sua vida.

Um forte abraço a todos e até breve.

João Pessoa, agosto de 2008
Fernando de Castro Gama






5 comentários:

toni diniz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
toni diniz disse...

Belo relato comandante, parabéns pela excelente descrição, venha nos visitar e participar do AEROGARD 2008

POLYANNASOARES disse...

Ah, conheço o Marconi...Parabéns Marconi, realizando seu sonho hein!!!!!

CZ disse...

Olá, não sabia que vç Marcone é piloto. Depois de algum tempo, olha onde fui te encontrar, aqui na net.Beijos

nancy tominaga disse...

Parabéns Marcone! muito feliz em poder ter noticias tuas, mesmo via internet. Beijao