“A boca em chamas”

Ir e Vir (1967); Um Fragmento de Monólogo (1982); Baloiço (1981); Não Eu (1973). Quatro dramatículos aparentemente simples, mas não, cada um cheio de subtilezas psicológicas alucinatórias em jogos de ecos tensos e agonizantes.

Não existem personagens, mas sim figuras espectrais, desaparecendo na escuridão. Corpos, caras, vozes anónimas. O nascimento e morte são o teatro de Samuel Beckett. Monólogos impulsivos, repetitivos, persistentes. Monólogos obstinados, inquietantes, gritam em espiral até um desenlace.

Todos os que Falam poderá ser visto no Teatro Nacional D. Maria II, até 4 de Julho. Eu adorei.

Day couple

Nos anos 50 o casal Day foi considerado os Eames britânicos. Conheceram-se no baile do Royal College of Art em 1940, escola onde ambos teriam estudado; Robin em mobiliário e desenho de interiores e Lucienne em Estampagem de Tecidos. A diferença que marca a forma de trabalhar deste casal da dos Eames reside no facto de Lucienne e Robin trabalharem independentemente, ele ocupando-se dos móveis e ela dos têxteis em cada projecto.
Na segunda metade dos anos 40 a produção do casal cresceu exponencial. Lucienne trabalhou para empresas como a Marks & Spencer e Heal Fabrics; Róbin para a Hiller, que lhe encomendou 150 móveis para fabrico em série entre 1949 e 1993.
Entre 1962 e 1987, desenharam os interiores das lojas John Lewis, dos supermercados Waitrose, de aviões comerciais, entre outros. Nos anos 90 desenharam os assentos Toro e Woodro para o metro londrino.
Interior de um quarto na Trienal de Milão (1951). Mobiliário de
Robin e têxteis de Lucienne Day

Lucienne Day
Lucienne foi uma das primeiras designers têxteis. Abandonando os estampados florais, a sua inovação residiu no desenho de padrões abstractos com cores claras e brilhantes, inspirados nas vanguardas artísticas, particularmente em Miró e Paul Klee. Esta nova atitude permitiu às pessoas, saídas da guerra, encontrar uma tendência mais alegre, colorindo as suas casas. Entre os anos 50 e os 60, os seus traços coloridos foram aplicados em cortinas, almofadas, papeis de parede e cerâmicas.
Dandelion Cloks (1953), reeditada por Classic Textiles
Cockaigne , 1961
Pratos para o Four Seasons (1959)

Robin Day
Transformou o desenho de mobiliário britânico introduzindo o conceito low cost, através da produção em massa das peças de mobiliário. Defendia que "O bom design deve cumprir bem a sua finalidade e ser executado solidamente". Desenhou televisões e rádios para a Pye e em 1963 desenhou a revolucionária cadeira em polipropileno Polyprop, leve, sólida, flexível e à prova de risco, peça cujo a Hille vendeu mais de 200 milhões por todo o mundo. Robin foi o primeiro designer a tirar partidos da potencialidades deste material para mobiliário que possuía enormes vantagens em relação aos outros materiais em uso na altura.
Foi igualmente o pioneiro de estudos ergonómicos, muito antes do termo ter sido inventado.
Cadeiras Polyprop (1963)
Cadeira Q Rod (1960)

mesmo ali em Castelo Branco

A propósito dos suzanis, a São lembrou-se dos bordados de Castelo Branco.
Os bordados tradicionais de Castelo Branco, antigamente denominados por "bordados a frouxo", remontam o século XVII. São peças bordadas em tecido de linho de origem caseira com fio de seda natural frouxo (tingido a diversas cores e tonalidades), ou seja, que não foi torcido com o suporte de um bastidor circular. O ponto mais utilizado é o ponto largo, que não passa do denominado "ponto de oriente" ou "ponto da Hungria", apesar de existir um vasto conjunto de pontos , cerca de vinte e sete, que as bordadeiras utilizam, entre eles algum mais complexos oriundos do Oriente. A opção por um ou outro ponto prende-se não apenas a questões visuais, mas ainda à textura pretendida para a colcha.
Estas peças começaram a ser utilizadas em dias de festa, sendo posteriormente integradas no quotidiano familiar.
Como peças de enxoval, as colchas apresentam elementos cujo significado nos remete para a vida matrimonial, tais como a bíblica Árvore da Vida, o pássaro bicéfalo que representa duas almas num corpo só, o cravo e a rosa significando o homem e a mulher, o galo a virilidade, os lírios a virgindade, o jasmim a virtude, os corações o amor. As raparigas beirãs em idade de casar colocavam junto de uma janela colchas eximiamente decoradas e coloridas para impressionar algum rapaz.
Com o passar do tempo, os motivos bordados foram sofrendo influências orientais com a integração de elementos persas, indianos ou chineses.

Ana Ventura

Em casa, tenho quatro serigrafias da série Jardins na Cabeça da Ana Ventura.
Na Cavalo de Pau temos, neste momento, vários exemplares da sua série in(visíveis).

sensualidade caramelo

(Fonte: bacfilms.com/site/caramel/)

A vida de cinco mulheres cruza-se num salão de beleza em Beirute, a cidade cosmopolita do Médio Oriente que melhor ilustra o confronto entre o mundo ocidental e o islâmico por pertencer a um dos países árabes que, em conjunto com a Tunísia, se assume mais liberal no que respeita aos direitos cívicos e aos direitos das mulheres.

O salão Sibelle, um pequeno mundo, doce como o caramelo, reflecte a condição da mulher libanesa. O caramelo, usado como base na cera depilatória, inicialmente provoca dor, mas ao longo do filme percebemos que traz consigo bem-estar e melhora a auto-estima das personagens, numa cidade onde muitas mulheres ainda se cobrem.

Em Sibelle, num ambiente de uma relativa liberdade e sofisticação, Nadine Labaki introduz subtilmente algumas marcas de um regime autoritário, tais como o divórcio, a noiva que se sente obrigada a recorrer a uma cirurgia de reconstrução do hímen numa sociedade que ainda não aceita o sexo pré-nupcial; os hotéis que apenas aceitam reservas de mulheres casadas e a mulher lésbica que não consegue assumir, nem abordar o assunto com as amigas.

Paradoxalmente, tal como o caramelo que é doce mas magoa, as vidas das cinco mulheres são habitadas por sonhos, os quais tentam realizar no limite da transgressão aos valores tradicionais, deixando-se, por outro lado, seduzir por essas mesmas tradições familiares, tais como a ideia de matrimónio.

Caramelo, uma produção franco-libanesa de 2007 de Nadine Labaki.

suzanis

Os “suzanis” são peças bordadas em fio de seda que remotam a antiguidade na Ásia Central, particularmente no Cazaquistão, Uzbequistão e Turcomenistão.

Existem dois significados para a palavra ”suzani”; em persa ela significa Beleza Tribal, todavia há quem se refira apenas a “trabalho de agulha”.

Para além do dote das suas filhas, as mulheres produzem almofadas, cortinas, colchas, peças de parede, toalhas e tapetes de oração para cada habitante de sua casa. Para o dote de uma filha, o trabalho inicia-se logo depois do seu nascimento e, com a colaboração de familiares e amigos, é completado até ao seu noivado.

Depois da ocupação soviética os ocidentais descobriram o artesanato da Ásia Central, tornando-se as peças antigas demasiado caras. Deste modo, desenvolveu-se uma onda de revivalismo das antigas formas e técnicas da bordadura dos “suzanis”. Actualmente, temos acesso a fabulosos têxteis contemporâneos um pouco por todo o mundo, a preços mais acessíveis, sendo que as mulheres asiáticas ganharam uma nova forma de sustento para as suas famílias. As peças são agora produzidas nas vilas mais tradicionais ou em modernos ateliers. Todavia, importa salientar que as peças continuam a possuir uma enorme qualidade, quer ao nível dos materiais, quer da técnica de bordadura, motivos e cores. As peças actuais são frequentemente constituídas por uma mistura de algodão e seda, tecidos em faixas posteriormente cosidas entre si: o mais comum é utilizar-se uma urdidura de seda e a trama em algodão. Contudo, ainda se produzem inúmeras peças totalmente em seda.


Para os “suzanis” de grandes dimensões, as faixas são cosidas para se desenhar o motivo em toda a peça, sendo separadas novamente de forma a que cada elemento da família ou amigos borde uma faixa.
Uma mulher, no Uzbequistão, desenha o motivo de um novo suzani.
Utiização de um bastidor para produzir os contornos e alguns detalhes mais lineares.

Bergman

Acabei de ouvir falar sueco. Pude confirmar que é, definitivamente, a língua do bom cinema.
Disse-lhes. Senti Bergman aqui por perto. Elas sorriram.

Bogolan

Os Bogolan são tecidos tradicionais do Mali, frequentes nas tribos de Dongon, Bambara e Malinkés. A palavra Bogolan deriva de um dialecto local: bogo significa argila, lama, terra e lan - feito de. Tecidos feitos de terra.

A produção dos Bogolan envolve um processo moroso. O tecido de algodão branco é a sua matéria-prima, tecido num tear duplo pelos homens da população, em tiras estreitas. As tiras são posteriormente cosidas entre si, dando forma e dimensão ao pano.

A tintura é feita pelas mulheres, sendo esta técnica passada de mãe para filha. As tintas utilizadas são naturais, de origem vegetal e mineral, pelo que as cores resultam essencialmente no preto, no castanho, amarelo e no branco.Depois de receberem a tintura inicial, proveniente de uma pasta resultante da mistura de plantas e fibras de árvores. O tecido é colocado ao sol e rapidamente adquire a sua primeira coloração. Este processo de tintura é repetido várias vezes.
A lama fermentada, recolhida nos lagos próximos e em poças, é guardada em potes cobertos durante um ano, é aplicada escurecendo algumas zonas da peça de algodão. A área em que se pretende aplicar a lama é contornada com um pincel, um pau ou outras ferramentas. O interior é posteriormente preenchido com utensílios maiores. Por vezes aplicam-se stencils. A peça é lavada de forma a retirar o excesso da lama.
Depois de aplicar uma segunda tintura natural, a peça é novamente colocada ao sol. Uma pasta que resulta da mistura de um sabão local e de lixívia irá preencher os desenhos a branco.
Os motivos baseiam-se na vida rural ou urbana africana, na natureza e nos inúmeros ideogramas e formas geométricas tradicionais de cada tribo.
fonte das fotografia: trekearth.com

Kilims

A palavra kilim significa “tapete sem pêlo” ou “tapete de dupla face”. Os kilims são reversíveis uma vez que na sua produção, em vez dos nós utilizados na confecção dos tapetes mais frequentes, são dadas laçadas por entre os fios da urdidura, tal como se de um bordado se tratasse.

Existem diversos termos para a sua denominação: gelim no Irão; kelim no Afeganistão; kylym na Ucrânia, palas no Cáucaso, bsath na Síria e Líbano, chilim na Roménia e kilim na Turquia, Polónia, Hungria e Sérvia.

Fotografia tirada entre 1873 e 1890 em Isfahan, Irão onde podemos observar duas mulheres a tecem, num pátio, um kilim num tear de chão. Fonte:"Living Kilims" da Thames and Hudson.

Uma vez que eram utilizados na sua produção materiais de pouca resistência, os kilims encontrados nos locais arqueológicos revelam-se insuficientes para a afirmação de uma data ou modo de tecelagem original. Neste sentido, é difícil estabelecer o seu aparecimento ou a tribo que o produziu. Todavia, em 1947, um arqueólogo russo, durante as escavações a uma sepultura no sul da Sibéria encontrou um kilim extremamente bem conservado. Após diversas análises, constatou-se que a peça pertenceria ao século 5 A.C.

Até há poucas décadas os coleccionadores consideravam o kilim de inferior qualidade em relação aos tapetes orientais. Durante gerações foi esta a ideia que se manteve dos kilims, sendo que na maioria dos livros especializados em tapeçaria descreviam-nos em poucas linhas, como sendo um simples e inferior produto tribal. Há três décadas deu-se uma explosão de interesse nestas peças para fins decorativos, utilitários e para colecção, sendo que as suas características e qualidades conquistaram todo mundo ocidental.

Porém existem ainda kilims que continuam a ser utilizados tal como foram durante séculos na Ásia: como peças decorativas que cobriam o chão, paredes e mobiliário. Todas estas funções expõem o carácter e tradições das pessoas que os teceram à mão, nos seus teares rudimentares, usando técnicas específicas de tecelagem, motivos e composições, transmitidas de geração a geração.

A técnica de tecelagem utilizada, a que apenas entrecruza os fios de lã, cabelo ou fibras vegetais, deverá ter surgido para fazer face às necessidades básicas de vestuário, abrigo, armazenamento ou para o conforto dos abrigos – como almofadas, cobertas para o chão e paredes.

Tear horizontal de chão. Este tipo de teares era utilizado pelos povos nómadas para produzir kilims e outro tipo de têxteis . Eram facilmente montados e desmontados e transportado por camelo.Fonte:"Living Kilims" da Thames and Hudson.

Uma mulher no norte do Afeganistão tece uma tira para envolver a tenda ou para coser a outras para fazer um ghujeri. Ela está a trabalhar num tear de chão tradicional , usado durante séculos sem alterações pelos povos nómadas. Fonte:"Living Kilims" da Thames and Hudson.
A produção de kilims nesta aldeia no norte da Síria funciona em pequenas empresa familiar como uma linha de montagem industrial. Aqui vemos um tear horizontal, relativamente sofisticado, e a preparação e aplicação da tinta na lã. Fonte:"Living Kilims" da Thames and Hudson.

Apesar de existirem inúmeras referências históricas, é certo que esta simples técnica de tecelagem era uma ocupação estabelecida e florescente à data. A domesticação da ovelha, da cabra, dos camelos e dos cavalos tornaram a lã e o pêlo facilmente disponíveis, por outro lado, os pigmentos foram sendo desenvolvidos, sintetizados a partir de fontes animais e vegetais.

Os motivos e elementos de decoração dos kilims estão intimamente associados à identidade de cada tribo. Os símbolos e desenhos aplicados eram claros e fáceis de serem reconhecidos a uma determinada distância, de forma a permitir que todos aqueles que circulassem por perto conseguissem distinguir a tribo. Estes símbolos tribais, por outro lado, reforçavam a integridade do próprio grupo.

As tribos nómadas utilizam também os kilims para revestir a estrutura de madeira das suas tradicionais tendas redondas, de tectos ligeiramente abobadados. Fonte: "Living Kilims" da Thames and Hudson.

As tribos nómadas ou semi-nómadas enrolam ou dobram os kilims no dorso dos camelos ou dos burros quando se movimentam. Os kilims dobrados servem como suporte para o transporte de vários utensílios. Fotografia tirada junto de Herat, no Afeganistão."Living Kilims" da Thames and Hudson.