Normas

Da Paraíba para o mundo, com amor:

Todo o material publicado nesta página representa o ponto de vista parcial e preconceituoso de um indivíduo do século passado. Se você achar aqui afirmativas que lhe pareçam sexistas, xenófobas, racistas ou, de qualquer outra maneira, ofensivas a seus pontos de vista, pare de ler imediatamente. Ou prossiga, a seu próprio risco. Ou não.

Use antes de agitar: leia as normas do blog e lembre-se: comentários são moderados. Anônimos não serão publicados.

E aproveite que eu sou professor: se você achar que eu posso ajudar, mande um e-mail para mrteeth@ghersel.com.br

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Carnaval

"A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval:
A gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho, pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira, pra tudo se acabar na quarta feira"
Tom/Vinícius (A Felicidade)

Dias de carnaval, muita preguiça... hoje tive que digitalizar e retocar 'trocentas' imagens, eu quero mais é cama, DVD e ar-condicionado. Não vou queimar a cabeça pra escrever no blog. Vou é colocar umas cervejas no freezer que tá muito calor e a noite promete.

Abraços, até quinta!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Por dinheiro

"Joga o jogo
Joga a vida roubada"
João Bosco (Jogador)

Hoje eu vi duas notícias sobre médicos que me deixaram triste. Eu ando falando muito de medicina aqui neste blog sobre odontologia, mas sempre tem uma ligação e, neste caso, muito próxima:
  • Dois médicos, em São Paulo, ofereceram tratamentos com células-tronco a seus pacientes. Um desses pacientes, uma criança com paralisia cerebral, teve convulsões após a segunda dose da suposta medicação que continha as células. Analisados, os preparados não tinham, claro, célula alguma. Um dos medicamentos era, inclusive, um pó. Célula em pó, vejam!
  • Uma médica com clínica no Espírito Santo é acusada de mutilar pacientes em procedimentos de lipoaspiração. A moça afirma que é formada há 6 anos e tem pós graduação em dermatologia e medicina estética, mas os órgãos competentes não têm registro das especialidades nem a vigilância sanitária emitiu alvará para o funcionamento da clínica.

Bom, os médicos também têm seus problemas, mas cuidam deles com muito mais cuidado do que os dentistas. Talvez porque os erros médicos podem resultar em morte ou mutilações muito mais graves do que os dos dentistas. Mas o princípio é o mesmo: em busca de dinheiro, o profissional apela para qualquer expediente: mentiras, medicamentos falsificados, técnicas sem comprovação científica, enganações, bruxarias...

Até quando? Na odontologia isso é muito mais comum do que se imagina, estima-se que metade dos tratamentos ortodônticos não cheguem a bom termo, só que os pacientes não reclamam. Porque é relativamente fácil de consertar, em último caso fazem-se coroas nos dentes e o resultado fica razoável. Desde que o sorriso não fique medonho, não tem grandes problemas.

Mas até quando o dinheiro vai estar à frente da integridade física do paciente? Até quando vai estar á frente do respeito pelo ser humano? Da própria dignidade do profissional? Profissionais com formação inadequada, caráter questionável, amor pelo poder e recursos de marketing, que fazem com que os pacientes acreditem que terão um bom tratamento são mais perigosos do que traficantes armados com AR15 descendo os morros.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Doutores se desculpando

"Te perdôo por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas ninguém faz"
Chico Buarque (Mil Perdões)

Interessante a matéria da revista Isto É sobre a melhoria na comunicação entre médicos e pacientes. Fala sobre episódios em que os médicos erraram e tiveram a humildade não só de reconhecer o erro como de se desculpar com os pacientes. Cita exemplos de dois casos ocorridos na Escócia e referencia a opinião de médicos brasileiros. Um deles, o Dr. Bernik, chega a dizer que “pedir desculpas faz parte da educação. Se alguém pisa no seu pé, você espera que se desculpe. Por que um médico não se desculparia diante de um engano?”.

Pois é, médicos e dentistas, principalmente, mas em parte todos os profissionais da área da saúde, têm uma certa empáfia, a 'doutorite', que é uma doença que atinge diretamente quem não se coloca no lugar do paciente. Uma vez eu vi um filme em que o professor de medicina internava os alunos no hospital, um por um, anonimamente, para que eles vissem como os pacientes são tratados lá. Isso seria fantástico, se fosse verdade. Os profissionais geralmente não conseguem se colocar no lugar do paciente e, talvez para não se envolver demais - o que poderia ser doloroso em algumas especialidades - tornam-se distantes. Pior, às vezes convencem-se de que são poderosos e intocáveis.

Pois conversar com o paciente, ouvir suas queixas, suas histórias e humanizar o atendimento é essencial, deveria ser disciplina obrigatória em cursos de medicina e odontologia. Sempre pensei assim, sempre conversei muito com meus pacientes, procuro ouvi-los não só em relação ao problema específico que me trazem, mas sobre suas vidas e seus medos. Não é possível nem aceitável que uma pessoa se esqueça de que é um ser humano quando veste um jaleco.

O Dr. Bernik tem toda a razão. Desculpar-se é um ato de educação, faz parte da boa convivência humana e não diminui ninguém. Pelo contrário, grande é aquele que sabe reconhecer e tenta se redimir de seus erros.

Parabéns, doutores. Vocês começam a se tornar parte da raça humana.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Como o doutor se veste?

"E eu pergunto, com que roupa, com que roupa eu vou
Ao samba que você me convidou?"
Noel Rosa (Com que roupa)


Agora a Associação Médica Britânica (BMA) 'descobriu' que a roupa dos médicos pode causar contaminações, principalmente as gravatas, que "não trazem nenhum benefício para o tratamento dos pacientes e que, como elas são lavadas com pouca freqüência, podem ser um reduto para os microorganismos". Puxa, mas será que os ingleses não lavam a gravata a cada uso? Eu sempre achei que roupa a gente usa uma vez e lava. Não sei se é porque aqui onde eu moro a terra é vermelha, venta muito, suja tudo com muita facilidade...

Por essas e outras eu deixei de usar roupa branca no consultório. Só uso na faculdade e na pós-graduação, onde leciono, por imposição das instituições e porque nós exigimos isso dos alunos também, e eu não acho justo exigir dos alunos uma coisa que nós não fazemos. Então, se eles usam branco com um jaleco de manga comprida em pleno verão de 38 graus, nós também, os professores, vamos derreter sob a indumentária. Mas no consultório eu uso jeans e camisa de manga curta. Troco todos os dias. Sobre essa roupa eu uso o tal jaleco, que também é lavado diariamente.

Usar roupa apropriada é questão de respeito com o paciente. Concordo com os ingleses quando eles dizem que a gravata não traz nenhum benefício para o paciente. Eu acho até que a gravata serve como um diferencial, algo como o médico dizer, subliminarmente, para o paciente que eles têm níveis diferentes na sociedade. "Eu sou um doutor, eu mando e você obedece". Então a gravata é um símbolo da supremacia, atesta a 'doutorite' explícita.

Vou confessar que detesto gravata. Uso só quando é imprescindível, quando não dá pra escapar. Se eu puder, vou de bermuda e camiseta.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Contenção semi-rígida

"Com a corda mi do meu cavaquinho
Fiz uma aliança pra ela, prova de carinho"
Adoniran Barbosa (Prova de Carinho)

Eu, como ortodontista, trabalho muito próximo à odontopediatria, principalmente porque a minha mulher é odontopediatra. Aí eu acompanho com curiosidade os problemas mais interessantes que aparecem no consultório dela: traumatismos.

Às vezes a criança chega chorando, abre a boca e a gente tem a impressão de que ela mordeu um dinamite, tamanho o estrago. Foi uma queda, bateu a boca em alguma quina de parede, dilacerou a mucosa interna do lábio, abalou os incisivos, sangue, terra, saliva, tudo misturado. Os dentes balançando, a criança chorando, os pais em total estado de pânico. Nessas horas vale a tranquilidade do profissional para acalmar todo mundo, fazer um diagnóstico correto, radiografar e tratar o problema. Na maioria dos casos, uma contenção semi-rígida é a solução mais adequada.

Explico: os dentes abalados precisam de algum apoio para recuperar a implantação, esse apoio não pode ser rígido, precisa permitir algum movimento, para evitar problemas maiores, como uma anquilose, por exemplo. A maioria dos autores recomenda a fixação de um fio de nylon nos dentes, só que o profissional nunca se lembra de comprar um fio adequado. Seria uma linha de pesca .60 mais ou menos, mas isso nunca tem no consultório. Então a minha mulher descobriu o que seria perfeito para o caso: corda de violão. A primeira, mi, perfeita porque é de espessura e consistência rigidamente controladas, uma beleza!

Pronto, agora eu vou ficar sem tocar até comprar cordas novas.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Spray milagroso

"E a novidade que seria um sonho, o milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho, ali naquela praia, ali na areia"
Gilberto Gil (A Novidade)

Parece que será lançado no carnaval um spray que promete eliminar os riscos de transmissão de doenças através do beijo. O milagroso ingrediente é uma incrível novidade: própolis. Há comprovação científica de que a própolis, em certas concentrações, tem atividade antibacteriana, mas não é nenhuma panacéia, e muito menos novidade. Seguem-se à notícia as opiniões:

"O dentista Héber Lopes, especialista em odontologia estética e reconstrutora, acredita na eficácia do spray, que é feito à base de própolis. 'O própolis mata as bactérias, e ajuda a combater as doenças transmitidas pelo beijo', diz.
Já o infectologista Paulo Olzon, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), discorda da opinião do dentista. 'Cheguei a pensar até que fosse uma daquelas mágicas que eles inventam de vez em quando. Após ler sobre o assunto, descobri que o spray diminui a quantidade de bactérias na boca, mas não impede a ação das doenças transmitidas via oral'."


É claro que o médico estudou microbiologia, pois sabe que não existe milagre. Além disso, reparem que ele fala das "mágicas que eles inventam de vez em quando". Eles quem?!? Dentistas, é claro! Quando eu escrevi sobre as loucuras na odontologia eu estava falando sobre isso: alguns metidos a espertos inventam umas coisas que só mesmo dentista pra acreditar. Ou quem acredita nesses doidos é mais doido ainda. Ou seja: o sucesso deve vir a qualquer preço, mesmo que esse preço seja a esculambação da sua profissão. Muito inteligente.

Dores de cabeça

"Atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
Tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar"
Ana Carolina (Garganta)

Existem, sim, dores de cabeça causadas por problemas de oclusão. Comprovado cientificamente que os músculos da mastigação, principalmente, e em menor grau músculos da mímica facial e envolvidos na sustentação e movimentação da cabeça e do pescoço são bastante sensíveis a ocorrências de parafunções ou hábitos, respondendo com estresse e dor como sintomas.

Parafunções são adaptações funcionais que ocorrem em resposta a uma desarticulação do engrenamento dentário. Se um paciente não apresenta uma oclusão equilibrada - e note que eu não citei oclusão normal - pode desenvolver uma parafunção, sendo a mais comum o bruxismo ou briquismo. Este pode se apresentar em duas variáveis:
  • Bruxismo cêntrico - é conhecido como o apertamento dentário, onde o paciente executa contração da musculatura mastigatória em MIC (Máxima Intercuspidação), sem movimentos. É uma condição adquirida, executada principalmente durante o dia, semi-consciente. Tem como um dos fatores desencadeantes uma componente psicológica, que pode ser estresse ou ansiedade
  • Bruxismo excêntrico - é a variável mais conhecida como 'ranger os dentes', hereditário, noturno, inconsciente e também com uma componente psicológica como desencadeante, porém, neste caso essa componente é uma tendência depressiva. Pode aparecer em crianças em fase de estabelecimento de oclusão nas detições decídua e mista, não sendo, nesses casos, considerado patológico.

Parafunções são mais comuns em mulheres do que em homens, principalmente a partir do 35 anos de idade. Os sintomas são, principalmente, dores de cabeça. O bruxismo excêntrico apresenta ainda, como sinal, desgastes generalizados das faces oclusais dos dentes posteriores, mas estes podem estar ausentes em alguns casos. As dores de cabeça cedem com analgésicos de baixa potência, como as dipironas, por exemplo, mas são recorrentes. O tratamento é controverso: inicialmente é essencial o estabelecimento do equilíbrio oclusal, seja via ajuste oclusal ou tratamento ortodôntico. O uso de placas miorrelaxantes pode aliviar as dores, mas não é considerado um tratamento, pois é sintomático e não elimina a causa. Entretanto, mesmo com o estabelecimento do equilíbrio oclusal pode permanecer a parafunção, apesar de que, mesmo nesses casos, a remissão dos sintomas (dor) é frequente.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

O chato

"Ah, todo chato é bonzinho
Nunca nos faz nenhum mal"
Oswaldo Montenegro (O chato)

Risadinha - O maníaco do parque

Eu sou um sedentário sem-vergonha, mas como eu sei que isso mata e eu morro de medo de morrer (êita, isso é que é frase bem construída!) eu procuro fazer uns exercícios de vez em quando. Um dos que eu faço com mais frequência é a caminhada. Em Campo Grande tem um parque com uma pista de cooper com 4 Km, onde o pessoal caminha de manhã. Eu também. O problema é o Risadinha, vou contar:

Ha!........Ha!.........Ha!.........Ha!
.......Ha!.........Ha!.........Ha!..........Ha!

Lá vem ele, aos gritos, rindo feito uma hiena emaconhada, com um chumaço enorme de cabelos brancos sobre a cabeça, sem camisa, rebolando o bundão pela pista. Não é possível andar lá sem ouvir os gritos da criatura. Quando passa por alguém em sentido contrário, lá vem uma das frases, a plenos pulmões:

- E aí, pessoal, vamo que vamo!
- Manda brasa, moçada, força!
- Bom dia, será que aumentaram essa pista desde ontem?

Ha!........Ha!.........Ha!.........Ha!
.......Ha!.........Ha!.........Ha!..........Ha!

E ainda por cima ele anda bem rápido, que é para não perder de gritar para os que andam no mesmo sentido que ele. Eu fico me perguntando: porque será que essa criatura tem que fazer esse escândalo todo, às sete horas da manhã? Será que ele vai se candidatar a vereador? Eu não acredito que seja puro bom-humor, não é possível, ninguém é feliz assim às sete da manhã, não é normal. Porque ele não faz como todo mundo e caminha olhando pro chão, absorto em seus pensamentos, conjecturando sobre a baixa do dólar ou a alta da gasolina, planejando seu dia, desejando uma baixa nos juros e nos impostos? Porque ele tem que nos tirar dos nossos pensamentos?

Ô, cara chato! Eu tenho horror de gente assim, que se finge de feliz. Felicidade a gente tem pra dentro, quem faz propaganda é porque é fingido. Mas eu até já estou vendo: Para vereador, vote Risadinha, o Maníaco do Parque de Campo Grande.

Eu, hein?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Verdade

"O que diz o C, o que diz o C?
Coitado do povo, infeliz"
Sá e Guarabira (Roque Santeiro)

Esta eu recebi por e-mail. Normalmente não gosto de piadinhas de e-mail, mas esta me pareceu tão verdadeira que eu não resisti:

"Estou do lado do Governo, porque se ficar à frente ele me fode... e se ficar atrás ele caga em mim!"
É, já me aconteceu muuuuito disso.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Demorou

"Sabia, que ia acontecer você um dia
E quase que já não me valeria nada tudo o que eu sabia"
Chico Buarque (Lola)

Pois é, foi só eu falar da foto escolhida para ilustrar a infame reportagem da revistinha que uma porção de colegas escreveu pra lá, reclamando. Beleza, só que o tom que eles usaram foi muito fraco... foi assim como um pedido de desculpas por estar reclamando, uma boa-educação insuportável! Ora, gente, nós fomos ofendidos, vilipendiados, mandem os caras pra onde eles merecem, mandem-nos à merda, logo de uma vez!

Teve um colega que sugeriu que se colocasse a foto do leão do imposto de renda. Eu não vou colocar o nome do colega aqui, porque eu sei que é muito mais fácil mandar o jornalista se danar em um blog obscuro e abandonado onde se usa pseudônimo do que com o nome e RG em uma revista de circulação nacional. E na revista que publicou a reportagem, inda por cima. Mas eu aconselho o colega: está com problemas com o IR? Ô, rapaz, não esquenta, você mora no Brasil! Sonega! Esconde o dinheiro, dá desconto pro cliente não pedir recibo, manda ver no caixa dois, pede nota a mais na dental, no posto de gasolina, na loja de roupa branca. Todo mundo faz isso!

Veja só o exemplo: você diz pro cliente: "se não quiser recibo, tem desconto de 20%". Tá, você pagaria 25% pro IR, tá ganhando 5 e ainda não dá dinheiro pros band... ôpa, deputados - tomarem Moet & Chandon no jatinho a caminho da Europa. Além disso o seu cliente, que não é burro nem nada, prefere pegar os 20% porque ele só pode descontar 15% do IR dele, ou seja, valeu a pena. Ele volta outras vezes no seu consultório ("Isso é que é dentista bom, deu um descontão!"). Mas tome cuidado com o cheque, Ok? Não vai depositando assim na boa. Passa pra frente, pro vendedor de material, qualquer um, mas não deixa cair na sua conta. Que o Big Brother (CPMF) tá olhando.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Informação

"A gente às vezes tem voltade de ser
Um rio cheio pra poder transbordar"
Toquinho-Vinícius (Fogo sobre terra)

Eu já andei falando por aqui (não me lembro onde) sobre o site da Colgate, com informações muito boas sobre saúde bucal. Pois eu achei lá um artigo sobre clareamento que é uma das coisas mais sensatas que já se escreveu sobre o assunto. Eu conheço bem os materiais empregados nessas técnicas, mas não faço clareamento no consultório. Eu sou ortodontista. Mesmo assim, eu sei que fazer clareamento dental não é a mesma coisa que passar batom.

Clareamentos são feitos com aplicação de produtos químicos fortes e podem prejudicar os dentes. Omitir essa informação do cliente é, no mínimo, desonesto.

Da honestidade e da omissão da informação

Ontem eu vi um folder das Casas Bahia. Anunciavam computadores (!) a preços populares. Tá, um computador completo, relativamente bem equipado, por menos de 1.400 pilas tá até de bom tamanho, com monitor, teclado, mouse, aquelas coisas. Só que tem alguns detalhes: as Casas Bahia vendem muito para a população de baixa renda, povo sofrido que sonha com coisas que se vêem na TV e vê uma remota possibilidade de realizar esse sonho. Pois o tal computador é vendido assim: em 12 vezes, sem juros, de 106 merréis no cartão de crédito. Beleza. Quem não tem cartão paga no carnê. Vejam que beleza de financiamento, 1 + 22 de 98 pilas. Fez as contas? Sai quase o dobro do preço.

Além disso, ninguém fala que a máquina não vem com windows. O cara compra a máquina achando que vai chegar em casa, ligar na tomada e sair usando, quando, na verdade, vai ter que desembolsar ainda uns 200 contos pra um técnico instalar windows e office (o mínimo necessário, né?), conectar na internet, abrir uma conta e etc.

Êta, vida de pobre nesse país, além de cair na mão de dentista desonesto ainda é extorquido até pelas Casas Bahia. A bem da verdade, ninguém é obrigado a comprar nada por lá, mas que a tentação é forte, isso é!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

100 visitas

"Eu não vou na sua casa pra você não ir na minha
Você tem a boca grande, vai comer minha galinha"
João da Praia (O boi vai atrás)

Instalei um contador de visitas no dia 23/01/2006 e já conto com 100 delas. Será que chego a 1000? Será que este blog aguenta até lá?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Pra não dizer que não falei em flores

"Onde queres o lar, revolução,
E onde queres bandido eu sou o herói"
Caetano (O quereres)


Ontem eu assistia ao "Reporter Record", um programa de documentários, desta feita sobre os povos da floresta. Lá pelas tantas conta-se a história de uma malfadada viagem de avião sobre a floresta amazônica que terminou no chão antes do tempo, ou seja, o avião caiu. Louva-se, de início, a perícia do piloto, que conseguiu encontrar um local um pouco mais aberto no meio do mar de árvores que é a floresta, evitando a morte certa de todos no aparelho. Depois, entrevistado, o piloto revela que, embora vivos, alguns passageiros e ele próprio ficaram bastante feridos, com sérias hemorragias, o que, certamente, os levaria à morte em pouco tempo.

O segundo herói da história era um dentista. E o repórter ainda falou que era um "Cirurgião Dentista" (êba, falou certo!) que teve presença de espírito e sangue frio suficientes para pegar um kit de costura na bolsa de uma mulher e suturar os ferimentos dos passageiros que, de outra forma, iriam ao encontro do criador. Só tinha uma agulha e um carretel de linha, e o cara saiu "costurando" todo mundo, salvando vidas.

Ah, essas histórias lavam a alma. Infelizmente a canalha jornalista prefere retratar o Cirurgião Dentista como um açougueiro sádico, que vive pelo prazer de causar dor e sofrimento. Quem já sofreu com dor de dente sabe como é de verdade. Você passa a noite sem dormir, pensando seriamente em suicídio e, quando chega ao consultório, a redentora anestesia e as abençoadas mãos enluvadas trazem de volta a esperança.

Pra não dizer que não falei das flores, hoje acordei com alma de poeta.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Veja

"Você nada está me devendo, por isso, meu bem, não entendo:
Por que anda agora falando de mim?"
Chico Buarque (Injuriado)

Eu assino a revista Veja. Levo pro consultório, depois de dar uma olhada, é uma forma de me manter informado com algo mais do que os jornais da TV, já que eu não compro jornal de papel mesmo. Às vezes eu levo uns sustos, mas o dessa semana foi 'federal', prá dizer o mínimo.

Na página 54 se inicia a matéria: "Vai doer, mas não tem jeito", com a chamada: "A dívida pública atinge 1 trilhão e o governo torra cada vez mais. Para crescer, o país terá que cortar na carne." Embaixo, a foto, uma imagem de puro terror, que tem absolutamente TUDO a ver com o tema da reportagem, que eu acho que era economia:



Assinam a reportagem dois maus-caráteres: Giuliano Guandalini e Christiane Silva. Não me interessa se esses canalhas são repórteres da grobo ou se são almas penadas do inferno, eles deveriam estar cavando esterco em alguma pocilga, ao invés de escolher essa foto para uma matéria sobre economia. Porque será que os infelizes não puseram a tão falada caricatura do profeta Maomé? Será que os covardes têm mais medo de um bilhão de muçulmanos do que do dentista deles?

Ah, eu queria ser dentista deles, queria sim. Eu ia mostrar pra eles que a Odontologia foi uma das ciências que mais evoluiu no último século, que quem inventou a anestesia foi um dentista e que os jornalistas, sim, são açougueiros medievais, que não se importam com a dignidade ou o respeito aos seus semelhantes, desde que estejam publicando seus panfletos imundos e ganhando seu dinheiro maldito.

Malditos sejam, Giuliano e Christiane. Que vocês apodreçam no inferno, junto com os condenados pelos muçulmanos. Covardes! Cadê a caricatura do Maomé? Isso vocês não têm coragem de publicar, mas uma imagem que deprecia toda uma profissão que cuida da saúde com sacrifício e dignidade, sim. Ah, como eu queria ser o dentista deles...

Me perdoem meus 3,5 leitores, pelo tom indignado desse post. Eu não aguento mais.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Quantas vezes?

"Eu tenho várias manias, delas não faço segredo
Quem pode ver tinta fresca sem logo passar o dedo?"
Dolores Duran

Notícia no site da ABO-MS:
"Cerca de 11 mil escolares filipinos tentaram emplacar um feito no Guiness no último dia 29. Orientados por 187 dentistas e munidos de escova dental, eles tentaram quebrar o recorde de escovação simultânea em massa em um parque de Manila. Até então, a maior escovação coletiva registrada pelo livro havia acontecido em setembro de 2003, na cidade de Shenzen, na China, quando mais de 10 mil estudantes higienizaram seus dentes."


Aí eu pergunto: quantas vezes por dia, semana, mês, ano... quantas vezes esses escolares escovam os dentes? Tanto os filipinos quanto os chineses, quantas vezes? Porque escovação é hábito, não adianta fazer uma vez na vida, aparecer no livro dos recordes (coisa mais besta, querer aparecer nesse livrinho), ficar famoso. Não adianta nada se os dentes, depois de um ou dois dias, estiverem imundos de novo. Escovar tem que ser mania.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Renovação

"E num acidente da sorte, morreu num incêndio famoso
Em close voando pra morte, como o sucesso é gostoso"
Oswaldo Montenegro

A odontologia deixou de ser feitiçaria e passou a ser ciência graças a homens que dedicaram suas vidas a ela. O primeiro fez com que o tratamento odontológico passasse de tortura a suportável, inventando a anestesia. Antes de Horace Wells, e sua descoberta de 1844, os pacientes tinham que ser amarrados à cadeira e, muitas vezes, tinham a sorte de desmaiar durante o procedimento. Quando Wells descobriu que o óxido nitroso eliminava a dor sem matar o paciente (desde que administrado corretamente), abriu as portas de um novo mundo.

Mas, naquele tempo, tratamento odontológico era extração. Ou melhor, tudo o que um dentista fazia era "arrancar" dentes, literalmente. O definitivo avanço da odontologia rumo à ciência foi feito por Black que, em 1908, definiu as bases do preparo cavitário. Isso permitiu que um dente cuja cárie ainda não havia atingido a polpa (o "nervo") fosse restaurado. Black descreveu diversos tipos de preparo e os classificou, permitindo que um dentista removesse o tecido cariado, esculpisse uma cavidade com princípios rígidos de forma e restaurasse o dente. A união dos trabalhos de Wells e Black tirou a odontologia das mãos dos curandeiros e a entregou a cientistas. Esses homens fizeram a história.

O problema é que hoje tem gente que pensa que com um pouco de criatividade é possível chegar nesse nível. O cidadão estuda um pouquinho, vai pra um laboratório (conseguiu entrar puxando o saco de algum figurão) e descobre a roda! Ele se propõe uma teoria, passa a acreditar nela e quer convencer todo mundo disso, ele acha que vai entrar para a história da odontologia. Ele acha que descobriu um jeito de fazer nascer pêlo em ovo, ou de fazer adulto crescer. Ele quer o sucesso, a qualquer custo.

Não é assim. Wells e Black estudaram a vida toda e levaram a vida toda para renovar a ciência. Eram cientistas de fato. Dedicaram-se de corpo e alma a isso, prejudicando suas vidas particulares, seus relacionamentos, sua intimidade. Fizeram inimigos, pisaram em muitos calos, mas inscreveram seus nomes no livro da história da humanidade.