As Invasões Bárbaras pelos cronistas da Época

LAMENTAÇÕES DE S. JERÔNIMO SOBRE O SAQUE DE ROMA (410)
«Quem acreditaria que Roma, edificada pelas vitórias sobre todo o universo, viesse a cair (1); que tivesse sido simultaneamente a mãe das nações e o seu sepulcro; que as costas do Oriente, do Egito e da África, outrora pertencentes à cidade dominadora, fossem ocupadas pelas hastes dos seus servos e servas; que em cada dia a santa Belém (2) recebesse como mendigos pessoas de um e outro sexo que haviam sido nobres e possuidoras de grandes riquezas?»

(S. Eusebii Hieronymi, Commentariorum in Ezechielem Prophetam, lib. iii, in J. P. Migne, Patrologiae Cursus Completus, Series Latina, t. xxv, Paris, 1884, col. 75.]

(1) S. Jeronimo refere-se ao saque de Roma pelos Visigodos em 410. (2) Tendo morrido o papa Dâmaso I e sido eleito o papa Sirício (384), adversário de S. Jeronimo, este, que havia passado três anos em Roma, retirou-se para Belém na Palestina, onde edificou um convento e um hospício.

1. AS GRANDES INVASÕES DOS SÉCULOS IV E V
QUANDO, no fim do século IV, nas regiões do mar Negro, os Hunos se precipitaram sobre os Godos, desencadeou-se a primeira grande invasão, a qual lançou sobre o Império Romano, ainda intacto, uma avalanche de povos de raças e proveniências variadas. Se os Alanos e sobretudo os Hunos causaram grandes devastações na sua rápida investida, a importância política desta passagem foi, no entanto, quase nula. Perdendo a unidade, ambos os povos se fundiram com as populações locais, passando a desempenhar um papel secundário.

Outro tanto se não pode dizer dos Godos, que, deixando o local onde estacionavam no vale do Dniepre, vieram a fundar no seio da romanidade estados duradouros e com certa originalidade cultural. Como repercussão destas grandes migrações vindas do Oriente, outras tribos, abandonando a Germânia, irromperam no Império. De entre estas, os Vândalos, os Suevos e os Burgúndios conseguiram fundar reinos autónomos, cuja independência foi todavia de curta duração.

O ASPECTOS E OS COSTUMES DOS HUNOS
Para um romano civilizado como Amiano Marcelino (c. 330-391) os Hunos revelavam-se de um primitivismo difícil de conceber e ameaçador.
[ ... ] O povo dos Hunos, pouco conhecido pelos antigos monumentos, vivendo por trás da lago Meótis.(1), perto do oceano Glacial, excede todos os modos de ferocidade. [ ... ]

Todos eles têm membros completos e firmes, pescoços grossos, e são tão prodigiosamente disformes e feios que os poderíamos tomar por animais bípedes ou pelos toros desbastados em figuras que se usam nos lados das pontes.

Tendo porém o aspecto de homens, embora desagradáveis, são rudes no seu modo de vida, de tal maneira que não têm necessidade nem de fogo nem de comida saborosa; comem as raízes das plantas selvagens e a carne semicrua de qualquer espécie de animal que colocam entre as suas coxas e os dorsos dos cavalos para as aquecer um pouco.

Vestem-se com tecidos de linho ou com as peles de ratos-silvestres cozidas umas às outras, e esta veste serve tanto para uso doméstico como de fora. Mas uma vez que meteram o pescoço numa túnica desbotada, não a tiram ou mudam até que pelo uso quotidiano se faça em tiras e caia aos pedaços.

Cobrem as cabeças com barretes redondos e protegem as pernas hirsutas com peles de cabra; os seus sapatos não têm forma nenhuma e por isso impedem-nos de caminhar livremente. Por esta razão não estão nada adaptados a lutas pedestres, vivendo quase fixados aos cavalos, que são fortes, mas disformes e por vezes sentam-se à amazona e assim exercitam as suas tarefas habituais. É nos seus cavalos que de dia e de noite aqueles que vivem nesta nação compram e vendem, comem e bebem e, inclinados sobre o estreito pescoço do animal, descansam num sono tão profundo que pode ser acompanhado de sonhos variados.

Ninguém entre eles lavra a terra ou toca num arado. Todos vivem sem um lugar fixo, sem lar nem lei ou uma forma de vida estabilizada, parecendo sempre fugitivos nos carros onde habitam; aí as mulheres lhes tecem as horríveis vestimentas, aí elas coabitam com os seus maridos, dão à luz os filhos e criam as crianças até à puberdade. Nenhum deles se for interrogado poderá dizer donde é natural,. porque, concebido num lugar, nasceu já noutro ponto e foi educado ainda mais longe.

[Ammianus Marcellinus. com trad. inglesa de John C. Rolfe, liv. XXXI 2, 1 a 11, Harvard University Press, 1939, pp. 381 a 387.] ,

1. Mar de Azov


CARACTERÍSTICAS DOS ALANOS
Como em relação aos Hunos, o nomadismo e o espírito guerreiro dos Alanos foram as características que mais impressionaram o autor romano Amiano Marcelino (c. 330-391).

Quase todos os Alanos são altos e formosos, com os cabelos quase louros, um olhar terrível e perturbado , ligeiros e velozes no uso das armas. Em tudo são semelhantes aos Hunos, mas na maneira de viver e nos costumes, menos selvagens. Roubando e caçando, andam de um lado para o outro, até sítios tão distantes como a lagoa Meótis (1) e o Bósforo Cimério (2) e também até à Arménia e Média.

Assim como para os homens sossegados e plácidos o repouso é agradável, assim eles encontram prazer no perigo ena guerra: É considerado feliz aquele que sacrificou a sua vida na batalha, enquanto que àqueles que envelheceram e deixaram o mundo por uma morte fortuita atacam com terríveis censuras de degenerados e cobardes; e não existe nada de que mais se orgulhem do que de matar um homem, qualquer que ele seja: como glorioso despojo do assassinato, cortam-lhe a cabeça, arrancam-lhe a pele e colocam-na sobre os seus cavalos de guerra como jaez.

Não se vê entre eles nem um templo, nem um lugar sagrado, nem mesmo se pode discernir um tugúrio com um tecto de colmo, mas com um ritual bárbaro enterram no chão uma espada desembainhada e adoram-na reverentemente, como ao seu Marte, a divindade principal destas terras por onde vagueiam.

Ignoram o que seja a servidão, tendo nascido todos de sangue nobre, e mesmo agora escolhem como chefes aqueles que se distinguem na experiência quotidiana da guerra.

[Ammianus Marcellinus, com trad. inglesa de John C. Rolfe, Iiv. XXXI, 2, 17 a 25, Harvard University Press, 1939, pp. 390 a 395.]

1. mar de azov.
2. atual estreito de kertch, ligando o mar negro ao mar de azov.


A INSTALAÇÃO DOS VISIGODOS NO IMPÉRIO (SÉCULO IV)
O historiador godo Jordanes (século VI) relata-nos a razão da entrada dos Visigodos em terras romanas (376) e da sua conversão ao arianismo.
Os Visigodos, ou seja aqueles outros aliados e cultivadores do solo ocupado, estavam aterrados [como o haviam estado os seus] parentes e não sabiam que fazer, por causa do povo dos Hunos. Porém, depois de longas deliberações, de comum acordo, enviaram embaixadores à România, ao imperador Valente (1), irmão de Valentiniano I (2), o imperador mais velho, para dizer que se ele lhes desse, a fim de a cultivarem, uma parte da Trácia (3) ou da Mésia (4), se submeteriam às suas leis e decisões. Para que pudesse ter maior confiança neles, prometeram tornar-se cristãos, se lhes dessem professores [que falassem] a sua língua.

Quando Valente ouviu isto, concedeu alegre e prontamente o que ele próprio havia tencionado pedir. Recebeu os Getas (5) na região da Mésia e colocou-os aí como uma muralha [de defesa] para o seu reino contra outras tribos (6). E como naquele tempo o imperador Valente, contaminado pela perfídia ariana, tivesse fechado todas as igrejas do nosso partido, enviou-lhes como pregadores os que favoreciam a sua seita (7). Eles foram e imediatamente infundiram nesse povo rude e ignorante o veneno da sua perfídia. Assim os Visigodos foram feitos, pelo imperador Valente, arianos em vez de cristãos. Além disto, por afeição, pregaram o Evangelho tanto aos Ostrogodos como aos seus parentes Gépidas, ensinando-os a reverenciar esta perfídia, e convidaram todos o povos da sua língua, de onde quer que fossem, a ligarem-se à mesma seita. Eles próprios, como dissemos, atravessaram o Danúbio e estabeleceram-se na Dácia Ripense (8), na Mésia e na Trácia, com autorização do príncipe.

Em breve a fome e a indigência caiu sobre eles, como muitas vezes acontece a um povo que ainda não está bem estabelecido numa região.· [Os abusos e as traições dos chefes romanos provocaram uma revolta dos Godos, que acabaram por dominar a situação.] [ ... ] Assim este dia pôs fim à fome dos Godos e à segurança dos Romanos, porque os Godos, não mais como estrangeiros e peregrinos, mas sim como cidadãos e senhores, começaram a governar os habitantes e a dominar, sob o seu próprio senhorio, todas as regiões do Norte até ao Danúbio.

Quando o imperador Valente soube disto em Antioquia, aprestou imediatamente um exército e partiu para a região da Trácia. Aí deu-se uma terrível batalha (9) e os Godos venceram. O próprio imperador ficou ferido e fugiu para uma herdade perto de Hadrianópolis (10). Os Godos, não sabendo que um imperador estava escondido numa tão pobre cabana, lançaram-lhe fogo (como é habitual proceder com um inimigo cruel), e assim ele foi cremado em esplendor real. [...]

[Jordanes, Romana et Getica, in Monumenta Germaniae Historica-Auctorum Antiquissimorum, t. v, pars prior, Berlim, 1882, p. 92.]

(1) Imperador do Oriente de 364 a 378. (2) Imperador do Ocidente de 364 a 375. (3) Na actual Bulgária. (4) Na actual Bulgária. (5) Jordanes confunde os Getas, povo da Trácia com os Godos. (6) Em 376. (7) Na realidade a arianização dos Visigodos iniciara-se alguns anos antes, mercê da pregação do bispo godo Ulfila. (8) Ainda na actual Bulgária. (9) A batalha de Andrinopla (9 de Agosto de 378). (10) Ou Andrinopla. Ê hoje a cidade turca de Edime.


O SAQUE DE ROMA POR ALARICO (410) E AS INCURSÕES BÁRBARAS NA GÁLIA E NA ESPANHA
Em 410, Roma foi pela primeira vez saqueada por povos germanos, os Visigodos, chefiados por Alarico. Se materialmente os estragos não foram desmedidos, o acontecimento foi no entanto profundamente sentido pelos Romanos. Pela mesma época, outras hordas bárbaras atravessaram a Gália e a Península Ibérica. O texto que se segue é de um contemporâneo destes acontecimentos, Paulo Orósio.
E assim, no ano 1164 depois da fundação da cidade (1), foi-lhe feito um ataque por Alarico (2): embora a memória deste facto ainda seja recente, nenhuma pessoa que veja a multidão dos Romanos e que os oiça falar admitirá, como eles próprios dizem, que alguma coisa tenha acontecido, .salvo se, por acaso, tomar conhecimento do fogo pelas ruínas que ainda existem. Nesta invasão, Placídia, filha do príncipe Teodósio (3) e irmã dos imperadores Arcádio (4) e Honório (5), foi capturada e tomada como mulher por Ataulfo (6), parente de Alarico, como se, de.vido a um juízo divino, Roma a tivesse entregue à maneira de refém e penhor especial. Com efeito, unida pelo casamento ao mais poderoso rei bárbaro, ela foi de grande utilidade para a república. Entretanto, dois anos antes do ataque a Roma, excitados por Estilicão (7), como já disse, os povos dos Alanos, dos Suevos, dos Vândalos, e muitos outros com eles, esmagaram os Francos, atravessaram o Reno, invadiram as Gálias e com um rápido ímpeto chegaram até aos Pirenéus: retidos durante um tempo par esta barreira, disseminaram-se pelas províncias vizinhas (8).

[Pauli Orosii, Historiarum adversus Paganos. in J. P. Migne, Patrologiae Cursus Completus, Series Prima. t. XXXI, Paris, 1846, cols. 1166-1167.]

(1) Em 410. O saque durou apenas três dias: de 24 a 27 de Agosto. (2) Governou os Visigodos até à sua morte, em 410. (3) O imperador Teodósio I (379-395). (4) Imperador do Oriente (395-408). (5) Imperador do Ocidente (395-423). (6) Governou os Godos de 410 a 415. (7) General de origem vândala, que serviu o imperador Honorio na luta contra às incursões germanas e foi pelo mesmo imperador mandado assassinar em 408. (8) A invasão da Espanha deu-se no final de 409.


A INVASÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA PELOS VÂNDALOS, ALANOS E SUEVOS

A Península Ibérica, desarmada e enfraquecida por lutas internas, não ofereceu qualquer resistência aos bárbaros que a invadiram. Muito rapidamente os invasores dividiram entre si as terras conquistadas. Santo Isidoro de Sevilha (c. 560-636) relata-nos esse episódio.
Na era de 446 (1), os Vândalos, os Alanos e os Suevos ocuparam a Espanha, mataram e destruíram muitos nas suas sangrentas incursões, incendiaram cidades e saquearam as propriedades assaltadas, de forma que a carne humana era devorada pelo povo na violência da fome. As mães comiam os filhos; e também os animais, que se haviam acostumado aos cadáveres dos que morriam pela espada, de fome ou de peste, eram mesmo levados a destroçar os vivos; desta maneira quatro pragas dizimaram toda a Espanha, sendo cumprida a predição divina que há muito tinha sido escrita pelos profetas.

Na era de 449 (2), depois da terrível devastação das pragas pela qual a Espanha foi destruída, os Bárbaros, decididos finalmente pela graça de Deus a fazer a paz, sortearam as províncias para as ocupar. Os Vândalos (3) e os Suevos ocuparam a Galécia(4); os Alanos, a província da Lusitânia(5) e a Cartaginense (6); porém os Vândalos, cognominados Silingos, abandonada a Galécia e depois de terem devastado as ilhas da província Tarraconense (7), voltando a trás tiraram à sorte a Bética (8). [ ... ]

[Sancti Isidori, Hispalensis Episcopi, Historia de Regibus Gothorum. Wandalorum et Suevorum. in J. P. Migne, Patrologiae Cursus Completus. Series Latina, t. LXXXIII, Paris, 1862, cols. 1076 e 1077].

1) Era de César, ou Hispânica, correspondente a 408 da Era Cristã. (2) Em 411. (3) O grupo dos vândalos Asdingos. (4) Ou seja, a actual Galiza espanhola e o território português até ao rio Douro. (5) Grosso modo correspondente ao território português. (6) Abrangendo uma grande parte do Centro e Sueste da actual Espanha. (7) Norte e Nordeste da Espanha. (8) Correspondente à actual Andaluzia espanhola.


Depois de uma estadia de vinte anos em Espanha, os Vândalos (divididos em dois grupos, Asdingos e Silingos), perseguidos pelos Visigodos, que lhes haviam cortado a retirada. por terra, atravessaram o Mediterrâneo e ocuparam parte da província da África, única do Ocidente até então poupada às incursões germanas. É de Santo Isidoro de Sevilha (c. 560-636) o texto que se transcreve.
Na era de 467 (1) Genserico, irmão de Gunderico, sucedeu-lhe no reino por quarenta anos. Este, que de católico se havia tornado apóstata, foi o primeiro levado a transitar para a perfídia ariana. Tendo abandonado a Espanha, atravessou com todos os vândalos e as suas famílias (2), desde o litoral da província da Bética até à Mauritânia e África. Valentiniano Júnior (3), imperador do Ocidente, não se lhe podendo opor, fez a paz (4) e concedeu pacificamente a parte da África que os Vândalos possuíam, aceites por um juramento as condições de que nada mais invadiriam. [Genserico] porém, sobre cuja amizade ninguém duvidava, profanada a inviolabilidade do juramento, invadiu Cartago (5) com o engano da paz e transferiu em seu próprio proveito todos os poderes depois de ter afligido os cidadãos com diversos gêneros de tormentos. Em seguida devastou a Sicília (6), cercou Panormo (7), introduziu a pestilência ariana por toda a África, afastou os sacerdotes das igrejas, fez muitos mártires e, de acordo com a profecia de Daniel.
transmutados os mistérios, entregou as igrejas dos santos aos inimigos de Cristo. [ ... ]
[ ... ] Genserico, não contente com as devastações da terra de África, passou a Roma (8), transportado por navios, destruiu os bens dos Romanos durante catorze dias e trouxe consigo a viúva de Valentiniano, as suas filhas e muitas mulheres de cativos; e pedida a paz, por meio de enviados, ao imperador (9), remeteu a viúva de Valentiniano para Constantinopla e uniu pelo matrimônio uma das filhas [de Valentiniano] com o seu filho Huguerico.
[Sancti Isidori, Hispalensis Episcopi, Historia de Regibus Gothorum, Wandalorum et Suevorum, in J. P. Migne, Patrologiae Cursus Completus, Series Latina, t. LXXXIII, Paris, 1862, cols. 1077 e 1078.]

(1) 429. (2) Nesta migração (429) parece terem-se incluido tanto Vândalos Asdingos e Silingos como alguns alanos e hispano-romanos. (3) Valentiniano IV (423-455). (4) O acordo foi assinado em Bona a 11 de Fevereiro de 435. (5) Em Outubro de 439. (6) Em 440. (7) A actual Palermo. (8) No ano 455. (9) O imperador do Oriente, Marciano (450-457).

A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE (476)
Com a deposição de Rómulo Augústulo em 476 pelo bárbaro Odoacro, desapareceu o Império Romano do Ocidente. Jordanes (século VI) narra-nos sinteticamente este episódio.
Oreste (1), tendo tomado o comando do exército, partiu de Roma ao encontro dos inimigos e chegou a Ravena, onde parou para fazer imperador seu filho Augústulo (2). [ ... ]

Porém, pouco depois de Augústulo ter sido estabelecido imperador em Ravena, por seu pai Oreste, Odoacro, rei dos Turcilingos (3), tendo consigo ciros (4), hérulos (5) e auxiliares de diversas tribos, ocupou a Itália. Oreste foi morto e o seu filho Augústulo expulso do reino e condenado à pena de exílio no Castelo Luculano, na Campânia.

Assim, o Império do Ocidente do povo romano, que o primeiro dos Augustos, Octaviano Augusto, tinha começado a dirigir no ano 709 da fundação da cidade de Roma, pereceu com este Augústulo no ano quinhentos e vinte e dois (6) do reinado dos seus antecessores e predecessores. Desde aí Roma e a Itália são governadas pelos reis dos Godos.

Entretanto, dominada toda a Itália, Odoacro rei destas tribos, para estabelecer o terror entre os Romanos, matou no início do seu reinado o conde Bracila junto de Ravena e conseguiu dominar o seu reino durante quase treze anos, até ao aparecimento de Teodorico, por quem subsequentemente temos sido dirigidos.

[Jordanes, Romana et Getica in Monumenta Germaniae Historica Auctorum Antiquissimorum, t. v, pars prior, Berlim, 1882, pp. 119-120.]

(1) Romano nascido na Panónia, foi secretário do rei huno Átila. (2) Rómulo Augústulo, imperador de 475 a 476. (3) Odoacro, possivelmente um rúgio (lat. Rugii), tornou-se chefe dos exércitos mercenários no Norte da Itália. Se alguns autores o cognominaram Rei dos Rúgios, outros chamam-lhe Príncipe dos Ciros. Os Turcilingos são um povo de origem obscura, arrastado para ocidente pela invasão huna. (4) Ou esciros (lat. Scri), tribo germânica do Baixo Vístula. (5) Os Hérulos (lat. Aeruli), outra tribo germânica que surgiu à luz da História no século III, na região ao norte do mar Negro, junto do Dniestre. (6) Rómulo Augústulo foi deposto em 4 de Setembro de 476.

por Espinosa, F. Antologia de textos históricos medievais, Lisboa, Sá da Costa, 1972


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