quarta-feira, 5 de março de 2008

O Príncipe Feliz de Óscar Wilde

“O rubi será mais encarnado do que uma rosa vermelha e a safira será tão azul quanto o mar imenso”
Óscar Wilde




Era uma vez um Príncipe, que morreu, e depois da sua morte construíram-lhe uma estátua para que toda a gente visse a sua beleza. Tinha duas safiras nos olhos e um rubi na ponta da sua espada.
Existia uma Andorinha que não partiu com as suas amigas, porque se tinha apaixonado por um junco. A certa altura, ela fartou-se do tal junco e foi para a cidade.
A Andorinha abrigou-se entre os pés do Príncipe Feliz. Ela pensava para si própria que tinha encontrado um quarto coberto de ouro, pois o Príncipe era revestido de ouro.
De repente, quando a Andorinha estava prestes a adormecer, caiu-lhe uma gota na cabeça. Ela, muito admirada, olhou para cima e não viu nenhuma nuvem. De seguida caiu a segunda. Quando a Andorinha se preparava para ir embora, caiu-lhe a terceira gota; foi nessa altura que olhou para cima e reparou que as gotas vinham dos olhos do Príncipe Feliz. Muito espantada, perguntou-lhe porque chorava e o Príncipe Feliz, esse, falou-lhe que estava a chorar, porque, antes de morrer e de o colocarem naquele lugar mais alto, nunca tinha reparado nas pessoas pobres, no seu povo, enfim. Mas agora, que reparava nisso tudo, quem lhe dera ainda estar vivo!
O Príncipe Feliz viu uma costureira a fazer um vestido para uma dama e logo pediu à Andorinha para lhe levar o seu rubi, pois o seu filho estava doente e com febre. Ele pedira à mãe tangerinas, mas a mãe não tinha dinheiro para lhas comprar.
Então, o Príncipe voltou a pedir à Andorinha, convencendo-a a ficar. E lá foi ela colocar o rubi na mesa da costureira; de seguida foi ao quarto do menino e bateu as suas asas junto dele de tal modo que o menino perdeu a temperatura e adormeceu tranquilamente.
A Andorinha voou, poisou no ombro do Príncipe Feliz e disse-lhe tudo o que fizera. A certa altura, a Andorinha sentiu-se muito quente, apesar do ar fresco.
O Professor de Ornitologia viu uma Andorinha no Inverno e foi logo ao Jornal Local comunicar a estranheza.
A Andorinha disse ao Príncipe que nessa noite iria para o Egipto, mas ele pediu-lhe que ficasse mais uma noite, porque vira um jovem escritor num sótão, com frio e fome, que não conseguia acabar a sua história. Ele, desta vez, pediu-lhe que levasse um dos seus olhos que eram feitos de belas e raras safiras.
A Andorinha disse-lhe que não! Mas o Príncipe implorou-lhe e assim convenceu-a! Ela tirou-lhe uma safira, levou-a ao jovem, deixando-a nas violetas murchas da sua secretária. Quando a lua apareceu, ela voltou para o Príncipe Feliz. Queria despedir-se dele, mas o Príncipe pediu-lhe que ficasse mais uma noite, porque na praça mais abaixo estava uma menina que vendia fósforos e que os tinha estragado porque caíra! E que o pai lhe ia bater se não levasse dinheiro para casa. A Andorinha retirou-lhe a outra safira e levou-a “À Pequena Vendedora de Fósforos”.
A Andorinha disse, por fim ao Príncipe Feliz, que ele agora estava cego e que ficaria com ele para sempre.
O Príncipe disse-lhe que estava coberto de ouro e pediu-lhe que o levasse aos pobres que, quando viram o ouro, disseram que assim já tinham pão…Chegou a neve e a Andorinha teve cada vez mais frio.
Ela informou o Príncipe que ia embora e pediu-lhe para lhe beijar a mão. Mas o príncipe disse-lhe para ela lhe beijar os lábios e logo o coração dele se partiu em dois.
O Presidente da Câmara viu o Príncipe todo cinzento e sem jóias. Por isso decidiu pôr a estátua na fornalha a derreter, mas reparou que o seu coração não derretia. Deitaram-no ao lixo, onde também se encontrava a Andorinha morta. Deus pediu a um dos seus anjos para ir buscar as duas coisas mais preciosas da cidade. O Anjo levou-lhe o coração do Príncipe e a Andorinha.
Deus disse-lhe que fizera a escolha certa.
Disse-lhe também que no seu jardim, no Paraíso, a Andorinha cantará para sempre assim como, na sua cidade do ouro, o Príncipe o honrará para sempre.




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