quinta-feira, 12 de junho de 2008

Princípios biológicos do treinamento físico (II) Especificidade

Princípio da Especificidade

A natureza da carga associada a um determinado exercício condiciona os sistemas solicitados, a tipologia de recrutamento muscular e a resposta neuroendócrina envolvida.

O núcleo central da resposta do organismo a uma carga de treino passa por 4 níveis básicos (Viru, 1996): a estrutura muscular utilizada, a resposta hormonal específica, a ativação seletiva de órgãos e sistemas e o controle (direto ou indireto) do movimento por parte do sistema nervoso central.

Um exercício de treino tem sempre um impacto definido no organismo do atleta, que depende das suas características no que diz respeito à sua estrutura (movimentos utilizados) e os componentes da carga que lhe estão associados (volume e intensidade, fundamentalmente).

A partir do momento em que o treino desportivo passou a ser considerado como um sistema de implicação global integrando muitos e variados elementos de uma forma estruturada e progredindo para objetivos claramente enunciados, a orientação que a ele preside passou a constituir-se a partir da preocupação da adequação dos exercícios ao sistema energético e ao gesto desportivo utilizados no desempenho competitivo.

O princípio da especificidade é aquele que impõe, como ponto essencial que o treino deve ser concebido a partir dos requisitos próprios do desempenho desportivo em termos de qualidade física interveniente, sistema energético preponderante, segmentos corporais e coordenação motora utilizados.

Este princípio refletir-se-á em duas amplas categorias de fundamentos fisiológicos: os aspectos metabólicos e os aspectos neuromusculares.

De acordo com o princípio da especificidade, as adaptações decorrem das características espaço-temporais do movimento realizado, ou seja, dos grupos musculares mobilizados e dos ângulos articulares utilizados, mas também da intensidade do exercício com a solicitação metabólica que lhe é inerente.

Daqui decorre, naturalmente, que um exercício para o desenvolvimento da força terá uma estrutura diferente de um exercício para a estimulação da velocidade máxima.

A estrutura do movimento utilizado num exercício determina, então, sobre que músculos incidirá o estímulo de treino, em que grau de importância e qual o tipo de recrutamento dos vários tipos de fibras musculares (desempenho neuromuscular).

Em grande parte das disciplinas desportivas, o treino da força muscular é parte integrante dos programas de treino, com o intuito de contribuir para a evolução do desempenho competitivo.

Para que o aumento da força tenha um impacto real no desempenho, no entanto, teremos que assegurar que, pelo menos, parte desses exercícios aproximem-se das condições próprias de execução do ponto de vista muscular e energético.

Só assim poderemos assegurar, para a totalidade do programa de preparação, níveis elevados de transferência das adaptações metabólicas e neuromusculares conseguidas para a eficácia do gesto técnico usado na competição.

Esta será uma preocupação constante de todos os treinadores em qualquer modalidade desportiva.

Dominar o princípio da especificidade na construção de exercícios de treino significa adequar a estrutura e os componentes da carga aos objetivos definidos para esse mesmo exercício.

Neste sentido, é necessário trabalhar com zonas de intensidade bem definidas, estimulando adequadamente os vários sistemas energéticos, as capacidades do atleta que se pretendem desenvolver – a força, a velocidade, a resistência ou a flexibilidade, nas suas várias subdivisões – ou, e outro nível, a técnica e a preparação tática para uma competição.


Fonte:

Viru, A. (1996). Postexercise recovery period - carbohydrate and protein-metabolism. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 6 (1): 2-14.

Wilmore, J.H. & Costill, D.L. (1994). Physiology of Sport and Exercise. Champaign:
Human Kinetics.

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