quarta-feira, 30 de julho de 2008

e basta de melancolia!

Ultimamente tenho estado mais e mais preocupada com o Tempo, mais do que em qualquer momento antes, que eu me lembre. É simples e claro: tenho tido menos tempo hoje do que em qualquer outro momento antes etc. etc. Pra piorar tudo, fico pensando nisso - o que acaba me tomando ainda mais tempo.
Me assusta muito a possibilidade de me tornar uma daquelas pessoas estressadíssimas e pragmáticas demais, para quem as condições do cinema são um exotismo que há muito deixou de ser alcançável, ou mesmo desejado. As duas horas de um filme, a ausência de intervalos e a impossibilidade de apertar nos botões de pause, << ou >>, o deslocamento até o shopping (o cinema no centro da cidade, o Babilônia, já é tão morto quanto Inês) são muitas vezes empecilhos para quem trabalha todo o dia (e às vezes toda a noite anterior também), se cansou não só fisicamente e ainda tem à sua espera louças, vassoura, obrigações sociais e afetivas.
E tem sempre o DVD. O DVD e o sofá fofinho, a TV e os biscoitos de chocolate, o controle-remoto...
Só que há pessoas chatas e antiquadas o suficiente para acharem que o DVD, o VSH* e a TV são subprodutos do cinema, não são cinema. O cinema é a sala, é a tela graaande, é o caminho, é o ingresso que depois será guardado nma caixa coloridinha. O cinema é o estado de espírito - de volta a frase plagiada - que não pode ser recriado em casa, com a possível exceção de quem vive em uma ilha isolada na Suécia. Por mais que se tente, o cinema existe contra o lar, não dentro dele, e a expressão cinema em casa me parece absurda, uma contradição em termos. Mas, se há também quem diga que masturbação é sexo, é uma besteira pensar essas coisas.
O cinema é um amante exigente. Por mais que a gente queira domesticá-lo, vulgarizá-lo, misturá-lo com lojas, fast food, sofás e pijamas, ele resiste. A paixão que ele desperta pode muito bem ser, assim, uma das poucas maneiras possíveis de moldar o Tempo. Ou de fingir que ainda se tem 16 anos, que só teve aula de manhã e que a tarde e a noite são todas nossas, minhas e dele.


* ato falho! o Video Home System virou Velocidade de Sedimentação das Hemácias.
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terça-feira, 29 de julho de 2008

a educação pela pedra

- Você sabe que eu tenho horror a esse fúnebre Poeta paraibano aqui de vocês, Augusto dos Anjos. Mas, no meio de toda a obra dele, há um só poema que me toca. Com ele eu posso repetir:

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Ariano Suassuna,
O Romance d' A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta
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O Vandalismo segue com mais alguns versos, by the way:

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
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news of the world


Ah, Campina...
Poucas coisas acontecem por aqui, se pensarmos em coisas culturalmente interessantes, mas o Festival de Inverno, na sua nãoseiquantésima edição, ainda resiste bravamente ao ataque das novas idéias, e está aí, vivo & se bulindo, desde o último final de semana.
Eapoi...
Segundo nos informa uma das colunas de A Trombeta, "Hoje tem música da melhor qualidade no Severino Cabral. Dentro da programação do Festival de Inverno, as cantoras Naná Vasconcelos e Virgínia Rodrigues sobem ao palco do Teatro Municipal para uma apresentação superespecial, a partir das 21 horas."
Bota superespecial nisso: não sabia dessa mudança toda do percussionista (até onde eu saiba 46, XY) pernambucano.
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sobre a beleza


- Ela parece uma francesinha.
Pra mim, é o maior elogio que uma mulher pode receber.
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álibi

Peixes, Peixes e Gêmeos: não tenho o elemento terra.
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segunda-feira, 28 de julho de 2008

<<


Uma das coisas mais chatas que acho é alugar um filme e ouvir do funcionário da locadora: "Já levou esse; vai ver de novo?" "Vou, por quê? Vai encarar?" Claro que nunca dou essa resposta, mesmo que merecida, mas eu sou uma lady & tal, não pegaria bem.
Qual o problema de rever um filme?

Ou melhor, quais as razões para se rever um filme?
Para mim, podem ser várias.
Uma delas: o gosto. Gostei tanto quando vi a primeira vez que quero repetir, como se faz com um brigadeiro da La Suíssa; quero repetir & repetir, mesmo já sabendo o sabor que sentirei. Como faço com A Felicidade Não se Compra.
Outra: a falta de iniciativa. O filme está passando na TV, ou meu irmão quer ver, e não resta muito de força de vontade pra mudar a opção. Assim revi os três Chefões de um fôlego só, quando o tal irmão estava com dengue e dengo, querendo companhia. Ou as tantas vezes em que vi Julie Andrews subir as colinas verdes e, acompanhando no sofá da sala, cantar junto com ela the hills are alive...
Há também aqueles filmes que quero rever para uma melhor "fruição", pra usar uma palavra das mais pedantes. Filmes são como pessoas, a gente tem que estar pronto para conhecê-los, cada um tem seu tempo para que seja apreciado devidamente. Foi o que conteceu com Jules et Jim, que nem gostei muito à primeira vista, e me apaixonou depois. Uma variante: aqueles que revejo para me certificar definitivamente de que era tudo verdade o que havia visto de tão bom à primeira impressão. Assim revejo & revejo qualquer um de Billy Wilder, de Pacto de Sangue a Quanto Mais Quente, Melhor.
Mas o motivo essencial não é nenhum desses: revejo filmes para voltar a viver.
Um filme só é um filme fechado dentro do DVD, do VHS, do que for. Uma vez visto, é sempre mais que isso. É o próprio filme e a circunstância em que foi visto. É a época do ano, o dia, o estado de espírito, a pessoa ao lado, o que aconteceu imediatamente antes e depois. É assim que os filmes se arquivam em mim.
Quando revejo, de plena consciência, quero voltar a sentir a mesma mão dada no escuro; confundir-me, de novo, com a protagonista; revisitar o jantar que o precedeu e o caminho, depois, para casa.
Porque um filme é uma obra coletiva, feito pela equipe que o realizou e pelos sentimentos que desperta em quem a ele assiste.
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c.:

Para John Middleton Murry

3 de outubro de 1922


Paris

...Oh, pretendia sugerir a você que pedisse as Memórias de Yeats para uma resenha. Acho que serão publicadas neste outono. Acredito que você as julgaria muito interessantes. Ele não é uma pessoa "simpática", ao que sei, mas é desses homens que refletem seu tempo. Homens assim têm um fascínio para mim. Para você não?

Queria que vivêssemos mais perto um do outro. Gostaria de falar mais com você. Mas há tempo. Quanto esta selva de circunstâncias clarear um pouco, ficaremos mais livres para desfrutar a companhia um do outro. Agora não é o momento. Fale-me o que puder sobre você. Nem mesmo você pode desejar sua felicidade mais do que eu. Não esqueça que os dragões são apenas guardiães de tesouros e que se luta contra eles pelo que eles guardam - e não por eles mesmos...

Katherine Mansfield
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where do they all come from?

O pato selvagem, quando ferido, afunda no rio e se agarra com o bico nas plantas e no lodo, para não subir mais.
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cinema de poesia


Reconstruo mentalmente o começo e o final de Blow Up, o considerável filme de Antonioni: pessoas existentes reúnem-se para um jogo inexistente: fazem força, deslocam braços e pernas, perseguem uma bola invisível, mas não atingem o escopo. Tudo se dissolve no ar, sem palavras, tudo existe e inexiste. As definições científicas nos informam que estamos situados no tempo e no espaço. Mas isto será verdade, ou uma verdade provisória? Segundo Werner Heisenberg e J. Robert Oppenheimer, existem inúmeras verdades científicas provisórias. Que significa o fato de existir mover-se, respirar, agir? Qual o destino da cultura? Subsistirão, após a provável próxima catástrofe, os textos da Divina Commedia, da Odisséia, de Os Lusíadas, de Hamlet, das Soledades, de Le Fleurs du Mal, de Finnegans Wake, de Corpo de Baile? Subsistirão os templos hindus, o Partenon a "Pietà Rondanini", Les Demoiselles d'Avignon, as partituras de Don Giovanni e da Paixão segundo S. Mateus, as películas de Luzes da Cidade, O Couraçado Potemkin, Blow Up, as ruínas das ruínas, o tempo e o espaço, a memória de Deus e a do homem? Retorna inevitável, a idéia da morte. De novo é mestre Quevedo a me instruir. Na carta que dirigiu a seu amigo italiano Ottavio Branquiforte lê-se: "La muerte tan cerca está del primero cabello como del último." Morte: ampliação gigantesca da fotografia da vida. Blow Up.


Murilo Mendes,
Conversa Portátil: 1931-1974 .
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domingo, 27 de julho de 2008

amanhã recomeço

Mais uma noite perdida para a insônia, a de ontem.
Ou para o medo do escuro, do bicho-papão ou da reeleição de Veneziano, sei lá. O importante é que o sono perdeu. Como já se disse: sono, que é bom, não vinha, mas dúvidas...
O que fazer, além de devorar o doce de mamão-com-coco que mainha fez? Arrumar os DVDs!
Não que sejam muitos, assim uns 2000, mas já dá pra ocupar mais de uma prateleira da estante. Ao trabalho, garota! (e haja creminho anti-olheiras, de manhã).

1. Prateleira Ilka Tibiriçá: Tarde Demais para Esquecer; Suplício de uma Saudade; Casablanca; os três Sissis; Desencanto; Carta de uma Desconhecida...
2. Prateleira Meda: O Bebê de Rosemary; Repulsa ao Sexo; O Exorcista; Os Pássaros; O Silêncio dos Inocentes; O Iluminado...
3. Prateleira Rubens Ewald Filho: Cantando na Chuva; Os Sapatinhos Vermelhos; A Noviça Rebelde; My Fair Lady; Os Guarda- Chuvas do Amor; Amor Sublime Amor...
4. Prateleira Nunca Te Vi, Sempre Te Amei: El Topo; A Dama de Shangai; Piaf - Um Hino ao Amor; Grandes Esperanças (de David Lean)...
5. Prateleira Allonsanfan: Os Incompreendidos; Acossado; o box dos contos de Eric Rohmer; O Signo do Leão; O Fabuloso Destino de Amélie Poulain; 8 Mulheres...
6. Prateleira Italians Do It Better: Noites de Cabiria; Casanova e a Revolução; Noites Brancas; o box de Rossellini; Nós que nos Amávamos Tanto; O Leopardo...

E não é que deu certo? E sono também?!
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sábado, 26 de julho de 2008

prendam suas avós!

Sir Michael Philip Jagger - aka Mick Jagger - faz hoje 65 anos!
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Aqui:

http://www.warholprints.com/portfolio/Mick.Jagger.html
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sexta-feira, 25 de julho de 2008

karate kid







Passeio de turista que se preze tem que ter compra de quinquilharias. E a Liberdade (não o bairro de Campina, cheio de ruas com nomes de Estados, mas o de São Paulo. Sorry, periferia.) é um lugar ótimo pra encontrar tais preciosidades, e em profusão. Procurava inicialmente por aqueles gatinhos brancos do bracinho levantado, que dizem atrair sorte e dinheiro, mas acabei simpatizando mais com umas bolinhas zangadas que havia sempre perto dos tais felinos.
Entre imagens de Pucca e camarões empanados, acabei comprando uma das bolinhas, que veio com a informação de que se chama Daruma-san e serve como um talismã, trazendo para quem o possui paciência de Jó, realização do seu sonho e finalmente sucesso nas atividades profissionais.
É pouco? É não.
Então (como dizem os paulistas)... o tal gordinho vem sem os olhos desenhados, e cego espera que seu dono pinte-lhe os olhos: o primeiro, quando pensa um desejo, o segundo, quando o tal pedido se concretiza. Ou seja, a bola vermelha fica caolha até que se realize a graça prometida.
Olhei hoje para o meu Daruma-san e notei que ele continua cego, coitado, mesmo depois de um mês de casa nova. Repousa no escuro entre livros e uma fofolete amarela, na estante do quarto do computador. Muitas manhãs eu o procuro com o pincel atômico, mas, ao me aproximar, meus pedidos sempre parecem bobos e forçados. Às vezes, também pelas manhãs, quando tenho o prazer de ficar no ócio justo e merecido, encosto na cadeira e fico encarando a triste figura de olhos brancos.
Não quero cair na besteira de desejar pelo ímpeto, como já fiz antes. Hoje, tenho a humildade de saber que não posso de maneira alguma desejar pelo que quero. Até porque sou displicente com meus sentimentos e objetivos. A idéia é pedir uma ajudazinha para que as coisas, da maneira com que elas se destinam ser, se concretizem. Não é questão religiosa ou espiritual, os amuletos são mera armazenagem para a perseverança. Desejar algo é levantar os olhos para o cosmos, e o Daruma-san é a fitinha amarrada na ponta do dedo para nunca esquecermos de uma meta.
Esta manhã acordei para dar ao talismã um olho e um pouco de luz. Algo me veio em um sonho, mas sinceramente não lembro bem. Tenho acordado de supetão, com o coração em ritmo de corrida. Ando sonhando com trabalho e coisas que não valem passar pelo umbral da porta.
Finalmente, encontrei o que pedir a Daruma-san. Precisava mesmo esperar para ver mais claramente, assim como ele e seus novos olhos de hoje.
Ele ganhou uma pupila e, eu, a promessa de coragem.
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quinta-feira, 24 de julho de 2008

prime suspect: the final act

O pai: - Eu estou morrendo, Jane. Eu tenho câncer.
Jane Tennison: - Você contou a ela [a irmã da detetive] também?
O pai: - Não, ela não suportaria; você, sim.
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quarta-feira, 23 de julho de 2008

quem descobre essas coisas?


Valha-me Nossa Senhora!
Parem tudo!
Isso é que é notícia importante: a Princesa Anne, única filha da Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, repete roupas!
E que repetição: em recente casamento real, a princesa, que não é muito conhecida por sua elegância, é bom que se diga, apareceu vestindo o mesmo vestido branco com flores amarelas que usara mais de 25 anos antes, no casamento de seu irmão mais velho, o Príncipe Charles, com a sempre lembrada Lady Di.
Como sua mãe, a princesa Anne é considerada uma pessoa bastante econômica, e já declarara: "Roupas precisam ser práticas. Um bom terno pode durar para sempre. Se é bem feito e tem um corte clássico, você pode usá-lo infinitamente. A economia está em mim. Meus pais acreditam que as coisas não devem ser desperdiçadas. Esta é uma lição duradoura".
O que Diana acharia disto?
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no! no! don't turn the projector off!


Além de todas as lacunas e daqueles gostos meio suspeitos - como preferir Marnie a quase todos os outros filmes de Hitchcock, ou amar aos musicais sobre todos os outros gêneros - há outras vergonhas na minha so-called cinefilia.
Por exemplo: eu não consigo lembrar, nunca-jamais-em-tempo-algum, qual foi a primeira vez que vi um filme no cinema. Digo, não consigo lembrar qual era o filme, talvez porque minha atenção estivesse mais voltada para o ambiente todo, nem tanto para a história que via. Só lembro que estava com meus irmãos, e que estava maravilhada com estar ali, naquele lugar taaaaão grande, olhando para aquela tela taaaaão grande, achando o máximo estar ali de tarde, cercada de taaaanta gente que ria e ria, da alegria que era estar ali. Não me lembro de adultos por perto. Do filme, apenas cenas dispersas de um carro caindo na água, de garotos de jeans aprontando travessuras, de um aviso em p&b antes de começar a exibição propriamente dita: "Censura livre para todas as idades."
Em seguida vêm lembranças mais exatas, de filmes dos Trapalhões (que eu adorava, de alguns até hoje ainda gosto), de E.T. e dos bonequinhos vendidos na porta do cinema, de Karate Kid e de uma paixonite pré-adolescente por Ralph Macchio.
O cinema sempre foi associado a diversão, para mim, mesmo quando parecia ser uma coisa mais séria - por exemplo, quando meu irmão mais velho me levou pra ver Ópera do Malandro, "porque tem música de Chico Buarque" & tal.
Talvez por isso nunca tenha conseguido ser uma cinéfila "de verdade", do tipo "todo filme é objeto de estudo", como quer o senhor retratado na foto do post anterior, Romero Azevedo. Todo filme, todo cinema, pra mim, é objeto de amor, mesmo quando nem gosto muito, porque no cinema, na tela grande, qualquer filme parece melhor do que é.
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sábado, 19 de julho de 2008

hollywood quer dizer azevedo


Imagem encontrada - e logo surrupiada - num dos blogs mais legais:

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(é Romero Azevedo na foto, by the way)
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mera coincidência


Nesse tempo eu ainda me dava bem com o meu pai. Era excepcionalmente caprichoso, isto é, presumivelmente neurótico, mas bom. Para com a minha mãe, (grávida, mas não me lembro disso) encontrava-me no estado de alma que seria o de toda a minha vida, o de um amor desesperado.

Pier Paolo Pasolini.
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quinta-feira, 17 de julho de 2008

ofélias

Eu não estou só no mundo!
Há mais pessoas - digamos... pouco atentas, pra não ofender - que ignoram a existência de homônimos.
Explico: há uns dois anos, se não me engano, estava de folga em casa e acessei a internet, como sempre abrindo na página do UOL. Susto! Uma manchete anunciava: "Ronivon preso por formação de quadrilha". Imaginei logo a cena - Wanderléia, os Golden Boys, Erasmo Carlos, talvez Vanuza, todos algemados e cantando Senhor juiz, pare... Agora!
Fui ler a matéria logo, e logo se esclareceu: Ronivon era na verdade um deputado, e não o cantor Ronnie Von, hoje meio relegado mas há algumas décadas um precursor da psicodelia no Brasil, fã de primeira hora dos Beatles e, pra usar um clichê da época, belo como um príncipe.
Pois bem.
Lembrando essa gafe, já havia usado há alguns dias, em casa, a piada:

- Mainha, inventaram na novela uma doença pra o Natércio, né? É porque o ator tá preso.
- De verdade?
- E a senhora não tá vendo jornal, não? É só do que se fala - Daniel Dantas solto, Daniel Dantas preso...
- Afe, e eu ainda paro pra te ouvir!

Pois bem (2).
Hoje, no mesmo bat-UOL, a manchete: "Ator Daniel Dantas processa jornal que o confundiu com banqueiro."
Os companheiros de leseira foram os jornais Diário do Sul (baiano) e o italiano "La Stampa", que publicaram fotos do ator brasileiro (ótimo, por sinal) identificado como o banqueiro polêmico.
Pode?!
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quarta-feira, 16 de julho de 2008

come what may


Shakespeare criou o mundo em sete dias.

No primeiro dia fez o céu, as montanhas e os abismos da alma.
No segundo dia fez os rios, os mares, os oceanos
E os restantes sentimentos –
Que deu a Hamlet, a Júlio César, a Antônio, a Cleópatra e a Ofélia,
A Otelo e a outros,
Para que fossem seus donos, eles e os seus descendentes,
Pelos séculos dos séculos.
No terceiro dia juntou todos os homens
E ensinou-lhes os sabores:
O sabor da felicidade, do amor, do desespero
O sabor ciúme, da glória e assim por diante,
Até esgotar todos os sabores.

Por esse tempo chegaram também uns indivíduos
Que se tinham atrasado.
O criador afagou-lhes compassivo a cabeça,
E disse que só lhes restava
Tornarem-se críticos literários
E contestarem a sua obra.
O quarto e o quinto dia reservou-os para o riso.
Soltou os palhaços
Para darem cambalhotas,
E deixou os reis, os imperadores
E outros desgraçados divertirem-se.
Ao sexto dia resolveu alguns problemas administrativos:
Forjou uma tempestade,
E ensinou ao rei Lear
O modo de usar uma coroa de palha.
Com os restos da criação do mundo
Fez o Ricardo III.

Ao sétimo dia viu se havia algo mais a fazer.
Os diretores de teatro já tinham coberto a terra de cartazes,
E Shakespeare concluiu que depois de tanto esforço
Também ele merecia assistir ao espectáculo.
Mas antes disso, esfalfado de todo,
Foi morrer um pouco.


Martin Sorescu,
Shakespeare.
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como é verde o meu vale


Foi com a alma lavada e enxaguada que ouvi a notícia: Areia, a cidade mais bonita daqui, a Vila Real do Brejo de Areia ou, no seu nome original, no final do século XVII, Sertão do Bruxaxá, está entre as finalistas ao título de Capital Brasileira da Cultura 2009!
Confesso que nem conhecia o prêmio, e minha superstição me proíbe de comemorar qualquer coisa antes que seja, de preferência, publicada em Diário Oficial, mas fiquei feliz e orgulhosa de ver a cidade citada e reconhecida por sua beleza e importância cultural.
Habitada em seus primórdios pelos índios bruxaxás - daí o seu nome antigo e o do belo hotel local - a cidade pode se orgulhar, por exemplo: do clima serrano maravilhoso; do Teatro Minerva, o primeiro do Estado, construído em 1859 e ainda hoje belíssimo; das casas antigas, preservadas ainda mais depois que Areia foi tombada como Patrimônio Histórico Nacional, pelo seu conjunto Paisagístico, Urbanístico e Cultural, em 2005; da cachaça de seus engenhos...
Vamos torcer!
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http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/14/areia-entre-as-finalistas-do-titulo-de-%E2%80%9Ccapital-cultural-2009%E2%80%9D
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terça-feira, 15 de julho de 2008

o livro do bebê

Num dos ambulatórios do HUAC, tentando me aproximar do menino calado à minha frente, enquanto esperava a mãe (dele, claro) retornar com o exame esquecido na sala de espera.
- Que figura é essa que você tá vendo?
- É de Dragon Ball Z. (e depois, diante da minha cara de total ignorância) É um desenho.
- Ah... e você gosta desse desenho?
- Eu gosto, mas mainha não deixa assistir, não.
- Por quê ?
- Porque não. Ela não gosta, diz que é do inimigo. (e olha bem sério pra mim) A senhora é evangélica?
- Não.
- É católica? (olhando para o escapulário sobre a minha blusa branca)
- Não.
- Ah, então é do mundo, né?
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sábado, 12 de julho de 2008

madame bovary c'est moi


1. Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: "Estou relendo..." e nunca "Estou lendo..."
2. Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los.
3. Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconscientes coletivo e individual.
4. Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira.
5. Toda primeira leitura de um clássico é na realidade uma releitura.
6. Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.
7. Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).
8. Um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discursos críticos sobre si, mas continuamente as repele para longe.
9. Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos connhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.
10. Chama-se de clássico um livro que se configura como equivalente do universo, à semelhança dos antigos talismãs.
11. O "seu" clássico é aquele que não pode ser-lhe indiferente e que serve para definir a você próprio em relação e talvez em contraste com ele.
12. Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia.
13. É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo.
14. É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível.

(...)
Depois deveria reescrevê-lo [este artigo] ainda uma vez para que não se pense que os clássicos devem ser lidos porque "servem" para qualquer coisa. A única razão que se pode apresentar é que ler um clássico é melhor do que não ler os clássicos.

Italo Calvino,
Por que ler os clássicos.

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sonhos de consumo (iv)


A Mattel resolveu homenagear, à sua maneira, um dos melhores filmes de um dos mestres do cinema: Os Pássaros (The Birds, 1963), de Alfred Hitchcock.
É um dos mais mórbidos e "psicanalíticos" do cineasta inglês, e um dos que têm final mais angustiante. Pois bem, é justo esse filme tão leve que será homenageado na forma de uma boneca, a boneca, no caso, porque se trata de uma edição especial da Barbie (como já houve a de Elizabeth Taylor como Cleópatra, a de Olivia Newton-John em Grease).
(batendo o pé e fazendo biquinho) Eu quero essa Barbie, por mais macabra que pareça.
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sexta-feira, 11 de julho de 2008

i could have danced all night

Pra ouvir dançando pela casa:

http://www.youtube.com/watch?v=MBoTRF2aK4s
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nós que nos amávamos tanto


Concordo com o Roberto, comentando sobre os filmes românticos: Um Lugar ao Sol (A Place in the Sun, 1951) é um dos grandes filmes-de-amor sempre, e nem sei por que não o coloquei na lista. Mas é sempre assim, a gente acaba deixando de colocar justo alguns dos mais importantes, afe.
Vi o filme de George Stevens num Corujão da Globo, há milênios, e depois revi em VHS; cheguei a comprar uma reprodução em DVD, há dois anos, mas de qualidade sofrível e cheia de falhas, um horror que nem sei mais onde está. Mas a impressão que tive da primeira vez em que o vi permanece, ainda me emociona e ainda me pego fantasiando sobre as conversas entre Montgomey Clift e Elizabeth Taylor, o casal. Se o filme não tivesse todas as qualidades que tem, já valeria somente por tê-los reunido.
Liz (acho essa intimidade, mas vá lá) e Monty (idem) se conheceram durante as filmagens, ela já uma estrela, ele ainda iniciando a carreira no cinema, cada um com suas tormentas pessoais. Eram apaixonados? Gosto de pensar que sim, mesmo que fosse algo só platônico - Liz colecionava amores masculinos com o mesmo empenho que Monty parecia ter para afastar os femininos - mais pela beleza da imagem dos dois juntos. Mas o certo mesmo é que foram amigos, e dos mais próximos e leais, até o final da vida dele, em 1966, com apenas 46 anos e já bem diferente do jovem, romântico e ambicioso George Eastman.
Um dos momentos mais citados da amizade entre os dois atores é quando Liz praticamente salvou a vida de Clift, acidentado gravemente após seu carro se chocar contra uma árvore, ao sair de uma festa na casa da atriz e seu então marido Michael Wilding, em 12 de Maio de 1956. Liz foi logo avisada e correu para o local, ajudando no salvamento do amigo, com quem filmava na época o mais fraco dos filmes do casal, A Árvore da Vida (The Raintree Country, 1957). Clift não morreu ali, mas saiu da longa recuperação com o rosto bem diferente do que era, devido aos ferimentos, e viciado em analgésicos e álcool. Como se já não bastassem os sifrimentos que ele já tinha.
Sua carreira segue desde então ladeira abaixo, ao contrário da de Liz - sempre a estrela por antonomásia, como a apresenta o A&E Mundo. Ou melhor, a carreira dele como galã, porque vários dos filmes que faria depois estão entre os grandes momentos do cinema americano, como Os Desajustados, de John Huston, ou Julgamento em Nuremberg. Mas seu equilíbrio emocional, que nunca fora dos mais firmes, deterioraria como sua aparência, contribuindo para seu precoce fim como uma das histórias mais melancólicas de Hollywood.
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quarta-feira, 9 de julho de 2008

al di la

Sem pensar muito.
Meus filmes-de-amor favoritos:

. Desencanto, de David Lean
. Casablanca, de Michael Curtiz
. Clamor do Sexo, de Elia Kazan
. Tarde Demais para Esquecer, de Leo McCarey
. A Mulher do Lado, de François Truffaut
. Love Story - Uma História de Amor, de Arthur Hiller
. Harry & Sally - Feitos Um para o Outro, de Herbert Ross
. Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, de Michel Gondry
. Amor à Flor da Pele, de Wang Kar-Wai.
. Os Amantes de Maria, de Andrei Konchalovsky.
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strength in what remains behind


Eu sei que Deanie Loomis não existe
mas entre as mais essa mulher caminha
e a sua evolução segue uma linha
que à imaginação pura resiste

A vida passa e em passar consiste
e embora eu não tenha a que tinha
ao começar há pouco esta minha
evocação de Deanie quem desiste

na flor que dentro em breve há-de murchar?
(e aquele que no auge a não olhar
que saiba que passou e que jamais

lhe será dado a ver o que ela era)
Mas em Deanie prossegue a primavera
e vejo que caminha entre as mais.


Ruy Belo,
Esplendor na relva.
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capas (ii)


Ainda é cedo, amor, mas já se antecipa a efeméride: em 06 de Agosto de 2008 Andy Warhol faria 80 anos( se não tivesse morrido 21 anos antes, claro).
Uma homenagem das mais pertinentes vem de uma de suas crias, a revista Interview (http://www.interviewmagazine.com/ ), criada pelo polêmico artista em 1969, ao lançar um número especial em Junho/Julho, em que propõe uma viagem através das memórias dos que com ele conviveram e, ao mesmo tempo, expõe os mais diversos trabalhos, atitudes e filosofias que se inspiram na sua vida & obra.
E que melhor escolha para representar algo do espírito de Warhol e de suas idéias sobre a validação pública da arte, ou sobre a existência de uma arte constantemente envolvida com o mercado, sem hipocrisias nem preconceitos? Mr. Marc Jacobs, um dos mais brilhantes artistas da tão subestimada (como tal) arte, a moda.
Fotografado por Mikael Jansson, Jacobs mostra na entrevista ironia e inteligência que lembram o artista que dissera, anos antes dele, que "fazer dinheiro é arte, trabalhar é arte e os bons negócios são a melhor arte." De Jacobs: "Se a coisa estiver instalada numa exposição num museu, então já se torna uma espécie de performance conceitual? (...) Quando vamos a uma loja de discos e lá diz ‘alternativa’ para descrever um determinado gênero de música, não será que qualquer música é alternativa a outro tipo de música?"
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escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.

Clarice Lispector.
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terça-feira, 8 de julho de 2008

houston, we have a problem


Tomei banho com cheiro de maracujá e sequei só um pouquinho os cabelos; dane-se se amanhecer amassado, eu gosto do cabelo molhado. Vesti a camiseta que não tem nada. Troquei os lençóis de flor por outros brancos. Desliguei o celular. Botei o elefantinho-sem-nome, o livro de Truffaut e Caju pra dormir na cama, todos no outro travesseiro. Acendi um incensinho e as estrelinhas cor-de-laranja. Creme para o rosto - creme para a região ao redor dos olhos - creme para as mãos - creme para os pés - meias brancas. Tomei um copo de água enoorme, sem muita sede. Desliguei a televisão (acabou a novela). Anotei uns lembretes pra amanhã: comprar Amarula, fazer as unhas, estudar síndrome hemolítico-urêmica, ligar para a Claro pra saber da conta. Agora só falta esquecer que eu estou só e que o escuro às vezes assusta.
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about me

Se um dos clichês dos perfis do Orkut é mesmo verdadeiro, minhas comunidades falam por mim.
Voa lá:

* meu umor vareia
* não fui eu, foi meu eu lírico
* não perdi, só não sei onde está!
* chocólatras
* roedores de unhas
* mafalda
* eu quero ir embora
* todos os cachorros são lindos
* são francisco de assis
* cinéfilos frustrados
* filmes clássicos & eternos
* julio cortázar
* encosto de chacrete
* não sei confortar pessoas
* tenho olheira sim, e daí?
* caetano, o que é vaca profana?
* reproduzo cenas de filmes
* george harrison - brasil
* cinema italiano
* eu vim com duracell!
* quero ser jeanne moreau
* eu sou uma pessoa substituta
* eu prefiro os animais
* fã-clube do peninha
* orides fontela
* eu não sei a cor do meu cabelo
* brian epstein
* viúvas(os) de marlon brando
* eu me sinto a macabéia
* madame bovary c'est moi!
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para ensinamento de outros


Não observastes ainda que o prazer, realmente o único móvel da reunião dos dois sexos, não basta entretanto para formar uma ligação entre eles? E que, se ele é precedido pelo desejo, que aproxima, não é menos seguido pelo desgosto, que repele? É uma lei da natureza que só o amor pode mudar; e amor não se tem quando se quer. Entretanto, é preciso tê-lo sempre, e isso seria realmente muito embaraçoso se não houvéssemos percebido que, felizmente, basta que exista de um lado. Com isso, a dificuldade diminuiu pela metade, e até sem que se perdesse muito. De fato, um goza a felicidade de amar, outro a de agradar, um pouco menos viva na verdade, mas à qual se junta o prazer de enganar, que produz o equilíbrio; e tudo se arranja .

Da marquesa de Merteuil ao Visconde de Valmont,
Carta CXXXI.
As Relações Perigosas,
de Choderlos de Laclos.
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tpm


O que é um ex-namorado?

1. Um pedaço nosso que morreu, mas continua andando por aí.
2. Uma espécie de parente.
3. Uma camiseta que virou pijama.
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domingo, 6 de julho de 2008

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o mundo não dá a ninguém inocência nem garantia.

João Guimarães Rosa
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in the mood for love


Quando criança, Zelda Fitzgerald queria ser uma mulher muito rica e fora do comum.

Sou fascinada por Zelda tanto quanto gosto dos romances e contos de seu marido, F. Scott Fitzgerald. Gosto das histórias ( verdadeiras? fantasias?) como aquela em que ela teria acionado o alarme de incêndio e, ao chegarem os bombeiros perguntando onde estava o incêndio, ela teria apontado o próprio peito: "Aqui!". Ou a de que desejara, para sua única filha, então recém-nascida, que ela fosse "bonita e tola - uma linda tolinha".
Gosto de imaginá-los como Nicole e Dick Diver, porque sempre o meu livro favorito dele é Suave É a Noite. Ou como o jovem casal de Um Diamante do Tamanho do Ritz.
Leio e releio as cartas dos dois, mesmo que nunca leia muito do livro que as reúne; é uma daquelas leituras que me fazem parar e voltar no tempo, volto a ser uma menina brincando de bonecas, imaginando histórias, ou uma adolescente que perdia horas imaginando o que Elizabeth Taylor e Montgomery Clift conversariam.

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"... Olho para os trilhos e vejo você chegando - emergindo da névoa e bruma, suas queridas calças amarrotadas correm com pressa para mim - Sem você, meu querido, queridíssimo, não enxergaria nem ouviria nem sentiria nem pensaria...
Amante, Amante, Querido

Sua esposa "

(trecho de carta de Z. para F. )
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sábado, 5 de julho de 2008

os livros e os dias

Imagine, leitor, um mundo em que ler livros é um crime, possuir livros também. Nesse mundo, os bombeiros foram remanejados de profissão: dedicam-se agora a queimar os livros achados pela polícia na casa de “traficantes”. Com esta ameaça, os amantes dos livros não têm outra saída senão cair na clandestinidade. Refugiam-se nos bosque, guardam com cuidado todo os livros que conseguem obter. Como não têm condições de imprimir novos exemplares, e pensam em como guardar esses livros para o futuro, a única saída é decorá-los. Cada pessoa dedica sua vida à memorização de um livro, para guardá-lo na ponta da língua e transmiti-lo às gerações futuras.
Este é o argumento de um livro de ficção científica de Ray Bradbury, Fahrenheit 451, de 1953, filmado em 1966 por François Truffaut. Ambas as obras servem para nos lembrar que, por mais que tenhamos amor pelo objeto chamado “livro”, o livro é um mero suporte para um “texto”, e que é o texto, ele sim, que constitui a obra literária. O final do filme mostra a neve a cair no bosque onde os homens-livros caminham devagar de um lado para o outro, recitando em voz baixa os textos de Dickens, Tolstoi ou Jane Austen; é uma bela metáfora da imortalidade da alma (o texto) mesmo após a destruição do corpo (o livro).

(trecho de artigo de Bráulio Tavares)
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É mesmo belíssima e cheia de poesia a imagem das pessoas-livros, e me lembro freqüentemente dela, desde que vi o filme de Truffaut, pensando em que livro eu escolheria para decorar, caso acontecesse o mesmo por estas bandas.
Mas prefiro mesmo é nem pensar nisso, de tanto que gosto do livro-objeto. Sempre à mão, os livros são como ovos, objetos perfeitos, que podem ser abraçados, às vezes até beijados, segurados como mãos de amigos, companhia e abrigo em tantas situações.
Talvez por nunca saber muito bem o que fazer com as mãos (que se dirigem perigosamente para a boca em muitas situações, mesmo já tendo deixado - com recaídas breves - o hábito de roer as unhas), me acostumei a ter sempre um livro comigo, mesmo que nem o esteja lendo, mas só para que me acompanhe. Levo sempre para o trabalho aquele que estiver sendo lido, com algumas exceções que podem ser incompreensíveis aos outros; por exemplo, nunca levei os de Truffaut para alguns plantões (para os que dava no Regional, que aquilo não era ambiente nem pra mim, quanto mais pra eles, coitados). Alguns até já viraram campeões de companhia, porque são de vez em quando recrutados para a tarefa: são aqueles que posso abrir em qualquer página, a qualquer momento, que reconhecerei o terreno e me sentirei em casa.
É o que acontece com a Antologia Poética de Carlos Drummond de Andrade, já bem conhecida dos locais em que vou muito (Onildo, o Iguatemi), ou com Histórias de Cronópios e de Famas, o maravilhoso livro de Julio Cortázar que me encanta sempre. De alguns livros eu tenho mais de um exemplar, para o caso de perder, de querer dar um deles a alguém, ou só por ter visto uma edição diferente e querer ter todos dele.
E, como já disse Dr. Ponce, eles podem sempre servir para rascunho, pelas margens, ou até como encostos de porta...
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ceci n'est pas une pipe


Eu nunca fui uma pessoa muito comunicativa, daquelas que fazem logo amizade com todo mundo, saem chamando qualquer pessoa de querida! e vivem dando abracinhos. Aliás, tenho é muita dificuldade com contato, toque, mesmo hoje sendo bem menos retraída do que antes.
Conversar com pessoas que não conhecia, então?! Eu, hein, nem pensar! Como num conto de Woody Allen, eu poderia ficar perdida numa cidade estranha durante anos, apenas por vergonha de perguntar onde estava.
Por isso não entendo quando alguém reclama quando fico muito tempo na internet, e olha que já fui bem mais assídua. A comunicação à distância foi salvadora até, em um momento difícil, e ainda hoje, num momento mais tranqüilo, tem sido grande companheira; o passo rumo ao encontro, como os dedos que se tocam de leve no afresco de Michelângelo. Com internet, Orkut & coisa & tal passei a gostar justo do que não fazia nunca: conversar com quem não me conhecia, iniciar relações em que as prioridades fossem invertidas - em vez de se escolher a imagem para depois conhecer o texto, haveria o interesse pelo texto para, só depois, conhecer a imagem. Que nem importa tanto afinal, porque o melhor é poder não ter imagem definida, ou poder ter qualquer uma.
E ter sempre a mesma imagem definida, corresponder sempre à imagem que têm da gente pode ser assustador, paralisante mesmo. Outro dia fui encontrada no Orkut por um colega do colégio que me perguntou se eu era aquela Alana do Alfredo Dantas, com quem ele havia estudado.
Um instante, maestro! Somando anos de Universidade, quilos perdidos e quilos ganhos, multiplicando olheiras, subtraindo noites de sono perdidas para plantões ou para dúvidas, novesfora nada...Ainda sou calada, minha letra ainda é muito pequena, ainda sou besta pra rir, ainda gosto de ovinhos de amendoim colorido. Com base nessas evidências, concordo: sou eu, sim.
Pode até haver um ou outro protesto, mas eu nem ligo. Quem decide o texto aqui sou eu. O resto é imagem.
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sexta-feira, 4 de julho de 2008

capas (i)


Houve um tempo em que eu achava Claudia Schiffer o exemplo máximo de beleza, a perfeição.
Nessa época, começo dos anos '90, comecei a me interessar por moda e a comprar as revistas que encontrava, o que se resumia a Elles e Vogues brasileiras, raramente alguma Vogue americana que por acaso se perdesse pela Praça da Bandeira e encalhasse na banca de Orlando; além de ler e reler as revistas antigas de uma tia, para desespero de minha mãe, que começava a ver a casa cada vez mais entulhada de papel.
Mas foi num jornal, e não numa revista, que vi pela primeira vez uma das modelos que mais me impressionaram, e me impressionam ainda hoje: eu vi Linda Evangelista na Folha de São Paulo, e desde então a beleza mudou totalmente para mim. Não mais Claudia Schiffer e seu rosto de boneca, viva a beleza moderna, cubista, mutante da modelo canadense!
Já é clichê falar das transformações dela, ou da sua arrogância (foi ela que disse não levantar da cama por menos de dez mil dólares), ou da longevidade. Hoje, já aos 40 anos, idade impensável para uma modelo, Linda Evangelista sobreviveu aos altos & baixos da carreira, aos escândalos, às novas belezas, e ainda é capaz de aparecer belíssima, glamourosa, a imagem de beleza e elegância, como na edição de junho da Vogue italiana, fotografada por um dos seus fotógrafos favotitos, Steven Meisel.
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Aqui:


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