sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ARQUITETURA HOSPITALAR, por Mariana Andrade.

  • As práticas médicas: breve histórico.

No período que se estende da Antigüidade à Idade Média, a assistência aos enfermos era prestada em caráter oficial por sacerdotes das ordens religiosas ou por leigos que praticavam uma espécie de medicina popular, que tinha por locus o mercado, os arredores dos templos ou qualquer outro lugar onde a multidão se reunia para assistir ao espetáculo da extração de um dente ou da amputação de um membro gangrenado. A medicina oficial, por sua vez, se desenvolvia no interior dos mosteiros ou em anexos construídos com esta finalidade, sempre como atividade secundária às obrigações de caráter religioso e assistencial, que constituíam o objetivo principal das ordens religiosas.
Somente em 1780 é que a noção de que o hospital pode e deve ser um instrumento destinado a curar aparece claramente atrelada, com o surgimento de uma nova prática: a visita e a observação sistemática e comparada dos hospitais.
Até então, a medicina não constituía uma prática hospitalar. Em 1680, a visita médica ao Hôtel-Dieu (ver figura abaixo), o maior hospital de Paris, era feita apenas uma vez por dia, freqüência que só iria se intensificar no século seguinte.

A partir de 1775, passam a ser feitas pesquisas sistemáticas em hospitais europeus, pelo inglês John Howard, que também pesquisaria prisões e lazaretos, e pelo francês Tenon, convidado pela Academia de Ciências a estabelecer um novo programa hospitalar para o Hôtel-Dieu de Paris, parcialmente destruído por um incêndio (Foucault, 1979: 99).
Através desses estudos foram reveladas as precariedades das unidades hospitalares pesquisadas e, pela primeira vez, chamaram a atenção para a relação existente entre o espaço hospitalar e as elevadas taxas de mortalidade dos pacientes.
Assim, estas taxas são pela primeira vez relacionadas à questões espaciais, apontando-se como causas possíveis de contaminação a proximidade entre determinadas áreas funcionais, tais como enfermarias de feridos e de parturientes, e a ocorrência de fluxos de materiais contaminados, como roupas, lençóis e panos utilizados como bandagens.
Os grandes hospitais com milhares de leitos, nos quais portadores de doenças contagiosas, feridos e mulheres grávidas ocupavam enfermarias contíguas, são condenados, suscitando novas propostas, entre as quais a separação dos pacientes segundo suas patologias e a construção de hospitais com menor número de leitos, ou ainda dedicados ao tratamento de um único tipo de enfermidade.
Em resposta a isso surgem, no século XIX, os hospitais especializados. Em Londres, por exemplo, a partir de 1800, são criados hospitais especializados em Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Doenças do Tórax, Câncer e Ortopedia.

  • Os primeiros hospitais: breve relato histórico, evolução física dos edifícios.

Segundo MACEACHERN, na Grécia antiga, graças a médicos como Hipócrates, foi possível fornecer uma base racional e científica a medicina. No entanto, a racionalidade grega conviveu com o misticismo e a superstição. Tinha se uma grande atenção ao conforto dos pacientes, onde os templos eram localizados juntos a fontes de águas térmicas, proporcionando aos usuários belas paisagens externas. A doença era entendida de forma holística, devendo, portanto o tratamento ser prestado ao corpo e a mente.
No império romano, foram criadas as Valetudinárias que eram enfermarias militares visando o tratamento dos soldados doentes, e se situavam dentro das fortificações romanas. Através dessa tipologia, tinham-se adequadas condições de iluminação e ventilação naturais dos espaços internos, uma vez que as Valetudinárias eram constituídas de elementos articulados em torno de um pátio central que assegurava para todos os quartos o contato com o exterior. Além disso, esses espaços eram dispostos em ambos os lados de um corredor central de distribuição, cuja cobertura permitia ventilação permanente.
Durante a idade média a imagem dos hospitais era usualmente associada com a morte. O objetivo era o confinamento das pessoas doentes, visando mais a proteção dos que estavam fora dos hospitais. Por esse fato, que nesse período não se tinham preocupação com o conforto e o bem-estar dos pacientes.
Os hospitais repetiam as estruturas góticas das catedrais através de largas paredes assemelhando-se às fortificações e as prisões possuiam enfermarias insalubres onde a iluminação era natural ou por archotes. Como a circulação de ar era considerada contaminante e veiculador de miasmas as janelas eram projetadas com pequenas dimensões, deixando o ambiente escuro e amedontrador.
            A situação de insalubridade dos hospitais medievais é exemplificada pelo Hotel Dieu de Paris (ver figura abaixo), embora existissem outros estabelecimentos com situações mais críticas. 
            No período gótico e no renascentista, os edifícios eram determinados pelas técnicas construtivas disponíveis. No período gótico, o que predominava eram as estruturas das catedrais, que acabaram sendo utilizadas também nas tipologias dos hospitais. As janelas, altas e estreitas, proporcionavam baixos níveis de iluminação e elevados contrastes no ambiente interno, pois se eram pequenas em relação à grande dimensão do espaço e às espessuras das paredes.

  • Edifícios modernos: Princípios da arquitetura bioclimática, princípios da arquitetura moderna.


A radiação solar: é fonte de calor e de luz. Pode ser interceptada antes de incidir nas superfícies verticais, pois a radiação que entra pelas aberturas é absorvida pelas superfícies internas, aumentando a temperatura do ar interior. As aberturas devem ser protejidas, a fim de dificultar a ntrada do sol, e o edifício deve ser posicionado de modo a obter as mínimas cargas térmicas, integrando-se com os fenômenos visuais.
A iluminação natural: seu uso é fundamental tanto para a manutenção dos níveis de conforto visual e psicológico do usuário como para o aumento da eficiência energética.
A ventilação: é importante por razões de conforto térmico e de salubridade, ajudando na remoção da umidade e no resfriamento dos ambientes.
A geometria solar: com seu estudo é possível orientar um edifício minimizando a carga térmica nas fachadas das aberturas, e mostrar como rabalhar os elementos do envoltório da edificação.


O concreto armado propiciou uma revolução tecnológica da construção como um todo e, em decorrência, dos elementos construtivos. Com as estruturas de concreto, a janela pode ocupar a extensão da parede de uma borda a outra da fachada. A fachada livre é uma conseqüência das possibilidades estruturais do concreto armado, viabilizando o recuo dos pilares em relação ao plano de fechamento. A parede externa do edifício deve ser capaz de controlar os efeitos do ar da temperatura e do ruído. O plano é uma realização da técnica construtiva moderna e tem merecido um contínuo aperfeiçoamento por causa da incidência solar, principalmente no auge do verão em certas latitudes.

  • Edifícios pós-modernos: princípios da arquitetura pós-moderna.

A arquitetura pós-moderna é um termo genérico para designar uma série de novas propostas arquitetônicas cujo objetivo foi o de estabelecer a crítica à arquitetura moderna, a partir dos anos 1960 até o início dos anos 1990. Seu auge é associado à década de 1980 (e final da década de 1970)
Na década de 1960, surgiu entre muitos arquitetos um sentimento de rejeição do International Style, que tinha retrocedido a fórmulas monótonas e estéreis. Uma das correntes arquitetônicas que reage contra a ortodoxia do racionalismo é a chamada pós-modernista, ligada ao movimento filosófico do mesmo nome. Abrange as tendências neo-historicistas de Ricardo Bofill ou de Óscar Tusquets, os traços extremos do desconstrutivismo de Frank Gehry ou Zaha Hadid, a ironia de Robert Venturi, Helmut John ou Michael Graves. O multifacetado Philip Johnson confirmou sua adesão ao pós-modernismo com o edifício AT&T (1982), de Nova York, um arranha-céu com um frontão quebrado.

  • Edifícios contemporâneos: princípios da arquitetura contemporânea.

           Possuindo conceitos como: flexibilidade; racionalização; contigüidade (expansão e zoneamento); desenvolvimento horizontal e vertical (circulação); flexibilidade estrutural; humanização (conforto ambiental), tecnologia, meio ambiente e assepsia. 

  • Arquitetura hospitalar: conceitos e requisitos básicos. 


        Os requisitos e conceitos básicos podem ser listados e resumidos: expansividade, plano diretor, zoneamento, setorização, flexibilidade, provisoriedade, agrupamento de territórios afins e centralização.

  • Arquitetura hospitalar no Brasil: estudo de casos.

           Hospital Sarah Kubitschek é o nome pelo qual são conhecidas várias unidades hospitalares brasileiras, destinadas ao atendimento de vítimas de politraumatismos e problemas locomotores, objetivando sua reabilitação; é mantido pelo Governo Federal, embora sua gestão faça-se pela Associação das Pioneiras Sociais. O nome é em homenagem à Sarah Kubitschek, primeira dama do país na época da fundação de Brasília.
A rede Sarah é vista como modelo de hospital contemporâneo possuindo conceitos como: flexibilidade; racionalização; contigüidade (expansão e zoneamento); desenvolvimento horizontal e vertical (circulação); flexibilidade estrutural; humanização (conforto ambiental), tecnologia, meio ambiente e assepsia. 
Sarah Fortaleza

  • A humanização dos edifícios hospitalares: importância na atualidade. 

A medicina abordava a doença e a saúde apenas a partir do corpo biológico individual, sendo os aspectos sociais, econômicos, culturais e psicológicos desconsiderados. Críticas vindas da antropologia e da sociologia vão inserir a doença em um novo contexto, relacionando-a a outros fatores que não só o fisiológico. Sobre influência destas, se expressa o movimento sanitário organizado em diversos países, que tem como objetivo principal o direito universal a saúde. No Brasil esse movimento tem seu ápice na 8º Conferência de Saúde em 1986. Hoje gozar de saúde significa não padecer de enfermidade, estar em harmonia consigo mesmo e com o meio. Através do conceito de saúde percebemos que o “estar saudável” também passa por repensar a arquitetura hospitalar de forma a garantir um ambiente que, além de proporcionar a cura pelo tratamento, possibilite aos pacientes espaços de descanso e descontração, auxiliando assim no seu tratamento.


  • Considerações finais

                Com o crescente aumento populacional não somente o ser humano sofre, mas também o seu entorno e seu habitat, com essa baixa na qualidade de vida o fundamental é propor a construção de um edifício hospitalar que dê muita atenção não apenas aos aspectos técnicos, mas também aos aspectos humanos. Deve-se compreender que o isolamento do paciente do espaço exterior proporciona-lhe uma maior angústia em relação ao seu estado de enfermidade. Além disso, o hospital, por ser uma construção com grande especificidade técnica, com fluxos diferenciados, frequentemente gera grande confusão ao usuário.
            Considerando as variáveis de conforto, o projetista possui atualmente elementos para conceber uma arquitetura de alto valor estético integrada ao ambiente. A arquitetura possui uma grande influência e importância na humanização hospitalar, melhorando as condições dos usuários desses espaços e aparecendo como uma grande evolução para qualquer tratamento.
  • Referências

COSTI, M. - A influência da luz e da cor em salas de espera e corredores hospitalares, Editora EDIPUCRS, 1ª edição, Porto Alegre, 2002, 250 p.
FOUCAULT, M. - Microfísica do Poder, Editora Graal, Rio de janeiro, 1989.
MACEACHERN, Malcolm T. (1951), Hospital organization and management. Chicago:Physicians Record.
http://pt.wikipedia.org
http://dgp.cnpq.br




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