logoarquiforma.jpg
Arquiforma: A casa Farnsworth




O espaço é o vazio, e a arquitectura é o eco do espaço visível na forma e dimensão. A arquitectura é a premissa da pureza restritiva do nada numa realidade criativa dos sonhos.


A casa Farnsworth

...

- Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) é unanimemente considerado um dos mais importantes arquitectos do século XX, tendo sido um dos principais mentores do modernismo. Nascido na Alemanha, em 27 de Março de 1886, viria a desenhar em 1927 um dos seus mais famosos edifícios: o pavilhão alemão para a exposição internacional de Barcelona.
Acabaria por emigrar para os Estados Unidos, em 1937, e foi aí que se tornou verdadeiramente famoso.
Em 1946 a física Edith Farnsworth encomenda a Mies van der Rohe uma casa de fim de semana que fosse "arquitectura séria". Pouco tempo depois Mies apresenta-lhe os primeiros esboços daquele que viria a tornar-se um polémico ícone do modernismo. A casa foi desenhada segundo um conceito que começara a ser desenvolvido num projecto que nunca sería construído, chamado Resor House. A casa Farnsworth foi o culminar deste tipo de experiência no desenho de casas.Além da imensa paixão que transpira da joia de vidro e aço que é esta casa, há uma história de amor e ódio entrelaçada com a sua criação, que não resisto a contar.
Os planos da casa que Mies apresentou a Edith Farnsworth revelavam o resultado prático do lema do arquitecto: "Less is More". A casa, que aínda é possível ver actualmente, consiste em duas placas de betão, suportadas por oito vigas de aço. Todo o chão está suspenso destas vigas, como se a casa flutuasse sobre o solo que ocupa. A cobertura é uma placa igual à do chão, absolutamente paralela àquela. Todas as paredes são de vidro e não há divisões internas, à excepção de uma estrutura que suporta a área da cozinha, espaço de arrumação e uma casa de banho. O acesso faz-se por um elegante conjunto de degraus que leva ao pequeno terraço da entrada, também coberto.
A doutora Farnsworth aprovou os planos, mas parece que se apaixonou tanto pela obra quanto pelo autor. Foram precisos quatro anos de trabalho para executar um plano que parecia tão simples. Consta que durante esse periodo a sua relação se aprofundou. Os seus encontros eram frequentes e longos, muitas vezes na própria obra. A perfeição com que o projecto foi sendo executado é seguramente fruto de uma profunda paixão, resta saber se artistica, se amorosa.
Quando tudo ficou concluído, Mies deu a Edith as chaves da sua nova casa e a conta do projecto. Consta que se tornou indisponível. Seria para arrefecer o romance ou por se sentir constrangido pelo elevadíssimo valor da factura: 73.000 dólares, o equivalente actual a cerca de 100.000 contos?

Edith Farnsworth processou o arquitecto pelo elevado preço, mas o facto de ter acompanhado tão intensamente a construção pesou contra si e perdeu o processo.
Depois escreveu vários artigos contra a casa e contra Mies. Dizia que viver naquela casa não era bem o mesmo que contemplar os seus planos, que as contas de aquecimento eram exageradas, etc, etc. Irritada com o arquitecto (ou talvez despeitada) disse a quem a quis ouvir, que: "Less is not more. It is simply less!" Parece que a casa tinha de facto uns bugs, apesar de ter uma construção tão perfeitamente executada, mas é uma obra que transpira a paixão que lhe deu origem e serviu de exemplo para muitas coisas formidáveis que foram construídas posteriormente, até à actualidade, por muitos arquitectos em todo o mundo.
Quem leia o Arrumário há algum tempo, poderá perguntar-se como é que um defensor convicto da construção bioclimática se sente tão atraído por esta casa. É verdade que lhe faltam alguns aspectos fundamentais: paredes com massa térmica, eventualmente paredes trombe, vãos mais reduzidos a Norte, sombreamento das janelas, etc. No entanto há alguns aspectos que são verdadeiramente fascinantes: a ligação visual com o exterior, o facto de a casa estar descolada do solo, a simplicidade das linhas e a continuidade do interior, sem divisões.

Maritz Vandenburg escreveu a propósito da Farnsworth house:

"Every physical element has been distilled to its irreducible essence. The interior is unprecedentedly transparent to the surrounding site, and also unprecedentedly uncluttered in itself. All of the paraphernalia of traditional living –rooms, walls, doors, interior trim, loose furniture, pictures on walls, even personal possessions – have been virtually abolished in a puritanical vision of simplified, transcendental existence.
Mies had finally achieved a goal towards which he had been feeling his way for three decades."
Por mais que tentasse traduzir, iria sempre corromper o seu sentido.

Para mais informações, visitem os sites no menu úteis:



Powered by Blogger & António Moreira

Licença Creative Commons
Este trabalho foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-SemDerivados-NãoComercial 1.0 Genérica.