Ana Mari's world!

Leia livre de preconceitos, intensões e expectativas.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Cada homem é arquiteto de sua própria sorte

Preciso andar...

O dia parecia ter ‘situado-se’ nele mesmo, as cores se faziam claras junto com as reflexões e conclusões... Eu ainda de luto por mim mesma (de quando em vez o faço, acho necessário), com o semblante baixo, confesso que já dava umas ‘pescadelas’ enquanto lia pela sexta vez as aflições e dúvidas de Lóri quanto à Ulisses, o telefone tocou ... Sim o telefone, sempre ele, esse negócio das comunicações é uma loucura... Atendi, era um chamado “VENHA”, eu confirmei minha presença ao receptor com ênfase e cheia de certeza no falar, mas confesso que o corpo estava mole completamente oposto ao meu falar... Pensei se ia, daí me enrolava com Clarice e Lóri...
“(...) Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenho sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempos dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos se ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temos-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.(...)”
Queria me resguardar, eu não parei desde que entrei de luto... Que luto mais furado esse meu. Mais uma vez eu indo contra as vertentes que eu impunha à mim mesma, talvez por isso a não seria e a falta de obrigação o fizesse mais leve e ameno, digno de não ser levado a diante, a falta da falta, o fundamento inexistente, sai do luto.
Vestido preto, perfume, sapatos, bolsa e sai...
Ó do Borogodó, de domingo é um clássico (pelo menos pra mim), daí no caminho pensava que podia ser a última vez do ano que eu iria a tal lugar com tais pessoas, um encontro de fim de ano, assim de repente, sem combinar... A recepção calorosa ajudou elevar o ânimo, papo sobre o reveillon (olha ele aparecendo de novo na minha vida), sobre músicas, adendos sobre as aflições com a Cris, dissertações sobre filmes e músicas com Ferrero e Rafael, direito penal com outro e exaltações sobre “A Loca” com Tiago para fechar o ciclo, que foi regado a uma comilança maravilha num boteco da Cônego...
Fiz bem, não digo que fora algo demasiado efusivo, mas feliz na medida, nem mais nem menos, apenas bom.

♫ Conversa de Botequim – Noel Rosa


Olhos de ressaca, de cigana oblíqua e dissimulada

Deu-se o start às 17h... Queria ver Lili, queria partilhar, queria estar junto, mesmo que em silêncio por mais difícil que fosse consegui-lo naquelas circunstâncias...
Confessamo-nos uma à outra, procuramos soluções para o que talvez não tivesse de ser solucionado e meios para o fluir de sentimentos que talvez não tivesse fins.
Houve falta de conclusões, me sentia mal e chateada por talvez ter sido um tanto intransigente com minha vida e por isso demasiado incapaz de aconselhar e ser útil como de costume. Deixei-a em sua casa e regressei à minha, embora relutasse a sair sabia que ficar só não traria soluções para as coisas que somente eu poderia resolver e que ficando aqui nada seria resolvido, não faria diferença...
Fui à casa de Lívia, pessoa blaster astral, deu o abraço mais gostoso e afetuoso da noite, sentamos em frente à TV, degustamos alguma cervejas, champagne, cigarros e ficamos acompanhando a saga de Bentinho e sua cisma obsessiva por fatos abstratos, subliminares e nada óbvios quanto à Capitu. Fomos á Sta. Cecília à um local “X” (desconhecido) ver o que a noite tinha para nos dar... Sei que me rendeu o João (meu carro) abarrotado (tinham dez pessoas fora eu) , um tanto quanto rebaixado à caminho da Augusta...
Como vocês sabem, Rua Augusta noturna tem uma vibe diferenciada e bastante eclética... Esse evento me fez refletir o quão bom é sair sozinha... Fomos a todos os lugares e a nenhum... Odeio quando isso acontece, odeio sair com um contingente elevado de pessoas, essa é a verdade... Os outros que me desculpem, mas ontem dos onze apenas quatro me bastavam. Eu era a inércia ambulante, andava porque tinha de andar, quase vagava, ninguém percebia, ninguém sabia, eu queria falar, eu queria dizer, mas não fazia sentido à todos, daí eu ter de ser eu mesma, porém sabotando o meu coração... Sinceramente não sei por que faço isso. Mas na paz, sem ressentimentos. A volta pra casa sempre é boa, ainda mais quando conseguimos conversar com nós mesmos.

♫ Só de Você – Rita Lee

O homem que diz dou, não dá...

E aqui eu já não tenho como vos dizer o que penso e sinto... Ainda estou digerindo e de maneira incerta e abstrata sentindo algo que é indizível...
Queria dizer-lhes de maneira que parecesse um sonho... Imagine algo embaçado como a visão de alguém que sofra de astigmatismo numa balada pouco iluminada com fumaça artificial e luz negra, este é o cenário: “Quando cheguei tudo tudo, tudo estava virado... Apenas viro, me viro, mas eu mesma viro os olhinhos”.
Já falei de borboletas na barriga? Creio que sim, foram as borboletas mais incertas e surpresa que minha barriguinha já desfrutou... Confusa fiquei dando voltas, fechava os olhinhos, por medo e covardia (eu sou uma grandessíssima covarde quando se trata das minhas borboletas) perdi a oportunidade. Não importa de quê nem qual, importa que eu perdi por mérito próprio (eu tenho o dom de me sabotar), acho incrível como eu transcendo as barreiras de auto-sabotação.
Queria poder lhe abraçar somente, quiçá falar se o abraço não fosse bastante, mas eu queria tanto que não consegui...
Confesso que fiquei um tanto decepcionada e frustrada... Mas nada que eu não pudesse superar, talvez nem houvesse o quê se superar se levar em consideração que não houve queda de minha parte, apenas abstenção de atitude na hora certa (pois ela aconteceu bem na minha frente e eu me fiz “charmosa”).
Deparei-me com um processo de reciclagem orgânica, tola e infundada que as palavras que já se confundiam resolveram sumir de vez e fazer-me emudecer e tocar a história, afinal todo mundo que comprou ingresso queria ver o final do espetáculo e eu mais do que ninguém tinha a obrigação de terminar minha atuação na cena sem decepcionar os presentes. Às vezes na coxia eu gritava e sorria, e era uma bagunça por dentro não sabia se estava num palco ou num picadeiro (pois há uma diferença considerável entre os dois). Eu via um palhaço todo atrapalhado que debaixo da lona do circo, procurava meu rosto na intensão de ver se havia “aprovação” de minha pessoa para sua atuação... Só que eu já não sabia mais, às vezes no intervalo de uma apresentação e outra, ele se colocava ao meu lado em silêncio, buscando meu olhar na expectativa de que lhe dissesse algo que pudesse fazer as coisas serem diferentes e melhor para ambos, eu me encontrava sem condições, estava entorpecida demais para dizer-lhe algo sincero. Sei que o show continuou até o sol raiar, no fim o palhaço apareceu com um desenho todo sorridente e borrado como quem faz graça à criança e eu me fiz indiferente, pois realmente já não importava mais, não fazia mais diferença, tinha acabado o que ninguém nunca soube onde foi o começo...
Mesmo com o meu astigmatismo no ápice de sua atuação eu me senti importante. Era a tal “dança da solidão” alegre degradada que eu me pego carente de palavras, um adjetivo qualquer que faça valer o que eu via e sentia.
Recostada aqui na minha cadeira abraço meus conselheiros, alguns já se foram, mas ainda falam aqui na caixinha coisas como: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nessa vida”. Quase o questiono sobre tal certeza, mas aí vem o silêncio: “Eu bato o portão sem fazer alarde, eu levo a carteira de identidade, uma saideira, muita saudade e a leve impressão de que já vou tarde...”.
E por mim mesma me pego a lamuriar e chorar ouvindo Vinícius falar para eu não ir, porque amor só é bom se doer...

♫ Canto de Ossanha – Vinícius de Morais

2 comentários:

Francisco Castro disse...

Olá Ana Mari, gostei muito do seu blog. Os seus post são muito bons. Continue assim.

Parabéns!

Abraços

liviones disse...

Fiquei feliz de contracenar e ser figurante no seu fim de semana e seu blog, porém admito ter ficado um tanto quanto decepcionada com a minha falta de tato para com a sua condição.
As vezes esqueço que todo palhaço tem sua lagrima, talvez porque assim tbm esqueço as minhas.

Amei ter sido agregada naquela noite fria no canil da nheca. Cito agora do filme casablanca " this is the beginning of a great friendship" , traduza e se identifique !
bjus