19 de nov. de 2007

A Cidade como habitat na Escola de Chicago

Os estudos acerca do habitat urbano percebem uma influência fundamental dos estudos sociológicos da chamada escola de Chicago. Por escola de Chicago se entende o conjunto de estudos sociológicos realizados entre 1915 e 1940 por integrantes da Universidade de Chicago.

Um aspecto importante desses estudos foi à inédita introdução, no campo da sociologia, de estudos empíricos, essencialmente descritivos, donde, pela primeira vez na historia dessa ciência se atribuía uma voz ativa ao agente social, agente esse que não era responsável pelos seus atos (análise também inovadora), antes, é influenciada por seu habitat e suas intrínsecas relações ecológicas, o que ficou conhecido por ecologia humana. Como principal contribuição tem-se o desenvolvimento de métodos originais de investigação.

Para Mário Eufrásio – um especialista brasileiro em Escola de Chicago – essa sociologia era uma ciência sistemática voltada para a explicação da realidade social global através de categorias gerais e uma ação prática de coleta de dados por imersão direta na vida das comunidades. Sua principal questão é a assimilação e da crescente leva de imigrantes do início do século XX por parte da sociedade americana.

Robert Ezra Park, Ernest Watson Burgess e Roderick Duncan McKenzie como professores e pesquisadores do Departamento foram os grandes ícones dessa corrente e contribuíram para dar forma às temáticas da ecologia humana, da sociologia e da cultura urbana, das relações raciais e da psicologia social urbana. Claro que dentro do contexto norte-americano, da imigração, industrialização, pobreza e trabalho formal. Vale Lembrar que o surgimento do departamento de sociologia na universidade de Chicago está assentado em um tripé: O financiamento pela Família Rockfeller; A divulgação das pesquisas, com suas inúmeras publicações e a internacionalização do centro de pesquisa.

Um outro aspecto a ser destacado é o extremo determinismo do lugar, oriundo da concepção ecológica da sociedade. É uma lógica espacial que minimiza o papel da mídia como elemento construtor do social. A análise ecológica levava a catalogalização de várias formas de patologia social, incluindo o crime e a delinqüência.

A Abordagem ecológica busca a sistematização dos métodos em pesquisa social partindo das experiências das chamadas 'ciências duras'. Tem como cenário as cidades norte-americanas, as quais são apresentadas como um amplo e complexo mosaico de posições geográficas e grupos étnicos. Cada 'peça' desse mosaico apresenta leis próprias. A Ecologia Humana estuda os comportamentos humanos e os efeitos da posição espaço-temporal sobre os indivíduos. Ressalta, assim, a importância do Habitat para as relações sociais. Existem, portanto, 'leis naturais' que condicionam o desenvolvimento da cidade e determinam sua dinâmica (determinismo). Dentro dessa dinâmica, a expansão territorial se da a partir do modelo de zonas concêntricas.

Em linhas gerais, são dois os grandes objetos privilegiados de estudo, a saber: a imigração e a criminalidade. Dentro da análise dos fenômenos de imigração, são quatro os grandes tipos de interação: competição, conflito, acomodação e assimilação. Dentre esses, a competição é aquele cuja forma é a mais elementar, universal e fundamental. Em seu conjunto, a Escola de Chicago desenvolveu uma visão otimista da imigração, sob a forma do homem marginal, que se torna um híbrido cultural que utiliza com intimidade duas culturas distintas, mas não é plenamente aceito por nenhuma delas e é marginalizado por ambas. A mestiçagem, para os pesquisadores de Chicago, é um enriquecimento.

Sobre a criminalidade vale lembrar que era muito relacionado com a imigração, sobretudo em Chicago. Frederic Thrasher dizia que as gangues ocupam o "cinturão de pobreza", onde o habitat está deteriorado, a população muda sem cessar, tudo está desorganizado, abandonado, assim a gangue seria uma resposta e sua origem seria espontânea. Nasce dos encontros de rua entre adolescentes desocupados que passam a maior parte do tempo perambulando, jogam e bebem juntos, são solidários, ajudam-se. A característica decisiva e que o grupo se desloca e encontra outros grupos hostis que precipitam o conflito.

Trasher expôs a vida cotidiana no interior de uma gangue, muito mais excitante para um rapaz do que a que lhe pode oferecer o ambiente familiar ou social. Se os jovens se tornam membros das gangues, é porque trazem em si uma energia sem uso que nenhum modelo social desejável é capaz de controlar, mas que tem ocasião de se expressar nas gangues de maneira mais livre e espontânea.

Segundo Landesco, do mesmo modo que o bom cidadão, o gânguester é um produto de seu ambiente. O bom cidadão foi criado em uma atmosfera de respeito obediência a lei. O gânguester freqüentou um bairro em que a lei, ao contrario, é infringida constantemente.

Em 1929, estudiosos da EC chegaram a seguinte conclusão: Os bairros mais próximos dos centros comerciais e industriais, onde se concentrava a população de mais baixa renda, tinham as mais altas taxas de criminalidade. Ao contrário, os bairros residenciais da periferia da cidade, mais ricos, tinham taxas muito baixas. O simples fato de morar em certas partes da cidade, constituía um indício ou um prognóstico de delinqüência.

Um comentário:

Raoni disse...

vamos lá: inaguro os comentários fazendo considerações a partir de alguns elementos do próprio texto postado pelo Cadu:

"são quatro os grandes tipos de interação: competição, conflito, acomodação e assimilação. Dentre esses, a competição é aquele cuja forma é a mais elementar, universal e fundamental."
consideração essencial pois fundamenta as relações entre grupos humanos em termos deterministas pelo isolando os fatores ambientais. como forma de estruturação do conhecimento e de compreensão do raciocínio da escola, sugiro uma analogia com as fases que tratam da entrada de imigrantes em uma cidade: invasão, reação, afluência e clímax.
"Em seu conjunto, a Escola de Chicago desenvolveu uma visão otimista da imigração, sob a forma do homem marginal, que se torna um híbrido cultural que utiliza com intimidade duas culturas distintas, mas não é plenamente aceito por nenhuma delas e é marginalizado por ambas. A mestiçagem, para os pesquisadores de Chicago, é um enriquecimento."
"O simples fato de morar em certas partes da cidade, constituía um indício ou um prognóstico de delinqüência."
faz muito sentido, mas não li ou ao menos não fiz anotação com alguma referência direta a isso. foi o cadu quem chegou a essa conclusão ou foi a discussão do grupo?

consultando aqui minhas anotações, vejo como lacunas da escola algumas questões que pertencem a fatores cronológicos não previstos, como a importância que a mídia assumiria como ambiente social e atitudes não imaginadas na intensificação das formas urbanas por eles conhecidas como, por exemplo, os movimentos de revitalização dos centros ou a intenção do não deslocamento espacial por certos grupo periféricos, ambas influenciadas, na minha opinião por fatores culturais muito relacionados à estruturação do discurso midiático de massa como elemento social, o que resignifica a cultura como um fator de valorização espacial pela identificação, apesar das redes digitais.

Burges faz considerações sobre as avenidas radiais, e como elas influenciavam a valorização e o desenvolvimento de diversas regiões da cidade, a questão do fator tempo e deslocamento como variáveis de grande influência da valorização dos territórios, por uma questão imaterial, portanto, não relacionada aos fatores geográficos território em si, mas à relação que este tem com o centro através das vias de trânsito rápido.

bem, o tempo, na física clássica, era a variável incontrolável, o eixo y dos gráficos de sua relação com a distância, a variável determinável, o que nos dava a velocidade.

a partir do momento em que começa-se a pensar na economia do tempo e, portanto, melhorar as vias de acesso, a velocidade passa a ser elemento principal dominando sua relação com a distância, mantendo o tempo ideterminável, mas a exacerbação da velocidade e a via direta acabam por anular a distância, o que derruba o reinado do tempo, e assim chegamos à relatividade e ao hiperespaço. o questionamento a ser feito é similar ao do ovo com a galinha: foi a velocidade que criou a teoria da relatividade e assim fundamentou o espírito moderno já estruturado?

como escolher, analisar e pesar elementos presentes no mundo atual que nos forneçam bases para considerações a serem feitas a respeito das hipervias que possuímos no meio digital hoje?