A montanha mágica

quinta-feira, junho 30, 2011

estava a folhear as páginas do passport notebook muji de um euro e meio e vejo que anotei/cheguei a três pecados
andar distraído
não ficar feliz com a alegria dos mais próximos
fazer mal conscientemente

hoje estava a ler mais uma das crónicas de Magris e

"O pecado original -- explica o grande teólogo jesuíta Karl Rahner, católico rigorosamente ortodoxo -- não é uma malvada tendência hereditária que nos é transmitida desde Adão como as taras dos romances oitocentistas, mas é a objectiva situação do mundo em que nos calhou encontrar-nos, que não é privado de culpa e no qual se insere a nossa acção que, boa ou má, coopera na sua salvação ou perdição, de qualquer modo regulando contas com a negatividade existente no real."



posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, junho 30, 2011

quarta-feira, junho 29, 2011

neste espaço público infantilizado e interesseiro e cruel, que Bolaño descreve muito bem, destaca-se muitas vezes as patacoadas que Mário Soares diz quando decide abrir a boca, desde há alguns anos


ao mesmo tempo que se faz ouvidos de mercador a assuntos que possivelmente nos deveriam inquietar e levar a indagar veja-se e compara-se e fique-se apalermado com o tempo de antena que lhe é dado desde há dois meses a esta parte em particular


as bojardas que o homem tem dito e as que sancionou ao último governo socialista são de uma pessoa se escangalhar à gargalhada caso o assunto não fosse mais sério


do homem que era o certo e ia olhar pelo seu partido primeiro ao gostei que ele perdesse ao é preciso refundar o ps depois de 6 a 7 anos muito maus, de líderes com noventa e tal por cento de unanimidade e com deputados na assembleia da república a levarem gravadores de jornalistas consigo sem a autorização dos mesmos

é assim, prioridades; o medo, José Gil

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, junho 29, 2011

segunda-feira, junho 27, 2011

quando uma nova História de Portugal é editada quem é que se ouve? José Mattoso
a Gulbenkian edita não sei quantos volumes sobre o Património de origem portuguesa no mundo, e quem se convida para ser o seu Director? e quem se ouve? José Mattoso
é reeditado Portugal O Sabor da Terra, e quem se ouve? José Mattoso
edita-se, pela primeira vez uma História da Vida Privada em Portugal, e quem é o seu Director? e quem é que se vai logo ouvir sobre os costumes e assim dos portugueses? José Mattoso
quem se ouve sobre ....?, José Mattoso
e assim sucessivamente, estes foram talvez alguns dos poucos exemplos dos últimos tempos
e outros exemplos com mais tempo mas em diferentes momentos quase sempre referidos, dada a sua importância na e para a historiografia portuguesa mas não só: Identificação de um País, vol. I e II, e aquele que foi uma novidade absoluta Ricos-Homens Infanções e Cavaleiros, quem se refere ou cita? José Mattoso

aliás, em Portugal as pessoas públicas (que lindo) contribuem decisavamente para a manutenção de um espaço público verdadeiramente infantil e interesseiro, fazendo lembrar outras paragens onde uma elite estuda viaja passeia pelo mundo mas depois em casa comportam-se como verdadeiros caciques intolerantes e mostram-se mesmo mantenedores de uma situação que talvez Calimero achasse interessante

José Mattoso diz o que diz, tão importante e de tanta responsabilidade, e tão grave, "O carácter secreto da fraternidade maçónica, em si mesma, também não é incompatível com o ideal cristão, mas a ocultação das pessoas e dos meios de acção favorece a ambição pessoal e a conquista do poder económico e político por meio de processos ilícitos."

a ocultação das pessoas e dos meios de acção favorece a ambição pessoal e a conquista do poder económico e político por meio de processos ilícitos

e o que se diz, comenta ou escreve? nada, José Mattoso de grilo, rien, nada, silêncio longo a querer mandar, lembrar o esquecimento, processos i-l-í-c-i-t-o-s


respeito a escolha do site da pastoral da cultura em não editar e publicar toda a palestra/comunicação de José Mattoso em Fátima no passado dia 17/6, mas não concordo, por diversos motivos;

por isso aqui fica outra vez, depois de mo terem roubado uma vez, o texto todo





“O conceito de fraternidade proposto pelos revolucionários de 89 inspirava-se, de facto, consciente ou inconscientemente, no modelo monástico e religioso da Idade Média Ocidental. A sua origem é, portanto, profundamente cristã. Não apela para a fraternidade de irmãos de sangue mas entre irmãos de crença.

Mas a vida monástica não é, evidentemente, uma solução para a organização da sociedade, mas apenas um sinal, um símbolo que promete transfiguração da fraternidade humana em fraternidade divina.

Todavia, ao contrário do que acontecia na vida monástica e religiosa, e muito menos nas confrarias, seria impensável considerar a fraternidade revolucionária como um ideal que processe a diminuição do indivíduo na comunidade. As regras monásticas criaram práticas tendentes a suprimir a vontade própria e a sacrificá-la ao Bem Comum.

A evolução da cultura ocidental depois da Idade Média, todavia, não foi nesse sentido. Pelo contrário, valorizou cada vez mais a autonomia individual na criação intelectual e artística, no desenvolvimento da personalidade, na responsabilidade pessoal, na iniciativa da acção.

A fraternidade revolucionária é temperada pela liberdade. Concebe a formação e o desenvolvimento da sociedade como resultado da associação harmónica de esforços voluntários individuais.

Aparentemente esta ____ já não espelha de uma maneira tão evidente a origem cristã. Em si mesma, porém, não só não contradiz mas constitui uma forma mais perfeita da realização. Uma vez que Jesus Cristo aceita entre os seus discípulos não só homens mas também mulheres, não só adultos mas também crianças, não só pessoas sãs mas também cegos, estropiados e leprosos, não só judeus vulgares mas também levitas e sacerdotes do templo, não só fariseus e cumpridores da lei também mas também publicanos e soldados romanos, e se entre os seus discípulos havia temperamentos tão diferentes como os de Pedro e de João deve-se concluir: que a imitação de Cristo exige a edificação do Bem Comum, exige a conciliação da edificação do Bem Comum com a realização pessoal.

A realização pessoal implica a liberdade para com todas as leis do mundo. Por isso diz S. Paulo aos Gálatas, que foi para a liberdade que Cristo nos libertou.
Se o ideal monástico medieval não põe em evidência o indivíduo mas a comunidade, é em Jesus Cristo que tem de se procurar a valorização na convivência fraterna, como apoio e estímulo à realização pessoal.

[…]

Contudo, a fraternidade em que falam os liberais pode ter uma inspiração diferente e ao mesmo tempo muito mais precisa. Na mente dos seus ideólogos tinha sem dúvida como modelo oculto a fraternidade maçónica. Para alguns dos seus principais fautores significada a ajuda mútua na prossecução de um modelo de sociedade organizada em função da implantação do progresso universal, como era concebido nesse período.

Este objectivo devia ser alcançado com o concurso e sob a orientação de uma elite esclarecida. A sua eficácia baseava-se na coordenação de esforços de indivíduos escolhidos a dedo, no compromisso da ajuda mútua, tanto para garantir o sucesso pessoal de cada um deles como para suprimir os obstáculos à realização da humanidade por meio do progresso.

Se teoricamente não existe contradição entre fraternidade maçónica e fraternidade cristã, também não se pode negar em muitos casos concretos que o que prevalece é a oposição. Assim acontece nas lojas que continuam o ateísmo e cujos membros se associam para beneficiar da troca de favores pessoais.

O carácter secreto da fraternidade maçónica, em si mesma, também não é incompatível com o ideal cristão, mas a ocultação das pessoas e dos meios de acção favorece a ambição pessoal e a conquista do poder económico e político por meio de processos ilícitos.

A sabedoria cristã não acusa a fraternidade maçónica como tal mas também não pode deixar de apontar os riscos, a perda dos critérios morais quando o objectivo é favorecer um grupo secreto e excluir os seus concorrentes.






termino, outra vez, com A História Não Acabou de Claudio Magris, com um excerto da crónica Átomos, «bits» e crimes: "nesta transformação é o próprio homem que se está a transformar, alterando o seu modo de perceber e desejar as coisas, de raciocinar, de ser. O indivíduo jão não se sente um eu compacto e unitário, com uma consciência que instaura valores e juízos de valor, mas antes um agregado ou uma rede de pulsões e reacções, uma flutuante medusa que não se sabe muito bem onde acaba o seu corpo e começa o mundo, qual é a fronteira entre um seu filamento sensível e uma alga que o aflora fazendo-a reagir. Nietzsche tinha previsto esta mutação do homem; talvez --como conta, com surreal fantasia sul-americana somada a uma amarga ironia iluminista, Juan Octavio Prenz, na sua esplêndida Fábula de Inocencio Honesto, el degollado-- também a nossa cabeça esteja a transformar-se noutra. Torna-se cada vez mais difícil -- mas por isso cada vez mais necessário -- estabelecer limites e valores éticos. Como dizia o Padre Brown, o padre polícia de Chesterton, defendendo a universalidade da moral: «Pense em florestas de diamante com folhas de brilhantes. Pense até que a Lua é uma gigantesca safira. Mas em palnícies de opala, sob abismos de pérolas, há-de encontrar um aviso que dirá: ´Não roubar.`»"

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, junho 27, 2011

domingo, junho 26, 2011





pensei em deixar o local do crime, entrada forçada, invasão de propriedade privada, roubo/apagamento, intacto mas só houve um factor que contou para proceder dessa forma, este:

por já poder usufruir de uma conta que me permite carregar vídeos com mais de dez minutos, o que, segundo a experiência que tenho, só se consegue ao fim de muitos vídeos carregados, não sei agora o número exacto, ou com uma autorização por parte do youtube.

Como justificação chegou. Ok.

Este interregno também me permitiu reflectir sobre o que é, foi e será este meu canal de vídeos do youtube.

A primeira reflexão foi, sobretudo, sobre o acto de gravar, como apontar a máquina fotográfica, para onde? captar o quê? queres o quê? iniciaste o quê? tens noção? fizeste alguma coisa de jeito?

Sabendo que não sei gravar/filmar, o que aprendi nestes três anos de máquina muitas vezes nas mãos? Aprendi alguma coisa? Interroguei-me o suficiente quando fazia/faço vídeos? Hoje faço-o diferente? Estás contente com o que foste criando?

Nestes últimos dias andei algum/muito tempo à volta destas reflexões. E a mais decisiva foi: prossigo ou começo de novo?

Este começar, de vela acesa nas mãos a atravessar o tanque meio de água e num dia com algum vento, de novo é/tornou-se muito aliciante, mas a decisão foi a de poder no endereço já criado poder carregar vídeos com mais de 10 minutos de duração.

Valeu o pragmatismo? Apenas aparentemente.

posted by Luís Miguel Dias domingo, junho 26, 2011

sábado, junho 25, 2011

, como foi que conseguiu ficar coberto de veludo e prata?


três exemplos, dois dos quais muito comerciais:

- supermercados:

1. pingo doce, o tal em que a subida do iva não entrava: precisava de meia dúzia de batatas (literalmente) e só queria comprar essa quantidade, pois conseguiria sempre mais barato noutro lado; meti meia dúzia num saco, e mais as compras que fiz nesse dia: peixe e uma caixa de minis superbock (a metade do preço das da sagres): portanto: peixe, minis superbock, batatas.

Total= 11,58 euros (25 minis=5,99euros + dois peixes=4,48euros + meia dúzia de batatas 1,120 a 0.99=1,11 euros)

tendo em conta que um kg de batatas se compra por entre 30 a 45 cêntimos, quanto é que o pingo doce lucrou com a minha distraída compra?

andei uma semana a ter lampejos desta soma e hoje decidi verbalizá-la e eis que, senão quando

outra compra:

2. jumbo, o tal do cliente habituado a descontos: 1kg de batatas=1,19euros; 3kgs=3,57

será o euro forte de mais para nós, ou serão alguns de nós a querer ser muito mais fortes muito mais ricos e muito menos distribuidores de riqueza?

é certo que deste último já trouxe umberto eco`s e pynchon`s por 1,5 euros, mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, sem compaixão nem comparação; a batata está/é cara mas é sempre uma escolha, mesmo por este tempo adentro




excerto de Jean Genet, «Ela», livrinhos do teatro, 2011

posted by Luís Miguel Dias sábado, junho 25, 2011

sexta-feira, junho 24, 2011

começando por outro exemplo pop: filme Somewhere, o último de Sofia Coppola, que se centra no indivíduo/individual dentro de, ao contrário de em Buñuel, O charme discreto da burguesia, que parte do grupo para o indivíduo/individual;

acerca do que disse José Mattoso

"O carácter secreto da fraternidade maçónica, em si mesma, também não é incompatível com o ideal cristão, mas a ocultação das pessoas e dos meios de acção favorece a ambição pessoal e a conquista do poder económico e político por meio de processos ilícitos."

não posso deixar de dizer que o segundo pensamento que me assolou, o primeiro foi Bravo! Bravo!, foi ainda assim o de só agora? porquê?

por meio de processos ilícitos , e ninguém diz nada? não foi uma pessoa qualquer, foi o homem e o mestre José Mattoso, fica-se assim, calados? sempre e sempre a discutir o padrão dos vestidos?

já vinha reflectindo nisto há algum tempo, acerca da redenção, acerca da responsabilidade, acerca da fama, acerca da eternidade, acerca de ter entre 20 e quarenta anos, acerca de se ter entre quarenta e setenta anos;

não posso deixar de acrescentar a reflexão de Kubrick, Eyes Wide Shut;

Claudio Magris, no título mais recentemente publicado em português, A História Não Acabou, a quem voltaremos, diz na crónica intitulada Thomas More, padroeiro dos políticos e mártir contra vontade "indicar Thomas More como padroeiro dos políticos significa recordar a estes últimos que --como repetia com insistência Alberto Cavallari, citando Camus-- quando para sobreviver é preciso negar a consciência, tem de se escolher esta última e não a sobrevivência".

parei, levantei os olhos das letras e li esta frase mais meia dúzia de vezes, talvez uma dúzia: 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12. Thomas More? e a apologia de Sócrates? e Jesus?

e continuei desconfiado

e depois à frente, deixei cair a interrogação: "disposto a pactuar até certo ponto com muitos aspectos da política do rei Henrique VIII de quem, no entanto, era adversário, recusou com intransigência reconhecer no soberano, como este pretendia, o chefe da hierarquia eclesiástica. Encarcerado na Torre de Londres, manteve inflexível esta sua posição, indo ao encontro da morte com tranquila firmeza, preocupando-se até ao último momento com os familiares e os amigos, e recomendando às filhas que se ocupassem amorosamente dos servidores.
Teria ficado feliz se não morresse, se não representasse este papel heróico, porque não amava o heroísmo, mas sim a frágil vida terrena e as suas efémeras alegrias embebidas de asignificado à luz do eterno. Numa esplêndida oração escrita por ele, pedian ao Senhor o bom humor, necessário para manter a saúde do corpo, uma boa digestão e «também alguma coisa para digerir»; pedia que lhe fosse concedido «o sentido do humorismo», a capacidade de coimpreender as piadas e «de não permitir queeu me aflija excessivamente com aquela coisa demasiado insistente que se chama ´eu`». À amadíssima filha Margaret, que o exortava a ceder, respondeu que ficaria felicíssimo por poder fazê-lo, porque não era decerto inclinado para sacrifícios moralistas mas antes gozar a existência mas que, para desgosto seu, não podia mesmo ceder.
Dizia-o com a tristeza de alguém que, contra vontade se vê obrigado a declinar um agradável convite para cear. É esta a sua lição de santidade: o forte sentir de um homem que --contrariamente aos exaltados que precisam sempre de acontecimentos brilhantes para sesentirem vivos --desejaria que nunca acontecesse nada de extraordinário, que a vida decorresse na sua sedutora normalidade quotidiana sem nunca ser colocado na necessidade de se comportar como um herói, mas que também sabe que a vida só é plenamente gozável se iluminada por um significado superior que, em desgraçadas circunstâncias, pode exigir o seu sacrifício para nãp perder o sentido e, portanto, para não a perder."

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, junho 24, 2011

quarta-feira, junho 22, 2011

ontem foi um dia estranho mas de imenso regozijo

enquanto almoçava, entre as 12h30 e as 14h30m, deixei um dos vídeos gravados na passada sexta feira na capela do rato a carregar, com a ligação que tenho à net demora um bocado de tempo de forma que

quando voltei ao computador e me preparava para acrescentar informações ao vídeo acabado de carregar reparei que algo estava mal, muito mal, não queria acreditar no que estava a ver

a minha conta tinha sido invadida, violada, roubada; dei uma gargalhada seca

a maior parte dos vídeos que tinha no canal:youtube/amontanhamagica desapareceram, foram apagados, roubados

deixaram-me os primeiros 25 vídeos, num total de 115; criado no dia 21 de Jul de 2008, e até ontem com 9204 visualizações, e com 1616 visualizações do canal

não me lembro de alguma vez ter publicitado o canal a não ser aqui no blog, agradeço às pessoas que me deixam gravar; quando vi no dia 6/4/2010 que a consagrada e famosa revista inglesa NME publicou nas suas páginas online dois dos vídeos do canal foi uma sensação muito boa; como tem sido inacreditavelmente inesperado e bom gravar Rui Chafes, José Tolentino Mendonça, Maria Helena da Rocha Pereira, Ilda David, José Mattoso, José Gil, Jorge Silva Melo, Eduardo Lourenço, Luís Miguel Cintra, Adília Lopes, Llansol, Manuel António Pina, Dostoiévski, Caravaggio, o Papa, Bonnie Prince Billy, Lourdes Castro, Paulo Pires do Vale, Nikias Skapinakis, Fernando Lemos, Conan Doyle, Abbas Kiarostami, Laurie Anderson, Lou Reed, Leonard Cohen, uma reportagem televisiva sobre o monte athos, ténis, uma manifestação contra Kadhafi, pássaros, aviões, árvores, ruas, pessoas, movimento, o vento, a lua, o sol, o fogo, a água, obras de arte, um passeio por entre cerejeiras, campo de milho, livros, terra...; podem dizer que não vale nada, respeito

não pertenço a grupo nenhum, nem capela nenhuma, nem corporação nenhuma, sinto-me muito livre sempre livre e não saberia ser de outra forma

mesmo e ainda assim... é a vida

vou ver se ao longo dos próximos dias, meses conseguirei repor o que foi roubado

já contactei o youtube

nenhum dos vídeos do canal foi removido pelo autor, como agora aparece nos diferentes vídeos, nenhum

a responsabilidade é dos ladrões que por cá andaram; ganhem vergonha, filhos da puta

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, junho 22, 2011

terça-feira, junho 21, 2011

começar por um exemplo pop: no Kill Bill de Tarantino a noiva retira-se para junto de um mestre, retira-se para aprender mais profundamente uma arte, arte que irá mais tarde salvar-lhe a vida, e ajudar o realizador, a não precisar de dizer mais sobre como é que a conseguiu desenterrar. desenterrar.

nos últimos dias muita gente discutiu e disse o que lhe ia na cabeça sobre o estado da política portuguesa, e discutiram espantosamente mesmo muito mostrando muito sangue na guelra para assuntos que enfim não valiam mais do que duas frases, minha opinião. mas como há câmaras de tv para entreter, lá está, multiplique-se e assim.

mais parece/parecia uma crítica ou um elogio ao padrão dos vestidos, e tudo numa gravitas aos gritos... não podemos mesmo ser, colectivamente, outra coisa.

aquilo que se calhar, só se calhar, valia mais a pena discutir disse-o José Mattoso na passada sexta-feira, numa comunicação sobre Fraternidade, em Fátima. Fica aqui um excerto:

“O conceito de fraternidade proposto pelos revolucionários de 1789 inspirava-se, de facto, consciente ou inconscientemente, no modelo monástico e religioso da Idade Média Ocidental. A sua origem é, portanto, profundamente cristã. Não apela para a fraternidade de irmãos de sangue mas entre irmãos de crença.

Mas a vida monástica não é, evidentemente, uma solução para a organização da sociedade, mas apenas um sinal, um símbolo que promete transfiguração da fraternidade humana em fraternidade divina.

Todavia, ao contrário do que acontecia na vida monástica e religiosa, e muito menos nas confrarias, seria impensável considerar a fraternidade revolucionária como um ideal que processe a diminuição do indivíduo na comunidade. As regras monásticas criaram práticas tendentes a suprimir a vontade própria e a sacrificá-la ao Bem Comum.

A evolução da cultura ocidental depois da Idade Média, todavia, não foi nesse sentido. Pelo contrário, valorizou cada vez mais a autonomia individual na criação intelectual e artística, no desenvolvimento da personalidade, na responsabilidade pessoal, na iniciativa da acção.

A fraternidade revolucionária é temperada pela liberdade. Concebe a formação e o desenvolvimento da sociedade como resultado da associação harmónica de esforços voluntários individuais.

Aparentemente esta ____ já não espelha de uma maneira tão evidente a origem cristã. Em si mesma, porém, não só não contradiz mas constitui uma forma mais perfeita da realização.

Uma vez que Jesus Cristo aceita entre os seus discípulos não só homens mas também mulheres, não só adultos mas também crianças, não só pessoas sãs mas também cegos, estropiados e leprosos, não só judeus vulgares mas também levitas e sacerdotes do templo, não só fariseus e cumpridores também mas também publicanos e soldados romanos, e se entre os seus discípulos havia temperamentos tão diferentes como os de Pedro e de João deve-se concluir: a imitação de Cristo exige a edificação do Bem Comum, exige a conciliação da edificação do Bem Comum com a realização pessoal.

A realização pessoal implica a liberdade para com todas as leis do mundo. Por isso diz S. Paulo aos Gálatas, que foi para a liberdade que Cristo nos libertou.
Se o ideal monástico medieval não põe em evidência o indivíduo mas a comunidade, é em Jesus Cristo que tem de se procurar a valorização na convivência fraterna, como apoio e estímulo à realização pessoal.

[…]

Contudo, a fraternidade de que falam os liberais pode ter uma inspiração diferente e ao mesmo tempo muito mais precisa. Na mente dos seus ideólogos tinha sem dúvida como modelo oculto a fraternidade maçónica. Para alguns dos seus principais fautores significada a ajuda mútua na prossecução de um modelo de sociedade organizada em função da implantação do progresso universal, como era concebido nesse período.

Este objectivo devia ser alcançado com o concurso e sob a orientação de uma elite esclarecida. A sua eficácia baseava-se na coordenação de esforços de indivíduos escolhidos a dedo, no compromisso da ajuda mútua, tanto para garantir o sucesso pessoal de cada um deles como para suprimir os obstáculos à realização da humanidade por meio do progresso.

Se teoricamente não existe contradição entre fraternidade maçónica e fraternidade cristã, também não se pode negar em muitos casos concretos que o que prevalece é a oposição. Assim acontece nas lojas que continuam o ateísmo e cujos membros se associam para beneficiar da troca de favores pessoais.

O carácter secreto da fraternidade maçónica, em si mesma, também não é incompatível com o ideal cristão, mas a ocultação das pessoas e dos meios de acção favorece a ambição pessoal e a conquista do poder económico e político por meio de processos ilícitos.

A sabedoria cristã não acusa a fraternidade maçónica como tal mas também não pode deixar de apontar os riscos, a perda dos critérios morais quando o objectivo é favorecer um grupo secreto e excluir os seus concorrentes."


Queremos Mestres? Para quê? Não queremos? Ah!

O carácter secreto da fraternidade maçónica, em si mesma, também não é incompatível com o ideal cristão, mas a ocultação das pessoas e dos meios de acção favorece a ambição pessoal e a conquista do poder económico e político por meio de processos ilícitos.

Deve-se ou não discutir as palavras de Mattoso? O que é que elas implicam? O contrário é o que nós somos/temos hoje. Tanta gente em tantas palestras a dizer que não sabem que não percebem por que é que o país a república portuguesa é o que é, e que tem tantas potencialidades.

Um destes dias estava com os Estudos de História da Cultura Clássica, Cultura Grega, da Doutora Rocha Pereira, nos olhos e:

"O rei [Xerxes] convoca a assembleia dos principais dentre os Persas, para lhes expor o seu projecto de expedição contra a Grécia; apenas Artábano, seu tio paterno, ousa discordar. Durante a noite, Xerxes reconhece que seu tio tinha razão em o dissuadir da empresa. Mas eis que, em sonhos, lhe aparece uma figura que lhe recomenda o contrário. Mesmo assim, Xerxes convoca de novo o conselho para lhe comunicar a sua mudança de plano. Pelo que, de noite, a mesma visão o ameaça. O monarca desperta, aterrorizado, chama o tio e acabam os dois por decidir fazer uma experiência: Artábano sentar-se-á no trono régio, com vestes reais, e dormirá depois no leito de Xerxes, a ver se lhe surge a mesma visão. De noite, o fantasma aparece-lhe. Então, Artábano reconhece que são levados por uma vontade sobre-humana, e por isso as coisas teriam de realizar-se como cumpria. É este mesmo Artábano que, mais adiante, dirá a Xerxes que os acontecimentos dominam o homem, e não este a eles."

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, junho 21, 2011

segunda-feira, junho 20, 2011

quando, recentemente, a Bíblia d`Almeida foi editada pela Assírio & Alvim passamos a ter uma Capela Sistina, móvel, em português, pintada por Ilda David. um acontecimento. uma maravilha.
a partir da passada sexta-feira, um novo Pentecostes.



amanhã talvez aqui a apresentação/estreia por Paulo Pires do Vale, ILda David e José Tolentino Mendonça.

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, junho 20, 2011

domingo, junho 19, 2011

conta o maravilhoso Heródoto que "no séquito de Dario, havia um egípcio que tinha uma voz fortíssima como não existe outra. A este homem Dario ordenou que se pusesse na margem do Istro e chamasse Histieu de Mileto. Ele assim fez, e Histieu, em resposta ao primeiro chamamento, preparou todos os navios de forma a permitirem a travessia do exército e restabeleceu a ponte".




e Histieu, em resposta ao primeiro chamamento,.


no fim apeteceu-me muito ir abraçar José Mattoso.

posted by Luís Miguel Dias domingo, junho 19, 2011

sexta-feira, junho 17, 2011

extra! extra! extra!


última hora:


José Mattoso diz em Fátima que para um cristão um sorriso pode ser mais importante do que a fundação de uma dinastia






o texto todo talvez amanhã

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, junho 17, 2011



da mesma pasta

posted by Luís Miguel Dias sexta-feira, junho 17, 2011

quarta-feira, junho 15, 2011

Alterando o ângulo de visão (7)


VIIos manuais asseguram que globos ocos pintados/em vez de olhos de vidro


Sou daqueles que acha que os mais recentes livros de Tolentino Mendonça, O Hipopótamo de Deus e outros textos e o Tesouro Escondido são como que traduções de matérias/assuntos de mais difícil abordagem/justificação, teológicas e não só.

As crónicas ao domingo no Diário de Notícias da Madeira cumprem também muito bem essa função, esse papel, acho.

Em A Leitura Infinita Tolentino Mendonça, a respeito de uma leitura da parábola do fariseu e do publicano (Lc 18,9-14), faz uma distinção entre linguagem de mudança e linguagem de reforço, dizendo que esta última se entende por "uma linguagem didáctica que tem por finalidade explicitar, explicar e clarificar". E diz ainda que "a função deste tipo de linguagem não é a de desafiar o destinatário/leitor a uma mudança de perspectiva, mas a de evidenciar as relações e as consequências de uma determinada problemática." Tolentino citando J. Zumstein "«a compreensão tradicional da parábola onde a imagem está ao serviço de um tema remonta a este modelo»."

Por linguagem de mudança diz o autor que "tem por finalidade não apenas explicitar ou aprofundar uma questão, mas sobretudo [J. Zumstein] «abalar e modificar a concepção que o destinatário potencial tem da realidade»".

Umas linhas mais à frente, pergunta o autor: "De que maneira realiza a parábola esta radical transformação no leitor?"

E dá um exemplo: "por exemplo, a parábola do tesouro escondido (Mt 13,44) prefigura este processo de reenquadramento na medida em que mostra como a descoberta de uma nova realidade leva a reavaliar completamente a vida".

Enlaçando os dois versos que dão título a este ponto sete, e mesmo todo o poema, com aquilo que Tolentino Mendonça diz sobre a semântica da parábola "a semântica é normalmente apresentada como a relação entre os sinais e os objectos aos quais eles são aplicados. Trata-se de buscar o significado, o «querer dizer» escondido na pluralidade de referentes e matizes do tecido narrativo. Inútil, porém, seria o intento de esgotar o «sentido» em explicitações que, muitas vezes, tocam simplesmente o seu limiar, o umbral ainda distante da intimidade e do autêntico (do nupcial!) (...) Porque ordenar essa vital «desordem» que propicia a vida do texto é, avisa o poeta, tornar-se «o polícia do texto», não o seu afectuoso e atento leitor."

Voltando atrás, dois pontos: descobrir e reavaliar completamente a vida e, segundo, não ser, por e para isso, polícia de nenhum texto pois

e quando, por fim, dispõe a pele e a costura
alguma coisa infinita morre às suas mãos



Creio que a leitura de Tolentino Mendonça tomou, nos últimos anos, dois, três, talvez, estes dois caminhos: a de explicitar, a mais recente e uma possível porta de entrada, e depois a essencial e primordial o abalo e a mudança, que já vem de trás, da sua poesia, em prosa e em verso, que não se separa do/da explicitação, são a mesma. Inteireza.

Só recentemente tive a oportunidade de ler o texto que José Augusto Mourão escreveu e leu na apresentação da, digamos assim, segunda edição de A noite abre meus olhos. A minha edição é a da capa com pintura de Ilda David, 2006, com posfácio de Silvina Rodrigues Lopes.

E só recentemente, então, ao ler o texto de José Augusto Mourão li e concordei veementemente com o que diz sobre a contagem de palavras que alguns dos críticos fazem para escrever/criticar/recensear/apresentar os trabalhos de poetas e escritores. Concordo mas fiz o oposto, também dei comigo a contar e a separar palavras; ainda que isso seja de longe o mais secundário ou terciário, é ainda assim importante, foi a conclusão a que consegui chegar.

Não é contradição concordar e assinar as palavras que se seguem, de Mourão, é, antes sim, procura em estado atrasado:

"Estou para perguntar em que direcção caminham estes versos. Também para contrariar aquilo a que a linguagem académica chama o “estado da questão” e que é, muito frequentemente, a constatação da morte clínica do apelo. “Há críticos que examinam as palavras mais frequentes num livro e as contam! Procurai antes as palavras que o autor evitou, de que estava muito perto, ou claramente afastado, estranho, ou de que tinha pudor, enquanto outras faltam.” [2] Não farei lexicometria: o sentido não está nas palavras, mas no seu curso (no discurso)."


Mas antes de chegarmos a algumas dessas palavras e a um poema em particular e a um autor também em particular, trazer para aqui um excerto da conversa entre Maria Filomena Molder e Anabela Mota Ribeiro, publicadas no ípsilon do passado dia vinte de Maio:








Antes de prosseguirmos, voltemos a José Augusto Mourão:

"O acto de leitura dos textos literários supõe, antes de mais, o reconhecimento obrigatório, mas tantas vezes abandonado, que um texto é um texto, isto é uma construção de linguagem – lugar da emergência e da articulação do sentido. A significação ganha na linguagem uma consistência própria, irredutível à de um simulacro da realidade. Porque a ultrapassa, a excede. Não se aborda um texto para perguntar que ideias o autor desenvolve, mas para inquirir de que experiência particular ele fala, de que relação ao mundo, à phusis ele trata. Não há apenas o logos, anterior a nós, as coisas são os nossos interlocutores. Sem o corpo que regista ou transcreve, que ficaria a assinalar a nossa passagem? Sem um corpo “paciente” (que faz a experiência dos afectos) e um corpo “agente”, que indícios restariam da autobiografia camuflada que cada um escreve? [4 - Jean Claude Coquet, Phusis et Logos. Une phénomenologie du langage, Presses Univ. de Vincennes, 2007, p. 197].


Um poema em particular, de A noite abre meus olhos


A última corrida

Era um rapaz que partiu
para conhecer o medo
o seu coração arranhado pelas chamas
tropeções de um cego que foge da aldeia
nessa noite
quem conseguiria contar

de comboio em pensamento seguiu para Bréscia
a última corrida de aeroplanos do século
andava à roda de trinta mil libras
e ele queria muito voar sozinho
sobre florestas

ninguém soube mas a sua vida
vista daquele aeroplano maravilhara-o
chegariam os nevões é verdade
novas e novas sombras sobre a terra
mas a sua vida vista do aeroplano era tão grande
como nenhuma outra coisa que conheceu

cá em baixo diziam:
«o seu voo prolonga-se sobre cada floresta
e desaparece
nós vemos as florestas
mas não o vemos a ele»


Poema originalmente publicado, creio, pelo menos, em Longe não sabia. Já lá iremos.

Um autor também em particular: Franz Kafka e o livro Os aeroplanos em Brescia e outros textos. Brescia (sic).

Se bem me lembro, o primeiro livro de kafka que li e comprei foi este. E sei que gostei muito. Outro desses textos que me marcou foi, lembro-me, Recordações da estação dos caminhos-de-ferro de Kalda.

Quando li, pela primeira vez, A última corrida e em especial os versos

de comboio em pensamento seguiu para Bréscia
a última corrida de aeroplanos do século
andava à roda de trinta mil libras


levantei os olhos e foi em Kafka que parei. E foi como uma madalena de Proust, de me ter lembrado de como gostara daquele conto de Bréscia (como dizia alto pronunciava assim), daquele movimento, daquela procura, daquele querer ver, daquela multidão, daquele olhar mais ao pormenor, daquele querer ir, daquele barulho, daquela entoação. Daquela série sobre os pioneiros da aviação que vi na tv e que ainda trago guardada, qual cromo que também colecionei de asas de madeira compridas.






Os dias contados é o primeiro livro de Tolentino Mendonça; dias, poemas, vento, fogo, olhar/olhos, anjo, águas, face/rosto, folhas, palavra, medo, tempo. OLHAR/OLHOS. FOGO.

Longe não sabia é o segundo; anjo, fogo, olhos/olhar, vento, iluminação, tempo, sombra, casa, poemas/versos, incêndios/labaredas/chamas, campos, carreiros/atalhos, luz, medo, palavra, noite, dias. OLHAR/OLHOS. NOITE.

Numa nota do editor da versão de Os aeroplanos em Brescia e outros contos que tenho, edição dos livros do Brasil, 1988, diz, citando Reinhard Lettau, que "em Kafka o acto de ver teve lugar antes do acto de escrever. O crítico chega mesmo a afirmar que o acto de escrever é apenas uma curta interrupção num ver permanente (...) Os fragmentos reunido em Os Aeroplanos em Brescia e Outros Textos não são «fracassos», como nos diz Reinhard Lettau, ou só o são se com isso significasse Kafka uma referência à singularidade da forma de descrever a verdade, não o real."

O que é difícil não é a contagem das palavras e da sua importância, o que é difícil é conseguir arranjar ou forjar uma escala que nos mostre que a utlização de uma palavra num determinado livro ainda que utilizada menos vezes é superlativamente maior em relação a outra que seja utilizada mais vezes.
Onde é que há uma escala dessas?
É também por isso que assino o que José Augusto Mourão escreveu.


No terceiro livro, A que distância deixaste o coração: águas, estações, palavra, olhar/olhos, casas, vida, noite, mundo. NOITE. MUNDO.

Baldios, o quarto livro: estações, palavra, olhar/olhos, silêncio, tempo, sombra, casas, vida, luz, noite, carreiros/atalhos, chamas/labaredas, amor. TEMPO. PALAVRA. VIDA. NOITE.

De igual para igual, quinto livro: estações, flor, palavra, olhos/olhar, vento, silêncio, tempo, casas, vida, noite, mundo, dias, amor, mãos. OLHOS/OLHAR. PALAVRA. TEMPO. VIDA. AMOR. MÃOS.


Voltando a uma escala de medir palavras, ideia trôpega, dar o exemplo de um dos outros textos de O hipopótamo de Deus, o texto Uma palavra lida em Herberto Helder. O que pode uma palavra! "«És tu o redivivo?» Não sei de pergunta mais bela que um homem tenha feito a outro homem."

Aliás, adentrando-nos mais, uma conversa à volta de uma ou da palavra, José Tolentino Mendonça e Manuel António Pina. Tolentino já havia escrito, há poucos dias, uma crónica para o Diário de Notícias da Madeira, intitulada Todas as palavras são cartas de amor, dois excertos:

"E volto, mais uma vez, a um ensaio da antropóloga Dean Falk, “Língua mãe. Cuidados maternos e origens da linguagem”. Dão-se hoje, praticamente como adquiridas, duas teorias sobre a origem da linguagem: uma que podemos designar “comunicativa” (aí se defende que falamos para fazer circular os nossos pensamentos de uma cabeça para outra) e outra chamada “cognitiva” (que sustenta que falamos para articular de forma mais sistemática os nossos próprios pensamentos). Ambas as teses consideram a linguagem como realidade mental, isto é, um dado que tem mais a ver com o pensamento do que com o corpo, mais com o trânsito dos raciocínios do que com o afloramento das emoções. É aqui que entra Dean Falk. A antropóloga propõe que cada um de nós, pelo contrário, começa a utilizar os sons linguísticos não propriamente para comunicar ou pensar, mas sim para permanecer em contacto com aquelas e aqueles que tomam conta de nós.

A linguagem humana é muito complexa. Por exemplo: para a definição do sentido global da comunicação interessa não apenas o que se diz, mas também a forma como se diz. A linguagem não é apenas composta por aquilo que acordamos serem sons significativos ou simbólicos. Não raras vezes, o próprio tom da voz veicula uma ampla quantidade de informação acerca das intenções de quem fala; há uma musicalidade inerente, encantatória, que se capta de ouvido; e, do mesmo modo, é necessário valorizar os traços da emotividade ou as manifestações da linguagem corporal que acompanham as palavras. O que se aprende com Dean Falk, mas também com Fernando Pessoa, é que as palavras são, mais do que tudo, a verbalização do desejo que sentimos do outro. No fundo, o que quer que digamos dizemo-lo para avizinhar ou reter o outro perto de nós, para retardar ou desmentir a sua ausência, para dizer que ele é demasiado importante para nós. Mesmo com áridos discursos ou frases friamente impessoais, o que dizemos não é tão diferente do que dizem os nascituros ou os enamorados. A linguagem humana é uma forma espantosa que encontramos para nos fazermos companhia."


Sexto livro, Estrada Branca: olhos/olhar, casas, sombra, cores, folhas, animais, Deus, tempo, carreiros atalhos caminhos escarpas..., vida, noite, mundo, corpo, instante fugidio gesto... OLHOS/OLHAR. FOLHAS. NOITE. CARREIROS ATALHOS CAMINHOS ESCARPAS... VIDA. CASAS. ANIMAIS.

Sete, Tábuas de Pedra: água, folhas, olhos/olhar, viajantes, carreiros atalhos caminhos escarpas. OLHOS/OLHAR. CARREIROS ATALHOS CAMINHOS ESARPAS...

O Viajante sem Sono: iluminação/brilho, tempo, casas, carreiros atalho canal enseadas corredor túneis trilhos declive, vida, noite, olhos/olhar, mundo, animais, cores, habitas, vstidão, atravessar. MUNDO. NOITE. CANAL CAMINHOS CORREDOR TÚNEIS TRILHOS.


Esta selecção de palavras é uma selecção pequena/curta e está muito longe de ser de alguma forma uma representação lexical, colhida por mim, são tantas as outras... pois "O mundo do poema é um mundo mineral:/com jaspe e o nácar, o coral e o osso"


Lembro-me de ter pensado quando li pela primeira vez o poema A última corrida da excelência do autor, do que contava, do que conta. Do como escolheu contar assim naquele tempo. Aquilo.

Na introdução ao belo e precioso livro Um Deus que Dança itinerários para a oração, Maio 2011, Tolentino Mendonça escreve: "As palavras são apenas o assobio que anuncia os passos do viandante que chega ou que parte."





E no prefácio do mesmo Luís Miguel Cintra: "Conta S. Mateus que Cristo terá dito no Sermão da Montanha: «se quiseres rezar entra no teu quarto e fecha a porta». Rezar é estar sozinho, sozinho diante de Deus. E foi aí que ensinou palavras comuns para os que não sabem que palavras ter para falar com Deus, que não precisa de palavras porque tudo sabe" e ainda citando Sophia, dirigindo-se à Musa "«Musa ensina-me o canto/Que me corta a garganta»."


Terminar este ponto sete com um excerto da entrada Oral/Escrito de Roland Barthes para a Enciclopédia Einaudi, volume 11, comprado na feira do livro por cinco euros, excerto esse que será o elemento de ligação com o ponto oito, sobre o nascimento da escrita:




"No fundo, o que quer que digamos dizemo-lo para avizinhar ou reter o outro perto de nós, para retardar ou desmentir a sua ausência, para dizer que ele é demasiado importante para nós."

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, junho 15, 2011

segunda-feira, junho 13, 2011




Kapoor, Leviathan

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, junho 13, 2011

na passada segunda feira escrevi isto..... e hoje mais isto


Rui Tavares já se havia tornado/mostrado algo ridículo quando dizia/diz escrevia/escreve algo como como é mau ter razão antes do tempo, como chamei a atenção e agora se viu que tinha razão e assim.

Mas hoje, dia 6/6/2011, o ridículo foi ainda mais, desculpe lá e salvaguardadndo as diferenças e a distância, o sr. dr. parece Silvio Berlusconi há uma semana atrás a dizer o que disse quer aos vencedores das eleições em Milão e em Nápoles, que você conhece e chegou mesmo a ajudar, quer aos eleitores. Desde já o felicito e lhe agradeço, por ter ajudado a derrotar o primeiro ministro italiano.

Mas olhe, a primeira coisa a mudar talvez seja esta mesmo.

Segunda: dificilmente se leu nas suas crónicas uma crítica avassaladora e corrosiva tendo como destinatário o Partido Socialista e o seu governo, como os últimos cinco anos mereceram, nas suas diferentes dimensões: governação e encenação e perpetuação e encenação. Percebo, mas fez muito mal pois defendeu aquilo que não sabe como mudar ou que o repugna.

Terceiro: um colega seu de tv, análise política, mas politólago, Pedro Adão e Silva, de tradição maçónica, como se apresentou, cronista do semanário Expresso, defendeu há dois anos, talvez menos, na sic-notícias, no auge quase do saber-se do problema, com uma candura repugnante, o trabalho de Vítor Constâncio à frente do Banco de Portugal, dizendo que este tinha cumprido muito bem o seu papel. Voilà.

Quarta: vou na página 75 do Portugal ensaio contra a autoflagelação, de Boaventura de Sousa Santos, e até agora nenhuma referência foi feita a instituições religiosas, à ajuda que estas prestam. Não, não quero saber disto nem daquilo, é um trabalho de investigação, também, ou não? Ciência Sociais, ou não?

Quinta: saber ouvir, ver, analisar, reflectir, decidir, contemplar; você e os seus colegas de exblog e de blogs próximos, exemplo jugular, mostram uma presunção à flor da pele de que só vocês é que sabem, que só vocês é que são sensíveis a, que só vocês é que se preocupam, e bláblábla que dá dó.
Nas suas crónicas pouco se vê de crítica ou autocrítica a valer, acho mesmo que o sr. achou bom o discurso de derrota do até ontem líder do PS, que procuraria as câmaras de tv com a mesma sede que o suor escorria que assobiaria as perguntas dos jornalistas e assim.
No fundo só estão bem se forem eleitos com noventa e tal por cento de aprovação em congresso ou em convenção. A sua presunção a sua arrogância intelectual e os seus dotes de adivinhação são, enfim, de muito mau gosto.
O antepenúltimo e penúltimo parágrafos chegam mesmo a ser pornográficos, "Sim, porque nós havemos de ter falhado em qualquer coisa" e "A esquerda não será séria se achar que fez tudo bem e que, para o futuro, só há que continuar a fzer o mesmo" reter: em qualquer coisa e que fez tudo bem.

A História ensina e mostra o que é que acontece às pessoas que mais directa ou indirectamnete trabalham nas capitais políticas, não são só coisas boas. Desde o Egipto dos faráos.

Onde é que o sr. falhou?
Com todo o respeito do mundo, gimme a break.


e hoje acrescento mais isto:

- os tiques de autoridade e de conhecimento: "começar por uma coisa simples e encontrável em qualquer enciclopédia" e "agora vamos complicar mais um bocadinho";

- e depois o mau gosto: "e por isso agradeço sinceramente a";

- a iluminação: "aquela crónica não era, está claro, um texto de".

quem já passou pelo blog jugular sabe que o tom é quase todo assim; é assim esta esquerda. de fugir.


Não conheço de lado nenhum ninguém do blog que Rui Tavares cita hoje.

posted by Luís Miguel Dias segunda-feira, junho 13, 2011

sábado, junho 11, 2011



fotografia por LMD, sem título, Junho 2011


posted by Luís Miguel Dias sábado, junho 11, 2011

quinta-feira, junho 09, 2011

no passado sábado o ABC cultural chegou ao número mil, 20 años, 1000 números, tal como o babelia há uns dias atrás, e preparou uma edição especial.

gostei mais do babelia 1000, muitos foram os contributos e as felicitações: trago aqui o de Claudio Magris "uno de los más lúcidos intelectuales europeos, no ha querido perderse este aniversario. Su contribución , un ensayo con apariencia de fábula. Pequeña, la titula él. Comprobarán que no"






posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, junho 09, 2011

terça-feira, junho 07, 2011

porto, passado sábado




um destes dias cheguei a esta maravilha de sítio:

destaco, ainda assim, a biblioteca Fluir Perene e a

Primeira sessão do ciclo Tertúlias Pré-Socráticas, promovido pela associação Origem da Comédia. Maria Helena Rocha Pereira fala da Grécia Arcaica, enquanto plano de fundo histórico-cultural da revolução científica e filosófica protagonizada pelos filósofos que serão tratados nas sessões seguintes. Sessão decorrida no dia 5 de Março de 2010, no foyer do Teatro Académico Gil Vicente, Coimbra.

posted by Luís Miguel Dias terça-feira, junho 07, 2011

domingo, junho 05, 2011

não sei quantas pessoas estariam à espera do brilhante e meteórico jogo de Federer na passada sexta feira na primeira meia final do roland garros 2011 eu não

depois do wimbledon 2008 e daquela bola no open dos estados unidos 2009 o jogo da passada sexta feira foi dizer como muito muito muito bom a fazer lembrar primeiro serviço a entrar e que serviço direitas profundas e cruzadas a toda a hora a esquerda maravilha e Djokovic sem saber deixar a Sérvia e o rei morto viva o rei de sua mãe na austrália e sempre a olhar de sorriso amarelo para a sua equipa como que à espera de uma resposta do espaço sideral do porquê de estar a escorregar muitas vezes tantas vitórias seguidas e o lugar número um ali

pois





tenho muita pena e tristeza também de só agora chegar de uma forma mais séria e mais sustentada a Heródoto, às suas histórias

é a vida

mais um ano mais uma vez que passarão a ser vezes dentro de um mês que a televisão pública não emite os torneios de ténis, obras de formação ou de reinício de regresso ou de confronto de redenção ou de mais formação, infernos purgatórios paraísos






Heródoto, Histórias, Livro III, edições 70, 2010


Polícrates...

posted by Luís Miguel Dias domingo, junho 05, 2011

sábado, junho 04, 2011



por Lucília Monteiro


tirando um pormenor, gosto mesmo muito desta fotografia


mais logo, às dezasseis horas, Manuel António Pina vai estar na feira do livro do Porto e vai levar consigo o seu último livro, Poesia, Saudade da Prosa uma antologia pessoal

posted by Luís Miguel Dias sábado, junho 04, 2011

quinta-feira, junho 02, 2011

acrescentar a um post com oito anos (um texto de Mario Vargas Llosa) posted by luis Sábado, Abril 19, 2003, o que a sic exibiu no princípio do mês de Maio último, televisão é televisão é televisão







Aristóteles y el Padre Simeón

La aldea de Ouranoupolis, en el norte de Grecia, está cerca de las ruinas de Stagira, donde nació Aristóteles y, además, es el puerto obligado para quienes peregrinan al vecino Monte Athos, centro espiritual de la Ortodoxia. El hotel donde me alojo lleva el nombre del filósofo que fue preceptor de Alejandro y el encuentro al que asisto se titula: 'La tragedia, entonces y ahora: de Aristóteles al tercer milenio'. Nada más bajar del autobús que me trajo desde Salónica, zangoloteando entre olivares, cipreses y enjambres de turistas alemanes, me presentan al pope que me había propuesto conocer aunque fuera filtrándome de contrabando en la montaña sagrada de las iglesias orientales: el Padre Simeón.

Me habló de él hace un par de noches, en Atenas, mi amigo Stavros, mientras cenábamos en una terraza impregnada de aromas, bajo un cielo lleno de estrellas parpadeantes: 'Si vas al Monte Athos, tienes que conocerlo. Es un monje-sacerdote, ermitaño, pintor, poeta, místico, reverenciado en toda Grecia, una de las figuras más destacadas de la Iglesia Ortodoxa. Y, cáete de espaldas, el Padre Simeón no es griego sino peruano'. Desde entonces, este compatriota no se ha apartado de mi mente ni un solo momento. Y aquí me lo encuentro, entre los congresistas, invitado para hablar de la Poética de Aristóteles, la tradición mística y su propia poesía.

Es un hombre de cincuenta y dos años, de luengas barbas y plateada cabellera, ojos claros y largas manos que mueve al hablar con la misma elegancia con que lleva el imponente hábito que, a su paso, concentra todas las miradas. Es verdad: todos los griegos presentes lo rodean, lo siguen, lo acosan con una curiosidad efusiva a la que él parece consentir no sin dificultad. Es afable, cortés y habla despacio, como luchando contra el aturdimiento que deben producirle tantas voces, tanta gente, tanto trajín, comparados con el silencio y la quietud de la ermita erigida en una ladera cercana al monasterio de Stavronikita, donde ora, medita, escribe y pinta, solo con su fe, desde que en 1987 abandonó su clausura en el monasterio de Agios Grigorios para hacer vida de anacoreta.

Todo es griego en él, salvo su español, limeñísimo a más no poder. Un español muy suavecito, perezoso con las sílabas finales de las palabras, y musicalizado, de alta clase social, procedente de Miraflores o San Isidro, y forjado en un colegio de curas para niños bien: ¿el Santa María o la Inmaculada? Él se ríe: 'Frío, frío.
Estudié en el Claretiano'. Su apellido es de la Jara, una familia que ha dado al Perú juristas y políticos destacados, una célebre promotora de la música criolla y la bohemia, y una pareja, los padres de Simeón, excepcionalmente comprensiva, pues, cuando en los años sesenta, su hijo, alumno destacado en el colegio, les anunció que 'para no hacer concesiones al establishment' había decidido no presentarse a los exámenes de fin de año y por lo tanto cerrarse las puertas de una profesión liberal, en vez de hacer un dramón griego, se resignaron. Para entonces, Miguel Ángel, el futuro Padre Simeón, un muchacho rebelde y soñador, se había convertido en el primer hippy peruano. Leía a los surrealistas y a Rimbaud, sobre budismo y taoísmo, y se había dejado el cabello hasta los hombros. Su apariencia indignó a una patota de jóvenes sanisidrinos, que le dio una tremenda paliza, a resultas de la cual estuvo varios días en el hospital, con amnesia. Cuando salió, sus prudentes padres optaron por enviarlo al extranjero.

Estuvo en el swinging London de finales de los sesenta, y después en París, y luego -naturalmente- en la India y en Nepal, haciendo yoga y estudiando budismo e hinduismo, pero no se quedó allí, dice, porque el espectáculo callejero de la miseria multitudinaria y eterna llegó a alterarle el sistema nervioso. Regresó a París, se instaló en el Barrio Latino y estaba aprendiendo chino cuando un buen día, en un restaurancito modesto, lo intrigó un religioso de hábitos ampulosos que comía solo. Era un sacerdote ortodoxo griego, de origen suizo, cuya amistad cambiaría su vida de raíz. 'Dios se hizo hombre para que el hombre pudiera ser dios'. Dice que esa frase, que escuchó a aquel pope en la primera conversación que celebraron, todavía le resuena en la memoria, treinta años después.

La primera consecuencia de esa nueva amistad fue que Miguel Ángel reemplazó el chino por la hagiografía y se puso a aprender a pintar íconos, en el taller de Leonide Ouspensky, a la vez que empezaba leer a los teólogos y místicos de la Iglesia Ortodoxa. En 1972, luego de un viaje recorriendo iglesias ortodoxas de Serbia y Grecia, se convirtió formalmente y al año siguiente decidió hacerse religioso. Fue aceptado como novicio en el monasterio de Agios Georgios (San Jorge), en la isla de Evia o Euboia, a la que llegó, a sus veintidós años, sin hablar una palabra de griego. Pero me asegura que, a los seis meses, ya podía entenderse con los otros monjes, y que, en todo caso, su maestro de novicios chapurreaba algo de inglés.

El Padre Simeón tiene una manera de contar los episodios de su extraordinaria vida, que, se diría, no hay en ellos nada de insólito ni excepcional, sino una sucesión de ocurrencias de una bostezante banalidad. Cuando yo, malogrado por mi vocación truculenta, le replico que no pudo ser tan fácil ni tan simple, que cambiar de la noche a la mañana de lengua, de régimen de vida, de cultura, de estado, tener que levantarse a medianoche y pronunciar un millar de veces al día el nombre de Jesús y cumplir con las agobiantes jornadas de trabajo físico y espiritual en aquel monasterio en el que fue, por un buen tiempo, un total extranjero, debió costarle esfuerzos y sacrificios desmedidos, dudas atroces, sufrimientos, él niega con la cabeza y adopta una expresión de disculpas, como apenado de decepcionarme. 'Fue una experiencia muy hermosa', insiste. 'Desde el primer momento en el monasterio, comprendí que había encontrado por fin lo que andaba buscando'.

No sólo lo encontró en la religión; también en la cultura y la lengua de Grecia, que se fueron haciendo cuerpo de su espíritu y recreando su personalidad. Cuando, a mediados de los años setenta, toda la comunidad de monjes de Agios Georgios se trasladó al Monte Athos, el Padre Simeón ya leía y hablaba el griego y hasta había empezado a garabatear sus primeros poemas en esa lengua. En los trece años que permaneció en el monasterio de San Gregorio, en el Monte Athos, se ordenó sacerdote, y su trabajo intelectual y teológico debió dejar una huella en su comunidad pues desde 1983 sale de Grecia a dar conferencias sobre la Ortodoxia y el Monte Athos (¡Una de ellas en la sede de la OTAN¡) y en esa década se publican sus primeros ensayos religiosos y sus libros de poemas. El último, Me Imation (Con Manto Negro) contiene, además, reproducciones de sus grabados y pinturas, un arte que había practicado de joven, en Lima, y que retomó al retirarse del monasterio de Agios Georgios en 1987 a la ermita donde hasta ahora vive.

En su conferencia, dicha en griego, y de la que los intérpretes nos dan una versión probablemente muy rudimentaria, el Padre Simeón explica que para él escribir es una manera de vivir más profundamente la naturaleza que lo rodea en la montaña, y otro modo de orar y de encontrar momentánea redención y consuelo, y hace sutiles aproximaciones entre el ejercicio de su vocación y la descripción aristotélica de la catarsis. Son razonamientos que sigo con dificultad, pero quien habla no es un pedante ni un farsante, sino alguien que, a ojos vista, hace denodados esfuerzos para comunicar con total sinceridad una experiencia que, por lo demás, sabe muy bien no es totalmente racionalizable. Es la misma impresión que me da en las charlas que celebramos estos días, paseando por las calles de Ouranoupolis -a las que el turismo ha vuelto idénticas a las de la Costa del Sol o a las de los balnearios de la República Dominicana- o escabulléndonos de los psicoanalistas, filólogos y filósofos del congreso: un hombre sencillo, que no parece medir en toda su dimensión la notable aventura de la que ha sido protagonista. Cuando se lo insinúo, rehuye la respuesta con risueñas evasivas: 'Y las aventuras que espero vivir todavía'.

Como estuvo cerca de 24 años sin hablar español, de pronto tiene un blanco, una duda lo asalta y se resiste a continuar hasta que, del fondo de la memoria, rescata la palabra perdida. Entonces, se le iluminan los ojos y dilata su cara una sonrisa de alivio. Su vida de monje y de ermitaño no lo ha aislado del siglo: recibe una correspondencia diluviana -le escriben muchos presos, por ejemplo-, numerosas personas lo vienen a visitar, y, cada cierto número de años, obtiene permiso de su comunidad para hacer un largo viaje. El último, por China y Asia del Sur, le llenó la cabeza de imágenes que ha volcado en poemas, pequeños como haikús, y en dibujos. Ahora se dispone a partir a Etiopía, en un largo periplo que lo hará recorrer todo Egipto. Cuando le bromeo que, tal vez, de esa peregrinación que la Iglesia Etíope, de monjes cenicientos maravillosamente enturbantados, gane un nuevo adepto, no se ríe. Se encoge de hombros y, la mirada perdida en una súbita ensoñación, murmura: 'Quién sabe'. La verdad es que, pensándolo bien, el Padre Simeón parece una de esas raras excepciones de la especie humana capaz de cambiar de vida todas las veces que haga falta, incluso ahora. ¿Para qué lo haría? Para no apolillarse en la rutina ni convertirse en una estatua; para seguir explorando las infinitas posibilidades del mundo y de la vida hasta el último aliento con esa curiosidad regocijada con la que me interroga sobre todo lo que sé y no sé. Cuando le digo que su historia me recuerda mucho a la de Thomas Merton, el poeta norteamericano que se hizo cartujo y que narró su peripecia en una hermosa autobiografía, me dice que no la ha leído y no parece interesarse mucho por hacerlo. (En efecto, comparada a su propia historia, la de Merton es bastante menos original). Pero sí conoce algunos de sus poemas y su libro sobre los padres del desierto.

¿Por qué me ha impresionado tanto conocer al Padre Simeón que, cuando nos despedimos, tengo la impresión de separarme de un viejo y querido amigo? Por su rica calidad humana, desde luego. Pero también, sin duda, porque su caso es una ejemplar demostración de la manera como la libertad cabalmente asumida puede emancipar a un ser humano de todos los condicionamientos gregarios -religión, patria, cultura, lengua, costumbres- que, para los ciudadanos del común, funcionan en la práctica como otros tantos campos de concentración, y reemplazarlos por otros, libremente escogidos, de acuerdo a sus deseos y a sus sueños. Siendo agnóstico, las conversiones religiosas me suelen dejar bastante frío. Pero reducir la historia del Padre Simeón a un mero cambio de fe, sería desnaturalizarla. Su historia es la de un desconcertado joven hippy que a fuerza de valentía, sensibilidad y testarudez fue capaz de rechazar todos los destinos que su tiempo, su familia y su país le tenían asignados, y construirse uno a su propia medida y vocación, un destino que lo enriqueció personalmente y que ha enriquecido -¡todavía más¡- a la tierra de Aristóteles.

© Mario Vargas Llosa, 2002. © Derechos mundiales de prensa en todas
las lenguas reservados a Diario El País, SL, 2002.

posted by Luís Miguel Dias quinta-feira, junho 02, 2011

quarta-feira, junho 01, 2011



peguemos num exemplo da elite das elites: Chris Patten, ontem, segunda, na capa do jornal público diz que ele diz que o que interessa no século XXI são as ideias

quase no fim da conversa Patten cita Isaiah Berlin "somos todos feitos da mesma ´madeira apodrecida` da humanidade"

lembremo-nos que estamos a falar de um homem que "foi ministro britânico e chefe do partido conservador, último governador de Hong-Kong, comissário europeu e hoje é o chanceler da Universidade de Oxford e preside à BBC"

são as ideias o que interessa no século XXI, as ideias

já bem dentro da conversa e do que disse sobre a Alemanha, já lá iremos, diz: "A Europa precisa de uma narrativa, mas não tenho a certeza de qual deverá ser. Os meus filhos acham absolutamente normal que o Reino Unido faça parte da União Europeia. Mas se me perguntassem qual é o objectivo da União Europeia e eu lhes respondesse que é para que não haja mais guerra entre os seus países, eles não compreenderiam"

Paremos por aqui que já temos tanto mas tanto

Elite das elites que se reproduzem. Este homem que é tudo e mais alguma coisa, poderia, quem sabe, também, pertencer à sad do sporting clube de portugal, diz este homem, chanceler da univerdidade de Oxford, que a Europa precisa de uma narrativa, e não sabe qual, e que os seus filhos já não sabem que a União impede a guerra de voltar, os balcãs há quantos anos?, e já não compreenderiam esse argumento, nem a ideia que uma próxima guerra poderá arrasar qualquer cidade

Imagina-se qual o ministério a que os seus descendentes chegarão e fica-se muito preocupado

Quem sabe, a universidade talvez lhes possa dispensar as primeiras 100, 200 páginas do venenoso Diplomacia de Henry Kissinger, só para embate, talvez seja uma introdução plausível, espesso

Mas não saber qual é a narrativa (tem os assessores na moda) da Europa, da União Europeia?

Em relação a Alemanha diz a certa altura "os contribuintes alemães perguntam por que é que têm de ajudar a Grécia quando a idade de reforma dos gregos é mais baixa do que a deles ou quando pensam que estão a pagar os custos de medidas sociais de que eles próprios não usufruem totalmente. É compreensível que jornais como o Bild se transformem em tablóides como os do meu país"

Devia soar como um sino na cabeça, são estes indivíduos, cheios de poder de todo o tipo e os seus descendentes que ocupam e decidem sobre a vida de milhões de pessoas, se não de todo o planeta, que levarão/levam as ideias não se sabe para onde

percebe-se o cansaço e a falta de motivação e de iluminação no que diz

a madeira apodrecida tem diferentes camadas, diferentes níveis

as ideias dizia o jornal público na capa, e quase no fim sobre Obama "utilizou muito do seu capital político na reforma do sistema de saúde. Não reformou ainda o o financiamento das campanhas, que creio que pode ser quase tão importante"

quando umas linhas atrás "numa entrevista que deu no ano passado, perguntaram ao presidente da zona euro [Jean-Claude] Juncker, o que era preciso fazer para para melhorar a competitividade europeia e por que é que se fazia tão pouco nesse sentido. Ele respondeu: ´Bem, o problema não é que não saibamos o que fazer, o problema é que não sabemos se seremos reeleitos se o fizermos.` Não creio que seja o mais cintilante exemplo de lidernça política"

a Europa precisa de uma narrativa, mas não tenho a certeza de qual deverá ser

a imagem é de Hermann Broch, e vem também no público do dia 30/5, logo antes de Chris Patten , voilá, voilá

elite das elites num mundo que já não existe

até aos 40 anos somos ridiculamente ambiciosos a partir dos quarenta/45 anos seremos ridiculamente cegos

posted by Luís Miguel Dias quarta-feira, junho 01, 2011

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e Enda Walsh e Jean Genet e Frank Gehry's first skyscraper e Radiohead and Massive Attack play at Occupy London Christmas party - video e What Heaven Looks Like: Part 3 e
And I love Life and fear not Death—Because I’ve lived—But never as now—these days! Good Night—I’m with you. e
What Heaven Looks Like: Part 4 e Krapp's Last Tape (2006) A rare chance to see the sell out performance of Samuel Beckett's critically acclaimed play, starring Nobel Laureate Harold Pinter via entrada como last tapes outrora dias felizes e agora MALONE meurt________

São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito.
Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras
E larga os ventos por sobre as campinas.


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