segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Cultura de Massa & Voz Poética


Hoje, inicio um trabalho para meus alunos, qual seja: colocar conteúdos de Literatura e de Língua Portuguesa em uma espaço virtual. Nem sempre poderei atualizar este blog todo dia, mas, dentro do possível, deixarei aqui conteúdos que foram colocados em sala.

Na quarta-feira, eles começarão a ler trechos de autores para, depois, perceberem a relação entre eles. O conteúdo, cultura de massa. Depois, voz poética.

Queridos alunos, leiam com muita atenção e retirem de cada parte uma ideia principal. Em outro momento, façam relações entre as partes. Boa leitura!

Cultura de Massa e Voz Poética

1.1 Cultura de massa, indústria cultural ou terceira cultura

1.1.1 Edgar Morin - “Cultura de massas no século XX – volume 1: neurose

a. “No começo do século XX, o poder industrial estendeu-se por todo o globo terrestre. A colonização da África, a dominação da Ásia chegam a seu apogeu. Eis que começa nas feiras de amostras e máquinas de níqueis a segunda industrialização: a que se processa nas imagens e nos sonhos. A segunda colonização (....) penetra na grande reserva que é a alma humana;

b. A segunda industrialização, que passa a ser a industrialização do espírito, e a segunda colonização que passa a dizer respeito à alma progridem no decorrer do século XX;

c. Cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções; e

d. Qualidade à quantidade, criação à produção, espiritualidade ao materialismo, estética à mercadoria, elegância à grosseria, saber à ignorância.”

1.1.2 Theodor W. Adorno e Max Horkheimer – “A dialética do esclarecimento

a. “Desde o começo do filme já se sabe como ele termina, quem é recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvido treinado é perfeitamente capaz, desde os primeiros compassos, de adivinhar o desenvolvimento do tema e sente feliz quando ele tem lugar como previsto”;

1.1.3 Theodor W. Adorno – “O fetichismo na música

a. “Se perguntarmos a alguém se ‘gosta’ de uma música de sucesso lançada no mercado, não conseguiremos furtar-nos à suspeita de que o gostar e o não gostar já não correspondem a estado real, ainda que a pessoa interrogada se exprima em termos de gostar e de não gostar. Ao invés do valor da própria coisa, o critério de julgamento é o fato de a canção de sucesso ser reconhecida de todos; (...) O comportamento valorativo tornou-se uma ficção para quem se vê cercado de mercadorias musicais padronizadas. Tal indivíduo já não consegue subtrair-se ao jugo da opinião pública, nem tampouco pode decidir com liberdade quanto ao que lhe é apresentado, uma vez que tudo o que se lhe oferece é tão semelhante ou idêntico (...); e

b. Ao invés de entreter, parece que tal música contribui ainda mais para o emudecimento dos homens, para a morte da linguagem como expressão, para a incapacidade de comunicação. A música de entretenimento preenche os vazios do silêncio que se instalam entre as pessoas deformadas pelo medo, pelo cansaço e pela docilidade de escravos sem exigências.”

1.1.4 Maurice Blanchot – “De espaço literário

a. “A Linguagem Cotidiana. Uma palavra que não denomina nada, que não representa nada, que em nada sobrevive, uma palavra que nem mesmo é uma palavra e que desaparece maravilhosamente, por inteiro e de imediato, em seu uso;

b. Ela é usada, usual, útil; por ela, estamos no mundo, somos devolvidos à vida do mundo, aí falam os objetivos, as metas finais e impõe-se a preocupação de sua realização. Um puro nada, certamente, o próprio não-ser, mas em ação, o que age, trabalha, constrói o puro silêncio do negativo que culmina na ruidosa febre das tarefas;

c. Linguagem Ordinária que nos dá a ilusão, a segurança do imediato, o qual, contudo, nada é senão o rotineiro;

d. A fala em estado bruto “relaciona-se com a realidade das coisas”. “Narrar, ensinar, até descrever”, dá-nos as coisas na própria presença delas, “representa-as”. A fala essencial distancia-as, fá-las desaparecer; ela é sempre alusiva, sugestiva, evocativa. Mas o que significará então tornar ausente “um fato da natureza”, apreendê-lo por essa ausência, transpô-lo em seu quase desaparecimento vibratório?” Significa essencialmente falar, mas também pensar;

e. Na fala bruta ou imediata, a linguagem cala-se como linguagem, mas nela os seres falam e, em consequência do uso que é o seu destino, porque serve, em primeiro lugar, para nos relacionarmos com os objetos, porque é uma ferramenta num mundo de ferramentas onde o que fala é a utilidade, o valor de uso, nela os seres falam como valores, assumem a aparência estável de objetos existentes um por um e que se atribuem a certeza do imutável;

f. Sob essa perspectiva, reencontramos a poesia como um potente universo de palavras cujas relações, a composição, os poderes, afirmam-se, pelo som, pela figura, pela mobilidade rítmica, num espaço unificado e soberanamente autônomo.”

1.1.4 Theodor W. Adorno – “Lírica e sociedade

a. “O conteúdo de um poema não é mera expressão de emoções e experiências individuais. Pelo contrário, estas só se tornam artísticas quando, exatamente em virtude da especificação de seu tomar-forma estética, adquirem participação no universal;

b. Sua sensibilidade faz questão de que continue sendo assim, de que a expressão lírica, desvencilhada do peso da objetividade, conjure a imagem de uma vida que seja livre da coerção da prática dominante, da utilidade, da pressão da autoconservação obtusa; e

c. A idiossincrasia do espírito lírico contra a prepotência das coisas é uma forma de reação à coisificação do mundo, à dominação de mercadorias sobre homens que se difundiu desde o começo da idade moderna e que desde a revolução industrial se desdobrou em poder dominante da vida."

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