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escrever

bom. decidi ventilar um pouco, quem sabe, racionalizar um problema que aparenta ser sem solução.

tento resistir mas não consigo deixar de escrever por muito tempo. a ausência dessa ação específica me faz fisicamente mal. tudo bem. o problema, de verdade, não é deixar de escrever, mas deixar de escrever na linguagem que mais aprecio ou, talvez, na que me sinto mais confortável. roteiros de histórias em quadrinhos sempre foram o formato almejado desde que me sonhei escritor.

problema de escrever roteiros de histórias em quadrinhos, no meu caso, é que não desenho e, por não desenhar, sempre vou ter só parte do produto que pretendi confeccionar, uma combinação ou contração de elementos icônicos e verbais.

talvez eu tenha deixado de lado toda minha pretensão de escrever “colunas”, imitando um ou outro fulano que ganha a vida com isso, porque não penso ter qualquer coisa a dizer que valha à pena ser dita.

mesmo.

stand

por mais que tenha necessidade de acelerar alguns processos iniciados em priscas eras (não faça isso em casa, sem supervisão, por favor. adjetivo antes de substantivo é simplesmente… repulsivo, porém é um clichê atraente demais pra deixar passar batido) a preguiça tem levado a melhor sobre mim. não que seja preguiça derivada de inatividade, isso, aliás, é artigo raro atualmente. assuntos demais a resolver no mundo secular, daqueles que demandam esforço físico e fosfato em proporções que não estou habituado a despender quotidianamente mas que, inevitável, se quiser ver no escaninho de saída devem receber exatamente o que pedem.

enfim, nenhuma novidade.

deixar material em stand-by, quer dizer.

dizem os gringos que isso é bom.

vou tentar aproveitar o fim de semana prolongado e todo o tempo livre que me sobrar neste pra fazer o que de fato preciso fazer e me ver desobrigado de pelo menos uma etapa dos processos supra a fim de poder dedicar atenção minuciosa a detalhes da mecânica ou carpintaria (ou outra metáfora de trabalho manual qualquer) que a história que pretendo contar com meus camaradas desenhistas necessita.

a parte interessante de ter tudo planejado com tanta antecedência é que no fazer se afinam detalhes, enriquecem-se tramas e somos surpreendidos por personagens, suas atitudes e desvios das ideias originais que só tornam tudo mais estimulante.

pra isso serve a técnica: abrir espaço pra criatividade acontecer.

uma vez estabelecido o molde em que se deseja trabalhar, subvertê-lo é só uma questão de fazer um jam de informações, referências e quejandos, tanto verbal quanto visual e ver no que resulta.

sem técnica só se vai de um lado a outro arrancando cabelos e entupindo ralos e rezando pra que, no fim do dia, tenha-se algo minimamente legível.

texto crítico sobre BATMAN, DEATH BY DESIGN, o livro novo do Chip Kidd com arte de Dave Taylor me mostrou que não sou o único preocupado com as contradições inerentes entre arte, mídia, expressão pessoal, produto, comércio e outras nomenclaturas que me escapam no momento.

ajudante

a palavra “enfezado” é derivada de fezes mas a maioria parece ignorá-lo. o humor de alguém com intestino preso certamente não é dos melhores, estresse sendo um daqueles fatores determinantes que, na hora H, contraem o esfíncter a ponto de nem ar escapar pelo dito cujo. é o estado em que vivo atualmente. não enfezado, mas estressado. o processo de atingir a meia-idade é um tantinho mais avassalador do que eu esperava. como não sou cool como alguns escritores que admiro ou mobilizo seus recursos intelectuais e financeiros, crise é crise e a estou vivendo sem adotar a magia como solução para ela, comprar um porsche ou arrumar uma amante com metade de minha idade.

o que significa vivê-la diariamente, com tudo de bom e estranho que dela deriva.

não é muito.

pode acreditar.

os níveis energéticos aqui em casa estiveram numa baixa tão terrível que tivemos um curto-circuito e ficamos sem luz de 5ª para 6ª da semana passada, o que me fez interromper a produção do único trabalho que venho desenvolvendo desde o final do ano passado.

na última terça, afinal, depois de trabalhar três dias (5ª, 6ª e terça) como ajudante de eletricista e de pedreiro na tentativa de resolver o problema do lar, chegamos a uma solução permanente.

posso voltar a escrever.

a demanda física me esgotou (que novidade!).

Rodrigo Nemo, que desenha DOIS LOBOS, já quase terminou sua parte e ando à procura (preguiçosamente) de alguém que possa letreirar, ajudar com diagramação e outros serviços para os quais me faltam habilidade. se você, que lê este blog, tem algum desses talentos indispensáveis para quem faz quadrinhos com intenção de publicá-los, sentir-se compelido por um desejo cristão a ajudar, basta deixar um comentário com um endereço em que possa encontrá-lo que entrarei em contato. se precisar de ajudante de eletricista e encanador e viver nas imediações do bairro, conte comigo.

o roteiro de MdC, como sugerido, entrou em sua reta final em algum momento desta semana (sim, minha memória cronológica continua irremediavelmente fodida, obrigado) e a qualquer momento devo ficar agitado como uma fuinha cocainômana a tomar providências para cima e para baixo a fim de fazer mais uma tentativa desesperada de conseguir recursos que tornem o material publicável (não graças a mim, mas aos desenhistas que, espero, trabalharão remuneradamente nas benditas 72 páginas projetadas) dentro dos prazos estabelecidos etc, etc e etc.

obrigado por sua atenção. sinto não ter frequentado essas paragens tão assiduamente quanto antes e espero não ser abduzido por forças maiores tão cedo a ponto de ausentar-me por outro período longo.

Dois Lobos: pág. 01

Abaixo, a primeira (de 24) página do roteiro. No link, o produto do trampo de Rodrigo Nemo.

Página 1;

Nada inovadora. Nestes 6 painéis fazemos uso do pdv (ponto de vista)de Andrade, um dos protagonistas.

Painel 1;
O que vemos é uma casa em um bairro suburbano com muro alto e portões de ferro batido. Através do portão da garagem podemos ver um carro guardado. Não há ninguém na rua apesar de o dia estar começando a clarear. Ao responsável pelas letras: considere o uso de fontes diferentes para os monólogos internos dos personagens que se alternarão na narrativa. Os monólogos aparecerão como recordatórios, os retângulos usados para texto quando os personagens não estão dialogando, feito?

RECORDATÓRIO: Lembro de ter entrado na cela.

Painel 2;
Ainda usando o pdv de Andrade, vemos sua mão direita empurrando o portão de ferro menor e temos uma visão parcial da fachada da casa. Pense numa estrutura sóbria para combinar com a personalidade lógica do sujeito.

RECORDATÓRIO: Ouvi a porta bater e o ruído metálico da tranca se fechando.

Painel 3;
Dentro da casa. Organizada, muito organizada. Exceto por um ou outro item ou peça de mobiliário derrubado ou posto fora do lugar por uma pessoa (ou coisa, tenhamos esperança) que saiu às pressas.

RECORDATÓRIO: Depois disso silêncio, vazio, escuridão…

Painel 4;
Chegamos num corredor terminado em uma escada que leva ao porão.

SEM TEXTO

Painel 5;
Ainda estamos no topo da escada, ainda usamos o pdv de Andrade, de cima para baixo. A porta da cela que se encontra ao pé da escada está aberta.

RECORDATÓRIO: …a espera… a contagem regressiva para o ataque que não veio.

Painel 6;
Dentro da cela, depois de passarmos pela porta aberta, vemos as paredes de tijolo nu, arranhadas em alguns pontos, em outros escavada até o concreto armado que forma a segunda camada da parede. Pedaços de roupas rasgadas no chão.

RECORDATÓRIO: Ao menos não quando imaginei.

RECORDATÓRIO: Esta é a chave:

ídolos

gozado como de tempos em tempos, geralmente conversando com a mesma amiga, reitero minha opção de não ter mais heróis pessoais, paradigmas, ídolos.

todo mundo tem pés de barro.

apesar disso, fica difícil ignorar a postura e integridade de alguns caras que mantêm a palavra mesmo em face da grita massificada de que, ‘ei, cê tá errado!’.

preciso dar nome aos bois?

acho que a essa altura (e pra quem não entender, basta rolar a esteira um pouco pra baixo) seria redundar e redundância é algo que, quando possível, prefiro evitar.

parece que a maioria ignora (ou faz questão de ignorar) a diferença entre uma pessoa física e uma jurídica, que não sabe o que uma corporação pode fazer com uma voz individual.

claro que sair da zona de conforto é complicado, claro que muita gente gosta de personagens e não de autores, como se fosse possível dissociar a qualidade apresentada pelos primeiros nas mãos de um dos segundos que realmente soubesse o que estava fazendo, claro que tem uma pitada generosa de preconceito em minha visão, claro que a maioria está interessada tão somente em sua dose diária, semanal ou mensal de entretenimento com aquele personagem específico, pouco importando se o que está lendo faz sentido ou não, desde que tenha umas falas bacanas e ilustrações legais.

arte? que é isso?

antigamente arte tinha uma função.

pode ter certeza de que não era distrair zezinhos do mundo todo das agruras de suas vidas.

arte costumava ser algo transcendental, possibilitar um mínimo de iluminação, uma epifaniazinha de quando em vez.

hoje em dia arte e entretenimento confundem-se na cabeça da maioria.

antes que eu esqueça (novamente), reativei minha conta no tumblr e andei fazendo uma porrada de reblogs em preparação prum teaser de algo que está quase pronto.

the fingers of dead men

desta vez a espera é o carregamento da última página da entrevista monstro que Alan Moore deu a Seraphemera, uma editora independente de livros e música, sobre sua posição no que concerne ao badalado e polêmico “lançamento do ano” da DC Comics, ‘before watchmen’. a leitura da mesma é pra lá de recomendada, pois esclarece a posição do escritor e, talvez, ajude algumas pessoas menos perceptivas a entender que o trabalho que ele fez em League of Extraordinary Gentlemen, The Spirit e, até, o work for hire do início de sua carreira nada tem a ver com o que está se propondo agora pela editora subsidiária da Warner.

enquanto agonizo

espero a hora de mais um round daquelas reuniões que fazem parte da mítica do trabalho secular mas, no final das contas, salvo raríssimas exceções (lembro de duas, pra ser preciso), nada acrescentam à prática.

começo a perceber um padrão emergindo nas novas entradas daqui: parece que as estou escrevendo sempre enquanto espero que a vida aconteça em outros níveis.

consegui por no papel mais duas seções de história (MdC) e agora estou digitando o material lentamente, com toda agilidade de que quem cata milho no processador dispõe.

lendo TINKER, TAYLOR, SOLDIER, SPY porque gostei muito do filme e pensando numa outra história que tá no backburner há tempos, praticamente desde quando comecei a escrever. é uma história de fantasmas e até pouco tempo me faltava algum elemento crucial que, acho, agora está em mãos.

como é de se esperar, essa narrativa vai continuar no backburner pelo menos até eu terminar a que comecei – não deve demorar muito agora, já que o facilitador do überplot está à mão – mas dá uma vontade danada de correr e resolver problemas da trama que não tá no gibi.

pelo menos ainda não.

link-se!

UPDATED: pra consertar o link quebrado do What Not (obrigado, sr. O) e acrescentar Toth Fans (tanto no blogroll quanto nesta entrada)

rápido, rápido, rápido.

acréscimos feitos ao blogroll que considero interessantes, interessantíssimos:

Barron Storey, mestre de, entre outros, Dave McKean, que vem mantendo um diário ilustrado online no endereço acima;

What not, blog de um coletivo de desenhistas que trabalha pro mercado americano de quadrinhos e propõe, semana sim outra também, temas pra que todos criem ilus de babar (Dave Johnson, Sean Phillips, Duncan Fegredo, Phil Bond, Jock, Cameron Stewart, Francesco Francavilla entre outros);

Cover Hi-Lo, a crítica semanal de Dave Johnson, um dos profissionais mais rematados do ramo, às capas dos gibis que funcionam ou não, comentando desde design, cores e quejandos;

Toth Fans, a melhor e mais completa base de dados, arte e notas de Nosso Senhor Alex, colecionada e digitalizada por caras que são direta ou indiretamente responsáveis por dois dos livros mais bonitos de quadrinhos do ano passado.

quem acompanha a transmissão ordinária diária que faço no twitter já viu esse povo citado. quem só vem aqui (sim, VOCÊ!) e prefere, compreensivelmente, descobrir meu gosto (nem um pouco) peculiar por arte em doses digest, pronto, seus problemas acabaram.

eeeee por enquanto é só p-pessoal.

aventura

enquanto espero que meu corpo alquebrado se recupere o bastante pra mais uma ida à rua com todas as implicações que disso derivam, resolvi escrever uma baboseira qualquer aqui à guisa de entrada-do-dia.

escrever a história que estou escrevendo no momento tem seus percalços.

por exemplo: ao começar a 3ª seção da dita cuja, sem ter a menor ideia de como os outros envolvidos no projeto reagiram às duas primeiras, percebi que gosto demais das personagens que constituem o núcleo familiar de um dos protagonistas, pois elas falaram em 2 páginas mais do que todos os personagens e o narrador em 14 páginas.

a atitude correta, quando alguém se vê entusiasmado assim, é tomar um banho frio e esquecer. os diálogos de que gostei tanto vão precisar ser limados impiedosamente porque estou escrevendo para uma linguagem que privilegia a imagem em detrimento da palavra.

claro que isso não significa que o texto deve ser descuidado. ao contrário: as limitações vão obrigar-me a tentar transmitir o mesmo espírito aos/dos personagens com muito menos palavras.

é quase como atender às restrições autoimpostas pelos experimentalistas do Oulipo.

sem, é claro, ter a pretensão de me comparar a eles.

no fucking around

um dos problemas de estar ocupado com o trampo secular é faltar tempo pra todo o resto.

não quis deixar isso aqui tão às moscas mas, apesar disso, o artigo supra escasseou horrores e a prioridade tá em destrinchar um plot monstro sentado e olhando feio do hd pra mim.

comecei ontem e espero que isso previna mais mutilações das mãos (a última foi uma punhalada num dedo ao cortar um tomate). se a coisa continuar funcionando, em breve devo ter duas páginas e não uma e um painel.

como sempre a abordagem da escritura variou, por exemplo, da que usei com A.P.I., a qual foi escrita quase instintivamente, com toneladas de anotações servindo pra nada e com os arremates finais feitos diretamente na digitação.

agora tentei um processo derivado da sapiência dos roteiristas de quadrinhos americanos, escrevendo um plot, uma decupação do plot página à página e, finalmente, depois de buscar a voz e o tom certo pra narrativa, um ataque direto ao roteiro.

já tinha tentado isso outra vez atendendo ao pedido de um camarada desenhista que, como era de se esperar, abandonou o projeto com uma linha saída diretamente de Batlerby, do Mellvile.

dessa vez, porém, tenho esperanças de que o mesmo não aconteça. convivo com as ideias que norteiam essa história por tempo suficiente pra acreditar nela.

só espero não quebrar a cara de novo.

mas isso não garante picas.