quarta-feira, 11 de maio de 2011

UMA ROSA PARA EMILY em análise

William Faulkner foi o primeiro escritor que abordou em sua literatura o lado feio da região sul dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que os defeitos da região são expostos no texto, é também apresentada uma dualidade de caráter em seus personagens. A dicotomia bem/mal é presente o tempo todo, deixando o leitor um tanto inquieto e em dúvida quanto à idoneidade destes personagens.

Como prova disso, um dos seus contos mais famoso, “Uma rosa para Emily”, a própria Emily representa a mudança do Antigo Sul dos Estados Unidos para o Novo Sul.

O conto é narrado por pessoas que conheceram de alguma forma a personagem, atribuindo assim, uma visão um pouco comprometida dos acontecimentos, apresentando o tempo todo, um tom de ‘fofoca’, de história que passa de boca em boca, o que faz com que o leitor sinta que está realmente numa conversa entre vizinhos.

Miss Emily é tida como representante da cultura sulista e trai as leis da sociedade ao se apaixonar por um yankee. É como se estivesse esnobando todas as conquistas da região sul e esquecendo todas as rivalidades ocorridas com os yankees durante a Guerra da Secessão. Mas ela pouco se importa com isso, evidenciando assim, sua relação nula com a comunidade.

No início do conto, são apresentados os motivos pelos quais as pessoas foram ao funeral de Emily. Os homens, por exemplo, estiveram lá para mostrar respeito por um ‘monumento caído’, metáfora tanto para a casa quanto para Emily, e as mulheres compareceram por mera curiosidade e viram o funeral como oportunidade de descobrir o que havia dentro da casa.

A casa de Emily representava ela mesma. Esteve fechada por muito tempo, inacessível, e quando foi aberta, surpresas inimagináveis vieram à tona, surpreendendo e causando espanto a toda a cidade. As pessoas queriam saber o que havia dentro da casa, e o que havia dentro de Emily – como ela era em sua intimidade, que fora sempre preservada.

Embora o pai de Emily tivesse sido severo com ela durante toda a vida, proibindo-a de namorar, ela se recusava a aceitar sua morte, mantendo seu cadáver em casa, como uma tentativa de mantê-lo por perto, até que foi obrigada a enterrá-lo. Também cortou o cabelo como símbolo de sua sexualidade oprimida.

O conto relaciona vida e morte à decadência econômica das pessoas ricas, assemelhando-se assim ao conto “A queda da casa de Usher”, de Edgar Allan Poe.

A escuridão está sempre presente na casa, e quando os políticos da cidade entram, eles vêem “uma entrada escura, a partir da qual uma escada subia em direção a sombras mais escuras”. As cortinas só foram abertas quando Emily aceitou receber os visitantes, e enquanto isso não acontecia, não havia luz. Não havia porque Emily não permitia que as pessoas a olhassem claramente. Não queria que soubessem o que estava acontecendo dentro da casa e dentro dela mesma.

Um cheiro ruim é mencionado ao longo do conto. Trata-se do cheiro de um cadáver, que pode ser visto como a desintegração da alma, a podridão humana e o fim do período em que os ricos proprietários de algodão eram a base da vida em pequenas cidades do interior. Quando os campos não eram mais produtivos, os donos já não eram mais necessários à sociedade.

Em relação ao título, a rosa pode simbolizar um prêmio por Miss Emily ter desempenhado muito bem seu papel durante a vida. Também pode representar sua fragilidade. Fragilidade esta que ela demonstrava com a morte do pai e o amor de Homer.

Outra hipótese é que a rosa seja o símbolo do sofrimento de Emily. A vida boa e confortável estaria representada pelas pétalas de rosa, tão frágeis como qualquer vantagem material que possamos ter na vida. Embora a rosa seja linda, ela possui dois lados: bem e mal. Os espinhos representam seus sofrimentos, significando que não há perfeição na vida. No final, o quarto onde está o cadáver é descrito como tendo ‘acima das cortinas de cor desmaiada, sobre as luzes do sombreado rosa’, onde prevalece a cor com o mesmo nome da flor, que também desvanece se não é bem cuidada.

Pode-se dizer que o conto “Uma rosa para Emily” carrega a presença do trágico, principalmente por apresentar traços de ironia.

O conto é narrado de forma decrescente e cada momento leva a crer que está sendo exposto o ponto de vista de uma sociedade, no caso, a do sul dos Estados Unidos.

Emily, nada mais é que a representação de uma heroína trágica que estabelece um paralelo com os acontecimentos local.

A vida de Emily transparece a ordem social e jurídica da época, uma ponte entre caráter e destino.

Com a morte de seu pai, o mundo de Emily não está mais dividido entre norte e sul, assim como acontece nos Estados Unidos de William Faulkner. Enquanto yankees e dixies ocupam o mesmo espaço, Emily ocupa somente aquilo que é esperado de uma mulher: a reclusão incontestável.

O tratamento que o pai de Emily conferia à filha enquanto vivo, faz referência à sociedade escravista e coronelista. É um traço da arrogância da aristocracia, querendo impor autoridade à grande parte da população sem voz.

As análises confirmam o objetivo de Faulkner: contextualizar a sociedade dos Estados Unidos e seus fatos ao leitor. O autor corresponde às expectativas, simbolizando em suas personagens e histórias uma compreensão de mundo (no caso, norte-americano), mas acima de tudo, tecendo a história estadunidense pelos olhos da ficção e deixando nas entrelinhas sombras de um cenário de luta entre igualdade e rejeição.


Por Angie Chalas e Larissa Castro

2 comentários:

Anônimo disse...

Qual é a época do conto uma rosa para emily?

Mundo das Resenhas - Resenhas de Livros, Filmes e Séries disse...

Maravilha de conto, e ainda melhor foi a análise feita.
Parabéns.
Ganhou mais um seguidor.