tag:blogger.com,1999:blog-152048382024-03-27T02:44:29.535-03:00PhysisOnde está a imaginação? Ando sobre trilhos invisíveis. Prisão, liberdade. São essas as palavras que me ocorrem. No entanto não são as verdadeiras, únicas e insubstituíveis, sinto-o. Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome. — Sou pois um brinquedo a quem dão corda e que terminada esta não encontrará vida própria, mais profunda. Procurar tranquilamente admitir que talvez só a encontre se for buscá-la nas fontes pequenas. Ou senão morrerei de sede. C. LispectorDavid Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comBlogger316125tag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-23508266022697885492023-12-21T18:35:00.003-03:002023-12-24T13:27:09.478-03:00Notícia<div style="text-align: left;">A agonia paira na rua, </div><div style="text-align: left;">paralela a esta, </div><div style="text-align: left;">paralela e tão distante do mundo belo.</div><div style="text-align: left;">Cheira putrefato, </div><div style="text-align: left;">reluta enquanto lembram dele entre aço e fogo. </div><div style="text-align: left;">Escarra, estapeia, lamenta e chora. </div><div style="text-align: left;">Diz que faltam linhas - </div><div style="text-align: left;">insuficientes para um poema, </div><div style="text-align: left;">elogio fúnebre, aviso aos cães.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Dói o mal estar, </div><div style="text-align: left;">a agonia,</div><div style="text-align: left;">o silêncio do futebol.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Os novos entregues ao descontentamento, </div><div style="text-align: left;">as mães sem filhos em preocupação</div><div style="text-align: left;">mandam celebrar a missa </div><div style="text-align: left;">e castigam suas próprias mãos, </div><div style="text-align: left;">cegas, em desespero </div><div style="text-align: left;">pelo cabelo que deixaram de tocar</div><div style="text-align: left;"> ou pela fatiga de amanhã, </div><div style="text-align: left;">noite não dormida. </div><div style="text-align: left;">Os jornais dizem, também as crianças da escola... </div><div style="text-align: left;">A ausência espantou os cães? </div><div style="text-align: left;">E quem viu pelos rebocos do muro o soluço?</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-51475569923440578892023-07-10T22:22:00.003-03:002023-08-06T18:04:43.824-03:00Pequena<div style="text-align: left;">Tanto impacto das coisas <br />sagradas, </div><div style="text-align: left;">a contar pelos sinos abandonados </div><div style="text-align: left;">da velha cidade! </div><div style="text-align: left;">e dela o ônibus que chega e sai </div><div style="text-align: left;">aos sábados </div><div style="text-align: left;">no mesmo horário</div><div style="text-align: left;">- e os bares que talvez nem abrem </div><div style="text-align: left;">e nem fecham. </div><div style="text-align: left;">Na morta pressa </div><div style="text-align: left;">passam uns, </div><div style="text-align: left;">outros... </div><div style="text-align: left;">ajeitam-se as mesas, </div><div style="text-align: left;">chapéus </div><div style="text-align: left;">e a larga calça de mortos. </div><div style="text-align: left;">Esfriam os bancos de praça e os pães </div><div style="text-align: left;">sob a vitrine </div><div style="text-align: left;">(que em vão os cães vigiam).</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Só um pouco mais,</div><div style="text-align: left;">quando o dia chega ao fim,</div><div style="text-align: left;">o sagrado se junta </div><div style="text-align: left;">com o mesmo chão de sempre </div><div style="text-align: left;">à espera do dia seguinte.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-73825012343353214172022-11-25T08:21:00.006-03:002023-08-06T14:54:23.368-03:00Entre parêntese<div style="text-align: left;">Deus<br />senhor dos insensatos<br />dos sãos<br />dos que amam <br />e (que <br />por isso mesmo)<br />odeiam... <br />(nos) não permita<br />esquecer<br />dos amores vãos<br />e das pedras... <br />esquecida no mundo é qualquer coisa que consome<br />mas que também permite (tantas<br />outras<br />que) envergonha pedir mais que a memória.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-67524481622487528552013-11-21T22:57:00.004-02:002023-07-07T10:18:10.074-03:00Saudações adeoliopradianas<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Durante tempo considerável, tive uma paixão. Amei de forma difícil de compreender, levei a culpa por aproximações, vivi angústias e dramas. Sou sincero ao assumir isso, esse sentimento que tanto tive comigo. Que tenho comigo. Mas não é isso, somente isso, e as coisas mudam. Não é fácil assumir os riscos quando se tem tanto para perder. Perder é fácil, encontrar motivos para se perder, talvez, nem tanto. Não sei se encontrei. Está tudo tão confuso e eu estou tentando entender. Eu vivo tentando entender: sobre seus contornos, sobre seus olhos falantes, sobre suas mãos. Eu estou tentando e estou me encontrando na penumbra: </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>Toda a vida da alma humana é um movimento na penumbra. Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser. Nos melhores de nós vive a vaidade de qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa que se passa no intervalo de um espetáculo; por vezes, por certas portas, entrevemos o que talvez não seja senão cenário. Todo o mundo é confuso, como vozes na noite.*</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Eu me aguento por certos momentos não contabilizados, não planejo as coisas, não sei ser frio, consideravelmente, para planejar minhas desrazões em série. Nem consigo ver, claramente, o lado negro da lua. Só o ouço, insistentemente, para viajar na baila dessa doce psicodelia que tem feito parte de meus dias. Enquanto deveria estar indo para o trabalho, me perco entre pensamentos nada binários, construindo locuções e mais locuções cheias de atos ilocucionários. Vou levando. Vou me levando. Vou me levando junto dessa bagagem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Saudações adeoliopradianas: o que tenho aqui, ou sobre o que é isso aqui, eu não sei quando vou conseguir responder. Estava precisando de motivos para escrever: de formas e contornos. Fosse bom se não tivesse ou se eu não precisasse. Talvez não tenha, sou bom em me fingir; em imaginar o nada; em viajar no não existente; em imaginar e viajar naquilo que não tem tantas cores, apenas sorrisos. Estou cheio de desesperos, minha escova de cabeço não atravessa a resistência da sua aura em mim e estou mais molambento que nunca. Mas, tatuada em meu pensamento, sequer me permite colocar o xadrez, a flanela. Estou sozinho com meus medos e dúvidas e vou ficar assim por um tempo. Não sei por quanto tempo. Eu estou tentando entender, mas, sei, não há culpados. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu me tornei uma flecha pendendo em um arco. Mas não há alvos. Há apenas... há.<br />
<br />
_________<br />
*Livro do Desassossego, Bernardo Soares.<br />
"Saudações adeliopradianas" é um termo usado em uma carta, "Carta ao Zézim", enviada por Caio Fernando Abreu para José Márcio Penido e publicada no livro "Morangos Mofados" (1982).</div>
David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-51645391557834548042023-01-07T13:09:00.005-03:002023-06-17T14:15:41.575-03:00Verso II<div style="text-align: right;"><i>"(...) Amarei mesmo Fulana? </i></div><div style="text-align: right;"><i>ou é ilusão de sexo? </i></div><div style="text-align: right;"><i>Talvez a linha do busto,</i></div><div style="text-align: right;"><i>da perna, talvez o ombro..."</i></div><div style="text-align: right;"><b>Drummond</b>, "O mito"</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Não sei de que é feito <br />afinal o sumiço. <br />Fulana sumiu,<br />não vejo fulana, <br />até cruzo e toco <br />entre gentes <br />fulana, <br />mas tudo muito passageiro <br />e logo não a vejo mais <br />em cores e formas.<br />Fulana foi à praia?<br />Está a amar outro corpo?<br />Se prendeu na fila do mercado?<br />... desmaiada com minha fome<br />na cantina? <br />E somente ela poderia<br />responder, <br />ela que sumiu </div><div style="text-align: left;">e não diz. <br />Lamento, eu? <br />Fulana esconde a carne, <br />suspende a saia, me mostra o joelho. <br />Sorri com estranhidão entre tons fortes <br />e quentes <br />enquanto caminha para a velhice.<br />Persevero, eu? <br />Eu que que não pus minha sombra <br />em seu dorso <br />e nem medi a tristeza dos dias... <br />Sussurro, soluço ou indago, <br />eu? <br />Espero?</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-34555108477945749452023-06-10T21:07:00.003-03:002023-06-10T21:07:49.987-03:00Verso IV<div style="text-align: left;">Vence (a memória) o desejo ou<br />importância de uma escrita: <br />comportada<br />entre lençóis ou sofá,<br />guardando o corpo,</div><div style="text-align: left;">espera, mantém,</div><div style="text-align: left;">afasta.<br />E as pernas são linhas,<br />e são também a boca calada<br />e a boca que fala obscenidades (e<br />verdade ou desejo<br />de verdade).<br />Vai o corpo com o último movimento,<br />gozo sufocado.<br />Volta, <br />a beber do copo vazio.<br />Corpos já não há<br />e nem é cedo ou tarde<br />ou momento de nudez à beira da estrada<br />ou sob mesas. </div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-81627951883663855892023-03-07T13:48:00.006-03:002023-03-07T22:56:36.529-03:00Verso III<div style="text-align: left;">Quase março e</div><div>guardo um caminhão de ilusões a desperdiçar</div><div>entre construções e beiras de rio.</div><div>Entre memórias e </div><div>esquecimentos</div><div>também vive a ideia do que não foi:</div><div>coxas fisgadas, aranhas sapateadas</div><div>e perdoadas lagartixas -</div><div>tudo o que foi visto na sala, </div><div>quarto...</div><div>O que não foi</div><div>não foi também nos solavancos</div><div>e praças de pedra. </div><div>Casas antigas, igrejas? </div><div>Não foram, também.</div><div>E os poemas? Foram</div><div>infelicidade de quem</div><div>os escreveu,</div><div>teimosia, labirinto,</div><div>para não estar em</div><div>páginas. </div><div>Ordenaria passar logo e</div><div>nem ter atenção dos desalmados.</div><div>Já não é fevereiro,</div><div>nem amanhã, 'mal' hoje</div><div>e o calendário se apaga carregado.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-22535450496937888962023-02-11T00:09:00.003-03:002023-02-27T12:55:11.733-03:00Mesa de jantar<div style="text-align: left;">Disse a ela que estou em processo<br />de morrer </div><div style="text-align: left;">de pé<br />sem trabalho de deitar.<br />Ela oferece o que não pode.<br />Pode?<br />Dar carinho,<br />abrigo,<br />bebida<br />(como diz)?</div><div style="text-align: left;"><br />E pode,<br />agora,<br />realizar desejos?</div><div style="text-align: left;"><br />A súbita trama na mesa de jantar<br />mostrou-se incapaz.<br />Ainda que os olhos claros transpassem<br />a pele,<br />o corpo...<br />que os cabelos amarrem junto<br />à guarda da cama,<br />muito pouco.<br />Pode<br />ela devolver o ontem?<br />O fim da tarde ou<br />o começo da noite? <br />O café, <br />pela manhã?</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-33534828856925778012022-12-26T22:26:00.002-03:002023-01-02T19:30:28.304-03:00Verso I<div style="text-align: left;">O que apareceu<br />do nada </div><div style="text-align: left;">partiu</div><div style="text-align: left;">como <br />o vidro embaçado<br />e esperança de peito<br />livre.<br />Palpita estranho<br />o verniz último </div><div style="text-align: left;">do pensamento:<br />que foi <br />o que ficou </div><div style="text-align: left;">dos últimos móveis </div><div style="text-align: left;">da sala,<br />do bilhete,<br />da passagem,<br />da estadia,<br />da ida.<br />Agora vem a raiva,<br />o riso incômodo,<br />vertigem do gozo.<br />Essas idas e vindas,<br />dupla mão,<br />duplo desejo,<br />de olhos e auréolas<br />se só esses ficassem,<br />se só ficassem...</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-18366397421466775672022-12-10T18:32:00.003-03:002022-12-11T12:33:21.591-03:00Júbilo <div style="text-align: right;"><i>à Hilda Hilst</i></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Ler teu verso me fez esquecer<br />o meu...<br />não saberei<br />por tempo <br />escrever sobre os ramos do maracujá </div><div style="text-align: left;">dançante<br />sobre o muro,<br />tampouco do que posso viver nas coxas </div><div style="text-align: left;">passantes,<br />das passantes.<br />Desobedeço minha mão, soluça a linha,<br />insiste tanto essa leitura de tua carne que </div><div style="text-align: left;">me apavora<br />o silêncio.<br />Esqueci meu verso,<br />meu pequeno verso,<br />por tua infinita frase entre vírgulas.<br />Teu desejo calou <br />tudo o que havia em mim,<br />e só pude ver o dia passando pelos tons<br />verdes e secos do gramado,<br />nem mais.<br />Ao fim<br />- das páginas estreladas -<br />o resíduo compeliu o lamento de não ser </div><div style="text-align: left;">meu<br />o verso teu.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-87406097460080920752022-10-18T17:20:00.013-03:002022-10-18T19:41:04.187-03:00Tênue vontade e resíduo<div style="text-align: right;"><span><i>De tudo ficou um pouco.</i></span></div><div style="text-align: right;"><span><i> Do meu medo. Do teu asco.</i></span></div><div style="text-align: right;"><b><span>Carlos Drummond de Andrade</span></b></div><div style="text-align: right;"><span><br /></span></div><div style="text-align: right;"><span><i>O que ficou de mim</i></span></div><div style="text-align: right;"><span><i>além de eu mesma</i></span></div><div style="text-align: right;"><span><i>não o sei.</i></span></div><div style="text-align: right;"><span><b>Hilda Hilst</b></span></div><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: left;">Pouco restou: das propostas<br />ou da imagem diabólica na tela</div><div style="text-align: left;">cinematográfica,</div><div style="text-align: left;">também dos íntimos momentos perdidos</div><div style="text-align: left;">nas ladeiras de pedra</div><div style="text-align: left;">e ouro.</div><div style="text-align: left;">Na parede, não:</div><div style="text-align: left;">mal permanece emoldurada na memória</div><div style="text-align: left;">a fotografia em preto e branco,</div><div style="text-align: left;">obrigando à imaginação o complemento</div><div style="text-align: left;">dos tons outros de teus seios.</div><div style="text-align: left;">Tua boca ainda sorri com mistério,</div><div style="text-align: left;">mas, comum ao cabelo,</div><div style="text-align: left;">e a bem de todo o resto,</div><div style="text-align: left;">permanece estática.</div><div style="text-align: left;">Será intocada a guarda da cama </div><div style="text-align: left;">e nenhuma mordida experimentará</div><div style="text-align: left;">os sabores dos pêssegos do quintal,</div><div style="text-align: left;">e sequer cinzas serão. </div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-49076506502966811972022-09-11T17:37:00.002-03:002022-09-11T18:12:16.786-03:00Dúvida relativa à existência do extra-corporal <div style="text-align: left;">Que posso eu escrever? </div><div style="text-align: left;">Nas tuas costas</div><div style="text-align: left;">aposto</div><div style="text-align: left;">'escrevo' vinte e três linhas de amor. </div><div style="text-align: left;">As de fúria, tesão,</div><div style="text-align: left;">aquelas complacentes</div><div style="text-align: left;">a falar de ação</div><div style="text-align: left;">apago (todas!) </div><div style="text-align: left;">com a saliva </div><div style="text-align: left;">que a visão de teu torso </div><div style="text-align: left;">o acaso deu. </div><div style="text-align: left;">Deu a ocasião, o pescoço, o roçar... </div><div style="text-align: left;">E eu</div><div style="text-align: left;">tendo um momento</div><div style="text-align: left;">respingo com o que recito, </div><div style="text-align: left;">gaguejo, soluço, </div><div style="text-align: left;">busco o orgasmo com palavras </div><div style="text-align: left;">ou frases soltas. </div><div style="text-align: left;">Se as tenho</div><div style="text-align: left;">a verdade é que não são minhas</div><div style="text-align: left;">devoto que sou da angústia </div><div style="text-align: left;">última de teu corpo, </div><div style="text-align: left;">do pálido esforço de perpetuação, de continuidade, </div><div style="text-align: left;">de um com o universo. </div><div style="text-align: left;">E - não conhecendo mais que tuas partes -</div><div style="text-align: left;">que posso escrever sobre o universo </div><div style="text-align: left;">(se esse não é nosso, nosso corpo)?</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-88874536376716286902022-09-02T11:38:00.002-03:002022-09-05T10:25:55.313-03:00O avesso da cama<div style="text-align: left;">Na cama </div><div>de onde se avista meio mundo nas horas de intimidade </div><div>durmo também o sono dos pecadores,</div><div>de quem toma o prazer nos detalhes</div><div>do lençol amassado </div><div>e seus desenhos de rodas, </div><div>guidões e selins: </div><div>colchão que se divide,</div><div>conforto roubado com assuntos e açúcar. </div><div>Sei bem das plantas lá de fora, </div><div>da falta de tapete </div><div>e das distribuições dos copos e corpos, </div><div>sobretudo. </div><div>Sei bem das confusões, </div><div>do que é avesso</div><div>(e nas brancuras do forro se escrevem </div><div>as linhas da profecia). </div><div>Também o sono dos quase injustos,</div><div>dos que são negados os 'porquês', </div><div>sem motivos. </div><div>Na cama de ternura, </div><div>acuamento, choro ou prazer </div><div>- de onde se vê pernas entrelaçadas</div><div> mãos que se seguram - </div><div>durmo o sono dos que (se) perdoam,</div><div>sou acordado pelos que tudo querem </div><div>e pouco se permitem,</div><div>na cama de onde parto,</div><div>quadrada, e suas hipotenusas, </div><div>planos, </div><div>de agora ou ontem,</div><div>me despeço cada dia um pouco,</div><div>um pouco vivo, um pouco quente,</div><div>na nudez,</div><div>sem guarda, sem máculas,</div><div>apenas com pecados.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-66644841232563455412022-08-21T11:44:00.007-03:002022-08-29T22:26:26.951-03:00Exceto a peregrinação<div style="text-align: left;">Praças desencontradas, </div><div style="text-align: left;">janelas mudas e</div><div style="text-align: left;">o resto da bebida em copos fazem perguntar</div><div style="text-align: left;">"o que restou da noite?"</div><div style="text-align: left;">Animais pela sala vão dizer</div><div style="text-align: left;">"a nudez molhada sobre a cama"...</div><div style="text-align: left;">a cama no chão, o céu na boca,</div><div style="text-align: left;">a boca... </div><div style="text-align: left;">marcam as unhas as pernas? As costas?</div><div style="text-align: left;">E o ápice, o que é? </div><div style="text-align: left;">Sinais</div><div style="text-align: left;">de que o mar invade o quarto levando à deriva</div><div style="text-align: left;">as horas que não voltarão:</div><div style="text-align: left;">(me) sinto liberto, </div><div style="text-align: left;">exceto pelo sono que </div><div style="text-align: left;">(me) pede pra ficar;</div><div style="text-align: left;">... pela porta, </div><div style="text-align: left;">que não faz guardar o gozo;</div><div style="text-align: left;">pelo porta casacos,</div><div style="text-align: left;">que cai sobre os sonhos;</div><div style="text-align: left;">pela noite, </div><div style="text-align: left;">que me manda embora.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-28987102918869645372022-08-02T22:31:00.001-03:002022-08-14T16:09:48.941-03:00A insignificância corta a tarde<div style="text-align: left;">As formigas abrem caminho no gramado do quase cemitério, <br />das covas da tv,</div><div style="text-align: left;">onde se avistou a nudez,</div><div style="text-align: left;">e diuturnamente se toca nos sexos.</div><div style="text-align: left;">Se arriscam entre os passantes</div><div style="text-align: left;">enquanto se cobrem com as nuvens.</div><div style="text-align: left;">Cortam, correm,</div><div style="text-align: left;">se ajustam as suas naturezas.</div><div style="text-align: left;">Descobrem os ossos, os restos de cabelo</div><div style="text-align: left;">já esquecidos juntos às soleiras da porta da igreja.</div><div style="text-align: left;">Derrubam o mundo sem que lhe percebam,</div><div style="text-align: left;">e nenhuma elegia é escrita.</div><div style="text-align: left;">Vivos e mortos não lhes tocam.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-73117593509733119412022-07-16T17:46:00.003-03:002022-07-16T17:46:51.287-03:00Intimidade<p><br /></p><div style="text-align: left;">Desfalece a mão:<br />fecha a luz, busca ternuras e esquece<br />depois como segurar o pão <br />ou a maçaneta.<br />Sua é outra memória.<br />Sua é outra agonia. <br />Os anéis não lhe cabem, <br />nem recebe ofertas <br />ou pedidos... <br />se isenta dos olhos <br />em que tocam os dedos. <br />Depois das intimidades, morre aos mundos: <br />calor da coxa, <br />ternuras ou safadezas. <br />Qual o nome? Por que chamar? <br />O acaso, o obsceno, a tangência, <br />a vaga distância entre superfícies...<br />Que esqueça como abrir a porta,<br />fique na intimidade <br />e fique.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-49669786813227637932022-07-07T13:28:00.002-03:002022-07-07T13:28:35.172-03:00Despedida<div style="text-align: left;">Ainda me assombro com o vulto de minha avó.</div><div style="text-align: left;">Morta</div><div style="text-align: left;">ainda ouço sua voz</div><div style="text-align: left;">rouca</div><div style="text-align: left;">como que assoprando as cinzas do fogão</div><div style="text-align: left;">onde me escondi em nossa despedida.</div><div style="text-align: left;">Cheiro a chuva lá de fora e </div><div style="text-align: left;">pergunto a ela se</div><div style="text-align: left;">em sua cadeira de rodas </div><div style="text-align: left;">também sente se molhar enquanto espia </div><div style="text-align: left;">pelo vidro que fecha as esquadrias da antiga janela.</div><div style="text-align: left;">A boca se abrindo -</div><div style="text-align: left;">como que separando toda a rouquidão</div><div style="text-align: left;">do peito -</div><div style="text-align: left;">deixa aparecer quase uma plantação de fumo.</div><div style="text-align: left;">Os olhos</div><div style="text-align: left;">fugindo dos óculos</div><div style="text-align: left;">me buscam no canto escuro da sala </div><div style="text-align: left;">(de chão vermelho)</div><div style="text-align: left;">onde mastigo fósforos e brinco com escorpiões.</div><div style="text-align: left;">Suas mãos não acalantam</div><div style="text-align: left;">a não ser quando abandona </div><div style="text-align: left;">a agulha e a linha. Tão </div><div style="text-align: left;">tenra</div><div style="text-align: left;">chego a pensar que vive ainda</div><div style="text-align: left;">sob os escombros da velha casa saqueada.</div><div style="text-align: left;">Mas quando me distraio</div><div style="text-align: left;">ela se despede com seu vestido roxo.</div><div style="text-align: left;">Rápida</div><div style="text-align: left;">parece se levantar da cadeira</div><div style="text-align: left;">atravessa o jardim</div><div style="text-align: left;">a ponte de ferro e concreto</div><div style="text-align: left;">e se vai pela esquina.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-69560726618059885822022-06-12T13:44:00.002-03:002022-06-12T19:11:46.093-03:00Oração à memória<div style="text-align: left;">São Jorge e seu cavalinho </div><div style="text-align: left;">vão pela estradinha.</div><div style="text-align: left;">Grande, ele,</div><div style="text-align: left;">acrescenta em tudo seu nome.</div><div style="text-align: left;">Se apeia, ainda é maior...</div><div style="text-align: left;">Quando criança, Jorge </div><div style="text-align: left;">entrou em minha casa, </div><div style="text-align: left;">em gesso e tinta, e lá ficou, </div><div style="text-align: left;">mesmo depois,</div><div style="text-align: left;">quando o espelho da penteadeira </div><div style="text-align: left;">se partiu sobre ele e o alazão. </div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-58558548834570016762022-06-06T10:44:00.001-03:002022-06-06T10:44:37.948-03:00Meios termos<div style="text-align: left;">Quando passar por aquele caminho</div><div style="text-align: left;">cheia de meios termos</div><div style="text-align: left;">terá todo o olhar,</div><div style="text-align: left;">o meu. Adiantado,</div><div style="text-align: left;">enquanto vidente do pouco contorno</div><div style="text-align: left;">que percebe longe, </div><div style="text-align: left;">longe, na esquina</div><div style="text-align: left;">depois de outra esquina.</div><div style="text-align: left;">Que são meios termos? </div><div style="text-align: left;">Que são,</div><div style="text-align: left;">se não há toque, saliva</div><div style="text-align: left;">ou palavras insensatas</div><div style="text-align: left;">ao ouvido?</div><div style="text-align: left;">Não há (termo-s)</div><div style="text-align: left;">na cama, no escritório</div><div style="text-align: left;">de desenhos ou</div><div style="text-align: left;">na igreja do fim de mês.</div><div style="text-align: left;">Só termos inteiros </div><div style="text-align: left;">ou completa inexistência (deles).</div><div style="text-align: left;">Em todo momento </div><div style="text-align: left;">a sombra - que faz silhueta</div><div style="text-align: left;">sobre o gramado - vira página</div><div style="text-align: left;">de dicionário, leitura</div><div style="text-align: left;">de olhos e dedos,</div><div style="text-align: left;">narra a vida e fôlego,</div><div style="text-align: left;">pausas de vírgulas,</div><div style="text-align: left;">tinta de pele,</div><div style="text-align: left;">faz frio, busca</div><div style="text-align: left;">calor.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-82153278616202681252022-05-26T13:20:00.000-03:002022-05-26T13:20:04.740-03:00Meio termo<div style="text-align: left;">Falta luz no quarto de dormir, mas, </div><div style="text-align: left;">na sala, projeta alguma coisa que fala </div><div style="text-align: left;">de amores estranhos... </div><div style="text-align: left;">no sofá projetado, </div><div style="text-align: left;">no sofá de onde se admira </div><div style="text-align: left;">a parede. </div><div style="text-align: left;">De lá, chegam as mãos </div><div style="text-align: left;">e suas cadeias aromatizantes </div><div style="text-align: left;">- todas elas se prendem à pele </div><div style="text-align: left;">que o tecido cerra - </div><div style="text-align: left;">fabulam orações que a boca </div><div style="text-align: left;">faz reinar entre os dedos ou suspiros, </div><div style="text-align: left;">nas coxas expostas, </div><div style="text-align: left;">ou costas... </div><div style="text-align: left;">nobreza reconhecida ante a face, </div><div style="text-align: left;">ora coroada, ora afastada, </div><div style="text-align: left;">ora afagada por cabelos. </div><div style="text-align: left;">Um reino inteiro por um instante! </div><div style="text-align: left;">E o sofá </div><div style="text-align: left;">e a parede </div><div style="text-align: left;">e a luz da parede branca criam nova dinastia.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-43145245201548574792022-04-18T23:23:00.002-03:002022-04-25T21:46:38.262-03:00Bordejar<div style="text-align: left;">Nos decursos, <br />faz ano, hora e dia, <br />calor e frio, <br />a poesia sai a correr pela calçada <br />- mas não tropeça,<br />quando muito, <br />se senta escondida dos refletores.</div><div style="text-align: left;"><br />Desce e sobe morro, <br />molha a boca, <br />derruba o carrinho de sorvete <br />de milho, <br />recosta sobre o peito, <br />promove mordida em estrelas. <br />A poesia, discreta, </div><div style="text-align: left;">invade a construção: <br />como sem teto, sem sexo, </div><div style="text-align: left;">sem pudor. <br />Dela não se espera que tenha temor, <br />cabelo ou escova, <br />relógio de pulso ou hora de chegar. <br />Se vai queimar a república </div><div style="text-align: left;">ou o império, <br />se vai culpar ou convidar, <br />antes rega meio mundo. <br />A poesia entre os dentes, a poesia... <br />A poesia, entre os dedos, a poesia... <br />Até que se cansa e vai... a poesia.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-86245098553759297102022-04-11T11:14:00.004-03:002022-04-11T20:52:38.408-03:00Instante<div style="text-align: left;">- Que resta ao instante se não os corpos? <br />- Os estalos, a pele contorcida ou amassada?<br />E, em matéria de desejo, </div><div style="text-align: left;">as especulações são anotadas num caderno de pauta, </div><div style="text-align: left;">em letras curvilíneas </div><div style="text-align: left;">e palavras quase perfeitas:<br />"nudez, saliva, mãos".<br />Espaços infinitos entre as linhas.<br />Espaço branco e imaginativo </div><div style="text-align: left;">e frases difusas e descritivas.<br />Logo começa o traço sobre a folha,<br />a mão sobre as costas,<br />a tinta borrada quase na margem,<br />o seio saliente tão mais perto da face.<br />Recomeça tanto e como...<br />espasmos, suor, olhos cerrados.<br />Entre as costelas,</div><div style="text-align: left;">quantas linhas outras.<br />E nos toques,</div><div style="text-align: left;">santa tinta ainda,</div><div style="text-align: left;">marca quase como corte.<br />Pernas entre pernas,<br />torço ao torso,<br />olhar...<br />um longo suspiro faz silêncio,<br />como que passando à folha seguinte,<br />tão nua, tão apreensiva,<br />que virá então aos escritos de depois?<br />Que ânsia será guardada na tez íntima?<br />Aspas, travessões? <br />calor?</div><div style="text-align: left;">Um novo ou mesmo instante?<br />E neles, corpos,<br />se agarram as unhas,<br />desfalecem os fôlegos.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-49185809141234817842022-04-02T12:06:00.001-03:002022-04-02T12:06:35.157-03:00Aleluia do novo cristão<div>Aleluia, Aleluia, Aleluia:</div>Peixe no Prato, Farinha na Cuia, <div>Peixe no Prato, Farinha na Cuia, </div><div>Peixe no Prato, Farinha na Cuia, </div><div>Aleluia, aleluia, aleluia... </div><div>farinha na cuia. </div><div>farinha na cuia. </div><div>fome no prato. </div><div>fome no prato. </div><div>fome no prato.</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-84621159464890241442022-01-22T18:01:00.002-03:002022-02-25T18:16:23.688-03:00Páginas amarelas<div style="text-align: left;">Nas páginas amarelas do jornal:<br />"Oportunidade imperdível...</div><div style="text-align: left;">passa-se o ponto, relax,<br />carro com vinte e cinco parcelas pagas".<br />Nas páginas amarelas <br />não se encontram tapa olho de pirata, </div><div>livros de Filosofia <br />ou taças de cristal. <br />Não oferecem água quente <br />ou marquises para mendigo <br />ou doação de pão.<br />Nas páginas amarelas, </div><div>Manoel, retirante vindo do Piauí,</div><div>não esclarece o sentido da vida </div><div>e Clarice não fala de amor.<br />Nas páginas amarelas é tudo preto no amarelo:<br />não há margens, apego, clara em neve, </div><div>chaminé esfumaçada, </div><div>espinho de limão capeta no dedinho do pé </div><div>e nem bica de chafariz. <br />Não há coisas pequenas ou médias ou grandes,<br />só há negócio.<br />Do contrário, teriam receita de bolo </div><div>e fotos de meio-fio caiado,<br />sombras de borboleta e conselhos:<br />"o tempo é demasiadamente curto para viver </div><div>ou morrer nas páginas amarelas".</div><div><br /></div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15204838.post-4567446152339500882022-02-15T15:13:00.002-03:002022-02-17T10:22:59.910-03:00Mil novecentos e vinte e dois<div style="text-align: left;">Os sapos...</div><div style="text-align: left;">Os meus sapos, </div><div style="text-align: left;">guardados na gaveta à espera da chuva. </div><div style="text-align: left;">Os meus sapos, </div><div style="text-align: left;">subindo pelas estantes para alcançar os zumbidos. </div><div style="text-align: left;">Os meus sapos, os teus, </div><div style="text-align: left;">os do Manuel... </div><div style="text-align: left;">aqueles de cem anos ou mais,</div><div style="text-align: left;">coaxam na antevéspera: <br />- Dói. </div><div style="text-align: left;">- Não dói. </div><div style="text-align: left;">- Dói. </div><div style="text-align: left;">- Dói.<br />Mas só sabem da chuva que caiu, </div><div style="text-align: left;">mal da que vai cair: <br />- Cai. </div><div style="text-align: left;">- Não cai. </div><div style="text-align: left;">- Cai. </div><div style="text-align: left;">- Não cai.<br />Os meus sapos, </div><div style="text-align: left;">treinados no coloquialês, </div><div style="text-align: left;">arredam as folhas sobre à mesa. </div><div style="text-align: left;">Esticam as pernas, </div><div style="text-align: left;">que não são pernas, </div><div style="text-align: left;">recitam o poema </div><div style="text-align: left;">(que não é poema) </div><div style="text-align: left;">quase envaidecidos. </div><div style="text-align: left;">Interrompem um verso </div><div style="text-align: left;">e tossem:<br />- Tossem. </div><div style="text-align: left;">- Não tossem. </div><div style="text-align: left;">- Tossem. </div><div style="text-align: left;">- Não tossem. </div><div style="text-align: left;">- Tossem...</div>David Nascimentohttp://www.blogger.com/profile/04350131682670087984noreply@blogger.com